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3.1. A história do gatekeeping

Segundo Aroso (2003), “agora, mais do que nunca, precisamos de jornalistas profissionais que ajudem a distinguir o trigo de notícias de confiança e opiniões credíveis do joio de rumores e propaganda que abundam na Internet”. A ideia deste trabalho é levantar ainda mais o debate sobre os comportamentos dos jornalistas nas redes sociais, o espaço pessoal e profissional na internet e o impacto da audiência – e dos cliques – na produção jornalística.

Esse efeito devastador da internet brasileira ainda poderá ter consequências duradouras para as próximas gerações de jornalistas. E não há efeito mais difícil de remover do que o da falta de referência. Ou da falta de critério, da falta de cuidado com a informação. Isso ainda persiste em grande parte das empresas ligadas à internet. Vale a velocidade, mais do que o critério jornalístico. Vale, portanto, todo cuidado do mundo ao jovem jornalista convidado a fazer parte de uma das aventuras. (COELHO, 2003 p.62, 63)

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3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

O jornalismo sofreu com mudanças nas últimas duas décadas com o advento - e desenvolvimento – do mundo digital. Considerado o selecionador do valor-notícia das publicações, o jornalista agora se divide em uma nova função na era das redes sociais e de facilidade no acesso à informação instantânea. As mudanças do modo de consumo também alteram o sistema de gatekeeping e desenvolvem o gatewatching.

3.1. A história do gatekeeping

A teoria do gatekeeping foi criada pelo pesquisador alemão Kurt Lewin em estudo de 1947 e é fruto do campo da psicologia – diferente das outras teorias da comunicação, que são originárias na área sociológica. Embora em sua tradução gatekeeper seja traduzido como “porteiro”, Lewin utiliza o conceito como “selecionador” . A pesquisa do alemão teve como foco o processo de alimentação do ser humano. Lewin estudava os distúrbios alimentares e o que rege o princípio da fome. Gatekeeping, então, surge como o selecionador e instrumento psicológico que modifica os hábitos alimentares. Lewin “tentava explicar o comportamento como uma função de grupos de fatores que constituem um todo dinâmico – o campo psicológico” (BAVELAS, 1948, p. 16, apud SHOEMAKER e VOS, p.24). Durante os estudos, o psicólogo alemão notou que existiam zonas que podiam funcionar como “cancelas”, ou “portais”, que mudam substancialmente o comportamento após a passagem por estes. No ano de 1950, o sociólogo e comunicólogo americano David Manning White inicia estudos a partir da teoria criada por Lewin e aponta um filtro, um “porteiro”, que seleciona as

informações que iriam para o grande público, em artigo publicado na revista Journalism Quartely. Segundo Correia (2011), o gatekeeping é, na sua origem, uma noção que traz em si uma discussão sobre as distorções provocadas pela subjetividade na prática jornalística. Assim como White (1993, apud MAROCCO, 2005, p.9), o qual ressalta que “o processo de seleção é subjetivo e arbitrário, com as decisões dependendo muito de juízos de valor baseados no conjunto de experiências, atitudes e expectativas do gatekeeper”. A partir dos estudos de White (1950), pesquisadores passam a focar no emissor, em quem faz a publicação. Vale ressaltar que, diferentemente da agenda setting, que cria tendências e influencia no cotidiano, a teoria do gatekeeper estuda as motivações por trás do jornalista ou do editor de convencer o público que aquela notícia deve ser consumida, com os seus critérios de seleção. Porém, Marocco (2005) aponta que o editor suprimiu as notícias que considerava desagradáveis dando importância as agradáveis.

Essa atitude, que dava espaço no noticiário à exploração continuada de materiais que exploravam visões parciais e/ou distorcidas do que acontecia na realidade (“one-sided materials”), principalmente em época de guerra, poderia causar mais estragos na opinião pública do que um ataque armado em campo de batalha. (Marocco, 2005, p. 16)

Axel Bruns (2011) afirma que as decisões eram críticas, já que “o número total de publicações noticiosas em uma esfera de mídia regional ou nacional estava também rigidamente limitado”. Vale relembrar que na época os meios de comunicação tinham grande influência, mas ainda eram dominados por poucos. Neste cenário, Bruns explica que existem três processos no gatekeeping: entrada, produção e resposta. Porém, a participação da audiência na decisão sobre o que é publicado ainda é ínfima. Segundo o pesquisador australiano, “os interesses e as reações das audiências das notícias são subentendidos e presumidos pelos jornalistas e editores que acreditam ter uma noção intuitiva do que querem seus leitores, ouvintes e telespectadores”. No início dos anos 1990, um polêmico movimento chamado de Jornalismo Público surgiu dentro da imprensa nos Estados Unidos. Segundo Filho (2006), jornalistas, professores e principalmente meios de comunicação questionavam os conceitos fundamentais do jornalismo e propunha reflexões sobre uma nova relação com os usuários. Mesmo assim, de acordo com Axel Bruns (2011), “isto não altera de maneira significativa as relações de poder entre os jornalistas, na sua capacidade de produtores das notícias, e as audiências na sua capacidade de consumidores das notícias”.

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