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1. INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
A obra monográfica apresentada tem como principal propósito evidenciar a importância da informação jornalística na luta contra o machismo estrutural no Brasil. O androcentrismo ainda é uma triste realidade do nosso país, no qual a cultura foi moldada sob os princípios do patriarcado, um sistema social hegemônico e influente em diferentes aspectos da sociedade, e em sua preeminência ilustra a figura da mulher como um ser frágil, dependente e inferior. Tal fato é descrito por Adchie (2014, p. 40), pois segundo a autora a sociedade faz as meninas sentirem vergonha da condição feminina, já nascendo com o sentimento de culpa e crescendo sem poder externar os seus desejos.
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Com a gradual mudança de pensamentos e valores da comunidade moderna, movimentos iniciados no passado ganham forças no atual cenário político do país, entre eles o feminismo, um dos sérios elementos do tema estudado e desenvolvido neste Trabalho de Conclusão de Curso, do qual retrataremos com profundidade. Hooks (2018, p. 13), teórica feminista, acredita que as pessoas deveriam ter esta simples definição do feminismo e lerem repetidas vezes para saber que o “feminismo é um movimento para acabar com sexismo, exploração sexista e opressão’’.
O feminismo surgiu após a Revolução Francesa, se fortaleceu na Inglaterra no decorrer do século XIX e nos Estados Unidos no início do século XX. Beauvoir (1970, p. 148) destaca que essa grande revolução, ocorrida no século XIX, transforma o destino da mulher e abre para ela, uma nova era. Para entender um pouco mais, o movimento feminista, genericamente, “tem como objetivo a luta pela igualdade de gênero, uma reivindicação para que ambos os sexos recebam os mesmos direitos, oportunidades e liberdade”. Adchie (2014, p. 30) acentua a importância do pensamento e ação sobre o assunto de gênero “é importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo’’.
No Brasil, o movimento surgiu no século XIX, na luta das mulheres por direito à educação feminina, direito de voto e a abolição dos escravos. Com o passar dos anos, a ideologia feminista foi tecendo mais propostas e recortes sobre o assunto, a fim de incluir cada vez mais as problemáticas e questões que impactam as mulheres e suas distintas
vivências e singularidades, diariamente. “As questões sugeridas nos 8 de março passaram a ser levantadas também em outras diferentes ocasiões. A luta da mulher por suas questões ganhou caráter cotidiano’’ (TELES, 1993, p. 50).
Com a internet, o ativismo digital feminista pôde disseminar seus conteúdos, alcançando um grande número de usuários, que se interessam e se identificam com as temáticas abordadas pelo movimento, o permitindo conquistar muitos integrantes e apoiadores. Em compensação, parte da estrutura do machismo, resistente a mudanças e à desconstrução, também utiliza o ciberespaço para tentar difundir preconceitos, intolerância e misoginia, porém se enfraquece ao ser confrontada por informações conscientes, pois se alimenta da ignorância social. Aliás, o desconhecimento proposital é visto pelo machismo como uma forma de proteção de seus privilégios, como narra Adichie (2014, p. 29) em seu livro Sejamos Todos Feministas:
Dou uma oficina de escrita em Lagos e uma das jovens que participa do grupo me disse que um amigo lhe havia prevenido de não prestar atenção no meu “discurso feminista” — sob pena de absorver ideias que destruiriam seu casamento. (ADICHIE, 2014, p. 29)
E é neste ponto que se revela a importância do jornalismo independente e feminista: mais do que ser a vanguarda da sociedade, comunicando em massa as informações que surpreendem, acertam, ajudam e prejudicam o povo, é fazer parte do movimento feminista, abraçando as suas questões e conceitos, compartilhando para além do grupo militante. Os meios de comunicação são um auxílio na divulgação dos ideais feministas, pois segundo Hooks (2018, p. 38) há uma multidão que não tem habilidade para ler a maioria dos livros feministas, então audiolivros, musicas, rádio e televisão, por exemplo, são formas de compartilhar o conhecimento feminista.
Este é o caso do jornalismo independente e feminista da revista eletrônica/site AzMina, nascida em 2015 de um financiamento coletivo. O jornalismo da revista AzMina produz conteúdo sobre mulheres e não somente para “mulheres’’, excluindo qualquer tipo de rotulação feminina, que há anos persegue a mulher como uma forma de confortá-la em sua subjugação. Com o seu posicionamento claramente feminista, AzMina alcançou o público que acolheu suas campanhas dentro e fora do ambiente digital, campanhas essas que descontruíram certos comportamentos machistas até então socialmente relevados, como o assédio no carnaval. Isso mostrou o poder da mídia de ajudar a legitimar o movimento feminista, e certamente, de iluminar o porquê essa postura
deveria ser aplicada em todas as redações de jornalismo, independentes e corporativos, pois prova que a informação consegue mudar uma inaceitável realidade nacional.
Falar sobre machismo, jornalismo e feminismo é falar sobre as questões sensíveis da sociedade. A informação pode perpetuar pensamentos e percepções, ou transformá-los e revolucioná-los para sempre. Por isso a informação livre e ao mesmo tempo comprometida é um paradoxal que se faz coeso nesta monografia. Escolher um lado, uma história, a serviço da população é mais que uma responsabilidade jornalística, é um dever profissional, moral e social. Nesta conjuntura, o trabalho exibe a intricada situação dos direitos das mulheres brasileiras, o movimento feminista que as protege e as encoraja simultaneamente com o papel do jornalista independente e feminista neste contexto da sociedade atual, propagando informações que agregam na desnaturalização do conjunto machista.
O primeiro capítulo abordará a história do feminismo e seus conceitos, buscando entender a época, o sistema e a natureza desse movimento, trazendo informações precisas e importantes sobre a sua origem e evolução. O segundo capitulo baseia-se na essência do jornalismo independente, a fim de compreender a sua atuação no meio jornalístico, as suas principais razões e formas, além de evidenciar sua emancipação das concepções tradicionais e sua participação no movimento militante feminista. No terceiro capítulo entenderemos o jornalismo praticado pela revista eletrônica AzMina e a sua congruência profissional, e também utilizaremos o método de análise para examinar três infográficos anexados nas três reportagens da revista sobre a violência contra a mulher, publicadas nos dias 27 de novembro de 2017, 04 de março de 2020 e 23 de novembro de 2021. O tratamento do assunto, o argumento e a informação serão academicamente estudados.
A motivação fundamental para a realização desta temática no Trabalho de Conclusão de Curso encontra-se na necessidade de conscientizar a sociedade brasileira
sobre a importância da informação jornalística na luta contra o machismo estrutural, oriundo historicamente e culturalmente do patriarcado, sistema vigente até hoje através da política e da economia do país. O efeito da primazia masculina é observado, principalmente, nos três poderes que regem o Brasil: o executivo, legislativo e judiciário. A falta de representação feminina em cargos de alta gestão compromete os direitos