Fernanda Souza

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SAÚDE

O FINAL DOS ANOS 90 O

cotidiano da Santa Casa de Itatiba é, como muitos dizem popularmente, ‘matar um leão por dia’. Gerenciar uma entidade, onde responsabilidade, ética e qualidade devem formar o tripé de sua sustentação, não é tarefa fácil. Lidar com vidas humanas, sejam as que estão em busca de atendimento para aplacar seu sofrimento ou as que acolhem e cuidam dos pacientes, sem muitas vezes ter condições plenas para isso, é um desafio que vai além de equações matemáticas e fórmulas administrativas. A visão empresarial aliada a uma postura de solidariedade e compaixão – características de uma gerência humanizada – tem sido a tônica dos últimos 22 anos da Santa Casa, fato que os relatos contidos nessas histórias podem confirmar. Mas tudo isso não se concretizou de uma hora para a outra. Vários obstáculos, muitos aprendizados e uma série de fatos pouco confortáveis trouxeram à equipe, que hoje se mantém a frente desse barco, mais maturidade e consciência de como lidar com situações críticas, sejam aquelas pautadas na realidade concreta (falta de verbas para garantir a sustentabilidade do atendimento) ou as que se baseiam em interesses políticos e vaidades pessoais. Antes de prosseguir, é preciso conhecer melhor o cenário que antecedeu essa história que, em 22 anos, atingiu objetivos e alcançou metas jamais conquistadas em um século.

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ABRIL/MAIO2018

por Mariângela de Almeida

Em 1995, para ajudar a sanar dívidas, a então Mesa Administrativa cria o plano Santa Casa Saúde, que conseguiu arrecadar recursos importantes aos cofres do hospital e, por preços mais acessíveis, viabilizou que pessoas e empresas se associassem e recebessem tratamento adequado. Logo em 1996, o provedor renuncia e assume a direção o senhor Benedito Netto. A situação era delicada: greve de médicos e funcionários e uma dívida de R$ 900 mil. Mas, senhor Dito, como é conhecido, consegue sanar a dívida. No entanto, com a intervenção branca realizada pelo prefeito da época, o provedor renuncia ao cargo, em outubro de 1997, deixando a Santa Casa estável e equilibrada. De qualquer forma, mesmo com as contas em dia, a situação do hospital ainda era insuficiente, uma vez que recebia 80% da demanda da cidade, sem equipamentos, leitos e outros itens de infraestrutura para atender essa quantidade com a qualidade esperada. Na época, a entidade contava com 216 funcionários, 122 leitos e uma despesa anual de R$ 5 milhões, sendo cerca de 75% das internações feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A receita, advinda do SUS, ficava entre R$ 85 mil e R$ 95 mil ao mês. Os gastos giravam em torno de R$ 420 mil nesse mesmo período. A prefeitura cobria 50% do valor (até R$ 250 mil) e os demais gastos eram pagos com recursos oriundos do plano Santa Casa Saúde. Nessa mesma fase, o plano

passou por problemas. Como tinha de se readaptar às novas normas federais, equiparando-se aos demais planos para atender todas as pessoas interessadas, acabou não se sustentando e foi entregue ao grupo Unimed de Jundiaí, a custo zero, pondo fim ao projeto. Em 1999, um grupo de consultores, nomeado pelo então prefeito e liderado pelo Secretário de Saúde da época, Dr. Éder Rogério Canal Pereira, analisou a situação financeira do hospital. Não existia déficit, mas era evidente a necessidade de mais investimento, já que o repasse do SUS se mantinha insuficiente, além de estar sempre atrasado. Mesmo com esse cenário, a Câmara Municipal aprovou um projeto que diminui em R$ 30 mil a subvenção mensal paga pela prefeitura à Santa Casa. É o início de uma fase difícil, que só começa a tomar novos rumos nos anos seguintes. Enquanto uma nova crise financeira se instalava, o centenário do hospital foi marcado por festa, exposição, selo comemorativo e uma missa solene com a presença de Sua Alteza Imperial e Real Dom Luiz Gastão Maria José Pio de Orleans e Bragança, Príncipe Chefe da Casa Imperial do Brasil. Na ocasião, uma nova Mesa Administrativa tomou posse para gerenciar o hospital até 2001. Na próxima edição, passaremos ao capítulo 2 “Um século em uma década”.

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