Revista pronews158

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ESTUDANDO A PROPAGANDA:

TOM ZÉ E O ANÚNCIO DA COCA-COLA

“Vendido, vendido, vendido! / A preço de banana / Já não olha mais pro samba / Tá estudando propaganda”. Com esse refrão é dado o início à primeira audiência do Tribunal do Feicebuqui (2013), EP virtual lançado mês passado pelo mais incansável e inquieto cancionista brasileiro – Tom Zé. Pois é, seu zé: depois de estudar o samba, o pagode e a bossa, o baiano resolveu agora se enveredar nas artimanhas do advertising. O disco recém-parido surge como um conjunto de crônicas que narram a recente polêmica em que o compositor se envolveu por participar de um anúncio da Coca-Cola para promover a Copa do Mundo de 2014. No comercial, no qual Tom Zé empresta a voz à narração, a copa do Brasil é apresentada como “Copa de Todo Mundo”, feita por todos e para todos, “e quando a gente fala todo mundo é todo mundo mesmo” – enfatiza enquanto locutor. Bastou isto, e centenas de fãs apontaram o inquisidor dedo indicador da “mãozinha do mouse” – como bem é ilustrado na imagem de divulgação do disco – para enviar à página do cantor no Facebook (ou feicebuqui?) uma enxurrada de repreensões e discursos decepcionados. O ex-tropicalista, associado à série de críticas que sempre fez ao capitalismo e às corporações ao longo de sua carreira como compositor, foi visto levantando uma bandeira estigmatizada como maior símbolo do imperialismo ianque de todos os tempos. Afora isso, houve também o delicado fato do

anúncio classificar como “copa de todos”, um evento envolvido em diversas polêmicas que envolvem superfaturamento de obras e as consideradas políticas “higienistas” que têm acontecido em certos estados, como o Rio de Janeiro. Entre elas está a realocação compulsória, em condições bastante questionáveis, de comunidades habitacionais miseráveis do entorno das áreas dos estádios em construção. Ao menos foram estes os argumentos que usaram os críticos como justificativa para seus manifestos indignados. E bastaram para não deixar Tom Zé dormir. Na madrugada do dia 8 de março, o músico postou em sua fanpage um texto de esclarecimento com toda a humildade de quem, no alto de seus 76 anos e com uma carreira artística irrepreensível, não prega as pestanas se algo fica de mal-entendido entre ele e seu público. “ Po i s é , p e s s o a l , estou preocupado”, iniciou o músico. “Quando fui consultado sobre o anúncio nem pensei nessa probabilidade. No ano passado meu disco fora patrocinado pela Natura e como eu nunca tinha recebido patrocínio desse tipo – nem de nenhum outro –, cara, eu me senti como um artista levado em conta! Para profissionais de meu tipo as gravadoras são agora inalcançáveis”, justificou-se.

O disco ‘Tribunal do Feicebuqui’ é fruto das críticas que Tom Zé recebeu por ter feito publicidade para Coca-Cola 27

Matheus Torreão |

Após ter sido acusado nas redes sociais de ‘se vender’ por ter feito publicidade para a marca de refrigerantes, Tom Zé canta a polêmica no novo EP ‘Tribunal do Feicebuqui’


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