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3.1 O que é o jornalismo independente?

(2005, p. 207-208) não é possível reconhecer as responsabilidades jornalísticas para com a sociedade se perceber a informação somente com uma mercadoria:

O poder do jornalismo e dos jornalistas aponta para a importância das suas responsabilidades sociais. A afirmação do reconhecimento das suas responsabilidades, por parte dos jornalistas e também por parte das empresas jornalísticas, não é possível reduzindo as notícias a uma simples mercadoria, e ignorando a existência dos ideais mais nobres do jornalismo, que fornecem uma manta de legitimidade ao negócio. (TRAQUINA, 2005, p. 207-208).

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Os jornalistas de veículos de comunicação independentes fazem das notícias mais do que um produto a ser negociado, pois compreendem com maturidade que para cumprir com o dever social não há alternativas de remendos – o que é certo precisa ser feito de modo honesto e sincero. São profissionais que não desejam separar seu coração de sua carreira jornalística, abraçando a sua consciência humana, pois como diz Abramo (1997, p. 109) “o jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”.

3.1 O que é jornalismo independente?

Emancipação. De modo geral, essa é a melhor palavra para definir sobre o que se refere o jornalismo independente. Existem vários fatores que contribuíram para que os jornalistas adotassem esse novo formato de atuação, e se desvinculassem dos grandes grupos corporativos midiáticos. Podemos apontar, por exemplo, que se trata de um resultado de uma geração de profissionais que tem como essência a automotivação. São mais informatizados, autônomos e com facilidade para desempenhar multitarefas. Assim como os funcionários, segundo Deuze e Wistschge (2016, p. 09) as redações jornalísticas também mudaram juntamente com os novos modelos de negócios:

A fragmentação das redações e emergências de uma sociedade “redacional”, e a ubiquidade das tecnológicas midiáticas. Estas tendências, cada uma a sua maneira, apontam para uma perspectiva de jornalista mais individual que institucional e para uma necessidade de re-conceituar o campo. (DEUZE E WITCHGE, 2016, p. 09).

O jornalismo independente é um completo rompimento com o jornalismo convencional e com seus métodos de produzir e disseminar informação. Podemos enxergá-lo como um novo nicho jornalístico. Bertocchi (2017, p. 113) explica esse conceito de empreendedorismo comunicacional:

Buscam inaugurar um modelo singular, inédito e visionário de negócio, promovendo ruptura em suas diversas camadas: equipes, estratégias, processos, formatos narrativos, audiências e tecnologia. Ou seja, sem ser mais um galho movo na mesma arvore, criar uma startup de jornalismo não significa sair da redação e abrir um negócio de jornalismo digital (ou se tornar freelancer)como forma de sustento alternativo diante da falta de empregos nas empresas de mídias tradicionais. Além disso, as startups de jornalismo são empresas que desbravam uma trilha de inovadora (e de alto risco) para resolver problemas reais na sociedade. (BERTOCCHI, 2017, p. 113).

É notório que com o crescimento da internet e da alfabetização digital, consequência da globalização, o jornalismo abraçou de forma otimista outros horizontes empregatícios. A mídia tradicional migrou para as redes sociais e para outras plataformas e dispositivos na web, a fim de alcançar diferentes públicos, aumentar a sua audiência e garantir mais anunciantes. Já o jornalismo independente, apesar de ser um empreendimento, nem sempre visa obter lucros, e seu comprometimento não se reduz as questões técnicas do mercado. Segundo Bertocchi (2017, p. 113) “precisam se adaptar velozmente ao longo da jornada para concretizar tal inovação, isso antes mesmo de gerar lucros” .

Para exercer dignamente o papel de porta voz e mediador de conhecimento da sociedade, o jornalista precisa de uma imprensa livre. Entretanto, em determinadas circunstâncias, as amarras provêm dos próprios veículos de comunicação de massa hegemônicos. Seja pelo posicionamento político, ideológico ou econômico, muitas mídias privadas utilizam-se de sua grande influência pública para se auto beneficiar. Publicam matérias, notícias e informações tendenciosas, que protegem seus aliados e interesses, ignorando a confiança que fora depositada pelo leitor/telespectador em seu trabalho de investigação. Logo o produto noticioso é vendido de forma totalmente antiética, o que coloca em risco a espinha dorsal para a valorização do serviço prestado pelo jornalista ao povo: a credibilidade. De acordo com Bucci (2000, p. 56) a difusão de conteúdo informativos deve ser cem por cento dedicado ao interesse do leitor:

Manter a independência editorial exclusivamente para o leitor. Independência editorial, portanto, significa manter a autonomia para apurar, investigar, editar e difundir toda a informação que seja de interesse público, o interesse de cidadão, e não permitir que nenhum outro interesse prejudique essa missão. (Bucci, 2000, p.56).

O jornalismo é sem dúvida um dos pilares para se construir uma sociedade democrática, pois todo o exercício dessa profissão é fundamentado nas preocupações

coletivas. Entretanto, a posição elitista de muitos meios de comunicação tradicionais, principalmente na área jornalística, tem esfriado a sua relação com o povo, que por muitas vezes não sente que seus interesses são devidamente bem representados pela imprensa. Obviamente, não podemos ignorar que o trabalho da mídia privada tem um grau de importância elevado, pois a maioria dos veículos de comunicação de massa, ou seja, que atinge um alto número de receptores, são privados. Porém, as problemáticas discutidas são sobre sua autenticidade com o púbico e suas manobras de manipulação, valendo-se do jornalismo. Segundo Kapuscinski (2008, p. 43) há muitas maneiras de se manipular o público e modificar as informações:

Existem diversas formas de manipulação. Nos jornais, podemos fazer uma manipulação através do que decidimos pôr na premira pagina, do título que escolhemos e do espaço que damos a um acontecimento. Há centenas de formas de manipular as notícias na imprensa. E outras centenas na rádio e na televisão. E sem dizer mentiras. O problema da rádio e da televisão é que não é necessário mentir. O sistema é muito simples: omitir um assunto. A amor parte dos espetadores da televisão recebe de modo muito passivo o que lhes e dado. Os patrões das cadeias televisivas decidem por eles o que devem pensar. Determinam a lista de coisas em que se deve pensar sobre elas [...] Trata-se de uma arma fundamental na construção da opinião pública. Se não falarmos de um acontecimento, este simplesmente não existe. (KAPUSCINSKI, 2008, p. 43)

O jornalismo independente apoia um desenvolvimento jornalístico democrático, o que torna seu ofício mais transparente e livre perante a sociedade, criando assim uma relação de confiança e respeito mútuo entre o jornalista e o povo. Proteger esse elo tornase um dos substanciais objetivos do jornalismo independente. De acordo com Guerra (1998, p. 131) é muito complicado pensar em jornalismo sem a confiabilidade do público e sem credibilidade dos jornais:

Público e profissionais se empenham no sentindo de garantir o espaço noticioso do jornalismo como expressão da realidade. É o imperativo ético que funda o jornalismo, que o coloca como uma das mais importantes instituições das sociedades contemporâneas. Sem a confiança do público e a credibilidade dos jornais, torna-se muito difícil pensar em jornalismo. (GUERRA, 1998, p. 131).

De caráter progressista e comunitário, a mídia independente incentiva que seus funcionários assumam os seus valores e princípios morais como pessoas cívicas também no âmbito profissional. Essa atitude reflete diretamente no trabalho dos jornalistas e do próprio veículo de comunicação emancipado, que adotam, por vezes, um engajamento militante em seus conteúdos. Propositalmente, se afastam do conceito de objetividade, aliás, conceito esse tão defendido no jornalismo convencional. Segundo Rangel (2003, p.

3) um jornalismo de objetividade, sem o discurso planfetário e político, torna o leitor mais passivo:

Com a “objetividade nas mãos”, o jornalista criara o efeito de neutralidade do discurso jornalístico – produzido a partir das novas técnicas redacionais. Sem precisar tornar como seu o discurso planfetário de um ou de outro jornal, o leitor passou a escolher um jornalismo de forma diferenciada: se, com caráter planfetário, o jornalismo era entendido como essencialmente político, já com a objetividade – ou a presunção dela – o leitor se tornaria mais “passivo”, pois a pretensa objetividade do jornalismo implicava uma certa garantia de nãodistorção dos fatos e na não necessidade de buscar outras fontes de notícia. Além disso, a ancoragem factual do novo jornalismo, baseando em nomes, endereços e fatos reais, dava a ideia de “ser o real”, proporcionando ao leitor a confiança de que o jornalismo precisava operar com legitimidade. (RANGEL, 2003, P. 3).

As organizações jornalísticas independentes que se dedicam a diversas frentes de lutas sociais, procuram produzir um conteúdo personalizado para as minorias. Esse tipo de atuação baseado no senso de cidadania não é um altruísmo inesperado, pois nesses casos, grande parte da equipe de jornalistas que integram o quadro de colaboradores destes veículos, pertencem ao grupo e a realidade dais quais escrevem. Podemos citar, por exemplo, o jornalismo periférico. Neste meio de atividade jornalística, jornalistas jovens e de condições humildes produzem matérias sobre bairros marginalizados pela sociedade, a fim de denunciar as problemáticas que os moradores enfrentam por questões classistas e preconceituosas. Torna-se então uma mídia comunitária. Relacionado a esse mesmo contexto do jornalismo periférico, também existe a mídia local, que relata os acontecimentos sobre a região, de modo menos singular, inclusive, utiliza-se muito das plataformas digitais disseminar suas informações. Dornelles (2009, p. 163) explica com precisão a diferença entre esses dois tipos de mídia:

Porém, segundo identificou, a tendência maior é que a mídia local se ocupe de assuntos mais gerais (das vias públicas, tragédias, violência urbana, tráfico de drogas, política local, serviços públicos, problemas da cidade, culinária regional e etc.), enquanto os meios de comunitários trabalham, principalmente com pautas de interesse mais específico de segmento sociais (assuntos dos bairros, do trabalho, dos movimentos sociais, questões de violência, esclarecimento quantos aos perigos relacionados as drogas e outras problemáticas de segmentos sociais excluídos). O primeiro tipo de mídia, visa, mais a transmissão da informação e o segundo a mobilização e a educação informal. (DORNELLES, 2009, p. 163).

O jornalismo cidadão também está bastante associado ao jornalismo independente. Essa modalidade jornalística se constitui no direito de todos, ou seja, de qualquer cidadão, fazer notícia. De maneira alguma é uma forma de excluir a necessidade

da capacitação profissional oferecida academicamente, mas sim de entender que pessoas comuns não são unicamente fontes de informação, elas podem assumir o papel de produtoras, e pressuposto que a sua intenção seja de trabalhar juntamente aos veículos de comunicação, auxiliadoras. Segundo Foschini e Taddei (2006, p. 10-11) o jornalismo cidadão tem muito a agregar na vida dos jornalistas:

O termo “jornalismo cidadão” foi adotado em todo mundo e também no Brasil para nomear a produção de notícias nesse novo universo. Ele não exclui a produção dos jornalistas profissionais, acrescenta a ela a contribuição dos cidadãos jornalistas, leigos que são testemunhas de fatos importantes, gente que está no lugar certo e hora certa para cobrir um evento, especialistas que podem falar melhor sobre um determinado assunto e ainda as vozes que simplesmente desejam se manifestar. Você pode ser um destes colaboradores, eventuais ou regulares, no mundo. (FOSCHINI E TADDEI, 2006, p. 10-11).

Com a difusão da internet e outros artefatos digitais, a imprensa tradicional vem modernizando os seus métodos operantes, mas ainda sim está muito longe de gerar afinidade o suficiente com a audiência a ponto de aceitar uma participação direta e frequente do público na produção de suas matérias. Já no jornalismo independente a influência do público é muito maior em quantidade e importância. Por, quase sempre, a mídia independente tratar de assuntos do interesse do povo, as colaborações deles são sempre bem-vindas. Alguns veículos de comunicação independentes dedicam espaços em suas páginas e plataformas para que o próprio espectadores noticiem seus materiais jornalísticos. É uma condição de parceria e reciprocidade. De acordo com Foschini e Taddei (2006, p. 9) na internet não existe uma estrutura que isole o receptor do emissor:

A separação rígida entre os que fazem as notícias e os que recebem as informações desaparecem no mundo virtual. Os profissionais da comunicação têm agora milhares de aliados na tarefa de apurar fatos, conhecer novidades, reunir e comentar informações. Qualquer um pode fazer notícia. O modelo tradicional, que distingue emissores e receptores da informação. Deu lugar a comunicação feitas por meio da colaboração. (FOSCHINI E TADDEI, 2006, p. 9).

De princípios éticos e viés democráticos, o jornalismo independente resgata a verdadeira essência jornalística. Sua pretensão é valorizar a opinião pública e trabalhar a favor da sociedade, investigando, denunciando e produzindo notícias de temas cívicos e humanos, porém, com mais especifidade. De caráter destemido, o jornalismo independente não se fixa a padrões e normas que possam engessar seus deveres como jornalistas, atuando com franqueza e urbanidade. Enfim, é o emponderamento profissional que as questões monetárias das empresas de comunicação por anos filtraram

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