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2.2 A chegada do movimento Feminista no Brasil

homens, que são bravas. Eu asseguro a essas pessoas que sou tão de verdade e tão radical quanto uma feminista pode ser, e que, se ousarem se aproximar do feminismo, verão que não é como haviam imaginado. (HOOKS, 2018, p. 9).

Desde o começo, o movimento feminista projetou um novo destino a mulher, um destino de liberdade, progresso e transformação contínua, onde não haveria espaço para o silenciamento feminino e acomodação para imperialismo do patriarcado.

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2.2 A chegada do Movimento Feminista no Brasil

No Brasil, no início dos anos 30, mais precisamente em 1934, originou-se a União Feminina, seis anos após a conquista do direito ao voto da mulher brasileira ocorrido em 1932. Era parte da Aliança Nacional Liberadora (ANL), movimento organizado no ano de 1935, sob o comando de comunistas com a intenção de acabar o governo de Getúlio Vargas e fixar um governo popular. Suas aliadas eram especialmente mulheres intelectuais e operárias. Vista como ilicitude em 1935, houve prisões de todas as suas diretoras, algumas delas ficando por mais de um ano afastadas do convívio social. A cidadã alemã, Olga Benário Prestes, membro da União Feminina e guerrilheira contra o nazismo no Brasil, também foi presa e deportada para Alemanha, sendo internada em um campo de concentração. Em 1937 o país sofreu um golpe de estado do presidente Vargas, que tinha como propósito sua continuidade no poder como ditador. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 71) essa conjuntura política do Estado Novo, proibiu qualquer tipo de mobilização popular de índole reivindicatória, havendo assim um período de retrocesso do movimento de mulheres.

Mesmo com a falta de “folego” da mobilização feminina em massa devido a repressão da ditadura, a luta das mulheres era a mesma do povo, que contrapunha o golpe e defendia a democracia. Já em 1945 a democratização no Brasil integrou uma quantidade generosa de mulheres nas campanhas nacionais, como a do petróleo, a anistia e pela paz mundial. Muitas mulheres também se mobilizaram nas Associações de Bairros. Esses compromissos não tinham um cunho exatamente feminista, mas evidenciavam a presença da mulher na esfera pública. Segundo Teles (1993, p. 48) essa inclusão das mulheres na democracia aconteceu após o fim da Segunda Guerra Mundial:

Com o fim da guerra, surgiu no Rio de janeiro o Comitê de Mulheres pela Democracia, num esforço para as mulheres participarem de fato da consolidação da democracia e da conquista da igualdade de direitos em termos profissionais, administrativos, culturais e políticos. Desenvolveu-se também a luta pela anistia, e se fundou a Associação de Donas-de-Casa contra a carestia. (TELES, 1993, p. 48).

Essas atuações não repercutiram na Assembléia Nacional Constituinte, instalada no ano de 1946, e que não constava nenhuma participação feminina.

Em 1964, período de desmobilização pelo golpe militar, não existia lugar para a organização de movimentos populares. Entretanto, determinadas mulheres cooperavam nos movimentos organizados de oposição ao regime militar, assim como em atos públicos e manifestações. Porém, a presença da mulher só é expressiva na esfera pública com a luta pela anistia. O Movimento Feminino pela anistia foi fundado em São Paulo no ano de 1975, e segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 71) “liga a sua origem a um movimento semelhante de 1945, e que primeiro levantou esta bandeira após 1964”.

Em 1975, é promovido no Rio de Janeiro o Ano Internacional da Mulher, por um grupo feminino com o apoio da ONU e da ABI, realizando assim uma semana de discussões sobre a condição da mulher. Neste encontro foi criado O Centro da mulher Brasileira, no Rio de Janeiro e São Paulo, considerado um marco no sentindo de operar enquanto organização feminista. Mais tarde, são editados dois jornais feministas: “Brasil Mulher”, de londrina e seguidamente São Paulo, e “Nós mulheres”, de São Paulo. Nesse momento também são gerados clubes de reflexão. De acordo com Teles (1993, p. 84), o ano de 1975 foi um marco importante para a ideologia feminista no Brasil:

Graças ao desempenho das mulheres, 1975 tornou-se um marco histórico para o avanço de ideias feministas no Brasil. Sob uma ditadura militar, mas com o apoio da ONU, a mulher brasileira passou, então, a ser protagonista de sua própria história, em que a luta por seus direitos específicos se fundia com as questões gerais. Respondia forte aos anseios da época: de se expressar, de falar, de enfrentar, de agir. (TELES, 1993, p. 84).

Nestes anos inicias o feminismo teve uma evolução vagarosa e acompanhou de perto a luta pelo aumento do espaço democrático no País. Já no fim da década de 70, o movimento feminista cresce formidavelmente, pela fundação de novos núcleos em outros Estados e pelo aparecimento de muitas turmas com panoramas e formas diferentes de atuação. Em 1980 e 1981 diversos grupos foram constituído em todo o Brasil, e segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 72) isso “demonstra a vitalidade deste movimento”.

Surge então sem São Paulo o “Mulherio”, um jornal que vem substituir “Nos Mulheres” e Brasil Mulher”, que tiveram suas publicações suspensas. Segundo Alves e Pitanguy (1985, p. 72) “os grupos dedicam-se às mais variadas tarefas: reflexão; publicação de folhetos sobre sexualidade; direitos da mulher; saúde; pesquisas; grupos de estudo; cinema; teatro; SOS contra a violência; Casa da Mulher, etc.”.

Semelhantemente como aconteceu nos Estados Unidos e Europa, no Brasil os grupos feministas também se posicionam como organizações independentes, ou seja, sem nenhum vínculo formal com qualquer partido político. De acordo com Alves e Pitanguy (1985, p. 73) ainda que não houvesse transformações eficientes na época, o movimento feminista continuava a incentivar a reflexões sobre as questões da mulher:

Apesar de ainda não terem sido alcançadas mudanças – seja na estrutura jurídica (no Brasil, o Código Civil de 1916, inspirado no Direito Romano, identificava o status civil da mulher casada ao dos menores, silvícolas e alienados – tornando-a portando civilmente incapaz. Esta legislação esteve em vigor até 1962, quando foi revogada pela lei 4121/62): modificação da condição subordinada da mulher casada, legalidade do aborto, e outras; seja na criação de infra-estrutura social de apoio à mãe e à criança; creches, escolas, saúde; seja quanto aos direitos da mulher que trabalha: profissionalização, igualdade salarial, acesso a cargos de responsabilidade – o movimento feminista tem-se mobilizado em torno destas questões, trazendo a público este debate e denunciando a condição inferiorizada da mulher. (ALVES E PITANGUY, p. 73).

Em 1980, uma das frentes de luta do movimento feminista no Brasil havia sido a delação da depreciação da mulher, definida nas mais variadas manifestações da nossa cultura. Uma das expressões mais claras de desprezo ao ser feminino é através da violência. Grupos feministas vinham se reunindo em todo país para denunciar a violência e prestar apoio as vítimas. Em diferentes Estados houveram criações de Casas da Mulher e SOS Violência, que auxiliam na assistência de mulheres em situação de abusos. Também surgiram grupos que desenvolveram trabalhos relacionados a organização para o parto, centros de cultura e assim em diante. Teles (1993, p. 131) fala sobre a sensível situação da mulher brasileira no âmbito da violência doméstica e da desvalorização das denúncias feministas:

A mulher brasileira até então se mantinha calada frente a violência doméstica. Capaz de denunciar corajosamente as torturas e assassinatos cometidos pela política, omitia a violência praticada contra ela própria pelo seu marido ou companheiro. As feministas denunciavam a violência doméstica e sexual, sem, contudo, mostrar casos concretos, como uma mulher assassinada pelo companheiro ou mulher visivelmente espancada, que fazia com que jornalistas e lideranças de esquerda alegassem que elas apenas copiavam as europeias, porque “lá sim, é que tem esse tipo de violência”. (TELES, 1993, p. 131).

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