ensino
Concentração
Guerra de preços coloca em risco faculdades isoladas
Inovações acadêmicas
Ferramenta do varejo acompanha satisfação dos estudantes
Biologia marinha
Aquecimento global evidencia importância das ciências biológicas

Guerra de preços coloca em risco faculdades isoladas
Inovações acadêmicas
Ferramenta do varejo acompanha satisfação dos estudantes
Biologia marinha
Aquecimento global evidencia importância das ciências biológicas
Problema se agrava e IES atuam na prevenção
CEO da CertifikEDU Microcertificações
Microcertificação e o futuro do trabalho, caminhos de diferenciação para instituições educacionais.
Conselheiro e Consultor do Ministério da Ciência e Tecnologia
Impactos da IA na Educação.
Diretora Acadêmica da Univesp
Como escalar e potencializar o ensino de sua IE: Case Univesp.
Sócia Fundadora da VG EDUCACIONAL
Sócio fundador da Otimize-TI
Criando conteúdo de alta eficácia para as competências do mercado de trabalho atual.
Como posicionar sua Instituição em um mundo digital e movido pela IA
07 12
Para a autoavaliação, o Grupo UBEC lança mão de ferramenta ágil e responsiva, que permite ajustes contínuos ao longo do ano letivo
Helena Bonciani Nader é a primeira mulher a alcançar a presidência desde 1916, ano de criação da Associação Brasileira de Ciências, portanto, há mais de um século
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A saúde mental dos universitários ganhou relevância por conta dos reveses da pandemia; entretanto, as pesquisas apontam que essa preocupação não deve diminuir
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A guerra de preços coloca a sobrevivência de algumas IES em perigo. E, em meio às críticas aos cursos EAD, falta reconhecer o papel das IES comprometidas com a qualidade
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Banir a utilização do GPT do ambiente de ensino não parece uma opção adequada. É fundamental investir em pesquisa e formação docente
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Entre as 2.283 IES privadas do Brasil, 82,5% são de pequeno porte. Números e fatos atestam que algumas passam por dificuldades. Entretanto, elas resistem
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Diante da crise climática, a saúde dos mares requer ainda mais atenção, fato que eleva a importância das carreiras relacionadas ao mundo subaquático. É o caso da biologia marinha
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Nas universidades dos EUA, ações específicas para os estudantes das áreas rurais podem reverter as altas taxas de evasão escolar
Em uma atitude pioneira e corajosa, em setembro de 2023 o Semesp criou a Rede de Saúde Mental, a partir da percepção de demandas eventuais, expressas pelos gestores de instituições de ensino, preocupados com a situação dos estudantes, principalmente a partir da pandemia. A adesão foi surpreendente, provando que a cooperação é o espírito desse trabalho.
Estudos realizados na Europa e Estados Unidos reforçam o resultado da pesquisa World Mental Health Survey , da OMS, divulgado em 2023, em que 35% dos estudantes universitários entrevistados enfrentam problemas de saúde mental, com mais recorrência de sintomas de ansiedade e depressão.
No Brasil não é diferente. Especialistas atestam o aumento de casos de ansiedade e depressão nas IES em que atuam, e consideram que esses transtornos afetam pessoas em todo o mundo e de todas as faixas etárias. Ainda neste semestre as IES poderão participar da pesquisa do Semesp, visando radiografar o contexto da saúde mental dos universitários brasileiros e abordando tema tão importante, sem preconceito.
Outro assunto destacado nesta edição é revelar como as IES de pequeno porte, cerca de 82,5% das instituições privadas do Brasil, reagem à concorrência. As
Lúcia TeixeiraPresidente do Semesp
dificuldades são muitas, mas elas resistem, como mostra Tânia Cristina Bassani Cecilio, diretora-geral das Faculdades Network, em Nova Odessa, região metropolitana de Campinas, no interior paulista, e outros gestores entrevistados.
Sobre educação e ciência, Helena Bonciani Nader, 76 anos, presidente da Academia Brasileira de Ciências, a primeira mulher a alcançar o cargo, destaca a necessidade de mais investimentos na ciência. “É importante dizer que o Brasil ainda está muito aquém do número que precisa de bolsas de pós-graduação. Diminuíram, especialmente as de pós-doutorado. Um país que tem 524 anos já deveria saber que não existe economia forte sem educação e ciência. Basta olhar as maiores economias do mundo”, reforça.
Para terminar com chave de ouro, uma boa notícia: O Brasil resolveu que a sua expansão será marítima, e há muito campo para profissionais, pois está faltando gente no mercado. A alarmante crise climática eleva a importância da biologia marinha. A saúde dos mares requer ainda mais atenção, e a importância das carreiras relacionadas ao mundo subaquático é questão analisada por professores de universidades públicas e da Unisanta.
Vocês vão gostar muito da edição.
Abraços.
Dani Rodrigues
Glauson Mendes
Jaqueline Gomes de Jesus
José Vicente
Maurício Garcia
Priscila Simões
Rodrigo Capelato
Sônia Guimarães
PUBLISHER
Edimilson Cardial edimilson@editorasegmento.com.br
EDITORA
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Gustavo Lima gustavo.lima@rfmeditores.com.br
Presidente
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1º Vice-Presidente
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2º Vice-Presidente
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3º Vice-Presidente
Milton Flávio Moura
1º Diretor-Secretário Ruy Guérios
2º Diretor-Secretário
Pd. Mário Luiz Kosik
ANO
ISSN:
Débora de Bem (edição de arte) Maria Stella Valli (revisão)
Gerente: Luciana Vertullo luciana@rfmeditores.com.br
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Karlita Pereira da Silva Whatsapp: 11 98878 8745 assine@revistaensinosuperior.com.br
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1º Diretor-Financeiro
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Joel Garcia de Oliveira
Marcos Antônio de Lima
Membros Suplentes do Conselho Fiscal
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Aderbal Alfredo Calderari Bernardes
Ricardo Cançado Gonçalves Souza
Os alunos gostaram da minha aula?
Essa é uma indagação constante do professor para si mesmo, importante para nortear a preparação da aula seguinte. Entretanto, nem sempre é fácil obter a resposta. Ou não era. Hoje em dia, a tecnologia provê ferramentas para quase tudo, inclusive para identificar o nível de satisfação dos estudantes com as aulas, de maneira diária e contínua.
Essa demanda chegou à agência de inovação do Grupo UBEC – União Brasileira de Educação Católica, que buscou uma ferramenta com esse objetivo. “Não é uma solução disruptiva”, avisa Mauricio Henrique Beccker, head de inovação do grupo. “Por aqui, chamamos de modelo de inovação incremental.” É uma adaptação
de ferramenta bastante utilizada pelo setor de serviços para avaliar a satisfação dos clientes, o CSAT – Customer Satisfaction Score, com opções que vão de 1, para total insatisfação, a 5, muito satisfeito, e os totens com as expressões correspondentes a cada nível de avaliação.
“O CSAT é uma inovação na autoavaliação institucional por ser uma ferramenta ágil e responsiva, que permite ajustes contínuos ao longo do ano letivo”, conta. E essa possibilidade de ajuste faz toda a diferença. “Com 20 anos de experiência como professor, algo que incomoda é que a autoavaliação institucional, guiada pela comissão própria de autoavaliação, a CPA, costuma ser semestral ou anual. Quando o estudante fica insatisfeito com uma aula ou com um professor, ele fará essa avaliação e o professor não terá tempo de receber o resultado ainda ao longo daquele semestre. Receberá no semestre ou no ano seguinte, ou seja, a turma com percentual um pouco maior de estudantes insatisfeitos com aquele professor ficará com uma percepção negativa a respeito dele. Se o professor voltar a dar aula para a mesma turma, o engajamento e a relação entre ele e os alunos
Na Universidade Católica de Brasília (UCB), a aplicação do CSAT apontou o índice de satisfação de 86%
Mauricio Beccker, head de inovação do grupo UBEC, coordenou a criação colaborativa do Guia PDCA da aula, documento que reúne boas práticas
estarão comprometidos, assim como o processo de aprendizagem. Inclusive, os efeitos negativos são em cascata.”
O grupo UBEC tem hoje quatro unidades. A Universidade Católica de Brasília, a Faculdade Católica Imaculada Conceição do Recife (FICR), além de dois centros universitários, a Unileste em Minas Gerais e a Unicatólica no Tocantins. São cerca de 25 mil alunos, sete mil deles no EAD.
Em 2023, Beccker coordenou a implantação piloto do CSAT. “Selecionamos as unidades e os professores que se sentiram mais à vontade de participar naquele momento, além dos indicados pela reitoria e pró-reitoria”, detalha. “Ministramos um processo formativo de uma hora e meia. Criamos documentos, manuais e tutoriais para o professor conseguir trabalhar em sala de aula com os estudantes e FAQs. Criamos os mesmos materiais para todos os estudantes.”
O funcionamento é simples. Ao término da aula, o professor dispõe o QR Code aos alunos ou encaminha o link. Os alunos avaliam por meio dos totens e há espaço para comentários. O professor recebe os resultados imediatamente, em tempo real.
No projeto piloto, pouco mais de 1.200 alunos avaliaram 38 professores, 37 disciplinas e sete cursos diferentes. Os primeiros resultados apontaram que a satisfação geral é de 93%, o que corresponde a uma nota média de 4.7. “Uma nota bastante alta, em relação ao que muitas vezes se espera quando se tem uma autoavaliação.” A satisfação difere de unidade para unidade. Na Universidade Católica de Brasília, o percentual de satisfação é de 86%, na FICR, 96%.
O passo seguinte foi entrevistar os professores que receberam as melhores avaliações e os estudantes. “Deixamos claro que o objetivo era identificar o que torna uma aula satisfatória para
o estudante. Para isso, melhor deixar os resultados negativos de lado e pegar os positivos. O que de fato faz com que nossos estudantes se sintam felizes ou satisfeitos com uma aula?”
Para essas entrevistas, foram utilizadas as metodologias aplicadas por profissionais de User Experience (UX), que criam formulários com questões específicas para identificar pontos que precisam de aprimoramento. Os professores contaram como planejam, executam e avaliam as aulas. E como, a partir de uma percepção não tão positiva da aula, refazem o planejamento. Seis estudantes e três professores do ensino superior da instituição responderam as perguntas.
O que eles fazem para obter boas avaliações?
“Nada de novo, oferecem muita prática, utilizam metodologias ativas, levam os estudantes para o campo de trabalho, trazem cases para dentro de sala de aula. Um ponto importante é a proximidade do professor com os estudantes.”
Ao ouvir os professores, a equipe de inovação percebeu que o processo realizado por eles era similar ao da gestão administrativa. “O professor planeja, executa, avalia, toma uma decisão em relação a permanecer ou mudar para a próxima aula”, explica Beccker. Assim, a criação de um documento norteador seguiu o formato PDCA
– Plan, Do, Check and Act. É o Guia PDCA da aula, criado de forma colaborativa, a partir das entrevistas. Nele, textos curtos e objetivos dão conta de conceituar cada etapa e oferecem orientações de como realizá-las.
No Plan, por exemplo, o documento enfatiza a importância do planejamento estratégico da aula. Os professores são orientados a definir objetivos de aprendizagem claros, a escolher conteúdos e métodos de ensino adequados e a preparar instrumentos de avaliação. O planejamento também incorpora a integração dos valores institucionais. “Quando o professor faz o planejamento, já está praticando todos os valores institucionais, mesmo que não fique tão claro no primeiro momento.” Esses valores precisam de uma “tradução” para o dia a dia acadêmico.
Nas entrevistas com os professores, surgiu a dúvida: como trabalhar a espiritualidade em sala de aula? “Então, oferecemos exemplos. O trabalho colaborativo é uma forma de espiritualidade. Uma aula prática de arquitetura envolvendo grupos de estudantes trabalhando juntos para revitalizar uma área urbana degradada em sua comunidade, sob orientação docente, promove a colaboração e resulta em projeto com impacto positivo na comunidade. É justamente o que a igreja católica faz. Muitas vezes o professor tem projetos com esse perfil e nem sabe que está trabalhando com a espiritualidade.”
Ainda no Guia PDCA, vídeos trazem depoimentos de estudantes que enfatizam a satisfação com a prática na sala de aula, de professores que trabalham com o design thinking ou relatam o uso de software na disciplina de estatística, além de metodologias ativas.
Esse entrelaçamento de saberes sugerido no Guia PDCA acontece também em outro projeto, o Comunidades de Aprendizagem, iniciado no final do ano passado e que terá continuidade este ano, assim como o CSAT. Por adesão voluntária do professor, o objetivo é a troca de saberes e boas práticas.
O metaverso e o ambiente 3D que ele oferece parecem não ter, ainda, caído no gosto popular. Mas a contribuição para a educação é inequívoca. Beccker relata a demanda de uma professora da disciplina intervenção em crises, do curso de psicologia: “Eu tenho uma disciplina que basicamente diz respeito à atuação do profissional de psicologia em incidentes graves, como incêndios, desastres aéreos e ambientais. E quero que os alunos tenham uma vivência muito próxima do real. Acho que só é possível no metaverso.”
A equipe de inovação optou pelo uso da ferramenta CoSpace, organizou alguns espaços e foi um pouco além. “Ao invés de oferecer um espaço pronto para os estudantes criarem o storytelling e atuarem como psicólogos numa situação de crise, pedimos que construíssem os cenários. Isso permitiu a eles aprenderem o que é metaverso do ponto de vista técnico, algo que ninguém imaginava aprender no curso de psicologia.”
A experiência rendeu uma Oficina de Metaverso ministrada aos professores. Beccker, como head de inovação, conta que foi sucinto. Apresentou o metaverso, a maneira como vem sendo aplicado no mercado em geral, na educação, os pontos positivos e as dificuldades que podem surgir com a utilização em sala de aula. Em seguida, a professora relatou a experiência da parceria com a equipe de inovação. Foi a oficina mais bem avaliada pelos professores.
Saiba +
Por Mauricio Henrique Beccker Trecho de A República, de Platão, que traz o mito da caverna. E Westworld, série de ficção científica que retrata inteligências artificiais vivendo num parque de diversões para satisfazer os seres humanos. Como são ligadas todas as manhãs e desligadas à noite, começam a perceber que vivem numa espécie de “caverna de Platão”. Isso é emblemático para o professor. Inovação é sair do próprio mundo e ir para fora.
Com muita energia e vontade de fazer acontecer, completamos 45 anos dando voz ao setor privado, abraçando a inovação como bandeira e amadurecendo como entidade.
Ressignificamos nosso papel para assumir uma voz protagonista em um setor de extrema relevância para o país e que, atualmente, responde por 76,9% das matrículas do ensino superior brasileiro. Ao longo de nossa história, sempre trabalhamos para ampliar o diálogo do setor com órgãos governamentais em busca de políticas públicas educacionais eficazes. Também alimentamos a sociedade com dados, pesquisas e análises sobre o cenário do ensino superior brasileiro.
Com dezenas de serviços e produtos, o Semesp tem tudo que sua Instutuição de Ensino Superior precisa para crescer e se fortalecer. Somos a maior entidade representativa do segmento privado do ensino superior brasileiro.
Obrigado pelo seu apoio em nossa jornada!
Juntos, conquistaremos um futuro feito por uma educação transformadora e de qualidade para todos os brasileiros.
@semesp.br /videossemesp
Para Helena Bonciani Nader, ministérios e Congresso Nacional não veem a destinação de recursos para a ciência como investimento
Não existe economia forte sem educação e ciência
Eleita em 2022 para presidir a Academia Brasileira de Ciências por três anos, a biomédica, pesquisadora e professora titular da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Helena Bonciani Nader, é a primeira mulher a alcançar o cargo desde 1916, ano de criação da ABC, portanto, há mais de um século. Foi vice-presidente na gestão anterior, presidida pelo físico Luiz Davidovich. O ineditismo da sua presença na liderança da entidade é a prova de que há muito a realizar para que a ABC espelhe a equidade de gênero presente na produção científica brasileira. Nesta entrevista, ela conta como está transformando esse contexto após pouco mais de um ano na presidência.
Aos 76 anos, concedeu entrevista remota no laboratório da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp. “Tive de me aposentar um mês antes de fazer 75, sou de novembro, mas continuo, estou aqui no laboratório, trabalhando.” A Unifesp é também sua alma mater . “Sou da turma de 1967, a segunda do curso de ciências biomédicas, que foi inventado na Escola Paulista de Medicina e depois se espalhou para todo o Brasil.” Após se formar, fez licenciatura em biologia, doutorado na USP, e rumou para instituições estrangeiras. “Fui várias vezes para o exterior, sempre com dinheiro das instituições estrangeiras”, frisou.
“Sou membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da brasileira, da latino-americana e da mundial”, diz, sorrindo. Ela é copresidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês), ao lado da norte-americana Karen B. Strier. Animada, conta que a Ianas trará três nobelistas – cujos nomes manteve em segredo – para conversar com alunos da América Latina e Caribe, em evento presencial no dia 15 de abril, no Rio de Janeiro, e 17 de abril em São Paulo.
Este ano, entre os muitos compromissos da presidente, estão a 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, em abril; a Reunião Magna, o evento mais importante da ABC, no início de maio, e as atividades do Science-20, ou S-20, o braço científico do G-20, o grupo de engajamento das Academias de Ciências dos países que formam o grupo. Neste mês de março acontece a primeira reunião no Brasil. A Cúpula de líderes do G-20 – com 19 países, a Comunidade Europeia e a União Africana –, acontecerá nos dias 18 e 19 de novembro. O Brasil é sede e assumiu a presidência rotativa.
Quais são os desafios frente à equidade de gênero, tema que sua presença na presidência da ABC, a primeira mulher depois de mais de um século, suscita de maneira inescapável?
São muitos. Inclusive porque a ABC é uma instituição centenária, o que torna a situação ainda mais peculiar. É preciso manter a tradição, a qualidade e a eficiência da ABC e trazer novos enfoques. Desde a época em que era vice-presidente, eu e o presidente, Luiz Davidovich, percebemos que a ABC tinha poucas mulheres. Há muitas mulheres capacitadas na ciência brasileira. Fizemos a pergunta: o que está acontecendo? Decidimos realizar uma busca ativa. Encontrar onde estão essas mulheres.
Como funciona a admissão na ABC e qual o resultado dessa busca ativa?
Todo ano são eleitos novos membros, e o número varia de ano para ano. As pessoas são propostas por acadêmicos. Passam numa primeira fase, em que uma comissão de seleção elenca nomes. Em seguida, vai para a votação na área de trabalho em que atua aquele pesquisador ou pesquisadora. Quem passa nessa fase vai para uma fase final, em que votam os membros da ABC. Com a busca ativa, conseguimos aumentar o percentual de mulheres entre os novos membros seniores. Foram 20 eleitos no final de 2023 – 12 mulheres e oito homens. Isso sem fazer política de cotas. É um pouco complicado criar cotas no âmbito da ABC, porque fica um olhar, para quem está de fora, de que aquela pessoa entrou por causa da cota. Na ABC não pode ser assim.
E nas universidades? Qual sua posição acerca das cotas raciais e sociais?
Nas universidades, sim. Eu fui uma das primeiras pró-reitoras de graduação, no sistema federal, junto com a Universidade Brasília
(UNB), a criar as cotas. Sou totalmente a favor, mas são mundos diferentes.
Como está a ABC em relação à presença de acadêmicos negros e indígenas?
A ABC já teve um vice-presidente negro, Juliano Moreira, de 1926 a 1929. Ele foi um superpsiquiatra formado pela Faculdade de Medicina da Bahia. Pouca gente sabe disso. No entanto, é fato, ainda temos poucos negros na ABC. Entre os indígenas, temos Davi Kopenawa como membro colaborador. Ele foi eleito em 2021, por seus conhecimentos tradicionais. conhecimentos tradicionais. Estamos melhorando a equidade de gênero – aliás, estamos muito melhor do que academias mais antigas, como a francesa, a alemã e a americana –, mas não atingimos a equidade de raça, é um ponto que eu gostaria de ter melhorado e isso não depende de mim, como presidente.
O que é possível fazer?
Como sou presidente, eu não indico, mas peço que os membros indiquem buscando a diversidade e mantendo a qualidade, pois é o que se espera de uma academia. Nós não temos número fixo de vagas, como é a academia de letras ou medicina, mas temos um padrão, os critérios da chamada qualidade científica. Isso é um desafio para mim. Até 2025 – temos agora a indicação de 2024, que toma posse em 2025 – o desafio é saber como faremos para trazer a diversidade racial, que também é importante.
Por outro lado, a universidade ficou mais equilibrada com as ações afirmativas. Não gosto do nome “cota”, parece reserva de mercado. E nem é reserva, é correção de um erro. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. Temos mais pessoas negras e indígenas chegando à universidade e mais negros na pós-graduação também. Estamos chegando lá, mas infelizmente leva um tempo.
Estamos também diversificando as regiões do país. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul ainda prevalecem porque são os mais antigos na área científica brasileira, mas acadêmicos do Norte e Nordeste estão chegando também.
Há entrada de membros jovens? Como se dá a escolha?
Nós temos o que chamamos de membros afiliados; são jovens até 40 anos. A ideia é incentivar o jovem a se tornar um titular sênior posteriormente, já temos alguns exemplos. Eles ficam membros da ABC por cinco anos e a eleição não é competitiva no âmbito nacional, é por região. Temos seis regiões: Norte, Nordeste – que inclui o Espírito Santo; Centro-Oeste – que inclui Minas Gerais –; a região Sul, com Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, e a Sudeste, com São Paulo e Rio de Janeiro.
Se fizéssemos a escolha dos jovens levando em conta todo o Brasil, teríamos de novo uma representação maior do Sul e do Sudeste. São concedidos prêmios e títulos sempre levando em consideração essas regiões.
A divisão de regiões dessa maneira dá oportunidade ao jovem brilhante que está no Norte, fazendo um trabalho magnífico. Para os mais velhos, os seniores, é considerado o Brasil todo.
Essa desigualdade também não está presente na distribuição de bolsas dos órgãos de fomento?
Na distribuição de bolsas de produtividade pode ser. Mas não nas de pós-graduação. Não dá para não ter um percentual alto para São Paulo porque é o estado mais populoso do país. Em relação às bolsas de pós-graduação, se fizer o cálculo per capita, não existe esse desequilíbrio.
É importante dizer que o Brasil ainda está muito aquém do número que precisa de bolsas de pós-graduação. Diminuíram, especialmente
as de pós-doutorado. Um país que tem 524 anos já deveria saber que não existe economia forte sem educação e ciência. Basta olhar as maiores economias do mundo. Por que Israel é uma potência científica? Porque investe. Em Israel, o investimento é de 5% do PIB, é bastante. No Brasil, fica em torno de 1%. Sempre foi assim. É uma linha reta, às vezes, como um eletrocardiograma: sobe um pouquinho e volta.
O presidente Lula disse que “a ciência está de volta”, mas o problema são os ministérios que cuidam das despesas e o Congresso Nacional, que não veem a destinação de recursos para a ciência como investimento. Essas decisões erradas não afetarão os indivíduos hoje, mas daqui a trinta anos o Brasil terá uma crise social muito maior do que tem hoje, porque não está investindo da maneira como precisa para manter os velhos – esses jovens de hoje serão velhos amanhã –, então, quem vai mantê-los? A curva demográfica brasileira aponta que quase perdemos a janela de oportunidades. Esta é a última janela. A população vai envelhecer, o número de nascimentos está caindo, estamos vivendo mais tempo, maravilha, mas os jovens não querem mais fazer ciência, a sinalização para eles foi muito ruim.
Como a senhora vê a questão das bolsas de produtividade negadas às mulheres por causa das gestações?
Depende do que se entende por produtividade. Essa definição terá de ser feita, o mundo está buscando essa definição. Antes, produtividade era quanto maior o impacto, mais produtivo. Hoje está sendo discutido se é isso mesmo ou se existem outros parâmetros. Há pessoas que entram com ações junto ao Ministério Público, questionando o motivo de não obterem bolsas. Então são necessários parâmetros objetivos; se ficarmos nos subjetivos haverá problemas.
A gravidez leva nove meses, após dar à luz, há pelo menos mais um ano para amamentação e cuidados. O CNPq já havia apontado que era preciso considerar, no pedido de bolsa, se há gravidez. Mas não foi imposto, foi recomendado. E existem os Comitês Assessores (CA), são cerca de 50, para as diferentes áreas do conhecimento. Há comitês que levam isso em consideração, e outros não. A mulher ser penalizada porque teve filhos é um absurdo. Isso tem de acabar. Agora o CNPq baixou a regra: todos os comitês têm de levar isso em consideração.
Mas estamos melhorando. Para se ter uma ideia, há alguns anos, a jovem que tinha bolsa de mestrado ou doutorado não tinha um tempo a mais para defender a tese ou para a manutenção da bolsa. Agora tem. Melhorou, mas ainda está aquém do que precisamos.
Como está a preparação para o S-20?
Temos uma reunião agora em março, no Rio, com representantes das academias de ciências dos países do G-20, que abordará o tema “Ciência para a transformação mundial”. Serão abordados cinco eixos: inteligência artificial – ética, impacto social, regulação e compartilhamento de informação; bioeconomia – levando a um planeta sustentável; processo de transição energética – energias renováveis, considerações sociais e econômicas; desafios da saúde – qualidade e equidade de acesso; e justiça social – promovendo a inclusão, diminuindo a pobreza e as desigualdades.
A última reunião acontecerá em julho, para a escrita do documento final, que será entregue aos líderes. O fato de ser entregue aos líderes não significa que as recomendações serão escritas no documento final do G-20, porque há outros grupos, como os de educação e saúde, por exemplo. Quanto mais grupos recomendam aspectos semelhantes, maior a chance de aparecer no documento final.
Faço parte do S-20 desde a Arábia Saudita.
Estive na Itália, Indonésia e Índia. Conheço o grupo e a ideia é que saiam as recomendações. Eu espero que algumas dessas recomendações sejam realmente abraçadas por todos os países. No G-7, a ciência já é relevante, então, como o G-20 já inclui o G-7, o mais relevante será direcionado aos demais. Para os países que já são do G-7, eu diria que as recomendações são puxões de orelha. Vários aspectos acerca do desenvolvimento sustentável não são cumpridos pelo G7. Eles valorizam a ciência, mas continuam, por exemplo, com o combustível fóssil. O Brasil praticamente já fez a transição energética [com as hidroelétricas]. Estados Unidos e Europa usam carvão.
Especificamente acerca da Inteligência Artificial, o que será debatido ou recomendado?
Um tema importante é que todo mundo está pedindo bancos de dados abertos. A questão é o que será colocado nesses bancos de dados. O Brasil precisa tomar cuidado com o seu banco de dados, que é único, porque poucos países têm a miscigenação e a imigração que tivemos. Outros países tiveram imigração mas não a miscigenação, as pessoas continuam nas comunidades de origem. Nos EUA, por exemplo, é assim, pouca miscigenação. Então, os bancos de dados de saúde pública do Brasil são tesouros, assim como o banco de dados do SUS acerca da prevalência de doenças. São aspectos que precisam ser muito discutidos porque são dados que para a indústria farmacêutica, por exemplo, são fundamentais.
O Brasil é signatário do Open Data, mas o que é esse “open”? Nosso banco de dados em relação à biodiversidade brasileira tem de ser aberto a todo mundo? Eu não sei, tem a ver com soberania. Eu teria restrições. Teremos dados da indústria farmacêutica? Não! É importante compartilhar, mas o quê e com quem? Os EUA não abrem nada.
LEITORES POSSUEM 5% DE DESCONTO CÓDIGO PROMOCIONAL: SEGMENTO
“BOA TARDE, PROFESSOR. Tenho TDAH e depressão”
Oinforme mundial de saúde mental da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2022, o mais robusto realizado pela entidade nas duas últimas décadas, apontou que em 2019, em todo o mundo, quase um bilhão de pessoas tiveram algum transtorno mental. Entre elas, 14% eram adolescentes. O mesmo relatório informa que em 2020, o primeiro ano da pandemia de covid-19, os sintomas de depressão e ansiedade aumentaram 25%.
Na universidade, o tema da saúde mental ganhou relevância por conta dos reveses dos estudantes na pandemia. Entretanto, as pesquisas apontam que essa preocupação não deve diminuir. Estudos realizados na Europa e Estados Unidos reforçam o resultado da pesquisa World Mental Health Survey, da OMS, divulgado em 2023, em que 35% dos estudantes universitários entrevistados enfrentam problemas de saúde mental, com mais recorrência de sintomas de ansiedade e depressão.
No Brasil, especialistas entrevistados para esta reportagem atestam o aumento de casos de ansiedade e depressão nas IES em que atuam, mas os localizam como um fenômeno que afeta pessoas em todo o mundo e de todas as faixas etárias. Ou mesmo como sintomas esperados em jovens que estão diante de uma nova fase da vida, além de resquícios da crise sanitária. Eles a rmam também que o conhecimento cientí co ampliou a consciência sobre essas questões, oferecendo diagnósticos, dando nomes aos adoecimentos, o que aumenta a percepção dos casos.
Antes de pensar no aumento de percentuais de adoecimentos, a psicóloga Gisele Vieira de Mello prefere apontar o entorno deste fenômeno. “Aumentou a liberdade para falar das questões mentais, aumentaram o conhecimento, a consciência e a percepção dessas ocorrências em nós e no outro.” Gisele é professora de psicologia há trinta anos na Universidade de Marília (Unimar), no
Interior paulista, e coordena o Núcleo de Apoio Psicopedagógico, o Nuap, criado em 2015 e que hoje conta com 25 estagiários do último ano de psicologia no atendimento aos estudantes. A Unimar tem seis mil alunos de graduação e pós na modalidade presencial e 15,4 mil no EAD.
“A vida está cando mais complexa em alguns aspectos e mais simples em outros. A tecnologia e o progresso facilitam, mas trazem outras di culdades e tipos de adoecimento.Temos uma vida mais agitada, mais conectada ao outro, ao mundo, e menos conectada a nós mesmos”, detalha Gisele. Além disso, as pessoas passam por várias crises ao longo da vida e uma das mais desa adoras é se deparar com a universidade e os desa os que ela impõe.
“O estudante que chega à universidade está num momento de desassossego, estranheza, é óbvio que a ansiedade vai gritar. É esperado que encontremos um desarranjo e um certo sofrimento. Em paralelo, também esperamos bons sentimentos, euforia, com o olhar para as oportunidades. O aluno lutou para estar lá.”
Os per s dos alunos que buscam o Nuap são variados. Prounistas de cursos mais elitizados, como medicina, utilizam bastante o Nuap. Muitas vezes, chegam à universidade após um mês das aulas iniciadas, por causa de questões burocráticas, e precisam de orientações de estudo. A Unimar recebe estudantes de outros estados. “Estudantes do Norte e Nordeste chegam no começo do semestre e só retornarão para a casa em julho, e às vezes essa pessoa tem só 18 anos. É duro, é muito longe, ca a ideia de que ‘se me
Capa - Saúde mental
Gisele Vieira de Mello, há trinta anos professora na Unimar, supervisiona e coordena o trabalho de 25 estagiários do último ano de psicologia no
der um problema, tenho que aguentar’. Uma depressão pode acontecer não só por essa distância, mas porque o estudante ainda não formou novos vínculos signi cativos”, explica. Há também o aluno que não vê signi cado na nova fase, por questões de adaptação ou porque a escolha do curso não foi adequada.
No Nuap, conta a professora, “o primeiro passo é ajudar o estudante a se adaptar a essa nova vida para depois ver o que sobrou de angústia. Às vezes não sobrou ou é algo administrável. Quem não tem angústia? Quem não tem frio na barriga? Essa angústia pode ser a mola propulsora para o desenvolvimento dele, como pode ser
“Nos últimos 20 anos, há mais acesso às informações, as pessoas estão mais conscientes de suas próprias dores, nomeando-as, organizando a linguagem em torno delas”
uma angústia ainda muito grande e ele vai precisar de um tratamento, em alguns casos de uma medicação. Fazemos esse socorro, encaminhamos para a psiquiatria se necessário, mas, em paralelo, vamos ajudá-lo a se adaptar à nova vida”.
Os estudantes chegam ao Nuap por conta própria ou por indicação dos professores. O serviço é divulgado constantemente no site da universidade e na acolhida aos calouros. Além de questões psicopedagógicas, principalmente em relação à nova rotina de estudos, os estudantes também podem receber orientação acerca da alimentação, do sono, da necessidade de exercícios físicos, da gestão do tempo e nanceira. A Unimar tem serviços gratuitos como academia de ginástica, sessões de hidroginástica ou aulas de dança do curso de educação física, além de nutricionistas e cozinha comunitária. “Temos a lista de todos os serviços que a universidade oferece e fazemos a ponte para os alunos”, detalha Gisele.
Quando há necessidade de tratamento psicológico, os estudantes são encaminhados para as clínicas da universidade. Porém, para não sobrecarregá-las Gisele a rma que é fundamental uma triagem, checando os recursos do estudante, como a existência de plano de saúde, por exemplo.
Assim como na Unimar, na Universidade do Vale do Paraíba (Univap) o atendimento psicopedagógico é o momento para acolhimentos. Thamires Melo, a psicopedagoga responsável, conta que os casos de TDAH,TEA e autismo são cada vez mais comuns. Os estudantes já chegam conscientes de suas características, apresentam laudos e buscam o setor para ajustar estratégias de estudo e avaliação.
Os acometidos por ansiedade também batem à sua porta. “Muitos até fazem terapia, mas nos procuram no momento das provas, ou de escrever o trabalho de conclusão de curso. Às vezes, uma orientação já alivia a angústia”, conta.
Casos mais graves de ansiedade e depressão são encaminhados para os serviços da escola de psicologia, que mantém um atendimento de emergência, para ex-alunos que praticam preços sociais ou para a rede pública de saúde.
Thamires conta que há intenção de expandir o setor. “Na minha visão pessoal, o que vem acontecendo é que os alunos percebem maior abertura para falar sobre ansiedade e emoções. Os docentes também já perceberam que é uma questão que deve ser falada, acolhida e encaminhada porque interfere no rendimento acadêmico. Essa abertura cria mais demandas.”
“Olá, boa tarde, tenho depressão e TDAH”, diz o estudante ao recorrer a um serviço de apoio da universidade. Frases como essa são comuns, e com ela vem também um conjunto de diagnósticos já trabalhados anteriormente, de acordo com o professor Celso Alves Cruz. Ele é o responsável, em São Paulo, pelo Papo, o programa de acolhimento, aconselhamento e encaminhamento da ESPM, que existe há 25 anos.
“Nos últimos 20 anos, há mais acesso às informações, as pessoas estão mais conscientes de suas próprias dores, nomeando-as, organizando a linguagem em torno delas”, explica o professor. “Esses diagnósticos eram estigmatizados, mas acabaram por ajudar a construir caminhos na escola básica, além disso, a cultura em relação ao sofrimento mudou muito.”
Na ESPM, o Papo está presente nas unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, sob coordenação de professores com vínculo longo com a instituição, portanto, que conhecem a sua cultura e que têm alguma formação terapêutica. Cruz é professor há 22 anos na ESPM, é psicoterapeuta com formação em bioenergética e assumiu a coordenação do Papo há dez anos.
O serviço se organiza em torno de encontros individuais, avulsos e sigilosos, com foco para
as questões emocionais e afetivas. Há estudantes que o utilizam várias vezes, principalmente em períodos agudos. A partir do encontro, há o encaminhamento, se necessário. “Também é inequívoco que a pandemia agudizou questões e trouxe outras que não existiam. Ansiedade, depressão, a lógica do burnout, o pânico são elementos muito fortes, em geral associados a questões de aprendizagem”, relata.
Para as questões de aprendizagem, há na ESPM o Pipa – Programa de intervenção psicopedagógica. “Quando o estudante vai fazer o vestibular já pode apresentar laudos e a partir daí terá tutoria em todo o seu processo acadêmico. A tutoria faz a ponte entre estudantes e professores para a construção de modos de aprendizagem que sejam mais adequados à lógica daquela pessoa.”
Cruz menciona que a cultura do bem-estar está bastante em voga. É possível pensar a saúde mental a partir dela, não apenas do sofrimento. Nesse contexto, a quantidade de ações pode se expandir com palestras, encontros, meditação e yoga. “São ações que realizamos de maneira ainda assistemática.”
“Do ponto de vista técnico, de terapias, trabalhamos com a questão de foco, contida nos livros de Hector Juan Fiorini. Do ponto de vista geral, trabalhamos com uma abordagem winnicottiana. Winnicott fala de acolhimento, contorno e limite, mas são parâmetros, pois não diagnosticamos nem realizamos terapia propriamente, é apenas uma ajuda para identi car o foco.”
Carolina Antonelli dos Santos, psicóloga, coordenadora e docente do curso de psicologia da Escola das Ciências da Saúde do Centro Universitário Facens, menciona como causa para o adoecimento mental a forte pressão familiar e social, que reputa à conquista do diploma a possibilidade de uma vida adulta plena, confortável, de sucesso e conquista de bens materiais.
“As universidades também colocam algum tipo de pressão no bom desempenho. Os estudantes chegam com elevado nível de exigência, eles se cobram, estão muito mais preocupados com a carreira deles. Por um lado, é uma perspectiva positiva, por outro, pode levar ao adoecimento se não cuidar.”
A Facens é a IES latino-americana na Higher Education Network, do The Wellbeing Project, uma iniciativa mundial focada no bem-estar e na colaboração global para mudanças sociais, por meio de análises dos fatores sociais, culturais, econômicos, internacionais e locais para identi car o impacto deles no bem-estar e na qualidade de vida. “Várias universidades participam do projeto. A pressão, a necessidade de ‘se tornar alguém’, é um fenômeno presente em todos os lugares”, conta Carolina.
Outro fenômeno mundial é a aceleração. “Nós sediamos o congresso da Wellbeing no semestre passado e a questão do manejo do tempo, por exemplo, foi muito discutida. Falamos sobre a necessidade de desaceleração e propomos a quebra de crenças, como a de que quanto mais produtivo eu for, quanto menos tempo desocupado eu tiver, quanto mais eu trabalhar, serei mais realizado e terei sucesso pro ssional. Será que é isso mesmo?”
Há fatores locais. No Brasil, diz Carolina, existe uma ruptura muito grande entre o ensino médio e o superior. Os estudantes chegam à universidade com falta de repertório de habilidades sociais e com um esquema de estudos que di culta a adaptação, inclusive com quebra signi cativa de metodologia.
Tradicionalmente conhecida por seus cursos de engenharia e tecnologia, a Facens tem quatro mil alunos. A Escola de Ciências da Saúde é recente, de 2022, assim como o curso de psicologia. Porém, a preocupação com a saúde mental dos estudantes levou a IES a criar, há seis anos, o Enlace – Laboratório de Colaboração Socioemocional, que cuida da saúde mental, bem-estar e qualidade de vida dos estudantes e trabalha o desenvolvimento de competências socioemocionais.
Com esse objetivo, foram criados locais como o espaço praia, o redário, e o Buda, utilizado para meditar e relaxar, além de salas aconchegantes com poltronas. Para momentos de mais
ansiedade, o chamado Espaço Alívio, com sacos de boxe. “Com a chegada da psicologia na Facens, zemos uma parceria com o Enlace, então, agora, em todo projeto de qualidade de vida e saúde mental, trabalharemos juntos”, detalha Carolina.
O Enlace realiza pesquisa de bem-estar com os estudantes. Os dados coletados norteiam as ações da Facens para o ano seguinte, no sentido de aprimorá-las. Por exemplo, o relatório de 2023 aponta que dos estudantes que responderam a pesquisa – foram 1.087 no primeiro semestre e 1.459 no segundo semestre – 1.267 responderam “mais ou menos” e 1.019 “bastante” para a pergunta “O quanto você consegue se concentrar?”. Questões como a qualidade do sono e satisfação com o autodesempenho também são respondidas. O relatório traz pistas acerca da saúde mental dos estudantes e, para 2024, Carolina a rma que será realizada pesquisa especí ca para avaliação da saúde mental.
A Facens tem, ainda, o centro de psicopedagogia, em que uma pro ssional recebe os alunos para
Em setembro do ano passado, o Semesp criou a Rede de Saúde Mental, a partir da percepção de demandas eventuais, expressas pelos gestores. A adesão das IES foi surpreendente, de acordo com Fábio Reis, diretor de inovação e redes do Semesp. “Realmente era uma necessidade. Esse não é um tema tão aberto, talvez porque não estejamos acostumados a falar sobre saúde mental. Há um aprendizado acerca de como lidar com o tema.”
Com mais de uma dezena de reuniões já realizadas, o primeiro passo foi mapear as iniciativas existentes nas IES, algumas já bem consolidadas. “Foi rico, pois gerou inspiração, sinergia e reuniões paralelas. A cooperação é o espírito da rede.”
O passo seguinte foi discutir o foco ou a partir de qual perspectiva acontecerão os debates em torno das questões de saúde mental. Há grande diversidade de iniciativas, assim como de profissionais participantes – psicólogos, psicopedagogos e psiquiatras. O aspecto da prevenção obteve mais relevância.
Neste semestre, é possível que as IES participantes da rede colaborem com a pesquisa que o Semesp pretende realizar. O objetivo será radiografar o contexto da saúde mental dos universitários brasileiros. Para tanto há um acordo com universidades espanholas, que aplicaram uma pesquisa sobre saúde mental e constataram que 35% dos estudantes têm algum tipo de transtorno mental.
Para Celso Alves Cruz, responsável pelo programa de acolhimento, aconselhamento e encaminhamento da ESPM, a pandemia ainda traz consequências: “agudizou questões e trouxe outras que não existiam”
o
atendimento individual. “Fazemos acolhimento e acompanhamento numa perspectiva psicopedagógica e pretendemos ampliar essas possibilidades”, detalha Carolina. Além do foco na promoção do bem-estar e prevenção, a clínica-escola de psicologia será inaugurada e oferecerá atendimentos de psicoterapia individuais e em grupo.
Desde 2022, o grupo Afya conduz estudos nacionais que revelam dados sobre a saúde mental de médicos e estudantes de medicina no Brasil, por meio de parceria entre seu Research Center e o Núcleo de Experiência Discente (Ned), área responsável pela interação com os alunos e que coordena ações de várias frentes, incluindo a de saúde mental.
Marina Silveira de Resende, coordenadora do Ned Nacional da Afya, a rma que “os resultados destacaram uma grande proporção de pro ssionais e alunos sofrendo com sintomas de transtorno de ansiedade e depressão, além de enfrentarem desa os como jornadas extenuantes de trabalho e estudo e di culdades para manter um sono reparador, lazer e atividades físicas regulares”. Também estão relatados o uso de
medicamentos e aumento do consumo de álcool. Diante dos resultados, a Afya implementou iniciativas. Todas as suas unidades contam com o Ned, espaço que, entre outras atividades, desenvolve ações de prevenção em saúde mental e de acolhimento dos alunos. Cada Ned tem autonomia para de nir as ações especí cas e realizar o cinas para abordar as demandas locais identi cadas nas pesquisas. ”Além disso, implementamos um material de treinamento para colaboradores e docentes, visando capacitar a identi cação de alunos em situação de vulnerabilidade psíquica.”
Por Celso Alves Cruz
Hector Juan Fiorini foi um grande psicólogo e psicanalista argentino. Ele tem livros muito bonitos e apropriados sobre terapia focal, como Teoria e técnica de psicoterapias e Estruturas e abordagens em psicoterapias psicanalíticas, ambos da editora Martins Fontes.
Por Carolina Antonelli dos Santos
O design da sua vida: Como criar uma vida boa e feliz, dos autores Bill Burnett e Dave Evans, da Rocco digital. Eles são professores de Stanford e têm um programa na universidade há anos sobre projeto de carreira e qualidade de vida do universitário.
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Lúcia
continua como presidente após eleição no Semesp:
“A sociedade tem de ter a percepção do valor do ensino superior”
crise sanitária provocada pela covid-19, o avanço do EAD e a guerra de preços, um novo marco regulatório, urgência de financiamentos. Estes são alguns dos desafios enfrentados pelo setor do ensino superior que exigiram ações do Semesp ao longo do último triênio. Parte deles continuará a pautar as diretivas da entidade, que no dia 22 realizou eleições para a diretoria de seu conselho fiscal para o triênio 2024-2027, e reconduziu Lúcia Teixeira à presidência.
Com chapa única, a nova diretoria tem personalidades que garantem a representatividade das IES de pequeno, médio e grande portes, assim como faculdades, centros universitários e universidades (veja a nova composição no expediente desta edição).
As eleições ocorreram num ano especial para a entidade, que completa 45 anos. Fundado em 15 de fevereiro de 1979, a princípio o Semesp representou instituições paulistas, com uma atuação que objetivou o desenvolvimento do ensi-
no superior privado. Ao longo das décadas, contribuiu para que São Paulo se firmasse como o maior centro de educação superior da América Latina e ampliou sua abrangência, tornando-se reconhecido na atualidade como representante
de mantenedoras de ensino superior do Brasil. “O Semesp se transformou em um dos principais interlocutores em relação à gestão da educação do país”, fala Lúcia Teixeira.
Também presidente da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos, Lúcia Teixeira e a nova diretoria tomarão posse em 25 de março. Ao realizar uma breve retrospectiva do triênio passado, Lúcia afirma que todas as conquistas são importantes. “Agradeço o apoio e a união de todas as instituições associadas e às parcerias em torno de objetivos comuns, que fizeram com que essa gestão alcançasse resultados tão expressivos, que não apenas beneficiam os associados do Semesp no Estado de São Paulo, mas toda a educação brasileira.”
Em 2021, Lúcia iniciava sua primeira gestão como presidente e a pandemia apontava números crescentes de casos, mortes, e muita insegurança. “Coube ao Semesp orientar como trabalhar com qualidade e segurança de forma remota.” A manutenção do trabalho remoto demandou pesquisas, fóruns e reuniões com ministérios e setores dos órgãos públicos federais e estaduais “As instituições particulares foram as que mais prontamente responderam nessa época, e continuaram a entregar seu trabalho para alunos e professores”, lembra a presidente.
A reabertura das IES também trouxe exigências. “Nós, do Semesp, fomos os primeiros a solicitar a reabertura das instituições para aulas práticas, de forma cautelosa. Esse papel foi relevante. Tivemos uma resposta de confiança para retornar às aulas práticas presenciais, e as demais de modo híbrido, como foi possível até a volta à normalidade. Também conseguimos a opção de fazer avaliações remotas, que antes não eram permitidas.” Dessa forma, conta, foi possível harmonizar o trabalho com as instituições, que enfrentaram problemas eco-
nômicos, assim como os alunos e suas famílias.
A reforma tributária foi outro episódio desafiador e trouxe uma conquista ao setor. “Estivemos no Congresso, com as comissões do Senado, em todas as áreas, levando subsídios. Demonstramos o impacto das alíquotas nas mensalidades e o quanto isso poderia gerar perda de receita e de massa salarial no futuro. E enfatizamos que 80% dos alunos do ensino superior, no Brasil, são de classes econômicas carentes. Foram números que embasaram a decisão final de tratar a educação de forma diferenciada.”
Ainda acerca de conquistas efetivas do triênio passado, Lúcia aponta o fato de o Prouni se transformar numa política de Estado e não algo atrelado a governos. Também aponta a coautoria, junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE), da proposta de redes de cooperação, “que poderá ser um grande avanço para as IES de pequeno e médio portes”.
Para o próximo triênio, há a preocupação com a guerra de preços, que existe há algum tempo e se intensificou no pós-pandemia. “Temos discutido muito acerca da necessidade de um mecanismo, para que atitudes isoladas não acabem com a sobrevivência de muitas instituições.
“A sociedade tem de ter a percepção do valor do ensino superior e de tudo o que ele representa para as pessoas e para o país”
Além disso, a sociedade tem de ter a percepção do valor do ensino superior e de tudo o que ele representa para as pessoas e para o país.”
Para, diretora do segmento Universidade, é preciso superar os gargalos para a educação de qualidade avançar
O marco regulatório, com as questões de supervisão e avaliação, sobretudo em relação aos cursos EAD, se mantém na pauta. “É necessário que sejam respeitadas e estimuladas as especificidades de cada curso, as diretrizes curriculares próprias, avaliando e supervisionando as que não oferecem um ensino de qualidade, mas valorizando sempre as que oferecem um ensino de excelência, o que não acontece atualmente. O EAD é importante para nosso país e para muitos que se beneficiam.”
Outro desafio continua sendo a sustentabilidade do setor, que persevera em meio à crise por falta de poder econômico dos mais jovens e das famílias brasileiras. “O Brasil tem um dos mais baixos acessos ao ensino superior, e também não forma o tanto de alunos que deveria no ensino médio.Temos de melhorar esse acesso, continuar o trabalho por políticas públicas, programas de financiamento e de bolsas. O Semesp tem uma excelente proposta de modelo de financiamento que temos apresentado nos congressos e ao Governo. Vamos continuar trabalhando por isso, também para ampliar o Fies e financiamentos não só para a graduação, mas também para a pós-graduação, além de reabrir outras linhas”, detalha.
Ainda este ano, o Semesp entregará sugestões de metas e diretrizes para o ensino superior, para o próximo Plano Nacional de Educação, cujo decênio vence em junho. “Estamos preocupados com uma eventual lacuna normativa, em caso de não aprovação e promulgação até a data. O objetivo mais uma vez é contribuir com propostas, devido à complexidade do debate, evitando-se açodamentos de um lado e oportunismos de outro”, finaliza a presidente.
Como objetivo geral, a presidente menciona a utilização de ferramentas e processos digitais inovadores para ampliar e consolidar o Semesp como um dos principais propositores de políticas públicas para a educação superior do país, “cada vez mais um grande hub de inovação, além do funcionamento de Redes de Cooperação Educacional no Brasil, com ampliação e aperfeiçoamento da sua estrutura, permitindo sinergia, interação e troca de conhecimentos entre as IES de todo o país”.
“Venho de uma família de educadores, acredito que o país se faz com educação séria e de qualidade e que é possível, sim, transformar to-
dos os setores por meio da educação e conseguir o resultado final que é o desenvolvimento sustentável do país. Mas, para isso, é importante que as bandeiras partidárias não se sobreponham à bandeira educacional”, afirma Priscilla Bonini Ribeiro, que acabou de assumir a diretoria do segmento de universidades, no Semesp.
Priscila foi secretária municipal de Educação do Guarujá, representante eleita dos dirigentes municipais de ensino da Baixada Santista, do Estado de São Paulo e, em seguida, de todo o Sudeste, junto à União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Como conselheira estadual de educação, participou do Plano Estadual de Educação. “Transitei por todos os níveis da educação, conheço os gargalos de cada um dos níveis”, conta. Para ela, além da superação das bandeiras partidárias, “é preciso haver uma plena articulação de interesses educacionais entre os entes federados – municípios, estados e União”.
Além disso, explica Priscila, o mundo deixou para trás a dicotomia entre o setor do ensino público e o privado. “O mundo discute ensino de qualidade. Os dois setores precisam caminhar harmonicamente. Temos de mudar o discurso e falar de educação de qualidade. O poder público não tem braço para atender a todos, então temos de usar muito bem nosso papel de transformar por meio da educação.”
A união de esforços pode garantir que se cumpram as metas do Plano Nacional de Educação. “É preciso trabalhar com as baixas taxas de escolarização em todos os níveis. De acordo com o Censo escolar, são 22,5 milhões de jovens de 18 a 24 anos no Brasil, e apenas 4% concluíram o ensino superior. São 21,2% de estudantes de 18 a 24 anos que largam o ensino médio. São dados alarmantes que apontam um efeito cascata. O ensino superior é a ponta do iceberg.”
Além de políticas que ampliem o acesso – como Prouni, Fies e os programas das IES privadas, filantrópicas e confessionais –, é preciso minimizar as evasões. “Observamos que o aban-
“É importante que as bandeiras partidárias não se sobreponham à bandeira educacional”
dono no ensino superior chega a um índice de quase 59%”, reitera.
Os estudantes recebem muita informação, mas de forma fragmentada. “As IES precisam dinamizar os cursos e desenvolver nos educandos habilidades e competências para o mercado de trabalho, cada vez mais dinâmico e desafiador. As metodologias ativas vêm despontando com muita qualidade no processo de ensino-aprendizagem; é preciso trabalhar por meio da experimentação, fazer com que o aluno sinta a importância do que está aprendendo, aplicando o conteúdo na resolução de problemas”.
As salas de aula abrigam faixas etárias diversas, pois muitos têm retornado aos bancos escolares. “O grande desafio do professor é trabalhar essa sala diversa, eclética, de uma forma didática, para que todos possam potencializar ao máximo o processo de ensino-aprendizagem.”
As IES também têm, ainda, o compromisso com a sustentabilidade social e ambiental. “Todo mundo fala da responsabilidade socioambiental. Como isso se materializa? Por meio de programas que permeiam todas as disciplinas e trabalhar com eles nos três pilares – ensino, pesquisa e extensão. É complexo, demanda esforço, recursos, mas é possível.”
Entre as conquistas do ensino superior, Priscila aponta a expansão da oferta de cursos, o crescimento da produção científica e a política de ações afirmativas. “Avançou, mas precisa acelerar.”
Tudo ou nada? Enfrentar divergências e explorar oportunidades
por Marina Feferbaumste ano, o prof. Fabio estabeleceu uma nova regra: antes de entrar na sala de aula, todos os alunos devem depositar seus eletrônicos em caixas, permanecendo ali até o fim da aula. A profa. Maria Tereza, diferentemente, reformou sua disciplina para tornar obrigatório o uso de ferramentas GPT nas atividades formativas e avaliativas.
Esses são apenas exemplos fictícios, mas que ilustram a realidade das divergências quanto ao papel da tecnologia em sala de aula e que precisam ser debatidos na academia. Antes de tudo, porém, é importante registrar que ambas as propostas são válidas, desde que adequadas ao objetivo pedagógico pretendido.
Tais divergências vão além daquelas relacionadas ao uso do celular em sala de aula. Num extremo, a tecnologia digital – particularmente a dos transformadores generativos pré-treinados (os GPTs, conforme a sigla em inglês) – é vista como uma grande ameaça à sociedade e ao emprego; no outro, como uma enorme conquista
da humanidade, cujo desenvolvimento tem de acontecer na maior velocidade possível. Trata-se, grosso modo, de uma disputa entre ideologia e pragmatismo.
Na sala de aula, o GPT, tão logo disponibilizado, chamou a atenção de docentes e gestores por sua capacidade de cumprir razoavelmente bem e de maneira praticamente instantânea diversas atividades de produção de texto e resolução de problemas. Isso se deu tanto nas tarefas planejadas para promover a aprendizagem como aquelas concebidas enquanto instrumentos de avaliação, comprometendo de maneira contundente a missão formativa do programa. Afinal, os principais instrumentos para pressionar a dedicação discente tornaram-se sem efeito. Daí a reação de banimento cautelar da tecnologia dos meandros acadêmicos.
O receio, claro, é concreto e verdadeiro, pois a tecnologia generativa é um atalho na produção de conteúdo. Ela, porém, não é definitiva, pelo menos não no estado atual. Há necessidade de checagens e aperfeiçoamentos das respostas geradas pela IA. Existem, inclusive, estudos que apontam as limitações da tecnologia e as dificuldades de superá-las.
Contingências à parte, nestes tempos de IA generativa, os instrumentos formativos e avaliativos requerem novas estratégias para engajar o aluno. No passado não digital, no do papel e caneta (quiçá da calculadora), o mero ato de escrever já produzia algum tipo de registro na memória, até mesmo em casos de plágio puro, em que o simples ato de copiar já imprimia na rede neural biológica fragmentos de informação. Eram horas de cadeira que, no mínimo, ajudavam a fixar o conteúdo. A IA generativa serve principalmente para economizar esse tempo. Não por acaso, torna a produção pura e simples de conteúdo uma tarefa sem valor agregado.
Ora, a promessa da tecnologia GPT é exatamente aliviar o usuário do trabalho bruto,
Contingências à parte, nestes tempos de IA generativa, os instrumentos formativos e avaliativos requerem novas estratégias para engajar o aluno.
produzindo conteúdo mais ou menos acabado. Com isso, aumenta-se o tempo disponível para seu refinamento. Logo, é um potencial aliado ao exercício da reflexão crítica.
Fazer dos GPTs aliados do processo de ensino-aprendizagem não é uma tarefa trivial. Esperar que o docente o faça espontaneamente é, no mínimo, um desrespeito à docência. Planejar aulas já custa tempo. Desenvolver métodos de ensino e de avaliação, além de tempo, requer conhecimento específico que não se adquire sem investimento dedicado a isso.
Ao mesmo tempo, banir totalmente a utilização do GPT do ambiente de ensino não parece uma opção adequada. Afinal, seu uso como ferramenta de produtividade é inevitável em vários cenários, haja vista seu potencial econômico. Logo, é necessário avançarmos no repertório metodológico, identificando boas aplicações práticas dele em sala de aula e situações em que sua proibição deva ocorrer. É, portanto, fundamental investir em pesquisa e formação docente, bem como incentivar o debate na comunidade docente.
Marina Feferbaum Coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) e da área de metodologia de ensino da FGV Direito SP, onde também é professora dos programas de graduação e pós-graduação.
Uma nova experiência com mais Aprendizado, Intercâmbio de Ideias e Novas Conexões para sua IES!
Em 2024, as Jornadas Regionais ganham um novo formato, sendo realizadas de modo conjunto com as Missões Técnicas Nacionais, criadas em 2023 dentro do Projeto Redes de Cooperação do Semesp, com o objetivo ampliar o benchmarking e a troca de experiências entre as IES.
E como esse novo formato vai funcionar?
No dia do evento, teremos uma programação especial dentro da instituição de ensino que sediará a edição da Jornadas Regionais. Além das tradicionais palestras sobre os dados regionais, com o diretor executivo Rodrigo Capelato, também vamos saber o que está acontecendo de novo no setor, conhecer cases de sucesso educacionais, criar oportunidades de parceria e muito mais!
Por que Benchmarking é importante para o crescimento da sua IES?
Benchmarking está totalmente ligado à inovação. Conhecer projetos, criar conexões, firmar parcerias e promover networking ajudam a sua instituição a se desenvolver, estar sempre antenada com o mercado e conseguir traçar estratégias baseadas em cases de sucessos.
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Faculdades Network, em Nova Odessa: estrutura à disposição da comunidade é estratégia para aproximar estudantes e suas famílias
Entre as 2.283 IES privadas do Brasil, 82,5% são de pequeno porte. No setor público, elas representam 36,4% das 312 instituições. Já as mantenedoras de grande porte, com mais de 20 mil alunos, representam 3,1% do total de IES da rede privada e 15,4% da rede pública. Juntas, estas de grande porte detêm 62,5% das matrículas do país, de acordo com o Mapa do Ensino Superior do Semesp. A tendência de concentração acentuou-se durante a pandemia, com 2,9% de aumento de matrículas nas IES de grande porte, de 2020 para 2021.
Números e fatos atestam as dificuldades para a IES de pequeno porte. Entretanto, elas resistem. “Resistimos porque acreditamos na educação de qualidade”, diz Tânia Cristina Bassani Cecilio, diretora-geral das Faculdades Network, em Nova Odessa, região metropolitana de Campinas, no interior paulista. Para ela, “a atuação
mercantilista dos grandes players do mercado na modalidade EAD – que configura uma indústria da educação – atrapalha, mas o problema maior não é este”. Há outros que afetam o ensino superior como um todo e mais diretamente as IES de pequeno porte. “As maiores alavancas da crise são os cortes dos projetos sociais e a falta de uma
política de apoio aos egressos do ensino médio.”
O Censo Escolar do Inep deste ano apontou que o ensino médio é a etapa com maior taxa de repetência (3,9%) e evasão (5,9%). “Além disso, ainda prevalece uma formação deficitária por causa da pandemia e o Enem tornou-se mais exigente, elitista e excludente.” Tânia lembra que o corte do Enem para acessar o Prouni é alto – 450 pontos e não zerar na redação – e 50% dos estudantes não alcançam. “Sobram vagas.”
A diretora menciona a importância dos projetos sociais. Por exemplo, o corte abrupto no Programa Escola da Família, em 2019, impactou estudantes e as IES particulares. O programa, criado pela Secretaria da Educação do estado em 2003, concedia bolsas de estudos. Tânia conta que grupos de universitários eram recrutados, treinados e encaminhados para as escolas estaduais aos finais de semana. Eles trabalhavam no acolhimento e com as questões de violência, ofereciam aulas de reforço e atividades esportivas. “Os mais carentes atuavam no projeto e estudavam gratuitamente nas IES. Trabalhamos quase vinte anos com esses projetos”, conta. Tânia aponta o custo do transporte como um complicador. “É quase mais caro a van do que a faculdade. Além disso, o serviço está deficitário. Cortaram linhas durante a pandemia e elas não voltaram. O jovem quer estudar e não tem como chegar.”
Somada a essas dificuldades está a “concorrência predatória com a modalidade EAD, que ‘vende’ a mesma qualidade, oferece o ‘mesmo’ diploma, mas em condições precárias, a ponto de mobilizar os órgãos de classe contra a precarização da educação superior”. Outro ponto, afirma, é o sistema de avaliação que não é coerente com a própria lei do Sinaes, tornando-se altamente punitivo.
Tânia acredita que o cenário pode melhorar se o sistema de avaliação promover a união,
o respeito e a cooperação entre as instituições e não a competição, além da valorização da identidade de cada instituição. A gestora sugere também políticas de apoio das faculdades para o ensino médio. “Nossos universitários têm muito a oferecer às escolas públicas”, ressalta. E mais – a regularização de débitos por meio do Proies, o Programa de estímulo à reestruturação e ao fortalecimento das instituições de ensino superior, que converte parte das dívidas tributárias com o governo federal em bolsas de estudo.
No âmbito da Faculdades Network, ações estratégicas enfrentam a crise. Uma delas foi a alteração no processo seletivo. “Retiramos a avaliação. Matriculamos os interessados e oferecemos um curso de nivelamento. Trabalhamos acolhimento, encorajamento, apresentamos as profissões e os cursos, apresentamos assuntos da atualidade e conteúdos tradicionais, como matemática e língua portuguesa, apontando as aplicações sociais. Oferecemos conteúdos de apoio para o ingresso no mercado de trabalho, como noções de ferramentas digitais e elaboração de currículos. Com isso, tivemos um aumento de 30% das matrículas.”
“A qualidade pedagógica é crucial”, afirma Wilson Santos, da UniVS
Investir na qualidade e na infraestrutura, profissionalismo na gestão com processos eficientes e enxutos, marketing arrojado e cuidados com a permanência são as principais estratégias para fazer frente à crise. Quem as elenca éWilson Santos, vice-reitor do Centro Universitário Vale do Salgado, há vinte anos em Icó, município de 66 mil habitantes no Vale do Salgado, interior do Ceará.
São 1.700 alunos na graduação, em oito cursos, todos presenciais. “Não utilizamos os 40% de aulas remotas permitidos pelo MEC. O que temos são algumas disciplinas do núcleo básico – sociologia, antropologia, metodologia, libras –no contexto que chamamos de ambiente presencial digital”, explica.
A UniVS, em Icó, Ceará, recebe 1.700 alunos na graduação, em oito cursos, todos presenciais
Nas atividades de extensão, houve a abertura para várias áreas; um exemplo é o atendimento aos alunos com dificuldade de aprendizagem por meio do curso de pedagogia. A infraestrutura da faculdade foi aberta à comunidade. “Aulas de natação e hidroginástica, ou de esportes, para atrair jovens e aproximar as famílias”, explica a diretora. E, por fim, a entrada no EAD, “com um modelo que chamamos de Pós-graduação lato sensu flex. As disciplinas são digitais, mas haverá um encontro presencial semanal”.
A qualidade pedagógica é crucial. Santos afirma que a UniVS fica entre as 7% melhores IES do país, numa posição que, de acordo com os resultados do Enade, varia entre a 153ª e a 158ª. “Nós trabalhamos para estar entre as 100 melhores. Ser uma instituição de qualidade é talvez a principal estratégia, com indicadores altos, cursos reconhecidos com nota 5 e Conceito Institucional (CI) 5.” Esses indicadores, explicaWilson Santos, inferem, inclusive, no oferecimento de mais bolsas por meio do Fies e Prouni, fundamentais para a região, em que de 60% a 70% dos alunos demandam bolsas.
“Trabalhar a empregabilidade do aluno também é ação estratégica. Temos um sistema de empregabilidade que desenha as principais competências que o mercado quer. Para isso, realizamos entrevistas com empregadores e a partir dessas informações trabalhamos os currículos e as competências em sala de aula.”
Wilson Santos ainda aponta o caminho do investimento na infraestrutura. A UniVS tem clínicas de fisioterapia, enfermagem, psicologia, medicina veterinária e o Núcleo de práticas jurídicas (NPJ). O atendimento à população colabora com a qualidade da formação e com a captação. São
mais de 30 mil atendimentos ao ano, que cobrem cerca de 33 municípios do entorno.
A curricularização da extensão faz a UniVS fincar ainda mais seus pés na comunidade local. “Temos uma temática, por exemplo, saúde pública. Os estudantes de todos os cursos vão para a comunidade para entender os problemas, as dores, e entregam um projeto que de fato tenha impacto e resolva o problema”, conta.
A UniVS se ressentiu diante do crescimento dos cursos EAD, especialmente no pós-pandemia. Além das preocupações com a própria instituição, há o olhar para o ensino superior como um todo. “Em relação ao EAD , a maioria dos grandes grupos não entrega qualidade na formação dos egressos. Os desafios da educação superior atual implicam saber como vamos resolver o problema do apagão de competências e como vamos proceder com as profissões. Não é possível formar um profissional de qualidade com ausência de práticas, de proposta pedagógica inovadora e consequente e sem uma formação efetiva para o novo mundo do trabalho”, finaliza.
Em setembro, a Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem) completará 102 anos, é praticamente um patrimônio de Três de Maio, município na região noroeste do Rio Grande do Sul com cerca de 24 mil habitantes. “A instituição nasce antes mesmo do município, por conta da imigração alemã. A comunidade luterana se reuniu para oferecer educação para os seus filhos”, conta o diretor-geral da instituição, Sandro Ergang, ele mesmo egresso da instituição, onde cursou da escola básica à graduação. “Até o mestrado realizei por meio de parceria da Setrem com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).” Ele trabalha na instituição há 23 anos, sete deles na direção.
A Setrem tem hoje 1.700 alunos, mas já chegou a ter 2.300, em todos os níveis de ensino.
Especificamente no ensino superior, são 800 alunos, entre graduação e pós. O cenário é negativo, pode não significar o fechamento da instituição, mas uma redução considerável da oferta de cursos. O curso de engenharia de produção da Setrem teve sua última turma formada em 2023, e o de sistema de informação também foi descontinuado. Em contrapartida, a Setrem oferece agora o curso de engenharia da computação. “Temos oito cursos, já tivemos 12 e a tendência é fechar mais alguns.”
Embora comunitária e filantrópica, a Setrem se coloca em situação de competitividade como qualquer outra. E a concorrência é pesada. “Os grandes players do mercado trabalham com escala e números assustadores.” Assim como em Nova Odessa, o custo do transporte público é uma barreira. “Recebemos alunos que moram a mais de 100 quilômetros de distância; para chegar precisam de transporte e o custo fica muito alto, quase o valor da mensalidade. O estudante acaba optando pelo EAD”, relata o diretor.
A partir de 2017, quando a redução de alunos foi mais proeminente, a Setrem experimentou
Localizada em Três de Maio, no Rio Grande do Sul, a Setrem, comunitária e filantrópica, se coloca em situação de competitividade como qualquer outra IES
Sandro Ergang, da Setrem: lançamento de cursos EAD com vivências presenciais e a prestação de serviços são ações que fazem frente à concorrência
estratégias como a contratação de profissionais de marketing para incrementar as mídias sociais. “Não deu certo, porque a nossa forma de captação é diferente da de grandes centros e conseguimos chegar mais diretamente no alunado”, explica.
A estratégia mais efetiva foi a redução de valores da mensalidade, com mais descontos e bolsas. “Houve melhora no quantitativo da captação de estudantes, mas, por outro lado, tivemos de abrir mão da receita.”
Para se tornar mais competitiva, a Setrem desenvolveu seus cursos EAD. A ideia é oferecê-los, mas manter momentos presenciais. “Fizemos o credenciamento do EAD em 2020, passamos por avaliação, tivemos conceito 5, só estamos aguardando a chancela do ministro para oferecer, mas não acreditamos na modalidade a distância sem vivência.” O EAD, então, talvez não resolva o problema dos alunos que estão mais distantes, mas o público local terá essa opção.
em pedagogia, e agora foi sobrestado, não poderemos oferecer. E as IES que estão oferecendo continuarão operando.”
Outra estratégia para minimizar os impactos da crise é a prestação de serviços dos laboratórios, como o de solo e de sementes. “Trabalhamos com o melhoramento genético de cultivares como canola e linhaça”, exemplifica, “e desenvolvemos agentes biológicos naturais para evitar o alto índice de agrotóxicos na lavoura; é um produto biológico, biodegradável e não poluente.” Cursos de curta duração para empresas, produtores, e formação de professores para agentes públicos e privados também estão na cesta de serviços. Além disso, em parte, “a educação básica sustenta a estrutura do ensino superior. Até 2015, o ensino superior basicamente sustentava a educação básica”.
O futuro é incerto. “A comunidade perde muito quando uma IES comunitária deixa de exercer o seu papel. Fazemos atividades em parceria com associações comerciais, sindicatos dos trabalhadores lojistas, com formação e qualificação de mão de obra local. Junto à prefeitura municipal, atendemos 42 municípios na formação de professores. Há outras instituições comunitárias parceiras que fazem o mesmo trabalho. Saem as comunitárias desse cenário, como será a formação?”
Nos laboratórios da Setrem, pesquisadores trabalham com melhoramento genético de cultivares como canola e linhaça e desenvolvem agentes biológicos naturais
Com os cursos EAD, o primeiro revés da Setrem foi o sobrestamento das licenciaturas na modalidade EAD pelo Ministério da Educação (MEC). “Para pensar um novo marco regulatório, o primeiro movimento foi sobrestar as licenciaturas. Ou seja, levamos três anos para credenciamento e autorização do curso de licenciatura
Capacitar as pessoas no âmbito da integração
Oportunidades à vista. É assim que a crise entre as IES de pequeno porte pode ser concebida. A própria característica das instituições, as pequenas dimensões, traz essas oportunidades. Três componentes podem favorecê-las, de acordo com Glauson Mendes, mentor de marketing educacional. “As pequenas instituições podem fazer o que nem todas as grandes IES fazem, que é a personalização e a experiência do aluno.” Além da personalização, os outros dois componentes são o marketing educacional integrado e o nicho de mercado e especialização.
“Um processo de educação mais personalizado significa ter os processos de atração, conversão e permanência do aluno com menos atritos, mais fluido, com uma boa experiência”, explica Mendes. No atendimento personalizado, é possível conhecer os fatores anteriores ao ingresso – as experiências educacionais, emocionais e sociais – e os objetivos do aluno. “Acreditamos que o aluno só quer empregabilidade. O ensino superior muitas vezes é o meio para ele ter um emprego, mas o objetivo dele, de fato, é comprar uma casa para os pais, ter uma vida melhor, dar segurança para sua família.”
O marketing, portanto, não é apenas a captação e a conversão, mas também o entendimento das experiências do aluno. E é integrado porque é necessário pensar a instituição de forma global. “O produto educacional, por mais que às vezes o pensemos como um serviço, é um grande processo integrado, ou pelo menos deveria ser.”
A partir deste viés, diz Mendes, as IES pequenas também podem ter mais movimentação e reduzir os “silos departamentais”. “Um setor depende do outro. E os técnicos administrativos, pedagógicos e o corpo acadêmico precisam entender que todos os processos da instituição, da captação ao on board, a acolhida no primeiro dia de aula, a adaptação ao longo do primeiro semestre, fazem parte de um único processo.” Daí a necessidade de capacitação das pessoas no âmbito da integração.
O nicho de mercado e a especialização são oportunidades porque “as IES pequenas conseguem atuar em mercados específicos, e os grandes grupos não conhecem as demandas setoriais como elas conhecem”, explica. “Programas de extensão em parceria com associações e empresários locais, reuniões com os departamentos de RH das empresas acerca do tipo de formação que demandam estão entre as ações positivas. Com elas, a IES consegue oferecer uma proposta de valor única”, finaliza.
Osurgimento de plástico no estômago das baleias e de outros animais marinhos deveria despertar a população humana para um problema que envolve a sua própria espécie. O alerta é feito pelo cineasta Ali Tabrizi na abertura do documentário Seaspiracy: Mar Vermelho , da Netflix. “Quando golfi nhos e baleias vão à superfície respirar, eles fertilizam pequenas plantas marinhas no oceano chamadas fi toplânctons, que absorvem quatro vezes mais a quantidade de dióxido de carbono do que a Floresta Amazônica e geram até 85% do oxigênio que respiramos. Se os golfi nhos e baleias morrem, o oceano morre. E, se o oceano morrer, nós também morremos” , adverte. Arquivo pessoal
Diante da crise climática, a saúde dos mares requer ainda mais atenção, fato que eleva a importância das carreiras relacionadas ao mundo subaquático. É o caso da biologia marinha, que hoje não conta com uma presença marcante no universo das instituições de ensino superior particulares e que, segundo especialistas, deve ganhar cada vez mais força.
Entre as IES que oferecem o curso, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conta com um olhar especial para os oceanos. Como destaca Rodrigo Leão de Moura, professor do departamento de biologia marinha e pesquisador do Núcleo Rogério Valle de Produção Sustentável da COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), a instituição promove uma disciplina colegiada, que fornece o primeiro contato entre o oceano e estudantes que vão direcionar sua formação para genética, botâni-
ca, zoologia e ecologia. “Esses estudantes tendem a ter pouco conhecimento sobre o oceano, e essa é uma lacuna que tentamos diminuir”, explica.
Moura também ressalta a busca pelo fortalecimento de temas ligados ao oceano no programa de pós-graduação em ecologia, tradicionalmente mais voltado para questões de ecossistema terrestres e de água doce. “Há um número considerável de dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre o oceano, defendidas e em andamento”, diz.
O curso de biologia marinha também é ofertado pela Universidade Santa Cecília (Unisanta) desde 1986 e atrai para a cidade de Santos estudantes de todo o país. Com duração de 8 semestres, apresenta enfoque nas disciplinas básicas do curso de graduação em ciências biológicas até o sexto semestre. Já no
Campo das profissões relacionadas ao mar é vasto
Jorge Luís dos Santos, coordenador do curso de ciências biológicas da Unisanta, fala sobre os desafios da oferta de biologia marinha nas IES privadas
Aulas práticas a bordo do navio
sétimo e oitavo semestres, são oferecidas disciplinas específicas da área. É o que conta Jorge Luís dos Santos, coordenador do curso de ciências biológicas.
Segundo o profissional, a oferta de vagas formais na área de biologia marinha ainda está em expansão no Brasil e isso se deve ao baixo investimento em pesquisa, inovação e empreendedo-
rismo na área das ciências marinhas em geral. “Entretanto, tenho notado uma mudança nesse quadro com iniciativas que ampliam a cada ano as ofertas de empregos que tendem a melhorar em médio prazo”, opina.
Questionado sobre os desafios de se ofertar biologia marinha em uma instituição privada, Santos fala sobre o estabelecimento de uma ponte entre a formação dos egressos e o mercado de trabalho. Por isso a importância de trabalhar a mentalidade empreendedora para o biólogo marinho. “Conseguimos desenvolver estágios em diferentes áreas que são preparatórias para os futuros profissionais ingressarem no mercado, sobretudo nas consultorias ambientais. Os alunos podem fazer estágios de monitoria com bolsa de incentivo no herbário científico, no acervo zoológico e no laboratório de ecotoxicologia da Unisanta. Na instituição privada, conseguimos desenvolver estas competências e habilidades aos futuros biólogos marinhos com muita intensidade dentro dos períodos de aula teórica e prática sem que haja a necessidade de ser um aluno em regime de tempo integral. Assim, o aluno consegue, durante o curso, ser também um trabalhador, estagiário ou trainee em meio período, o que garante vantagem para sua entrada definitiva no mercado.”
Alexander Turra é professor do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador da cátedra Unesco para a sustentabilidade do oceano. No instituto, atua de forma diversificada. “Uma das minhas frentes de atuação envolve aproximar o oceano da sociedade e a ciência das políticas públicas. Isso requer uma abordagem transdisciplinar e muito diálogo com diferentes atores sociais para ressignificar a ciência dentro das demandas sociais”, descreve. Turra busca trazer a biologia marinha para dentro de um contexto mais amplo,
Ciências do MarIII com o professor Rodrigo Leão de Moura, do departamento de biologia marinha da UFRJ o socioecológico. “Nós temos tanto o ambiente natural como o ambiente social. Esses ambientes interagem um com o outro e essa interação é importante para que possamos compreender
os efeitos que as atividades humanas têm sobre a biodiversidade e de que forma podemos efetivamente protegê-la.” Em sua atual linha de trabalho, o profissional aborda temas como conservação e impacto ambiental marinho, governança, gestão de praias arenosas e lixo marinho.
O profissional em biologia marinha entende o funcionamento de todo o ambiente marinho. Para Turra, tal propriedade é essencial em um contexto de emergência climática. “No ecossistema há fluxos de matéria e de energia, há processos que ocorrem e que, pautados na biodiversidade marinha, trazem benefícios para a humanidade. As mudanças climáticas atuarão fortemente nos ecossistemas, afetando a biodiversidade e alterando os benefícios que o ambiente marinho traz para as pessoas. É fundamental que o biólogo ou a bióloga marinha compreenda esse sistema e como as mudanças climáticas vão afetá-lo. Esses profissionais também terão de pensar quais são os caminhos para solucionar esses problemas.”
Moura reforça a importância do oceano para a sobrevivência humana, uma vez que equilibra as condições físico-químicas da biosfera. “Além disso, o gelo regula a circulação oceânica profunda e o nível do mar, uma questão-chave considerando que quase metade da humanidade vive em zonas costeiras. A geração de energia descarbonizada é promissora e pode ser feita com aproveitamento dos ventos fortes e constantes de diversas regiões costeiras e marinhas, sem falar na energia das ondas e das marés. Alimentos advindos do mar também podem ter seu papel aumentado nas próximas décadas. No entanto, toda essa promessa pode não se concretizar se não nos atentarmos para a vida marinha e
para a necessidade de industrialização marinha sem geração de mais poluição”, alerta.
“Olhar para o oceano é, sem dúvida, uma ferramenta para analisar a saúde do planeta”,
corrobora Pedro Volkmer de Castilho, biólogo e docente na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). O profissional enfatiza que o oceano é a principal estrutura do planeta e também a que menos conhecemos. “Precisamos de mais gente olhando para ele, estar mais vigilantes e ter informações básicas com mais credibilidade para que possamos ser ouvidos. Por serem algo mais palpável e que as pessoas conseguem ver, tocar e sentir, as florestas têm um apelo maior, logo são assimiladas com mais facilidade. O oceano é naturalmente mais difícil. As pessoas gostam, veem e admiram, mas a percepção delas é de praia e não necessariamente o oceano como um todo. O nosso dever de casa é aumentar esse processo de divulgação, porque é uma área que precisa de mais dedicação”, justifica.
Moura salienta que não se trata de um “passe de mágica” a ser resolvido com discursos em painéis internacionais e compromissos em prazos a perder de vista. “Ainda estamos longe de uma estratégia robusta para atravessar essa crise. Assim, sublinho: os investimentos em ciências do mar nunca foram tão necessários.”
Castilho foi parte do grupo de professores que propôs um curso de ciências biológicas para a UDESC. “A nossa ideia era a criação de um curso que tivesse adesão local, estamos localizados na região litorânea de Laguna, um lugar geograficamente importante. Não queríamos engessar o curso, assim optamos pela oferta de dois: o curso de biologia marinha e o de biodiversidade e conservação, ambos vinculados às ciências biológicas.” O profissional indica que a pouca oferta de cursos de graduação faz com que a habilitação em biologia marinha seja cada vez mais procurada. Na UDESC, os discentes de biodiversidade e conservação podem cursar disciplinas de biologia marinha e vice-versa.
Na avaliação do biólogo, hoje há uma demanda “exponencial” de assuntos voltados para o mar. “O Brasil resolveu que a sua expansão será marítima. Tem muito campo para profissionais e está faltando gente no mercado”, comenta. Ele atribui diferentes razões para essa realidade.
“Tem gente que tem capacidade e não quer embarcar, e gente que quer embarcar mas não tem capacidade. Com isso, não se encontram profissionais para algumas vagas”, exemplifica. Jorge Luís dos Santos comenta que o mercado tem se mostrado muito seletivo, exigindo uma elevada especialização. “Num universo em que há muitos biólogos formados, temos de buscar uma diferenciação para o biólogo marinho, oferecendo as melhores condições de formação científica ao aluno para que muitos sigam também para a carreira acadêmica se assim desejarem.”
Alexander Turra argumenta que o principal problema não é falta de cursos, mas sim de oportunidades para se ter uma formação complementar durante a graduação, por meio de disciplinas ou de cursos extracurriculares que possam ser dados de forma abrangente. “O Instituto Ocenográfico tem um curso de introdução a oceanografia, que não é de biologia marinha ou de oceanografia biológica, mas que traz elementos abrangentes e que beneficiam alunos de graduação dos dife-
rentes cursos de biologia do Brasil, além de outros interessados. É curioso pensar de que forma podemos ampliar a oferta da abordagem marinha nos cursos de ciências biológicas”, pondera.
Nos últimos anos, o ensino superior tem passado por uma verdadeira transformação tecnológica. No universo marinho o avanço não é diferente. Pedro Volkmer de Castilho conta que tem atuado diretamente com inteligência artificial (IA). “Entre as biologias, a marinha precisa dessa inovação tecnológica. Não tem como colocar uma pessoa para mergulhar a 500 metros de profundidade, precisamos de inovação, de criatividade e de equipamentos capazes de chegar aonde um ser humano não pode. A biologia marinha tem uma área basal, mas também uma área de inovação tecnológica que permite coisas incrivelmente interessantes. Nas embarcações oceanográficas, por exemplo, há o uso de robôs que coletam amostras, realizam mergulhos profundos de forma segura e ainda conseguem gravá-los. Quem tem esse viés da inovação tecnológica está muito à frente e sempre terá um destaque profissional, porque trazer atividades que facilitem o trabalho de pessoas, evitando alguns riscos, é o que fará diferença”, defende.
Por Alexander Turra
A Campanha Década do Oceano, desenvolvida pela Cátedra Unesco para Sustentabilidade e exibida na TV Cultura, conta com duas temporadas de dez episódios cada. Com pouco mais de um minuto, os episódios passam por temas como clima, maricultura, habitats marinhos, entre outros. As duas temporadas estão disponíveis no canal da Cátedra no YouTube. Acesse por meio do QR Code.
Na California State University, alunos da zona rural apresentam maior taxa de evasão e a instituição está empenhada em mudar a situação
Report
CHICO, Califórnia – Em uma tarde recente, a maioria dos alunos da biblioteca da California State University (Chico) estava debruçada silenciosamente sobre livros ou computadores, mas um grupo estava escondido em um canto fazendo perguntas ao presidente da universidade, Stephen Perez.
Qual é a menor cadeia de montanhas do mundo? A Sutter Buttes, cerca de uma hora ao sul de Chico. A única cidade incorporada no condado de Modoc? Alturas. O maior lago do condado de Plumas? O lago Almanor.
Os alunos estavam testando o conhecimento de Perez sobre a faixa predominantemente rural do estado atendida por seu campus. Porque é de lá que eles são.
Essa reunião, em sua maior parte descontraída, tinha um objetivo sério: fazer com que os líderes universitários vissem e apoiassem os estudantes rurais. Isso faz parte de um esforço pequeno, mas crescente, em alguns campi para criar um senso de pertencimento mais forte para os alunos rurais, que abandonam os estudos em taxas mais altas do que seus colegas metropolitanos.
A universidade está tentando “mudar a narrativa”, disse Perez aos cerca de 15 estudantes e funcionários na biblioteca, onde um pequeno espaço foi reservado para um centro permanente de recursos para estudantes rurais. “Adoraria conversar mais com vocês sobre o que podemos fazer”, disse ele, depois de responder a perguntas sobre orçamentos, aumentos de mensalidades e se ele era fã de Taylor Swift. (Sim: Perez disse que estava cantando “Our Song” em uma viagem de volta do aeroporto.)
Cerca de um quinto dos americanos vive em áreas rurais, de acordo com o U.S. Census Bureau. Mas poucas faculdades têm associações para que os alunos de áreas rurais se socializem e se ajudem mutuamente a superar os desafios que enfrentam, obstáculos como sentir-se deslocado, lidar com multidões ou transporte público e até mesmo transitar por rodovias movimentadas. Poucas ainda têm espaços físicos para que esses alunos possam se reunir.
Com a dificuldade de obter apoio, os estudantes rurais de todo o país começaram a criar suas próprias redes de apoio, principalmente nos últimos dois ou três anos, às vezes até sem o apoio da administração. A maioria desses clubes de estudantes rurais surgiu em universidades da Ivy League ou em outras instituições privadas altamente seletivas e, em geral, tem apenas um punhado de membros. Mas a tendência está se espalhando.
Na Chico State, um grupo chamado North State Student Ambassadors (Estudantes Embaixadores do Estado do Norte) representa os colegas da zona rural e trabalha para que eles se sintam bem-vindos. Seu novo espaço na biblioteca inclui um mapa da área de serviço da universidade, em 12 condados, abrangendo 33.000 milhas quadradas.Três desses condados – Modoc, Plumas e Trinity – são 100% rurais, segundo dados do censo.
Os alunos do ensino médio de cidades remotas da zona rural do norte da Califórnia têm uma opinião negativa sobre a universidade, disse a aluna do segundo ano Brynna Garcia, uma das moderadoras do evento, em parte porque – como Perez reconheceu – os recrutadores da Chico raramente viajam para essas cidades para falar com os possíveis alunos. Poucos de seus colegas de classe em Red Bluff, cerca de uma hora ao norte de Chico, chegaram a considerar a Chico State, disse ela.
Garcia disse que escolheu a Chico, universidade pública mais próxima, principalmente porque a neve fechou as estradas quando ela estava se preparando para visitar sua outra opção, a Universidade de Nevada, em Reno.
Frequentar a faculdade a apenas uma rápida viagem de carro de casa tornou a experiência um pouco mais fácil para Garcia, mas, como acontece com outros alunos de cidades pequenas e escolas de ensino médio minúsculas, a transição para o campus de 13.000 alunos de Chico tem sido assustadora às vezes. Um dormitório, por exemplo, pode ter mais residentes do que a escola de ensino médio rural.
“Ninguém ao seu redor tem as mesmas experiências”, escreveu Garcia em uma redação para o programa da universidade. “Eles não sabem o que é [Future Farmers of America]. Não entendem que sua cidade não tem um único motorista de Uber ou Lyft. Eles nunca viram as estrelas de seu quintal ou tocaram na neve e certamente não têm cavalos ou gado para cuidar.”
O espaço da biblioteca da Chico pode não ser muito grande, mas dá aos alunos a oportunidade de fazer uma pausa na pressão de se adaptar ao diferente, disse Karen Schreder, professora assistente de educação que trabalha com alunos de áreas rurais por meio do escritório de engajamento cívico do campus.
“Eles conhecem todo mundo em sua cidade e foram apoiados em sua jornada por todos em sua escola”, disse Schreder. “E então eles chegam
aqui e se perguntam: ‘O que eu faço no domingo? Para onde vou?’”
Na Universidade de Chicago, Savannah Doty, uma estudante sênior de 21 anos da zona rural do leste de Washington, disse que se sentiu completamente excluída quando abordou questões rurais em uma aula sobre os históricos da infraestrutura.
“O professor e o restante da turma não deram a mínima para o assunto”, disse Doty, presidente da Rural Student Alliance (Aliança dos Estudantes Rurais, em tradução livre) do campus. “Já tive essa experiência centenas de vezes em aulas, em que minha identidade rural é minimizada. Acho que todos se beneficiariam de ouvir sobre a experiência rural.”
Na Universidade de Brown, em Rhode Island, o clube rural realizou sessões sobre como usar o ônibus e como se locomover em Providence, disse Eliana Hornbuckle, aluna júnior da pequena cidade de Nevada, Iowa, com pouco menos de 7.000 habitantes. Poucos administradores da Brown, se houver, são de áreas rurais, disse ela, portanto, um clube dirigido por estudantes faz mais sentido do que um programa universitário.
“Não acho que seria tão bem-sucedido se fosse iniciado pela própria faculdade ou universidade”, disse Hornbuckle, que integra o grupo de líderes do clube. “Acho que seria estranho se a universidade estivesse criando um espaço para nos reunirmos. Seria formal demais.”
Universidade de Brown, em Providence, o clube rural realizou sessões sobre como usar o ônibus e se locomover na cidade
Chicago é um dos vários campi com grupos rurais que agora realizam excursões de boliche, encontros sociais para tomar sorvete e outros eventos criados para ajudar os alunos a se sentirem mais à vontade e falar sobre o que estão enfrentando.
O clube se tornou uma organização estudantil oficial em 2022, alguns anos após sua fundação, disse Abigail Bachenberg, formada pela Brown em 2023 e uma das primeiras integrantes. Os organizadores tiveram dificuldade em encontrar clubes semelhantes em outras escolas para usar como modelo, disse ela.
E m f o r m a t o a s s í n c r o n o , e s t e c u r s o a b o r d a p r á t i c a s , d e s a fi o s e o p o r t u n i d a d e s p a r a o s alunos aprofundarem seus conhecimentos na dimensão social do ESG.
Quer ter acesso ao vídeo demonstrativo?
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Muitas faculdades de elite estão começando a aumentar o recrutamento de candidatos de áreas rurais, mas os alunos de algumas instituições dizem que a atenção termina aí. Quando chegam ao campus, os alunos das áreas rurais geralmente sentem que as faculdades se esquecem deles, observou Ty McNamee, professor assistente de ensino superior da Universidade do Mississippi que pesquisa os alunos das áreas rurais. Um clube rural pode ajudar a aliviar essa angústia, disse ele.
“Muitas vezes, esses alunos têm as mesmas origens culturais e podem se apoiar mutuamente”, disse McNamee, que cresceu em um rancho no Wyoming e fundou um grupo de estudantes rurais enquanto estudava na Universidade de Columbia. Como um estudante que se mudou de uma cidade de 600 habitantes para a cidade de Nova York, ele disse que “estar nessa bolha onde eu me sentia validado foi muito útil para mim”.
Os alunos dos poucos clubes rurais oficiais estão tentando expandir essas oportunidades para mais universidades e faculdades. Madison Mellinger, na época sênior da Universidade de Princeton, organizou uma conferência virtual de dois dias com a participação de 80 a 90 estudantes em fevereiro passado para ajudar os estudantes a organizar clubes rurais. Os tópicos incluíam “síndrome do impostor e a identidade rural” e “criação e desenvolvimento de seu clube estudantil rural”.
Ninguém sabe quantos clubes estudantis rurais existem, disse Mellinger, mas os mais bem-sucedidos estabeleceram conexões com as administrações de suas escolas que resultaram em apoio financeiro.
Servando Melendrez, 19 anos, estudante do segundo ano da Chico State, da cidade de Westwood, no condado de Lassen, Califórnia, disse que nunca havia conhecido outros estudantes de áreas rurais no campus antes de participar do programa North State Ambassadors da universidade.
“Sem dúvida, é um grande passo para a Chico State fazer algo assim”, disse Melendrez, cuja cidade natal tem cerca de 1.500 habitantes e cuja
classe do ensino médio tinha 15 alunos. “É bom saber que a universidade está cuidando de nós.”
Os educadores envolvidos com a educação rural na Purdue University, Kansas State University e Virginia Tech disseram que gostariam de encontrar mais maneiras de apoiar os estudantes rurais.
Inspirada pela iniciativa de Chico, a Virginia Tech planeja criar um espaço físico para os alunos da zona rural, disse Amy Azano, professora de alfabetização de adolescentes e educação rural da universidade. Embora a universidade de 38.000 alunos seja cercada por comunidades rurais, disse ela, ainda assim pode ser difícil para os estudantes rurais.
“Temos de criar esse senso de pertencimento”, disse Azano, diretora fundadora do Virginia Tech Center for Rural Education. “O fato de estarmos em um ambiente bucólico não significa que os alunos da zona rural se sintam confortáveis aqui.”
O grupo de estudantes rurais da Chico foi um dos principais motivos pelos quais Sophia Dutton, de 19 anos, da cidade de Graeagle, no condado de Plumas, Califórnia, se transferiu para Chico depois de um ano difícil de caloura em um grande campus de San Diego. Seus colegas de classe e professores em San Diego não entendiam como sua criação na zona rural influenciou sua vida e sua educação, lembra Dutton, e o campus não tinha um clube de estudantes da zona rural.
Estar mais perto de casa e da zona rural da Califórnia foi um alívio, disse ela. “Nunca fui uma pessoa da cidade e sei disso”, contou Dutton.
Na Chico University, quando o evento com o presidente terminou, os alunos se misturaram e discutiram os planos para o fim de semana. Alguns planejavam voltar de carro para suas pequenas cidades, onde, segundo eles, a distância faz parte da atração. Dutton já sabia o que fazer: “Vou voltar para casa e olhar as estrelas hoje à noite”.
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