CALANDRAGEM

Oano era 2018, outubro exatamente. O Brasil, terra de tupiniquins, viveu um processo polarizado e disputado para a eleição do mais alto cargo de chefia do país, a presidência da república. Polarizado, importante ressaltar, pelas ideologias de direita vs esquerda, e pelos seus respectivos representantes, Jair Messias Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O primeiro candidato citado realizava abertamente discursos violentos e de ódio às minorias sociais em nome de Deus, da família e da moral, defendia o armamento civil e sua campanha tinha como lema “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. Bolsonaro, com seus quase 30 anos como político, quase não propôs leis ou decretos, pelo seu ar “cômico” e maldoso, esperava-se pouco barulho favorável
REITOR: DR. GILDÁSIO GUEDES
VICE REITOR:
DR. VIRIATO CAMPELO CHEFE DO DCS/UFPI:
DR. ELIEZER CASTIEL MENDA
COORDENADOR DO CURSO: DR. NAYRA VERAS
PROFESSORES:
MESTRANDO GEOVANE PEREIRA (TEXTO)
MESTRE CANTÍDIO SOUSA FILHO (FOTOGRAFIA)
DOUTOR RAFAEL RANGEL WINCH (DIAGRAMAÇÃO)
AGNES MOITA MADEIRA CAMPOS, ALZIRARRIZA SILVA GAMA, ANA LAURA DE SA ANDRADE, ANDRESSA LOPES DE OLIVEIRA, ANNA LUISA MELO COELHO, ARNALDO BRUNO SILVA GOMES, BEATRIZ DE OLIVEIRA JUSTINIANO, BEATRIZ PEREIRA DA SILVA E SILVA, DILMARIA ARAUJO CARVALHO, DRICCIA HELLEN ANDRADE, EDUARDO CAUA CUNHA AVELINO, FERNANDA MARTINS DE GIOVANNA REGO, HELOISA MARIA ALVES DOS SANTOS, MIGUEL DE ANDRADE, JADE GOMES MEDEIROS ZAGURY, JEFFERSON VITOR LEMOS VIEIRA, JULIANE CRISTINA PRADO ALBUQUERQUE, LAISA MARIA DE MOURA MENDES, LAYZA VALLERIA PINHEIRO MOURAO, LEONOR ANTUNES EVARISTO, MARCOS VINICIO NASCIMENTO, MARIA EDUARDA MACHADO SERVOLO, NICOLAS PEREIRA DA SILVA BRITO, TAINARIA VITORIA BATISTA PIRES E THUANNE STEFANY MENDES DE CARVALHO.
a ele nas urnas, mas o preço foi alto...
No mesmo ano, Messias foi eleito com 57.797.847 votos do povo brasileiro contra 47.040.906 de Fernando Haddad. Seu governo foi marcado por cortes na educação e saúde, revisão de políticas públicas, discursos racistas, misóginos e LGBTfóbicos durante toda gestão. E o ápice da atuação desse governo ocorreu num momento de pandemia global, causada pela Covid-19, entre 2020 e 2022, que enclausurou por medida de segurança e contenção o mundo por quase dois anos.
Nesse período, o Messias negou a ciência e a vida de milhões de brasileiros, por ir contra as medidas preventivas, descredibilizar os estudos científicos e recusar sucessivas vezes as primeiras doses de vacinas ofertadas ao Brasil. O Saldo disso custou a
vida de mais de 600 mil brasileiros(as). Além disso, o Brasil voltou ao mapa da fome: em junho deste ano, a Rede Penssan revelou que 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer. Outro número alarmante é o do desemprego, que chega a 10,6 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE (2022). A imagem do país internacionalmente também é preocupante desde o ponto de vista econômico ao social.
Novembro de 2022. 4 anos depois, toda essa polarização continua. Após um 1º turno encerrado com considerável vantagem do candidato do PT, no 2º turno, Lula venceu as eleições com 50,9% (60.345.999 votos) contra 49,1% (58.206.354 votos) de Bolsonaro. Apesar dessa simbólica e importante vitória da esquerda, é ainda assustador pensarmos que quase metade dos eleitores votaram em Bolsonaro. O saldo dos últimos quatro anos ainda não foi suficiente?
Acordo mais um dia com o jornal da manhã noticiando os escândalos de corrupção do Brasil. Político tal tem empresa fantasma, governador acusado de lavagem de dinheiro, prefeitos envolvidos com caixa dois, até quando essa triste realidade vai perdurar?
Levanto e me preparo para sair de casa e logo na porta vejo um policial pedindo suborno para anular multa e penso que o Brasil está perdido mesmo. No trajeto para faculdade olho em volta e percebo o quanto corrupto o brasileiro é, e o jeitinho brasileiro é uma forma de disfarçar essas pequenas corrupções rotineiras. E agora? Como podemos cobrar uma política limpa e honesta se nós cidadãos não somos honestos?
Entrei e sentei na cadeira perto do cobrador do ônibus que até então não estava muito lotado, porém a medida que vai passando as paradas mais gente vai subindo e chega uma hora que não dá nem para se mover, na última parada antes da universidade vejo uma mulher pagando sua passagem e recebendo troco a mais, o pobre do corretor não percebe e logo a mulher entra conferindo seu dinheiro um sorriso no rosto. Que pouca vergonha, logo penso, pobre do cobrado já deve estar cansado, tomara que esse dinheiro não seja descontado no seu salário.
Desci do ônibus com o mesmo pensamento, até onde vai a corrupção brasileira? Para minha feliz ou infelicidade minha aula de sociologia era sobre Roberto
DaMata que contemplava em suas obras o jeitinho brasileiro. Quanto mais eu pensava sobre essa questão mais indignado eu ficava com a sociedade. Minha cabeça estava para explodir, então eu resolvi fazer uma autoavaliação, quantas vezes eu já não pratiquei esses pequenos atos na minha vida? Quantas vezes eu fui desonesto? Colei na prova, não devolvi o dinheiro que caiu de uma pessoa, falsifiquei assinaturas dos meus pais, comprei produtos falsificados, esses pensamentos já estavam me consumindo. Entre essa autoavaliação surgiu uma, ela que é a minha corrupção de cada dia, furar a fila do RU (Restaurante Universitário). Não teve um dia em que eu almocei na universidade que eu não furei fila do RU.
A aula acabou e me sentia um lixo, me sentia sendo igualado a todo político corrupto, não era certo isso, não era a vida de alguém digno. Com essas ideias circulando na minha cabeça eu me dirigia com dois amigos para a fila do almoço, estava determinado a ser uma pessoa melhor. No entanto sou puxado por um dos meus colegas. - Felipe, o que você tá fazendo? Não tá com fome?
Acho que os meus planos de ser uma pessoa melhor já era. Essa é minha corrupção de cada dia e da de diversos alunos que saem por aí pedindo mais honestidade e justiça no país onde a corrupção vem de berço. Enfim, a hipocrisia.
Driccia AndradeNo Brasil, as eleições presidenciais ocorrem a cada quatro anos e o Datafolha é uma das instituições de pesquisa consideravelmente confiáveis, nas quais os eleitores podem acompanhar as intenções de voto para os candidatos. Dois mil e vinte e dois (2022), é um ano de disputa eleitoral. Nas ruas, redes sociais e até mesmo nas conversas cotidianas, é visível notarmos uma crescente polarização política, que tem como protagonistas os candidatos à presidência do Brasil, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), causada pela rivalidade político partidária da: esquerda e direita. Ambos, são vistos como principais representantes dos objetivos e valores dos eleitores que se identificam com um dos “lados da moeda”. Como consequência dessa polarização, é cada dia mais comum vermos espalhados pelas cidades pontos de venda de toalhas com a estampa dos candidatos Lula e Bolsonaro.
Esse fenômeno desperta curiosidade nos indivíduos e pode até gerar competições entre os eleitores, de “qual político possui o maior número de toalhas vendidas”. Fomos às ruas em busca de um vendedor dessas toalhas, era por volta de 15h da tarde e ironicamente não conseguíamos encontrar um dos vende-
dores, o que corriqueiramente é algo fácil de se encontrar ao dar uma volta por Teresina. Porém, depois de algum tempo, localizamos no bairro Horto, o senhor VT [o vendedor não quis ter sua identidade revelada], que em uma conversa informal, nos contou:
Criado em 1983, como departamento de pesquisa do Grupo Folha de São Paulo, o Datafolha tornou-se uma empresa indepedente e hoje é um dos mais importantes institutos de opinião pública no Brasil.
A declaração do comerciante traz à tona a rivalidade política existente entre os dois candidatos e nos leva a ideia de um novo método de pesquisa eleitoral: o “Datatoalha". A opinião pública e sua fluidez (intertítulo) Para entendermos as mudanças de comportamento e opiniões da sociedade, entrevistamos também o Jornalista e Doutor em Ciência Política, Fenelon Rocha (FR), que ao ser questionado sobre a possível existência de novos métodos de campanha, nos afirma que “As campanhas mudam o tempo todo, mudam de acordo com as demandas da população[...]. E temos visto campanhas cada vez mais surpreendentes”.
Ao ser perguntaso sobe a confiabilidade do método do Datafolha, Fene-
lon pondera: “A grande questão não é saber se o Datafolha é confiável, ou não confiável [...], é saber se a opinião pública é estável, ou não estável. Em tempos de campanha política, a cada dia surgem fatos e informações, que podem mudar a opinião dos eleitores rapidamente, fora a diferença sociocultural existente entre os diversos indivíduos votantes brasileiros, como é informado pelo vendedor de toalhas ao ser questionado sobre as características do púbico de compradores de toalhas: “Aqui (horto, zona nobre da cidade) eu costumo vender mais toalha do Bolsonaro, um dia desses um homem comprou 5 e levou mais 1 do Lula, ele disse que ia usar como pano de chão. Mas, lá na vila da paz (zona periférica da cidade), só dá Lula”, explica VT. Situações como essas, exemplificam e respondem questionamentos sobre a não precisão de métodos de pesquisa. Não por falta de confiabilidade, mas pela fluidez da opinião pública, pertencente a indivíduos pensantes e sujeitos a alterações/ mudanças de pensamentos/posicionamentos.De todo modo, é inquestionável a importância da liberdade do livre comércio, opinião e manifestação política, para que os modos de se fazer política se reinventem/reestruturem, a favor da democracia.
PREFIRO NÃO FALAR, VAI QUE EU DIGO QUE TÔ VENDENDO MAIS TOALHA DE UM CANDIDATO E OS ELEITORES DO OUTRO, FICAM COM RAIVABandeiras de Bolsonaro e Lula/ Foto: Alzirarriza Gama
Ao contrário do que muitos pensam, a culinária nordestina não é toda igual, cada estado tem sua riqueza e tempero para contar, o Piauí está aqui para provar isso. A gastronomia é um dos principais atrativos da região, com uma forte influência indígena, a comida leva utilização de temperos frescos como pimenta-de-cheiro e cebolinha, tornando os pratos saborosos que conquistam o paladar de todos aqueles que provam. O hábito de utilizar milho, farinha de mandioca, macaxeira cozida com sal e mel são heranças indígenas que torna a cozinha piauiense, um elemento único.
É conhecida no Piauí como um prato que dá energia e disposição. É feita com o bucho do bode e as tripas do boi, tudo muito bem temperado com cebola, pimenta-de-cheiro, coentro e muito mais.
Trata-se de um cozido de miúdos de bode ou porco com vários tipos de temperos como pimenta do reino, cheiro verde e pimentão.
Não é a tradicional paçoca de amendoim que você conhece, é uma comida à base de farinha de mandioca e carne de sol. Assim como a paçoca de Amendoim, a de carne também é triturada ou socada. A paçoca é um dos legados deixado pelos povos indígenas no Piauí.
Atualmente, no Piauí, muitas famílias vivem das vendas desses alimentos. Entrevistamos Dona Maria, que trabalha há mais de 15 anos vendendo comidas típicas no mercado do Dirceu I, localizado na zona sudeste de Teresina, Capital do Estado. Além de tirar todo o sustendo de sua família por meio dessas vendas, ela afirma que estimula a economia local, gerando empregos, principalmente para mulheres e garantindo a renda de outras famílias.
A empreendedora ainda relata que toda semana repõe o estoque dos alimentos com seus fornecedores, fomentando ainda mais a economia da região. Dona Maria é conhecida por vender a melhor panelada no mercado do Dirceu I. Além da panelada, seus pratos mais vendidos são: sarapatel e caldo de carne. Ela conta que nunca precisou de estratégias para divulgar suas vendas, é o “boca a boca” que chama os clientes. “Nunca tive custo para chegar até os meus clientes. Não uso redes sociais, nem nada do tipo para fazer a divulgação. As
pessoas que estão passeando pelo mercado são curiosas, sentem o cheiro e acabam parando no restaurante para experimentar. Eu costumo dizer que a divulgação é o “boca a boca (risos).”, declara.
Ao ser questionada sobre quais dos temperos mais utilizados despertam o interesse do público, ela conta: “sem dúvidas os mais utilizados são a pimenta-de-cheiro, cebolinha, azeite de coco e o coentro. São eles que dão todo o sabor da nossa comida e agrada o paladar de quem prova.”
Ao perguntarmos sobre a pandemia da Covid-19, a vendedora fala que foi uma época difícil, principalmente nas primeiras semanas.
“Foi desesperador ter que fechar as portas sendo que o único meio de sustentar minha família eram aquelas vendas. Tive que me reinventar, trabalhar de casa com minhas duas funcionárias e ainda contratar um motoboy”, declarou.
A realidade de Dona Maria faz parte do quadro de pandemia do coronavírus que afetou a vida de muitos vendedores de comida no Estado do Piauí. Em consequência do distanciamento social, esses empreendedores tiveram que fechar as portas, ou não podiam ir às ruas comercializar esses alimentos. Nesse cenário, esses vendedores tiveram suas fontes de renda cortadas e se viram na mesma situação que Dona Maria, tendo que se reinventar e encontrar novas formas de trabalhar e empreender em meio aos novos desafios.
A comida piauiense é um dos principais atrativos do Estado, fator que eleva a cultura e a economia da regiãoAlizirarriza Gama, Beatriz de Oliveira, Jefferson Lemos, Laisa de Moura e Thuanne de Carvalho
pessoas, que desperte a curiosidade delas para aquele local [...]”, declarou. Infelizmente, na prática, não é isso que acontece. A Constituição Federal de 1988, no Artigo 216, prevê que o Poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação.
Frei Sefarim, Igreja São Benedito, Mercado Velho, Encontro dos Rios, Teatro 4 de Setembro, casarões velhos e estropiados pelo centro de Teresina menina, com seus poucos 170 anos, possui lugares que fazem e trazem parte do crescimento e identidade da jovem capital, filha do sol do Equador sendo esquecidos no tempo...
Uma das maneiras de preservar a história e memória de uma cidade é o tombamento de patrimônios históricos. O processo de tombamento de um espaço é instrumento de reconhecimento e proteção de um patrimônio cultural, artístico e histórico de um determinado local.
A capital do Piauí é rica em cenários históricos e belezas naturais, só que infelizmente as pessoas ainda não se deram conta da dimensão cultural que a cidade representa. Diversos patrimônios históricos pela cidade foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), como a Floresta Fóssil do Rio Poty, o Conjunto Arquitetônico do Pátio Ferroviário de Teresina, a Ponte Metálica, dentre outros patrimônios que se encontram negligenciado
O ato de tombar um espaço não é o suficiente para garantir a proteção de um patrimônio. É necessário que haja uma política de prote-
ção para que esses espaços sejam conservados e utilizados pelas pessoas na sociedade como forma de turismo para nossa cidade. Segundo o IPHAN seccional do Piauí, “A responsabilidade imediata de preservar, manter e conservar a coisa tombada em nível federal é do proprietário. Uma vez tombado, o bem não pode ser destruído demolido ou mutilado [...]”
“A utilização e manutenção dos espaços tombados em nível federal compete aos proprietários e cabe ao IPHAN fiscalizar estes espaços”, pontuou a assessoria de Comunicação do IPHAN-PI.
Um espaço tombado pode ser um lugar de contemplação, preservação da história que já se passou, ou até remeter a algo intrínseco de quem o frequenta. É um ambiente que nele pode habitar mil utilidades. A ociosidade que existe em alguns pontos em Teresina faz com que se repense sobre o não uso de um patrimônio histórico em benefício da sociedade. Para Jhonnatha Gabriel Rodrigues Almeida, estudante de arqueologia da UFPI, a atribuição de uma utilidade a esses espaços só traz benefícios.
“A manutenção e conservação desses espaços devem ser tomadas como prioridade, para que assim sejam feitas ações em cima desses patrimônios, algo mais atrativo para as
Mesmo depois da lei ter sido posta na constituição, vive-se um retrocesso cultural, afinal a cultura vive sendo ameaçada diariamente pelos governantes. Questionado, o futuro arqueólogo se preocupa: “Vejo como uma irresponsabilidade imensa deixar patrimônios históricos tão bonitos como esses em completo estado de abandono, além de uma grande falta de respeito com um pedaço da própria história. Nossos patrimônios são uma parte de nós, da nossa história e cultura. Eles trazem consigo lembranças e sentimentos`` Nesse sentido, é perceptível o quanto a nossa sociedade ainda resiste em não valorizar a cultura da cidade. O tombamento de um espaço é importante para nossa história enquanto cidadãos e também assegura que as futuras gerações possam ter conhecimento sobre esses lugares que marcam e contam a história da nossa cidade.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro é um dos patrimônios protegidos pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que abriga itens que fazem parte da história nacional. Boa parte dele foi destruído por um incêndio em meados de 2018 o que deixou perdas bastantes significativas para a história de nosso povo esse tipo de acontecimento fatídico se deve pela falta de fiscalização e cuidado perante os bens públicos o descaso com os patrimônios históricos não acontece somente no Piauí. Infelizmente, a nossa história é constantemente atacada e violada. No entanto, é necessário que o governo federal haja em prol da manutenção desses espaços.
Ponte Metálica João Luis Ferreira. / Foto: Fernanda MartinsAtualmente, há uma grande evasão de jovens do ensino superior, e ao se observar o problema com foco nos transexuais, é possível ver que a identidade de gênero é uma das questões que afetam o ingresso e a permanência dessas pessoas nas universidades. De acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), apenas 0,2% dos estudantes das universidades são transexuais. Nesse contexto, os estudos da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) apresentam que uma das consequências é que apenas 10% da população trans se encontra empregada no mercado de trabalho formal e 90% sobrevivem por meio da prostituição.
Conversamos com jovens trans da Universidade Federal do Piauí no campus de Teresina. As experiências e percepções que esses estudantes têm sobre a vida acadêmica foi a pauta da nossa conversa. Icaro Luie, estudante trans não-binário do curso de Artes Visuais, fala sobre o porquê de achar que as porcentagens de entrada nas universidades são tão baixas. “Acre-
dito que aconteça pela violência que a nossa comunidade sofre na sociedade. O medo de estar sujeito a esse tipo de agressão (física ou verbal) até em um ambiente de estudo e aprendizagem, pode acabar impedindo das pessoas tentarem cursar o que desejam”. A afirmação é comprovada em dados da ANTRA lançados no começo de 2022, onde apontam que 140 vítimas transexuais de assassinatos no ano de 2021.
Apesar dos números alarmantes, há leis nacionais que garantem o respeito dessa população, mas que não funcionam na prática. Por esse motivo, é comum jovens LGBT’s verem as instituições de ensino como local de violência e de risco contra a própria segurança. Uma das normas que serviria de acolhimento é o do nome social, que apesar de ser uma normativa do Ministério da Educação (MEC), é bastante desrespeitado. Sobre isso, Ícaro afirma: “Na questão de nome social, eu utilizo ele nas atividades acadêmicas e infelizmente todo início de período aparece meu nome de registro na chamada [o que não era pra acontecer], gerando um constrangimento e desconforto com a situação”. Sempre é bom lembrar que o nome social é permitido pelo MEC desde janeiro de 2018, quando o aluno maior de idade ou seu responsável legal (caso seja menor) solicita o uso, a instituição tem o dever de realizar a troca. Isso deve ser feito em todas as partes burocráticas, não somente no nome das
chamadas nas salas de aulas. Outro fator com grande importância é o familiar. Geralmente os parentes têm dificuldades de aceitar algo fora do padrão cisgênero. Nesse ponto, Sabrina Venturine, mulher trans formada em Enfermagem e graduanda em Ciências da Natureza comenta que “Quando elas [pessoas trans] começam a sofrer essa discriminação dentro da escola, e quando não tem o apoio dentro de casa, isso leva a desistência.” A realidade Sabrina é diferente da maioria das pessoas trans: “Graças a Deus eu nasci em uma família que me aceita. Minha mãe me deu muito suporte emocional, tratamento psicológico, porque eu sofri muito no meu ensino. Eu tive apoio da minha família, isso foi o que me fez não desistir”. Mesmo com os desafios, é cada vez mais comum ver exemplos de pessoas transexuais que conseguiram vencer o preconceito imposto pela sociedade. Exemplos locais como a professora Letícia Carolina Nascimento, primeira mulher travesti a ocupar uma cátedra em uma universidade pública piauiense, na UFPI, e Maria Laura dos Reis, militante ativa nas causas das mulheres e nas causas LGBTQIA+, atualmente sendo secretária executiva no Governo do Estado do Piauí.
“Nós transexuais existimos, que possamos lembrar sempre disso. Que nossa existência importa e o resto do mundo que lide cwom isso. E que nós, cabe apenas sermos nós mesmos.” Diz Sabrina com orgulho, para que sirva como inspiração para outras pessoas transexuais não desistirem do sonho da formação.
Gênero: categoria social e de identificação de ser e estar em sociedade (mulher, homem, entre outros).
Transexuais: pessoas que possuem uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento.
Cisgêneros: pessoas que se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram.
Éno início da vida, durante a infância, que boa parte da população é apresentada a uma introdução alimentar - prática variada e cercada - de hortaliças, frutas, cereais, tubérculos, grãos, carnes e ovos.
Tal ato de uma alimentação variada, na idade adulta muda bastante com o passar do tempo, sobretudo de acordo com estilo de vida adotado por cada pessoa. Algumas passam a ter uma visão de que alimentos vindos ou derivados de animais não são “mais” necessários ou essenciais, seja pela saúde ou por uma questão cultural.
Em Teresina, capital do Piauí, a prática ao veganismo vem atraindo mais adeptos, porém com dificuldades sociais. A teresinense e estudante de Arquitetura e Urbanismo que se identifica como GC (19) é vegana há 4 anos e relata que os impasses para se tornar vegana vão desde piadas no meio familiar até o fato de não conseguir realizar refeições em saídas e eventos por [os organizadores] não haver opções que atendam ao modo de alimentação “não tradicional” e que carne ou derivados de leite fazem parte todos os cardápios.
Além disso, a estudante acredita que ser carnívoro é uma questão cultural. Ela externa que, pessoalmente, nunca gostou tanto de comer carne, só comia devido a criação que recebia em casa e que foi “influenciada pela cultura local. Cientificamente falando, a carne não é necessária para a sobrevivência humana. Hoje, é apenas uma forma de gerar bilhões de reais – por isso é bastante incentivada no país”, conclui.
Comer é um ato ligado à rotina, hábitos e comportamento sociais, culturais, históricos e econômicos. Desde pensar como “acabar” com fome de países considerados de terceiro mundo, como Brasil e Índia, à larga produção de alimentos e formas de distribuição, até questões ambien-
tais, morais ou religiosas ligadas à alimentação. O veganismo é um estilo de vida que adota a alimentação como uma intervenção política na sociedade.
Em abril de 2018, o Instituto Brasi leiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) – hoje, Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC) – mostrou que o veganismo no Brasil está crescendo cada vez mais e os números revelam que já são quase 30 milhões de brasileiros(as) declarados(as) vegetarianos(as).
Segundo a mesma pesquisa, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Recife e Rio de Janeiro, esse valor sobe ainda mais, chegando a 16% da população. Isso apresenta um crescimento de 75% em relação ao ano de 2012, quando foi feita a mesma pesquisa.
A nutricionista Brenda Sousa, formada pelo Centro Universitário Santo Agostinho, afirma que, em Teresina, a busca por uma dieta vegana é baixa por conta da influência que muitos jovens têm diante das “’dietas da moda’, por várias vezes, sem o auxílio de um profissional’’, afirma. Porém, Sousa destaca que a carne vermelha, em excesso, causa riscos à saúde e por isso, para aqueles que se interessarem, há uma reeducação alimentar, na qual alimentos associados substituem 100% a carne na alimentação - desde que a quantia de proteína vegetal esteja correta.
Portanto, fica ao leitor o interesse maior quanto ao veganismo: tanto para quem quer praticar – sem esquecer da devida ajuda e conselhos de um(a) profissional responsável na área – quanto para quem quer saber mais. Afinal, a quebra de preconceitos é feita por meio do estudo e domínio sobre o tema. Além disso, vendo cada um dos relatos aqui, é notório que os tabus ao redor desse estilo de vida devem ser rompidos e que uma refeição diária pode ser rica em proteína e amor aos animais.
Comida vegana/ Foto: Thalita DesiderioAlbert Arnold, popularmente conhecido como “Al” Gore, é um jornalista, ambientalista e político norte-americano. Vice-presidente dos Estados Unidos da América (EUA) durante a administração de Bill Clinton, entre os anos de 1993 e 2001, ele é mudialmente reconhecido por seu engajamento nas questões climaticas. Entre seus movimentos e projetos realizados destaca-se o “Climate Reality Leadership Corps” (CRLC), traduzido para o português, “Corpo de Liderança da Realidade Climática”, um projeto criado com a visão de buscar soluções para as crises climáticas no mundo. Um dos propósitos e práticas do CRLC é treinar pessoas em torno do globo para lidar com as diversas situações climáticas e de natureza ambiental presente na sociedade contemporânea.
Em 2022, o Brasil está participando do CRLC, de forma remota, contando com perfis diversificados de pessoas muito apaixonadas pela causa, dentre elas: ativistas, líderes culturais, cientistas, professores e líderes comunitários. A jovem piauense, Thalita Correia, integrou o último grupo brasileiro participante do projeto. Com apenas 24 anos, Thalita é mestranda de Geografia da Universidade Federal do Piauí e formada em geografia pela Universidade Estadual do Piauí . Ao finalizar a capacitanção no programa amaericano, a piauense irá receber o certificado de Líder Internacional da Realidade Climática e tornar-se uma das poucas, senão a única, jovem do Piauí a ser oficialmente uma ativista climática internacional, integrante de uma rede de 42.000 ativistas, representantes de 170 países do mundo.
Em depoimento, ela conta que não é de hoje sua vocação e paixão pela causa ambiental e lutas sociais. Descendente de indígenas, Thalita possui a relação com o meio ambiente enraizada nas origens. “Minha avó é neta de indígenas, logo
também sou descendente. Somos os índios da etnia da região do baixo Parnaíba, que eu acredito serem o povo Anapuru Muypurá, na região da cidade de Buriti, Brejo dos Anapurus e Duque Barcelar. Nasci em um meio muito humilde. Morava com minha avó e minha mãe, participei da ocupação do Parque Eliane, bem próximo ao rio Parnaíba, questão de metros e durante a ocupação, não tínhamos acesso a energia elétrica, esgoto, saneamento, absolutamente nada, nós utilizávamos o rio para banho, lavar louça, consumo diário etc. Nós somos uma família de muita luta, beneficiários de bolsa família. A luta pelo direito à moradia sempre foi muito presente na minha vida. Isso me fez entender que a luta ambiental não é apenas sobre o clima, não é apenas sobre plantar uma árvore, mas sobre pessoas que sofrem injustiça ambiental pela falta de direito a moradia, contaminação
da mineração ou indústrias perto de bairros e esses temas sempre estiveram na minha vida.”
No treinamento, que ocorreu dos dias 22 a 30 de agosto, a jovem aprendeu sobre novas relações com outros ativistas do clima e justiça climática, ciência climática e soluções que promovem oportunidade de equidade, o impacto da crise climática na vida diária e no aumento da desigualdade social e como alcançar digitalmente pessoas em prol da defesa do meio ambiente. O evento que contou com a presença do próprio Al Gore e da ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil de 2010 a 2016, Izabella Monica Vieira Teixeira também trouxe como orientadores ativistas ambientais, líderes de comunidades indígenas, especialistas em diversidade e inclusão, ambientalistas, advogados do meio ambiente, climatologistas, pesquisadores, jornalistas, empresários, mestres e doutores em meio ambiente e políticas públicas.
“LUTA
“[Sobre as Alterações Climáticas] Eu realmente não considero como uma questão política, eu considero como uma questão moral.” (Al Gore)
Agnes Campos, Andressa Lopes, Jade Zagury, Juliane Albuquerque e Leonor Evaristo
As terras tupiniquins – Brasil –têm as relações raciais como forma de estruturar a vida em sociedade desde a colonização. Essa idealização trouxe a necessidade de pensadores e pensadoras negras como Abdias Nascimento, Silvo Almeida, Sueli Carneiro e Lélia Gozalez debaterem e refletirem sobre o racismo estrutural e, assim, reverter o quadro racista na sociedade atual. Na moda, no contexto brasileiro, não seria diferente... Moda é uma maneira de expressão que atravessa a economia, a cultura, classes sociais e os diversos estilos de vida. Sobre o assunto moda e racismo, para Kledir Henrique Lopes Salgado, professor do curso de Design de Moda do Centro Universitário Senac Santos Amaro, “Em uma sociedade racista, infelizmente, a moda também é racista. Afinal de contas, ela é um sistema mercadológico, estético e de poder que reflete as estruturas sociais vigentes”. Segundo Mariele Almeida, estudante de moda na Universidade Federal de Piauí, a influência social aliada a falta de representatividade interfere diretamente no surgimento de novas marcas voltadas para o público negro no mercado de moda em Teresina, por exemplo.
As pessoas negras não têm a mesma influência e, por consequência, não têm a mesma facilidade que uma pessoa branca tem de ascender no mercado com marca própria. Para ela, Isso para que o negócio caminhe juntamente com o ativismo e militância, é o que afirma Adriana Barbosa, presidente do Instituto Feira Preta.
Outra forma de identificar a desigualdade racial na moda, nas palavras de Mariele, é na própria forma de se vestir e em como cada peça passa uma visão diferente dependendo de quem usa. A exemplo disso, tem-se a estética Mandrake, criada como manifestação cultural na periferia. Hoje em dia, é possível ver jovens de todas as classes sociais
consumindo a estética da comunidade devido a sua recente popularização nas redes sociais. Entretanto, uma pessoa branca consumindo essa tendência será vista apenas como uma pessoa com estilo, diferente de uma pessoa negra, automaticamente relacionada com a marginalidade. De acordo com o Instituto Brasilei ro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), negros e pardos representa 53% da população brasileira, porém a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD, 2017) releva grandes diferenças salariais e de acesso à educação entre negros e pardos quando comparados com os brancos. No entanto, a moda é a segunda indústria de transformação que mais emprega, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), onde só no estado de São Paulo 1/3 da população trabalha neste setor, conforme o Dieese. Sabe-se que a rede de produção e consumo envolve milhares de pessoas, sendo uma grande parcela da população negra responsável pela cadeia da moda, mas que ainda sofre com o racismo estrutural. Logo, dentre os fatores que explicam a desigualdade racial no mundo da moda, a pesquisa de mestrado “Moda Afro-Brasileira, design de resistência: o vestir como ação política”, feita pela pesquisadora Maria do Carmo Paulino dos Santos, mostra o quanto a moda afro-brasileira é capaz de criar uma consciência que
resulte em ações políticas. Nesse viés, pesquisas como essas fazem total diferença diante dessa questão racial, sendo extremamente necessárias para uma eventual mudança.
OPolo cerâmico artesanal do Poty, localizado na zona norte de Teresina, no bairro Poty Velho, conta com artesãs que através de suas artes reúnem a identidade da cultura piauiense, a partir de um processo manual com barro e argila. A cooperativa artesã Cooperart, é um grupo composto por mulheres que trabalham nas olarias, tendo como uma de suas representantes a artesã Raimunda Teixeira, de 59 anos, que começou comprando peças para pintar e hoje possui uma oficina no polo, especializada em Jarros, trabalhando exercendo o ofício há 26 anos. A continuidade dessa história, está exposta na entrevista a seguir, concedida pela artesã ao Jornal Calandragem.
Qual a sua função no polo?
Raimundinha - Sou artesã do Polo cerâmico e Sócia da associação.
CLDG - A quanto tempo trabalha com cerâmica?
Raimundinha– Há 26 anos.
CLDG - A senhora trabalhava com cerâmica antes de participar das associações?
Raimundinha - Não, trabalhava com os meus pais. A maioria passou de pai para filho. No meu caso meu pais não trabalhavam com cerâmica, meu pai era lavador e minha mãe trabalhava no Mercado do Mafuá. Naquela época nossa renda era tijolos comuns, aonde o homem fazia os tijolos e mulheres e crianças carregavam na cabeça. Eu passei boa parte da minha vida, fazendo esse serviço, aonde fiquei 26 anos. Em 85, comecei a morar nessa rua, onde já tinham algumas oficinas de produção, onde as pessoas faziam jarros, potes, vidros. Eu, fiquei observando que haviam duas mulheres que ficavam pintando e a pintura me chamou muita atenção. Um certo dia eu parei e notei que o serviço nas Ola-
rias era muito duro, eu já tinha dois filhos, era mãe solteira e ganhava muito pouco. Meu primeiro contato com os artesãos foi vendendo lanche, depois eu pedi a uma delas para me dá uma aula, aprendi a pintar e comecei a comprar peças. Minha casa era aqui, era uma casebre de palha, fiz um partilheiro, e ao passar do tempo eu fui me aperfeiçoando.
CLDG - Quais são os atuais objetivos do Polo?
Raimundinha - Em 1998 criamos a associação, participei da diretoria já no início. Os cursos que vinham, eu participava e fui me aperfeiçoando. Entramos em uma luta, porque antigamente só era casebre de palha coberta de chão batido, onde morávamos e produzíamos. Quando fizemos a associação, priorizamos 3 pontos fundamentais: a capacitação, produção e divulgação, devido poucas pessoas conheciam nossos produtos. Assim, conseguimos a conquista do Polo cerâmico.
A Cultura artesã: Raimundinha e a identidade do Piauí através das obras da artesã Alzirarriza Gama, Arnaldo Bruno, Beatriz Justiniano, Jefferson Vieira, Laisa Maria e Thuanne CarvalhoCLDG - Sobre o auxílio: ajuda os artesãos financeiramente, caso não consigam sustento pelo artesanato?
Raimundinha - Foi buscando apoio de pacerias que, ao decorrer desses 24 anos, conseguimos o auxílio através do apoio da Prefeitura, Governo do Estado e Banco do Brasil. A associação tem esse objetivo de buscar parceiros que atendam nossas necessidades, com isso estamos sempre conseguindo melhorar a produção e consequentemente a qualidade de vida do artesão. Mas também de certa forma tem uma contribuição da comunidade, porque entendemos que antes da associação o Poti Velho por ser o primeiro bairro de Teresina ele era esquecido e depois dessa organização, dessa luta, hoje o poder público tem um olhar mais especial com o nosso bairro.
CLDG - Aqui no Poty velho, Trabalham apenas famílias?
Raimundinha– A minha oficina ainda é familiar. Meus filhos e meu genro trabalham comigo. Os espaços são coletivos. Outro grupo, nasceu em 2006 que foi a cooperativa só de mulheres, composta por 9 inte-
grantes de história diferentes das demais, a entrada delas se deu através de capacitação. Primeiro fazendo as bolinhas, depois outros cursos. Assim, conseguimos fundar a cooperart com 39 mulheres. Sou cooperária, mas tenho meu próprio polo.
CLDG - Foi possível perceber a dificuldade que o Polo enfrentou durante a pandemia. Como foi esse período?
Raimundinha - Durante a pandemia foi muito difícil, ainda mais nos primeiros 5 meses que ficou fechado, tivemos que nos reinventar. Para termos uma ideia, desse pessoal todo, somente 3 pessoas tinham outra fonte de renda, os demais sobrevivem só daqui. No primeiro momento ficamos assustados, pensando em como iriamos sobreviver com as lojas todas fechadas. Começamos a usar as redes sociais e depois através das redes sociais fomos conseguindo sobreviver. 5 meses depois
reabrimos as lojas, mas não como antes, pessoal tinha medo, foi um período muito difícil, mas à medida que a vacina foi avançando os clientes começaram a voltar. Agora esse ano, as coisas estão voltando a normalidade, já estamos vendo a presença dos turistas, dos lojistas que estão frequentando mais, pessoal das faculdades, tudo está voltando.
CLDG - Como está sendo a produção e comercialização das cerâmicas atualmente?
Raimundinha - Não voltou como era antes, era muito movimentado. Trabalhamos muito com parcerias junto a Casa da Empreidade de Design e o SEBRAE, que estão aqui em Teresina fazendo a semana do design, onde estão dando palestras em pontos de casas de decoração, hoje trouxeram 30 arquitetos para um projeto com a gente. Cada arquiteto iria escolher onde vai desenvolver um novo produto, dar uma “arrumada” na exposição deles e uma alavancada para chamar o público, a fim de tornar o ambiente mais atrativo. Sabemos que trabalhamos com produtos de decoração, precisamos sempre desse apoio de arquitetos e designs para estarmos sempre renovando, criando coisas novas e lançando no mercado. Estamos muito motivamos, na expectativa que dê tudo certo. Iremos receber os arquitetos Irmãos Campana, que são os maiores arquitetos do Brasil, com referência internacional. Eles também tem esse olhar técnico para dar uma orientação, como podemos melhorar mais tanto na produção quanto na ambientação do nosso espaço.
Seu José Lima, dono de um circo chamado Shalom, que percorre o Nordeste há mais de 35 anos, afirma que a cada dia o circo se extingue mais. Nascido em uma família circense, cresceu junto com seus 27 irmãos dentro do circo. Hoje, com 60 anos, proprietário da sua própria tenda, ele viu quatro dos seus irmãos, que também eram donos de circo, abandonarem o ofício por falta de recursos.
O relatório de gestão integrado, lançado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), em junho de 2022, revela a existência de cerca de 700 circos em atividade no Brasil. Os dados foram coletados em junho de 2021 pela Coordenação de Circo a partir de informações reunidas por entidades representativas de classes regionais e nacionais. Apesar do grande número de circos existentes no país, deve se considerar que essa expressão cultural vem diminuindo com o passar dos anos devido a uma série de fatores que dificultam sua existência.
Segundo José Lima, antes da pandemia de covid-19, já era difícil se tocar um circo. Mas após a pandemia, a situação piorou. Com o isolamento social, ele foi impedido de fazer espetáculos e permaneceu com seu circo parado durante um ano e 10 meses.
Durante esse período, a sua renda veio da venda de batata frita e algodão doce nas ruas. Nessa ocasião, a sua estrutura começou a se deteriorar e ele não pode impedir, pois estava sem recursos para a manutenção. O que resultou na perda da lona e do gradeado do circo.
Hoje, com uma estrutura menor, ele lamenta não ter melhores condições para realizar espetáculos maiores, mas afirma que continuará lutando para ter um circo bonito como era antes da pandemia.
De acordo com levantamento realizado em 2020 em todo o território nacional do Serviço Social do Comércio (SESC) e de outras entida-
des culturais, realizado com apoio da UNESCO, as artes cênicas foram as mais afetadas pela pandemia de covid-19. O circo, em especial, perdeu 77% da totalidade de suas recei tas entre maio e julho daquele ano.
ços adequados e permanentes para a instalação de lonas circenses, com as condições básicas: um terreno plano com boas dimensões, de fácil acesso, com rede de esgoto, pontos de luz e de água e segurança para o público.
Para José, todos esses problemas poderiam ser solucionados caso os governantes apoiassem mais o circo. Assim, esse difusor cultural tão importante não correria o risco de desaparecer.
Além dos empecilhos causados pela pandemia, José afirma que há uma série de outras dificuldades que as companhias circenses enfrentam. A falta de apoio das prefeituras das cidades que eles se instalam é uma delas. Isso em razão da não liberação de espaços para a montagem do circo.
Dificuldade essa que deveria ter sido extinta o extinta com o lançamento da campanha Respeitável Circo. Uma campanha interministerial do go-verno federal, publicada em 20 de outubro de 2021, que conta com uma cartilha que assegura que as prefeituras devem acolher o circo itinerante e sugere a determinação de espa-
A cartilha Respeitável Circo objetiva conscientizar os gestores públicos (governadores, prefeitos, secretários, deputados estaduais e federais e vereadores) e instituições públicas responsáveis de que o circo é uma atividade artística e cultural reconhecida por lei e que, como tal, deve.
“SE ACABOU TODINHO. E A GENTE NÃO TEVE UM APOIO DO GOVERNO. PORQUE ERA PRA TER UM INCENTIVO DA CULTURA PRA AJUDAR, MAS EU NÃO TIVE APOIO NENHUM.” JOSÉ LIMA, DONO DO CIRCO.
Independente de laço sanguíneo
irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 anos.
No processo adotivo, existem critérios judiciais que precisam ser analisados cautelosamente para conseguir a guarda definitiva de uma pessoa. Cada processo pode levar cerca de um ano e se estender caso o perfil do adotante seja diferente do disponível no cadastro. Cada caso é uma história. É um cidadão que foi tirado de suas raízes para se adaptar a outra totalmente diferente. Como o caso de Rhanya Kelly, 20 anos.
Sua mãe biológica, à princípio, não queria seguir com a gravidez, e ingeria medicamentos abortivos a mando de seu pai. Quando sua mãe adotiva soube do caso, pediu imediatamente para uma amiga da família biológica que falasse que ela tinha interesse em adotar o bebê e que arcaria com todas as despesas do período gestacional. Entretanto, o momento gestacional é o período em que há a formação de um vínculo afetivo entre a mãe e o feto, o que pode tornar o momento da entrega do bebê um tanto difícil.
“A minha avó sempre contava uma história que eu nasci dez horas da noite, e que pela manhã minha mãe e meu pai estavam na maternidade pra me buscar. A minha genitora não queria me entregar, mas a minha avó biológica disse que já tinha dado a palavra dela e não ia voltar atrás e com isso, no mesmo dia, minha mãe e meu pai me trouxeram pra casa” conta Rhanya Kelly.
Quando o adotado já está junto de sua nova família, é necessário um período de adaptação para os pais e também para a criança. Ela vai crescendo e querendo descobrir o mundo, possibilitando o surgimento de muitas dúvidas sobre suas origens. Ato esse que leva aos pais a serem transparentes e não ocultar a origem de seus filhos, como obriga a lei do artigo 48: o adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso
“Desde criança, minha mãe já me falava sobre eu ser adotada. Dizia que não queria que eu crescesse com o sentimento de ter sido enganada sobre minha origem… eu soube recentemente que o meu “pai” procura por mim, e disse que queria me conhecer. Mais nova eu tinha a curiosidade de saber o porquê eles não me queriam, mas nunca de querer ter uma relação familiar ou até mesmo de amizade com eles. Hoje eu só quero a minha mãe adotiva que e considero mais que tudo na minha vida. É ela quem eu considero como minha única mãe” explica Rhanya.
O processo adotivo ainda é um tabu a ser quebrado em nossa sociedade. É visto por muitos como algo errado e preconceituoso. O que afeta diretamente o processo de adaptação de muitas familias.
“Eu sempre tive o carinho de toda a minha família materna, principalmente da minha avó e minhas tias. Sempre me deram suporte e, mesmo todos sendo brancos de cabelo liso, nunca tiveram preconceito com minha cor. Já minha família paterna não me aceitou tão bem. Mesmo eles sendo pretos. Me chamavam de bastarda, de negra do cabelo ruim e que não iria prestar pra nada” revela Rhanya. Independente dos laços genéticos, o amor é criado no peito de ambos e é capaz de superar qualquer coisa. O vínculo autêntico deve ser fundamental entre adotante e adotado. Deve ser construído na base de afeto, verdade e
autenticidade. “Minha mãe sempre fez questão de deixar bem claro que eu era filha dela independente de laço sanguíneo, e meu pai também, mesmo que ele não demonstre. Às vezes eu até esqueço que sou adotada” finaliza Rhanya Kelly.
“EU FICAVA COM MEDO DA MINHA MÃE ME DEVOLVER. TINHA RECEIO DE FAZER QUALQUER COISA ERRADA.”Miguel Andrade, Beatriz Silva, Eduardo Cauã, Heloisa Maria, Layza Mourão e Luisa Melo Pintura de Jaider Esbell/ Foto: Beatriz Silva
Nossa equipe de reportagem registrou ocupações e profissões de variadas tram a força, a resistência e o bom diferença em suas
registrou diferentes momentos de variadas mulheres. As fotografias mosbom humor de mulheres que fazem a suas áreas de atuação
Nova lei da laqueadura modifica os meios para a obtenção do método de contracepção, que reduziu a idade mínima para 21 anos e retirou a obrigatoriedade da autorização dos cônjuges
No dia 9 de agosto, o Senado Federal aprovou o projeto de lei que modifica a Lei 9263 de 1996, que dialoga sobre o direito reprodutivo da mulher e o planejamento familiar. Na lei modificada, constava que a mulher e o homem que pretende submeter-se a esterilização voluntária (laqueadura ou vasectomia), deveriam ter 25 anos de idade e, pelo menos, 2 filhos com a autorização pelo cônjuge para a seguinte decisão. O projeto de lei modifica os meios para a obtenção do método de contracepção, que reduziu a idade mínima para 21 anos e retirou a obrigatoriedade da autorização dos cônjuges. Além disso, agora existe a possibilidade de no momento do parto ou aborto (espontâneo ou legal) ser possível realizar o procedimento com a confirmação prévia e dentro do prazo legal pelo paciente (60 dias).
Em 1996 houve a determinação pela oferta de métodos contraceptivos ofertados de maneira gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O ato visava garantir o direito estabelecido pela Constituição Federal de 1988, a qual prevê o planejamento familiar e os direitos sexuais reprodutivos.
A modificação nos termos da lei aborda duas temáticas primordiais: a escolha da mulher sobre seu corpo e a visão sobre a maternidade como uma escolha.
A empresária teresinense, Ariane Chaves, relatou sobre sua expe-
riência anteriormente à aprovação da legislação, “É constrangedor para uma mulher precisar da permissão de um homem sobre uma decisão que deveria ser somente nossa, porque é nosso corpo. Eu já estava em outro relacionamento quando decidi sobre a cirurgia, mas caso não estivesse e precisasse recorrer ao meu antigo cônjuge, seria complicado. É uma vitória para nós mulheres a aprovação dessa nova lei, mesmo com questões a serem re solvidas, como precisar ter obrigatoriamente 2 filhos para fazer o procedimento, ainda precisa de avanços”.
cirurgia simples, na qual as trompas são cortadas e suas extremidades amarradas de tal forma que a passagem dos espermatozoides fica bloqueada na sua porção mais distal e a do óvulo bloqueada na porção mais proximal. Até o ano de 1990, haviam certas questões a respeito do procedimento no Brasil, apesar de não existir nenhuma lei que proíba sua realização, havia um artigo do Código Penal Brasileiro que tornava crime qualquer lesão provocada por terceiros que viesse a prejudicar a função de um órgão, no caso, o sistema reprodutor feminino da mulher, tornando a realização da cirurgia um ‘crime passivo’.
Entretanto, a cirurgia ocorria de maneira “velada” durante a cesárea, assim as mulheres que podiam pagar pelo procedimento obtinham privilégio perante a lei, enquanto mulheres dependentes do SUS, encontravam dificuldades, caso quisessem utilizar esse método.
Mesmo com os avanços proporcionados pela lei, ainda é notória as desigualdades do direito feminino sobre seu corpo, visto que, a mulher precisa obrigatoriamente ter dois filhos para obter o direito a decisão sobre o procedimento de maneira individual.
Laqueadura é um processo de esterilização definitiva, que consiste no fechamento das tubas uterinas para impedir a descida do óvulo e a subida do espermatozoide. É uma
Em 1997, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei do Planejamento Familiar, a qual obriga os governos a oferecerem todos os métodos anticoncepcionais. Contudo, o único artigo desta lei, vetado pelo Presidente da República, na época, Fernando Henrique Cardoso, foi o que permitia a realização de vasectomias e laqueaduras, isso porque o SUS não teria recursos suficientes para arcar com a demanda que seria necessária, o que gerou revolta na época pelos movimentos feministas, e pela própria esposa do presidente em mandato, Ruth Cardoso, que lamentou o descaso perante o ocorrido.