Catálogo Semana de Formação Programa Piá

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Indíce

Abertura(s)

Pag.4

Do quintal ao digital

Pag.8

Pilulas de Experimentação Poética

Pag. 20

Territórios Invisíveis

Pag. 23

Piá: um quebra-cabeça a ser construído a cada edição

Pag.30

Como ser criança na quarentena?

Pag.35

Terreiros de investigação do Brincar

Pag.39

Miguel Prata; Suelen Ribeiro e Thiago Arruda

Natália Belotti e Nuhah Oliveira Beatriz Miguez e Will Lima

Celso Amâncio, Elaine Silva e Vanessa Biffon

Paulo Veríssimo, Theda Cabrera e Zina Filler

Beatriz Miguez e Will Lima

Evandro Gonçalvez e Patricia Silva

Do Quintal ao Digital

Pag.49

Luiz Anastácio e Sônia Costa

Vida Integrada

Pag.55

Suelen Ribeiro e Thiago Arruda

Espaço, Tempo, Imaginação

Pag.63

Diogo Noventa, Karin Giglio e Ж

Relato sobre a oficina mapas afetivos: imaginando um mundo pós quarentena

Pag.68

Remédio, Mandinga e Abracadabra- pílulas de um minuto para curar qualquer doença

Pag.75

Felipe Gregório

Celso Amâncio, Elaine Silva e Vanessa Biffon

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Abertura(s) Miguel Prata - Coordenador Técnico Programa Piá e Vocacional

“Quando pensamos na possibilidade de um tempo além deste, estamos sonhando com um mundo onde nós, humanos, teremos que estar reconfigurados para podermos circular. Vamos ter que produzir outros corpos, outros afetos, sonhar outros sonhos para sermos acolhidos por esse mundo e nele podermos habitar. Se encararmos a coisa dessa forma, isso que estamos vivendo hoje não será apenas uma crise, mas uma esperança fantástica, promissora.“

Ailton Krenak - A vida não é útil

As Semanas de Formação do Programa Piá são espaços abertos, em todas as edições, para que os artistas contratados possam aprofundar a sua atuação no Programa. São espaços de formação que lidam com a compreensão da natureza do trabalho do artista educador, com os princípios de atuação do Piá junto a crianças e adolescentes, com o histórico e memória do Programa na cidade. Espaços que acolhem artistas que nunca participaram do Piá, espaços que podem reconfigurar o olhar de quem já atua há muitas edições. As práticas, vivências e mesas que compõem as Semanas de Formação são pensadas e desenvolvidas pelos próprios artistas do Programa, com o suporte da Supervisão de Formação Cultural da Secretaria Municipal de Cultura. Ou seja, a escolha do que será aprofundado, investigado, escutado, surge dos diálogos entre as equipes. Muitas vezes essas equipes convidam outros artistas, pesquisadores, professores e diretores de escolas para participarem das Semanas. Nesta edição de 2020, além dos desafios da implementação do Programa em um modelo de trabalho remoto, em que o contato com o público, com as famílias, com crianças e adolescentes, só poderia se dar de modo virtual. Para além do que essa limitação de proximidade (e o próprio período pandêmico que atravessamos), já convidava a discutir e refletir, houve uma mudança de eixo na composição das Semanas. Refletindo o projeto antirracista que a Coordenação Artístico-Pedagógica do Piá propôs para as equipes nesta edição, as práticas, vivências e mesas se debruçaram sobre culturas negras e indígenas, branquitude, sobre questões de gênero, LGBTQIA+ e mais transformações que urgem para se pensar num “tempo além deste”. Ampliando e deslocando os princípios do Piá para mais (cosmo)visões. É por isso que as Semanas de Formação não são somente um espaço de aprendizado para atuação no Programa Piá. São lugares para se pensar política pública, lugares para germinar ações de mudança estrutural para a sociedade, lugares de “sonhar outros sonhos”. Neste catálogo, estão registradas as propostas e temas movidos nas duas Semanas de Formação realizadas na edição de 2020 do PIÁ.

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Uma forma de registrar e seguir compondo a memĂłria do Programa, um olhar para trĂĄs para seguir adiante, lembrar o caminho que tem sido trilhado para nĂŁo se perder no futuro.

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Abertura(s) Suelen Ribeiro e Thiago Arruda -Coordenadore Artistico-Pedagógicos A primeira semana de formação na edição de 2020 teve como objetivo garantir uma A primeira semana de da formação nade edição de 2020 teve comode objetivo garantir uma melhor compreensão natureza trabalho no Programa Iniciação Artísticamelhor da natureza de trabalho Iniciação ArtísticaPIÁ, quecompreensão se dá com crianças e adolescentes deno 05Programa a 14 anos,de majoritariamente PIÁ, que se edáque com crianças e adolescentes de 05 a 14 anos,emajoritariamente periféricas, neste ano acontece em meio a pandemia de modo remoto. periféricas, e que neste ano acontece em meio a pandemia e de modo remoto. Iniciar com práticas formativas fincadas nos princípios do PIÁ são fundamentais, Iniciar com práticas formativas nos princípios dode PIÁ sãodofundamentais, principalmente se levarmos emfincadas consideração que cerca 50% corpo pessoas principalmente se levarmos em consideração que cerca de 50% do corpo pessoas contratadas participam pela primeira vez do Programa. contratadas participam pela primeira vezArtistas do Programa. Essa formação teve como foco a lida de Educadores, 150 pessoas que Essa formação teve como foco a lida de Artistas Educadores, pessoas que entram numa jornada de construção de sociedade por meio 150 da arte, cultura, entram numa jornadanuma de construção de sociedade por meio da arte, cultura, infâncias e territórios edição inédita e emergencial, tendo o imenso desafio de infâncias e territórios numa edição inédita e emergencial, tendo o imenso desafio de construir processos artísticos e afetivos por meio do espaço digital. construir processos artísticos e afetivos por meio do espaço digital. Para garantir uma melhor compreensão do programa em toda sua historicidade Para garantir uma melhor compreensão do programa em toda sua construída ao longo desses 12 anos, um processo contínuo e que sehistoricidade desenvolve construída ao longo desses 12 anos, um processo contínuo e que se desenvolve nas relações, é fundamental iniciar pelo entendimento dos seus princípios que são: nas relações,Experimentação, é fundamental iniciar pelo criativos, entendimento dos seus princípios que são: Ludicidade, Processos Pertencimento, Temporalidades, Ludicidade, Experimentação, Processos criativos, Pertencimento, Temporalidades, Interlinguagem e Ações Compartilhadas. Considerando tais princípios, foram Interlinguagem e Ações Compartilhadas. Considerando tais princípios, foram propostos 4 eixos pela coordenação artístico pedagógica na elaboração das propostos eixos pela coordenação artístico pedagógica na elaboração das atividades4formativas: Infâncias, Interlinguagem, Processos Criativos e Cultura atividades formativas: Interlinguagem, Processos Criativos e Cultura Digital, a partir desses Infâncias, eixos foram criadas dez vivências: Pílulas de Experimentação Digital, desses eixos foram criadas dez vivências: Experimentação Poéticaa/ partir Remédios, Mandingas e Abracadabras / Piá: UmPílulas quebrade cabeça a ser Poética / Remédios, Mandingas e Abracadabras / Piá: Um quebra cabeça a montado a cada edição / Territórios Invisíveis e Mapas Afetivos / Do Quintalser ao montado a cada edição / Territórios Invisíveis e Mapas Afetivos / Do Quintal ao Digital Digital / Como Ser Criança na Quarentena? / Terreiros da Investigação do Brincar // Como Ser Criança Quarentena? / Terreiros da Investigação do Brincar / Tarja Tarja Branca / Vidana Integrada: Cosmovisões Africanas nos Fazeres Artísticos/ Branca / Vida xIntegrada: Cosmovisões nos Fazeres Artísticos/ Comunidade Comunidade Imunidade: tecnologiasAfricanas ancestrais que nos mantém vivos. x Imunidade: tecnologias ancestrais que nos mantém vivos. As vivências aconteceram no período de 11 a 14 de maio, com a duração média de As no período de 11 a 14 de maio, com a duração média de 03 03 vivências horas em aconteceram cada atividade. horas em cada atividade. Este catálogo vem registrar as tão importantes narrativas desses profissionais que se Este catálogo registrar as tão importantes narrativas desses profissionais lançaram em vem propor atividades formativas nesse espaço ainda muito desconhecido que se lançaram em propor atividades formativas nesse espaço ainda muitoMuniz por nós, “Educação precisa de gente, iniciação precisa de axé” diz o mestre desconhecido por nós, “Educação precisa de gente, iniciação precisa de axé” diz o Sodré. mestre Muniz Sodré. Como gerar afeto, calor, encontro, troca, energia, potência nesse outro espaço que Como gerarOafeto, calor, encontro,e troca, potência nesse outro espaço que é o digital? desafio foi lançado pareceenergia, que conseguimos… esperamos que esse érelato o digital? desafiomuitas foi lançado e parece que conseguimos… esperamos que esse e possaO auxiliar pessoas envolvidas em práticas pedagógicas, artísticas relato possacomprometidas auxiliar muitas com pessoas envolvidas em artísticas educativas a permanência da práticas vida em pedagógicas, sua multiplicidade. e educativas comprometidas com a permanência da vida em sua multiplicidade. 6 6


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Do quintal ao digital Natalia Belloti e Nunah Oliveira “A substância do brincar é a alegria. A natureza é seu território primordial.“ Lydia Hortélio Partindo do princípio de formação continuada, disparada pelo propósito artístico-pedagógico existente no programa, este ano, mesmo em caráter remoto, em virtude da pandemia do COVID-19, a formação objetivou provocar reflexões e diálogos através de propostas que pudessem expandir a pesquisa e a construção de conteúdos focados, não somente em qualidade técnica, mas na linguagem, narrativas e estratégias de acesso as famílias atendidas pelo programa. A programação foi desenvolvida de forma coletiva pela Coordenação ArtísticoPedagógica, Articuladores Regionais e Articuladores de Áreas, sua divisão foi demandada em quatro eixos a saber: Infâncias, Interlinguagem, Processos criativos e Cultura digital: arte-tecnologia. Começamos a projetar a atividade DO QUINTAL AO DIGITAL dentro da Macro Região Leste 4. Realizamos a atividade em 2 dias, cada um composto por dois Artistas Articuladores. A proposta partiu do objetivo do resgate as memórias de brincadeiras já experienciadas no Piá, ou em outros espaços artísticos, voltados para crianças de 5 à 14 anos, para então refletirmos sobre formas de adaptá-las ou até mesmo transformá-las virtualmente. Uma das possibilidades seria o mapeamento e experimento das realizações ou invenções para o mundo virtual disparados por:

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• Discussões dos impactos positivos e negativos desta tentativa de virtualização do concreto; • Verificação da possibilidade de construirmos caminhos para a interatividade a distância; • Medição junto aos participantes sobre as brincadeiras e a ativação do corpo por meio de plataformas virtuais e o estimulo do fazer criativo; •

Propor experimentos por meio do resgate das memórias de infância;

• Dialogar com autores que pesquisam o brincar e o jogo, como Johan Huizinga – “Homo Ludens”, Walter Benjamin “Reflexões sobre A criança, o Brinquedo e a Educação”, Gandhy Priorski “Brinquedos de chão”, entre outros que surgirão ao longo da nossa construção.

Acolhimento: Aguardamos a chegado dxs Artistxs Educadorxs e Articuladorxes, com a música do grupo Pequeno Cidadão – Há beleza em tudo isso. https://www.youtube.com/watch?v=P2G-pHGpbho A chegança foi acolhedora, e assim que conferimos que todxs os inscritos estavam presentes propusemos a brincadeira do CAIU!

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Brincadeira - CAIU!: Refletindo sobre as questões de conexão e como elas nos afetam, desenvolvemos uma forma de usar as “quedas” por conexão, como uma característica que demarcava o tempo de apresentação que cada um teria naquele primeiro momento. A medida que eles começavam a se apresentarem, teriam que tentar falar o máximo de coisas possíveis por que a palavra CAIU poderia aparecer em qualquer momento. Tudo aconteceu de um jeito muito divertido, refletimos sobre a empatia e como importante repensar os tempos diluídos dos espaços virtuais, que trouxe o mundo, pra dentro da nossa casa. Diálogos - Escuta X Virtual • Valorização da fala – Como? • Brincar – elemento essencial no desenvolvimento da criança Como? • Lugar de fala x lugar da escuta – Como? • Escutar é a gente humanizar – Como? • Escuta exige silêncio – paremos de falar – Como? • Aprender a escutar sem julgamento – perde-se a coragem de fala – Como? • Vozes silenciadas – Será? Escuta chama a voz que precisa ser dita! Diálogos: O falar e o escutar em tempos de pandemia

“...e ai, quando se faz silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia”

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Rubens Alves - Escutatória


Ainda sobre a escuta:

• Silêncios cheios de vida e silêncios cheios de morte; • Escutar a criança como criança – genuíno; • Não raciocínio lógico;

• Criança escuta o mundo – falam com as coisas; • Criança pensa por imagens – metáforas;

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Brincadeira – DIGIMÓRIA: E agora, como fica a memória? Vamos brincar de lembrar! “Você sabia que quando faz uma ligação pra alguém, a voz que sai do outro lado não é exatamente a sua, mas sim um monte de conexões e combinações que fazem a nossa voz viajar até o ouvinte, lembrando muito nossa voz original. Pensando nisso, será que a gente consegue memorizar pessoas e coisas por aqui? Bora tentar. Vou começar”! A partir deste disparador um dos participantes começou propondo a sequência do jogo, dizendo suas características e um objeto que esteja usando. A pessoa que fala é a única que pode ter sua câmera e áudio ligados, e assim que termina suas descrições, chama uma próxima pessoa na lista de participantes. RESPOSTAS PROVOCADORAS

• Escuta – movimento sensorial – Corpo todo; • Presença; • Fazer com e não para; • Toque e acolhimento; • Contornos e mediação; • Escuta/limite/escuta; • Empatia; • Vínculo; • Observador participativo;

“As

crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade”.

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Mario Quintana


Diálogos: A escuta do corpo no Brincar Para refletirmos sobre o brincar trouxemos o psicanalista Winnicott – 1975 que diz: “A importância do brincar é sempre a precariedade do interjogo entre a realidade psíquica pessoal e a experiência de controle de objetos reais. É a precariedade da própria magia, magia que se origina na intimidade, num relacionamento que está sendo descoberto como digno de confiança”. Brincar é a gente estar lá – Como estar em tempos de distanciamento social? Abordamos a temática do corpo e movimento a partir de Motta, 2006 que traz reflexões sobre o pesquisador e renomado bailarino Rudolf Laban: “Laban teceu e articulou a conexão entre seus estudos sobre os fatores de movimento e a teoria Junguiana das funções psíquicas. Para Jung havia quatro funções psíquicas definidas como intuitiva, emocional, física e mental que refletem a forma como uma pessoa estabelece seu relacionamento com o mundo e com outras pessoas. Para Laban estas funções psíquicas se manifestam corporalmente no movimento do comportamento que a pessoa quer fazer, na maneira como elas usam os fatores que compõe o movimento como o uso do tempo, do fluxo e do espaço” Neste momento trouxemos como elemento sensibilizador o vídeo Ballet Conects Dance: https://youtu.be/FuvXG4As80c Brincadeira : PEGA-OBJETO

Bora se aventurar pelo lar?

Como no presencial, a brincadeira tem um pegador, que se fosse no dia-a-dia sairia correndo atrás das pessoas, neste espaço, o pegador sugere um objeto pra ser buscado dentro da casa e apresenta para todes na câmera, ganha o primeiro que escrever o nome do objeto no chat.

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Diálogos: Criança - Natureza e os Quatro Elementos

“Os quatro elementos habitam a imaginação, são um código de expressão da vida imaginária. Imaginar pelo fogo é criar imagens e narrativasquentes, guerreiras, acolhedoras e amorosas. (...)água corporeidade, entrega emocional (...) ar materialidade das levezas, voos, suspensão. (...) terra, raízes. Piorsky

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“Pessoas que conhecem o chão com a boca como processo de se procurarem essas movem-se de caracóis! Enfim, o caracol: tem mãe de água avô de fogo e o passarinho nele surgirá Arrastará uma fera para seu quarto usará chapéus de salto alto e há de ser esterco às suas próprias custas” Manuel de Barros

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Estas citações nos dão pistas de quanto o contato com os elementos concretos da natureza são essenciais no desenvolvimento infantil, o caminho para estes tempos atuais seria imaginar, resgatar memórias e motivar as crianças e seus familiares a se aventurarem com estes elementos primordiais da infância. Brincadeira: VIA INTERNET Esta brincadeira foi criada pelo Artista Educador Sidney Raposo que atuou na edição de 2019 no Centro Cultural da Penha e Teatro Flávio Império. O “lance” como ele mesmo dizia era uma criança escanear uma imagem com os olhos e passar via internet ,feita de copos e barbante, e do outro lado uma criança iria “Imprimir” o que recebeu via nossa Internet. Adaptamos a proposta com papel, caneta e lápis coloridos. Uma 1° pessoa mostra uma imagem, Uma pessoa 2 outra a descreve, e as demais desenham conforme me escutam. Diálogos: Como a oralidade transpõe a tela? O brincar Proporciona uma compreensão de um lugar privilegiado para a liberdade de expressão, sendo considerada como possibilidade de emancipação humana. A pesquisadora Regina Machado diz que:

“O contar histórias e trabalhar com elas como uma atividade em si possibilita um contato com constelações de imagens que revela para quem escuta ou lê a infinita variedade de imagens internas que temos dentro de nós como configurações de experiências.” Refletimos em como a oralidade é pode ser silenciada dentro de um ambiente virtual, e o quanto a criança perde seu papel de protagonista.

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“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação.”

Winnicott

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“Tem mais presença de mim o que me falta. Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.”

Manuel de Barros

Despedida Pensamos em transbordar, e para traduzir, este sentimento, compreendemos que era preciso encerrar com inspiração e motivação para seguirmos. Sendo assim, escolhemos a música de GERO CAMILO - Vai desabar água. E com está música encerramos um potente espaço de troca, escuta e acolhimento! Um construção reverberadora. https://www.youtube.com/watch?v=00rcexnnmKE

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Pílulas de Experimentação Poética

William Lima e Beatriz Miguez

A ideia nasceu a partir de experimentações anteriormente realizadas pela equipe Centro-Oeste Piá 2020. Partindo dos princípios do PIÁ e dos desejos e possibilidades de conceber materialidades/conteúdos sensíveis no trabalho artístico pedagógico, de forma virtual, para a edição do programa Piá 2020, os participantes foram convidad@s a desenvolver uma pequena performance artística por meio da virtualidade em duplas, trios e quartetos. Durante a explicação da proposta os mediadores foram provocando os participantes por meio de estímulos literários, sonoros e imagéticos. Assim os participantes foram convidad@s a elaborarem conjuntamente e colaborativamente, por meio de trocas pela plataforma Teams, uma pílula performática virtual a partir das suas linguagens artísticas e de alguns disparadores a seguir: CORPO – MOVIMENTO – ORALIDADE – SONS – ARTESANAL – CRIATIVIDADE – INFÂNCIAS – BRINCAR – SIMPLICIDADE – OBJETOS AFETIVOS – SIGNIFICAR – E OUTRAS.

O objetivo da proposta foi provocar e motivar os artistas participantes sobre as realidades, possibilidades e limites na criação de conteúdo artístico pedagógico de forma virtual. Após um determinado tempo de pesquisa e concepção da proposta, houve o compartilhamento das pílulas artísticas criadas para todo o grupo. Foi uma mostra viva e artística, no ápice conceitual na dinâmica de improvisação em um tempo pontual. Após as mostras e reverberações artísticas, houvese uma troca entre os participantes das interpretações, possibilidades e perspectivas. Asé! Seguem alguns print’s da mostra das pílulas entre telas.

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Referências Texto Provocação: “Sobre Importâncias” - Manoel de Barros Gravação da vivência: https://drive.google.com/drive/folders/1yrzCFUxliZeXbu4IAciZgVsxvQdRRYyW https://drive.google.com/drive/folders/1yrzCFUxliZeXbu4IAciZgVsxvQdRRYyW 22


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Territórios Invisíveis

Celso Amâncio,Elaine Silva e Vanessa Biffon

A partir dos lugares que as crianças habitam, iremos criar eixos cartográficos para achar onde os piás estão neste momento de pandemia. As cartografias surgem pela divisão de território que os AEs estão. E seriam vivenciadas através de programas como Google mapa, google terra, Facebook e outros. A partir destes reconhecimento, iríamos buscar outros lugares que as crianças se comunicam, esses chamado de invisíveis neste momento, como EMEI, EMEF, CCA e outros para ampliar a possibilidade de acessá-las. Tendo como provocação e pesquisa a busca desta criança ou adolescente dentro das redes nos seus territórios. Territórios invisíveis é um mapa, é um relato daquilo que estamos buscando, uma estratégia para os nossos planos pedagógicos, avaliativos, artístico e os pensamentos que estamos criando juntos. É nele que podemos criar interfaces que podem ser visuais ou descritivas, culturais ou políticas. Através do mapa devemos considerar a história do lugar, da criança, da família e não esquecer de considerar a vida.

“a espacialidade é a experiência espaço corpo próprio em movimento no espaço mundo compartilhado, onde encontramos os outros.” Marina Marcondes Machado A espacialidade torna-se uma noção central para ser, pensar, exercer, refletir acerca do ser humano: um ser em situação que depende intrinsicamente dos espaços povoados pelos outros para sua sobrevivência e continuidade da vida.

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O nosso corpo é um mapa, e somos construídos por espacialidades. Cada um de nós fazemos parte de um território, e esse território nos convida ao conhecimento profundo de suas necessidades para sobreviver e trazer outros seguimentos e novas histórias. Estamos aqui para dialogar e refletir sobre a necessidade diversa das crianças e adolescentes nesse momento de pandemia. Nesse momento isolados, distantes, o que é meu território? São as ruas lá fora? São as lembranças do lugar de onde vim? É dentro de minha casa? Nesse ambiente virtual podemos compartilhar vozes, imagens, até pensamentos, mas onde estão os cheiros de nossos afetos? Precisamos ativar a sensibilidade de escuta para entender o contexto do território. Escuto a criança dizer que ela precisa ser colhida e que dessem mais importância as crianças e aos adolescentes neste momento de pandemia. E aí... Todo mapa reflete uma situação, um ponto de vista cultural, um lugar, um sonho. Todo mapa traça o mundo a partir das relações entre seres vivos e não vivos. Onde encontramos as crianças hoje? O que elas fazem? Onde elas estão? Qual o território que o Piá pertence? O papo é se mapiar, é buscar modos criativos de ser e está no universo para se relacionar com a piázisticidade das crianças e adolescentes que queremos encontrar para piázar.

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Dinâmica sobre os territórios Qual o cheiro de seu território? Cada um dos participantes pensa sobre a questão: “Qual o cheiro de meu território?” Para complementar: “Nesse momento isolados, distantes, o que é meu território? São as ruas lá fora? São as lembranças do lugar de onde vim? É dentro de minha casa? Nesse ambiente virtual podemos compartilhar vozes, imagens, até pensamentos, mas onde estão os cheiros de nossos afetos? Qual cheiro da terra de nossos terreiros.” Depois, cada um pensa no cheiro de seu território, estando livre para aquilo que, nesse momento, a pessoa entende por território. Todos escrevem o cheiro no chat.

Qual o cheiro do seu território? Cheiro de terra molhada Feira Bolo Ervas plantadas de quintal Lixo queimado em casa Churrasco no finde e cimento Arruda- bolo de fuba e café passado no pano O cheiro do creme da minha mãe Mexerica Manga madura Cheiro de gata que eu só sinto quando chego de viagem Agua de nascente (Rio Saracura Ex-Quilombo Saludo Saracura!) Terra Molhada Cheiro de Frutas 26


Capim Santo Arruda Flor de Laranjeira Cheiro café neste momento Cheiro de gato no muro Sorvete gostoso Flor de laranjeira Mar Capim Santo Cheiro de avós (infâncias) Cangote de mãe Cheiro de bolo no forno Cheiro de chuva Pamonha conzinhando Cachaça na barba do pai Maria fedida Arruda de Benzimento Cheiro de minguau de baunilha que minha mãe fazia Café Café passado na hora Creme de aveia Roupa de mãe Cheiro de cebola refogada Cheiro de roupa lavada que vem do varal das casa Teritório interno é cheiro de água salgada de mar. O território externo é as vezes cheiro de cachorro, de filho de fumaça mas de árvore também. Água de cheiro Cheiro de minha mãe Ervas de mamãe

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“Cada

pessoa então deveria falar de suas estradas, de seus entroncamentos, de seus bancos. Cada pessoa deveria preparar o cadastro de seus campos perdidos. (...) Cobrimos assim os universos de nossos desenhos vividos. Esses desenhos não precisam ser exatos. Apenas é preciso que sejam tonalizados pelo modo de ser de nosso espaço interno.” Gaston Bachelard

Inspirações: MACHADO, Marina Marcondes. MAPEIE-SE! E busque de modos criativos de ser e estar no mundo para relacionar-se com a artisticidade das crianças. PDF BACHELARD, G. (1993). A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes. Casa do Zezinho 28


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Piá um quebra cabeça a ser construído a cada edição

Paulo Veríssimo, Theda Cabrera e Zina Filler

A Semana de Formação inicial surgiu de uma antiga reivindicação dos Artistas Educadores, que pediam práticas, rodas de conversa e informações sobre o modus operandi do Programa. Assim, foram desenvolvidas ações que os introduzissem melhor no universo do PIÁ e os preparassem para o início do Programa. A área de Instrumentais e Pesquisa (então chamada Metodologias e Instrumentais) ofereceu uma vivência na Semana de Formação de julho de 2019 chamada “Pesquisa: Por quê? Para que? Para quem?”. Esta vivência gerou bons resultados, e causou impactos positivos nos Artistas Educadores participantes; a qualidade da vivência e o aspecto formativo desta ação justificam sua continuidade na presente edição do Programa. Assim, nesta edição de 2020, a equipe da Área de Instrumentais e Pesquisa ofereceu novamente uma vivência, intitulada “PIÁ: um quebra-cabeça a ser montado a cada edição”. A criação da Área de Pesquisa e Instrumentais é bastante recente. Por isso, ainda é pouco compreendida pelos participantes do Programa. Os objetivos da vivência oferecida foram elaborados para estreitar as relações da Área com o corpo amplo do Programa. Para isso, buscamos uma vivência que sensibilize para a importância da pesquisa, desmistifique alguns equívocos sobre a coleta de dados, e estimule os artistas a serem colaboradores das pesquisas. Através de um instrumental lúdico – um quebra-cabeça com múltiplas possibilidades de montagem –, propusemos que os Artistas Educadores tivessem uma participação ativa na construção e reflexão sobre o Programa. Dessa forma, foi possível mapear as percepções e intencionalidades dos Artistas neste momento inicial do Programa, observando-se o contexto de isolamento social e da implementação do PIÁ em modo remoto. 30 30


Realização Este ano, a Área de Instrumentais e Pesquisa realizou dois encontros durante a Semana de Formação, para diferentes Artistas. As vivências foram realizadas em duas etapas. A 1ª etapa foi realizada em modo virtual. No início da vivência foi mostrado um quebra-cabeça de formato geométrico, com uma borda e 12 elementos geométricos. A borda é nomeada como: “PIÁ edição 2020”.

A 2ª etapa foi o envio dos modelos do quebra-cabeça (contorno e seus 12 elementos) através do e-mail, para que após a Semana de Formação, atravessados por estas experiências, os artistas enviassem para a equipe sua montagem individual deste jogo com a nomeação dos 12 elementos constitutivos. Reflexões Foi importante perceber que os dois encontros tiveram diferentes discussões, o que demonstra a diversidade de trajetórias, bagagens, inquietações e expectativas que os Artistas Educadores trazem para o Programa.

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Num grupo, onde 40% estavam no programa pela 1ª vez e 40% participavam pela 2ª e 3ª vez, as palavras-conceito que emergiram se dividiram em quatro eixos principais: Tecnologia: online, interatividade, conectividade, ‘Biocultura’ – a inserção da ciência na poesia, na ludicidade. Acessibilidade: quem acessa, como vão chegar os conteúdos? Disponibilidades pessoais: Escuta ativa, escuta afinada, arriscar, sair da zona de conforto, entrega, transformação/transformar o modo de pensar, parcerias, simplicidade: o resgate de olhares mais sensíveis e sutis para tudo. Questões artísticas: Espacialidades novas, imaginação, como manter a mágica do PIÁ. A discussão no grupo demonstrou que, assim como o jogo do quebracabeça proposto tem milhares de possibilidades de montagem, o Programa nesta edição, implementado em modo remoto, deve também encontrar e criar novos caminhos de realização, onde os desconhecimentos das plataformas digitais possam ser valorizados, e entendidos como parte do processo de formação contínua e continuada. Esta valorização é reafirmada pelo modo de atuação em grupo, onde cada um é permeado pelos conhecimentos do outro. Sendo assim, o Programa abre espaço para novas ressignificações, trocas e insights.

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No 2º grupo, onde 50% participam pela 1ª vez do Programa, 25% pela 2ª vez e 15% pela 3ª vez, os eixos das palavras-conceito se concentraram em: Disponibilidades pessoais: Adaptação, escuta coletiva, serenidade, presença, cooperativismo, colaboração, sensibilidade, aprendizados, transformação. Questões artísticas: criatividade, ‘re-invenção’, investigação, ludicidade, criança - “como fica o coração do Programa?” Questões territoriais: a periferia é plural, quais são as urgências? Nos dois grupos surgiram palavras que refletiram tanto os anseios positivos quanto negativos diante de um contexto desconhecido. De modo geral, percebemos o desejo de uma atuação coesa, coletiva, efetiva e transformadora, tanto no nível pessoal quanto no próprio Programa. Finalizando estas reflexões, uma citação feita por uma das participantes que sintetizou e traduziu perfeitamente o início esta edição ‘extraordinária’ de 2020 do PIÁ:

“ A esperança era mais necessária que a realidade”.

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Como ser criança na quarentena?

Beatriz Miguez e Will Lima

A proposta “Como ser criança na quarentena?” surgiu a partir de algumas inquietações... ...como estariam as crianças em suas casas? ... com quem estariam? ...pensando no Piá através das telas, quem seria a/o mediador/a desses conteúdos em suas casas? ...como então, nos aproximar destas pessoas, familiares, cuidadoras e cuidadores? ...no Piá...o tempo dos processos com as crianças, tem o tamanho do interesse, enquanto há curiosidade há tempo para experimentar. E em casa? Como seria o tempo da criança? ...como seria o tempo da criança neste contexto de agora, da pandemia? ...seria possível criar um elo com as famílias, para pensarmos sobre essas questões? Como? Estas foram algumas das inquietações que me moveram. Então, lembrei de um texto publicado no site Agachamento, escrito por Marina Marcondes Machado: “O futuro já começou”. Neste texto, Marina escrevia uma pequena carta para as famílias das crianças, com quem realizava encontros de aulas de teatro. Ela fazia uma crítica às apresentações de fim de ano, e contava um pouco do quão rico eram os encontros com as crianças. Por fim, marina colocava duas imagens de pequenos objetos coloridos e sortidos. Numa imagem os objetos estavam organizados por cores e tamanhos e vinham seguidos da seguinte legenda: um tipo de organização. Na outra imagem, os mesmos objetos apareciam misturados entre si e tinham a seguinte legenda: outro tipo de organização.

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Ao me deparar com os questionamentos citados à cima, me lembrei deste texto, porque percebi que nele havia uma provocação para repensarmos as formas de agir, de ser e de se organizar das crianças, tão distintas da nossa forma adultizada de ver o mundo. O texto seguido da imagem, nos põe a pensar sobre as formas de organização que conhecemos, aprendemos. Que formas de organização nos foram impostas? Por que não conseguimos observar valor em outras formas, que diferem da formatação adulta do olhar? Escrevendo sobre a proposta, consigo agora, repensar outros recortes para abordar este assunto e este texto. Enquanto escrevo, reflito um pouco sobre esta lógica de formatação das coisas e das pessoas. A ordem das coisas, e a supervalorização da utilidade de tudo que se faz. Isso me parece distante do que rege as crianças, sobretudo, as crianças menores. As crianças existem a partir da importância que as coisas tem para elas, mesmo que para nós adultos, muitas dessas coisas não façam sentido. Essas relações/ações das crianças, que muitas vezes parecem desconexas para nós adultos, fazem parte da construção de um entendimento de mundo. São hipóteses, experimentações. Outros questionamentos sobre o texto surgiram: de onde vêm esta lógica de organização, considerada normal ou aceita? O que está por trás do nosso imaginário, capaz de construir uma imagem única de organização? Considerar uma única lógica de organização, não seria uma maneira excludente de entender as coisas, as pessoas e as relações? Também me lembrei de um curta-metragem chamado “Vida Maria” de Márcio Ramos. Neste curta, Maria vive a história de tantas Marias, que passaram a infância trabalhando nas lavouras, fazendo serviços da casa. Então, fiquei imaginando, que neste momento de confinamento, talvez as meninas tivessem menos tempo para os brinquedos e brincadeiras do que os meninos. Me lembrei das aprendizes com quem convivi em outros trabalhos e mesmo no Piá, relatando as atividades domésticas que realizavam, e muitas vezes, queixando-se que os irmãos homens, não tinham as mesmas obrigações.

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Pensando nisso, considerei que o vídeo ‘Vida Maria’ poderia nos trazer um recorte sobre gênero, dentro desta perspectiva das relações entre adultos e crianças e o quanto este recorte determina, de certa forma, os limites sobre a maneira de ser e agir das meninas. Confesso que quando enviei a proposta, pensei em ser uma provocação e que poderia servir para que, junto de outras pessoas, pudéssemos pensar em algo, mais consistente, mas o tempo foi curto, e a provocação, virou proposta. Havia uma motivação e as referência faziam sentido neste contexto, mas como organizar as ideias e as ações, para que a proposta tomasse corpo no encontro com os participantes? O encontro de formação... Iniciamos o encontro, Will e eu, com uma espécie de performance sonora, dizendo frases que são ditas às crianças, como:

-Não é pra fazer arte! -Vira homem! -Homem não chora! -Senta direito, menina! - Engole o choro! - Não sobe ai que vai se machucar! Essas e muitas outras frases, que de certa forma, nos construíram e moldam nosso jeito de ver o mundo e de nos relacionarmos com ele. Na sequência, os participantes compartilharam frases que marcaram as suas infâncias, e nossa lista de frases duplicou! Lemos o texto de Marina e Vimos o vídeo de Maria. http://agachamento.com/?p=1263 https://www.youtube.com/watch?v=yFpoG_htum4

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O que fazer com tudo isso agora? Pois bem, a proposta era que os participantes se subdividissem em grupos de 5/6 pessoas, para escreverem uma “carta” aos familiares das crianças do Piá. “Se tivessem que enviar um recado para essas famílias, o que diriam? ” No tempo que tive para elaborar a proposta, em parceria com o Will, cheguei a me questionar algumas vezes, se a carta seria um bom encaminhamento. Ou se um batepapo sobre essas questões não seria mais proveitoso. Minha suspeita sobre a invalidade da carta se confirmou... A proposta soou como cobrança, o retorno dos AEs, de uma maneira geral, foi de que não fariam carta alguma. Com esta devolutiva dos AEs, constatei o que minha intuição me dizia, de que a proposta da carta era falha. Como poderíamos escrever algo para estas famílias, sem antes saber, quem são e como estão? Como “esperar” um entendimento dos familiares sobre a infância, num momento em que estamos todos sendo soterrados por um luto coletivo? Faltou empatia, faltou escuta. A carta era o de menos e talvez não devesse ser considerada tão importante, talvez nem devesse ter sido cogitada como proposta. Talvez o que realmente importasse neste encontro, fossem as trocas, as escutas, as perguntas, as descobertas de caminhos...e a carta tinha mesmo um caráter quadrado, com uma ideia fechada. Quando alguém se propõe a pensar uma proposta de formação num programa como o Piá, há uma expectativa de que a vivência provoque, instigue, atravesse, desperte novos olhares e seja prazerosa. Porque, a meu ver, o Piá é este lugar dos atravessamentos, do risco, da possibilidade de reconstrução dos processos, dos saberes e dos fazeres. Pensando nisso, apesar da sensação de frustração que senti após receber a ação de negação dos AEs, com relação à carta, percebi que a experiência serve justamente para que possamos reparar no erro, nas falhas e a partir delas pensar novas perspectivas, para que os processos nos façam sair modificados dos encontros.

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Terreiros de Investigação do Brincar

Evandro Gonçalves e Patricia Silva

A motivação para se conceber um processo formativo na 1o semana de formação do Programa de Iniciação Artística, se deveu a dois pontos fundantes da proposta trabalhada, primeiro ( sem ordem hierárquica preestabelecida, mas sim no entendimento de que as ideias se originam a partir de um princípio circular) o alinhamento à perspectiva suleadora de concepção de arte educação proposta pela coordenação pedagógica, segundo a extrema necessidade de trabalhar os temas da proposta de formação respaldados pela efetivação da Lei 10.639/0311 e com o nítido objetivo de descentralizar a concepção, noção e pratica de saber enraizados num projeto de mundo etnocêntrico e eurocentrado. Inserido no eixo infâncias a proposta que se fez presente, teve por objetivo propiciar uma amarração dos princípios expressos no pensamento fundante do programa, desvelando um conceito expandido de jogo. Desse modo, ludicidade, experimentação, processo criativo, temporalidades, pertencimento, interlinguagem e ações compartilhadas estariam inscritas em visões epistemológicas das noções de infância em outras possibilidades do existir, sobretudo à perspectiva suleadora dos povos originários indígenas e africanos em diáspora nesse território designado Brasil. Com isso pretendeu-se, que tais visões pudessem ir de encontro ou e ao encontro das visões ditas norteadoras implementadas por fundamentos eurocentrados e universalizados pelo processo colonial. Partindo da concepção de que o jogo para as populações subalternizadas pelo processo colonial diferencia-se da concepção etnocêntrica caucasiana inserida no binarismo vitória e competição, pretendeu-se investigar com os participantes os sentidos do jogo para “os povos do sul”. Para isso, levou-se em consideração a premissa de que para essas populações o jogo, estaria inscrito num sentido de troca para a concepção do fluxo de vida, sendo o acúmulo de energia vital (axé) do outro na relação, para o fim último da brincadeira, a vadiação a ludicidade estabelecida. Desse modo os referenciais para essa cisma lúdica, foram sorvidos em meio às mestras e mestres da cultura dita popular brasileira. 40 40


Outro aspecto fundante, foi estabelecer a partir de outras concepções de infância, alocados nos referenciais que trouxemos possibilidades de entendimento do processo criativo, sendo assim foi proposto aos participantes, uma investigação criativa à partir dos ideogramas Adrinkras, que seriam entendidos enquanto disparadores poéticos geradores de qualidades, intenções e durações de movimentos e criações. Relato da Experiência e dos Processos A partir de um envolvimento intenso e fértil dos participantes ao longo dos dois dias de formação, a experiência e os processos dela derivados, pareceram bem estabelecer os objetivos da proposta sugerida. Ainda que, o ambiente virtual, ao qual estamos inseridos pelo momento e movimento pandêmico que nos sujeita à formas outras de relação, contribuírem para uma “não percepção” imediata das frequências emanadas pelos assuntos e temas abordados, o retorno dos Artistas Educadorxs foi positivo e vibrante. A escolha, encadeamento sugestivo dos conteúdos e a sintonia dos proponentes, pôde promover uma atmosfera de terreiro, capaz de sugerir investigações do brincar, assentadas nas cosmovisões dos povos originários indígenas e africanos em diáspora. Por meio de alguns recortes fractais da cultura Afro brasileira, pôde-se espraiar uma gama de constelações de sentidos e ressignificações do pensamento, dos saberes praticados e compartilhados através da cultura orgânica brasileira. A dinâmica da formação seguiu da seguinte maneira: Preâmbulo Entrada de conexão no espaço virtual com sonoridades especificas que ambientavam as dimensões do terreiro. Primeira parte Breves palavras de agradecimento pelo interesse e participação do coletivo, ressaltando a importância da entrega e comprometimento com a proposta.

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Dinâmica de acolhimento ritual estruturada em exercícios de centralização corpo/mente que teve por objetivo buscar através da construção de imagens internas e ancoradas em estruturas de anatomia vivenciada uma conexão que pôde levar em consideração o caráter sistêmico das espiritualidades e estados de presença dos participantes. Apresentação da vivência à partir da explicação do título, explicitando os principais aspectos e fundamentos ao evocar as palavras presentes no título, denotando o caráter da palavra “Terreiro” e seu sentido intimamente ligado aos povos subalternizados no processo colonial e a palavra “Investigação” como um sistema aberto de pensamento e pratica que denota uma sabença ou sapiência afeita à diversidade e maneiras infinitas de construção de saberes. A legitimação do brincar como linguagem própria e fundamental das infâncias e da vida. Apresentação do Coletivo: Uma palavra para essa edição do PIÁ/ Vida. Nome, região, linguagem... Vídeo infâncias/ erês Ilw axe iya omi: https://www.instagram.com/p/B_8hWcJHSeb/?igshid=17mya0fnx7qlm Disque Quilombola: https://www.youtube.com/watch?v=GStv-f_bcfU Segunda parte O Perigo de Uma História Única”. Leitura de trechos do manifesto de Chimamanda Ngozi Adichie., seguida de comentários e reflexões. Suleamento da investigação individual da vivencia à partir das seguintes questões/provocações: 1- É possível experienciar uma infância plena partindo da perspectiva de jogos/brincadeiras (ludicidade) que imprimem a projeção de um futuro competitivo e estruturado em uma sociedade adultocêntrica?

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2- A representatividade nos planos estético, poético e político afetam o desenvolvimento da diversidade das infâncias? 3- De que maneira as diversas estruturas psíquicas fechadas por um processo de colonização afetam nossa relação com as crianças e o modo como existimos com elas? 4- De que maneira uma sociedade supremacista do ponto de vista da raça, classe e gênero compreende o Ser da criança? 5- Como criar, brincar e pensar a partir desses atravessamentos? Ser em Ginga o brincar e a capoeira angola, comentários reflexões e exibição de trechos de vídeos Filme: Pastinha! Uma vida pela capoeira https://www.youtube.com/watch?v=-unP_tdBiKI Compilação Mestre João Grande e João Pequeno jogando https://www.youtube.com/watch?v=sevfOySWDTM Terceira parte Adinkras: contextualização histórica e social da escrita e dos símbolos espirituais Adinkras. Apresentação e breve explicação dos ideogramas. Sugestões de musicalidade presentes nas referências para o desenvolvimento de uma investigação criativa. Investigação e Criação Adrinkras – Que sejam entendidos enquanto disparadores poéticos geradores de qualidades, intenções e durações de movimentos e criações. Experimentação e criação individual partindo dos adinkras, das musicalidades, das perguntas e de sua trajetória. Compartilhamento das investigações, tendo como pilar o jogo, a brincadeira a composição e escuta coletiva. Exemplo de Processo criativo- Crianças e adolescentes do PIÁ edição 2019 região Sul 2

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Quarta parte Mapa dos Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros, explicação sobre o material, reflexão propositiva dos cruzamentos dos fundamentos expressos no mapa com os princípios expressos no Programa de Iniciação Artística. Considerações Finais Fechamento propositivo em que cada participante leve consigo ao longo da jornada do PIÁ esse ano um Adinkra, para ser ativador e guardião do fundamento expresso através da relação de troca com sua própria energia vital seu axé. Conclusão Como explicitado anteriormente está experiência formativa partiu de um pequeno fractal da dimensão cultural – sobretudo - afro-brasileira, para desenvolver ou envolver possibilidades de diálogo entre a arte educação orientado por um curso suleador e o saber fazer praticado da cosmovisão infantil das crianças atendidas nas periferias da cidade de São Paulo pelo Programa de Iniciação Artística.

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Contudo, partindo sempre da premissa de um fundamento inacabado e potente em sua diversidade e possibilidades de desdobramentos, tal proposta pretendeu ser uma tentativa codificada de investigação e cisma criativa capaz de ser aplicada de maneira simples e aprofundada em diversos terreiros que clamem pela urgência de trabalhar os conteúdos aqui expressos. Por fim, deseja-se que com esta proposição, a arte educação seja entendida no campo do ato de responsabilidade na concepção de novos seres, capazes de fluir no devir em uma sociedade mais equânime, estabelecendo um ponto riscado de comprometimento ético, estético e político para bem rasurar as tormentas perpetradas por um Estado Colonial de desencantamento. Para tanto ata-se um nó propositivo para que tantos outros possam ser desatados e por ai encantados. Seguimos nas potencias de energia vital, amparados nos ombros de todxs aqueles que vieram antes, para amparar os que ainda por vir estão. Materiais de Referência Referências Bibliográficas Rufino, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Mórula Editorial. Rio de Janeiro.2019. Simas, Luiz Antonio. O corpo encantado das ruas. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro. 2020. Simas, Luiz Antonio; Rufino, Luiz. Fogo no mato: A ciência encantada das macumbas. Mórula Editorial. Rio de Janeiro.2018. Carmo, Eliane Fátima Boa Morte do. História da África nos anos iniciais do ensino fundamental: os Adinkra. Dissertação de mestrado. Salvador. 2016. Rufino, Luiz. Peçanha, Zinézio Feliciano (Mestre Cobra Mansa). Oliveira, Eduardo. Pensamento Diaspórico e o “Ser” em Ginga: Deslocamentos para uma filosofia da capoeira. In: Revista de Humanidades e Letras. Vol 4. No2. 2018. Campos, Alessandro de Oliveira. Tradição e Apropriação Crítica: metamorfoses de uma afroamericalatinidade. EDUC: FAPESP, São Paulo. 2016. Brandão, Ana Paula (Coord.). Kit A Cor da Cultura. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho. 2006 O Perigo De Uma História Única- Chimamanda Ngozi Adichie disponível in: https://www2.ifmg.edu.br/governadorvaladares/noticias/adelia-a- poesia-e-avida-convite-para-o-3o-encontro-do-dialogos/o-perigo-de- uma-historia-unicachimamanda-ngozi-adichie-pdf.pdf

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Adinkras disponível in: http://www.acaoeducativa.org.br/relacoesraciais/adinkras/ https://www.ita ucultural.org.br/ocupacao/abdiasnascimento/sankofa/?content_ link=6 Vídeos: Infâncias/Erês Ilw axe iya omi disponível in: https://www.instagram.com/p/B_8hWcJHSeb/?igshid=17mya0fnx7qlm Disque Quilombola disponível in: https://www.youtube.com/watch?v=GStv-f_bcfU Sugestões de Musicalidades Mestre Pastinha e Sua Academia – Capoeira Angola (1969) https://www.youtube.com/watch?v=iOuxaIr1uN4&t=1238s Tiganá Santana - Tempo & Magma (Ajabu!) https://www.youtube.com/watch?v=4wpgeM8qoaY&t=200s Fela Kuti (Nigeria, 1973) – Gentleman https://www.youtube.com/watch?v=0TbwNDhdOWU Mulatu Astatke | Album: Mulatu of Ethiopia | Ethio-Jazz | Ethiopia | 1972 https://www.youtube.com/watch?v=0ApwZaao0Q8&t=46s Os Tincoãs https://www.youtube.com/channel/UCHzA7kXh7mMMhNzqUj8BV5g O canto dos Escravos https://www.youtube.com/watch?v=DeI52czKxnA&list=OLAK5uy_mNIm CXwxPPWd9s7Y1YgB0qh--_6zBlyRI Adelawo - Ewe Music (Akpalu Hawo) https://www.youtube.com/watch?v=GC7X-JjfTz4 Kasai Allstars - “Thus Spoke The Ancestors” (“Bakulumpa Bambila”) https://www.youtube.com/watch?v=WUW2Bk4VTCg Orquestra Afro-Brasileira - Obaluayê! (1957) Álbum Completo - Full Album https://www.youtube.com/watch?v=YMq87VFaBu4

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Links de vídeos Compilação Mestre João Grande e João Pequeno jogando https://www.youtube.com/watch?v=sevfOySWDTM Filme: Pastinha! Uma vida pela capoeira https://www.youtube.com/watch?v=-unP_tdBiKI Território do Brincar | Série MiniDocs | Corrida de Tora – Aldeia Nasêpotiti, PA https://www.youtube.com/watch?v=AEL5xmJ4Zm4 https://www.youtube.com/user/TerritoriodoBrincar Diálogos: Desafios para a decolonialidade (O artista indígena Jaider Esbell conversa com Ailton Krenak) https://www.youtube.com/watch?v=qFZki_sr6ws O Perigo De Uma História Única- Chimamanda Ngozi Adichie. https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_danger_of_a _single_story/transcript?language=pt Filme Tarja Branca https://www.youtube.com/watch?v=DM6RKlmXJUU Racismo e Infâncias https://www.youtube.com/watch?v=15bUmKFWxnw Disque Quilombola https://www.youtube.com/results?search_query=disque+quilombola

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Do quintal ao digital

Luís Anastácio e Sonia Costa

Com o propósito artístico pedagógico estipulado desde as edições anteriores do programa de iniciação artística (PIÁ) para a formação continuada das equipes de artistas educadores (AEs) recém contratados, esse ano com a problemática da covid-19 a semana de formação teve um caráter a ser considerado como novo. A condição pandêmica fez com que no ano de 2020 as atividades ofertadas pelo programa observassem às práticas do encontro comumente presencial a nova realidade de isolamento físico. Sendo assim a ações e atividades do programa estão sendo pensadas em modo remoto, para tanto a semana de formação teve como proposição não somente as temáticas que comumente são ofertadas ao programa para formar seu quórum de artistas, mas também como o atual momento que nos faz pensar e repensar as práticas realizadas para o programa e suas ações sócio-culturais. Cabe salientar que toda programação realizada na edição de 2020 foram realizadas em trabalho coletivo a considerar seus propositores para tal agenda, formada por: coordenação, artistas regionais e artistas de áreas, divididas em quatro eixos sistematizados por reuniões a pensar as proposições artísticas pedagógica do programa, os eixos foram: Infâncias, Interlinguagem, Processos criativos e Cultura digital- arte tecnologia. Nesse último se enquadra a atividade DO QUINTAL AO DIGITAL, atividade essa que teve como objetivo pensar como o espaço físico de nossa casa torna- se nesse momento de pandemia os “quintais” criativos e produtivos dos encontros para o programa em caráter emergencial. Essa atividade passou por reflexões a cerca do tempo, ócio, escuta, invasões dos territórios, interferências, interrupções, quedas, erros, acomodações, adaptações, brincadeiras, sociabilização... Proposições estas conduzidas pelos ARs Luiz Anastácio e Sonia Costa, para os artistas participantes, foi uma forma de promover atividades que refletissem sobre os valores do programa e tentar conectarem com outras maneiras de entender a plataforma digital e também as a nossa relação de artistas com os meios tecnológicos. É possível ativar o humano em isolamento físico? 49

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Constatamos que sim, podemos observar nesse encontro proposto em 3 horas considerar nossas facilidades e dificuldades e não de forma a romantizar as impossibilidades físicas, mas também de enxergar como podemos ativar nossas sensibilidades humanas mesmo tendo como inter face à barreira tecnológica. A atividade teve como roteiro propositor a seguinte ordem: Recebermos os participantes com a música “A beleza em tudo isso” https://www.youtube.com/watch?v=P2G-pHGpbho Breve Apresentação Luiz e Sonia Atividade Guiada: https://youtu.be/9_Wo19YTMh0 (Proposta no qual cada participante no seu tempo e condições o fez sem considerar o tempo coletivo, mas seu próprio tempo) Apresentação e Fala Luiz Pausa? A estética da produtividade em meio há uma quarentena... O momento de quarentena me obrigou a recolher em minha casa, estou socialmente impedido de transitar, tocar, abraçar... Meu quintal tornou meu escritório e a extensão de outros territórios.. . Em primeiro momento ele era apenas meu refúgio lugar da minha intimidade, onde sentado me reabastecia da invasão da produção diária, que deixava do muro para fora... Hoje ele está demarcado, invadido, a produtividade tomou conta de meu quintal... Produz, Produz, Produz... Onde fica o lugar da Pausa? Cadê meu refúgio? 50


E você Sônia qual é o seu quintal? Apresentação e fala da Sonia A nuvem é feita de lágrimas, arquivos ou ao algodão doce? A resposta não me importa, a mim basta saber que quando quero faço dela meu quintal, nela, meu corpo criança virtual pende de um lado a outro dos espaços cibernéticos onde o tempo é senhor. Tempo delay, tempo conexão, tempo queda, tempo desfoco, tempo trava tempo imagem, tempo velocidade tempo outro tempo Chamamos o tempo como suleador do quintal ao digital. Escrevam no chat durante nosso encontro! (Essa atividade teve como proposição gerar reflexão através de como cada artista ver, sente, concebe o espaço onde vive nesse momento de pandemia) Brincadeira de Apresentação Apresentar-se fazendo de conta que está sofrendo as interferiencias digitais de: Tempo, Pausa, Queda de Conexão, Delay entre Audio e Imagem. A Câmera e Áudio Abertos. O partipante fica repetindo a apresentação no seu tempo quando chegar ao fim cada um fala ‘Caí’ e desliga a câmera e audio. (Esse momento foi proposto como forma a considerar as interferências, pausa e escuta como fator estético) Brincadeira Pega o Objeto A Brincadeira começa com todos sentados em seu lugares. O inicio da brincadeira está com a Sonia. Quando ela disser pega pega “ sua escova de dente” todos devem sair correndo em busca da escova, voltar com o objeto e escrever seu nome no Chat. Ganha a rodada o primeiro nome escrito no chat. O vencedor chama o próximo objeto.

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Vídeo QUINTAL (Essa ação foi proposta como sensibilização ao qual o artista a partir de sua escolha observou apenas um quintal, ou seja, escolheu um dos links para apreciar. Sendo assim inserimos na discussão a infância, como as crianças estão a pensar formas distintas de brincar a considerar o seu próprio quintal) https://youtu.be/9_Wo19YTMh0 https://youtu.be/QFperL1Fqtg https://youtu.be/MBdjRv0m7IQ https://youtu.be/Z1gnxTpx9cU https://youtu.be/Ssq5_Nk1DO0 https://youtu.be/VMbFxMszbrs https://youtu.be/_YKrXSfyYKA https://youtu.be/SAYGXPwzmWU

Na volta do video quem quiser pode se inscrever para propor brincadeira (Foram propostas pelos artistas: qual é a música? , stop, jokempô). Foram separados em duplas o AES no Microsoft teams e cada um tinha que apresentar o seu quintal para o outro sem usar a fala, e depois compartilhar os apontamentos levantados). No geral os AES se sentiram propositores da atividade, e mensuraram a importância de na semana de formação haver espaço para pensar as relações de tempo vazios, e considerar situações que dado o atual cenário faz com que todes reflitam sobre o isolamento físico e não social, e como territórios que têm características distintas como a dos equipamentos devem ser vista com muito cuidado e atenção no atual cenário.

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Poesia meu Quintal- Finalização Compartilhar o poema e pedir para todos lerem juntos com os microfones abertos.

Meu Quintal Viviamos em quaretena, Confinados! O ir e vir restringia-se ao nosso quintal. Lembro-me fortemente do pomar da vovó Iracema. Da mangueria que trepava, com sua copa monumental. Sentia o cheiro da terra molhada com a chuva! Que me possibilitou um belo monumento sentimental. Observava o caminho da pequena saúva. Grande luta, ao carregar o peso brutal Na cozinha saboreava o peixe! Degustando verduras, frutas, legumes ao dente. Todos sentados se olhando. Contando história. Minha vó um cachimbo pitando. Alimentos da alma aprendidos e passados pra frente. Em roda rindo, ouvindo feliz e contente. Isso não se ensinava pra qualquer gente. A simplicidade de existir é um fato eminente. Olhava o céu, contava estrela, Os pássaros não estavam de quarentena. Meu quintal era minha passarela Gostava muito de brincar de pular cela. Pintava meu mundo de aquarela. Até que um dia invadiram minha tela.

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Deixando para gente doenças e querela Por pessoas que toda vida só pensaram nelas. Mas como tenho comigo a força ancentral, Mesmo perdendo tudo, nem tendo mais meu quintal. Deixei de herança a grande esperança, E tudo que aprendi com minhas lideranças! Toda vez que percorrer esse local: Anhangabaú, Itaquera, Aricanduva, M’boi Mirim, Ibirapuera, Mooca, Pacaembu, Tietê, Guararema, Sapopemba, Pirituba, Ipiranga, Pari, Jabaquara, Carandiru, Saibam que um dia foram meu quintal! Luiz Anastácio

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VIDA INTEGRADA, COSMOVISÕES AFRICANAS NOS FAZERES ARTÍSTICOS

Suelen Ribeiro e Thiago Arruda

Vida Integrada, Cosmovisões Africanas Nos Fazeres Artísticos inicia com a formação das periferias da cidade de São Paulo partindo do documentário “Mil trutas, mil tretas” dos Racionais MCs, onde se narra a expulsão dos africanos e seus descendentes provocadas pelas políticas estatais de eugenização e violência. Após esse olhar atento para os territórios nos voltamos para as cosmologias africanas praticadas nos espaços contra- coloniais: quilombos, terreiros, aldeias e favelas . Foi proposto um encontro para refletir integração das linguagens artísticas e sociedades, por meio das práticas tradicionais ditas populares. Esta vivência foi realizada na dia 13/05, data histórica, que se relaciona diretamente com os temas abordados. Com isso chegamos saudando os pretos velhos, que na cultura Bakongo têm na figura das crianças, sua linha correspondente, em complemento e equilíbrio- “Quem está mais perto do velho é a criança”, Nêgo Bispo- e guardam os conhecimentos da vida. Ainda sobre o 13 de maio, apontamos sobre a libertação dos africanos e seus descendentes escravizados pela luta dos movimentos negros abolicionistas, uma conquista do povo preto e não uma boa ação da princesa Isabel, iniciando uma reflexão sobre as estruturas de apagamento das culturas negras no território chamado Brasil.

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Para falar de território e cultura, precisamos falar de apagamento e universalização, e de como os processos de criação colaboram na ideia de uma “cultura neutra, não racializada e comum a todos”, tal entendimento apenas reafirma o racismo estrutural e estruturante, assim como o pacto narcísico, onde brancos não se percebem racializados e sim como “padrão”, o outro é que é o diferente- portanto aquele fora do padrão. Sim, a diferença é elemento fundamental da vida, mas não a desigualdade, pois a desigualdade é fruto da indiferença (Salloma Salomão) dos que vivem os privilégios herdados da escravidão.


A escassez de referências africanas, diaspóricas e indígenas,os discursos monológicos e universalistas ocidentais, patriarcais, eurocêntricos e supremacista branco, não são mero acaso ou falta de atenção. Nós adultos responsáveis pelas vidas das crianças precisamos tomar uma posição em nossas práticas, pois quem não está combatendo o racismo e o colonialismo, está a favor dele. SER E SENTIR: PENSO, LOGO EXISTO… Os processos “civilizatórios” do colonialismo são patriarcais competitivos e adultocêntricos. Carregam em via de mão única a ontologia do “penso logo existo” de Descartes, assim como os pensamentos socráticos e platônicos como medida do mundo. Um entendimento que torna subalterno o mundo sensível, descarta o invisível, inferioriza o corpo, e torna uma tal racionalidade soberana. Nesse modo euro ocidental dominante-

“A cabeça é que importa, e o corpo é um trapo” Educação precisa de gente, iniciação precisa de axé! Muniz Sodré

Povos africanos e indígenas operam num sistema integrado, em que não há subalternização do corpo em relação ao pensamento. Há sim muito pensamento no corpo, e muito corpo no pensar. São povos que esquivam e gingam- gingar é assim uma forma estratégica, inteligente e ativa de sersendo. Comunidades em que pessoas são um valor, que acumulam gentes através de suas tecnologias ancestrais da música, da vibração e da alegria.

“Educação precisa de gente, iniciação precisa de axé! “ Muniz Sodré

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Do ponto de vista do colonizador que utiliza argumentos científicos e filosóficos racistas, o ser negro não pensa, não é humano, logo todas as suas ontologias são descartadas, roubadas e ainda mais a frente folclorizadas. Repensar as linguagens artísticas na relação com as crianças e adolescentes implica em ir além do “dia do folclore” ou “dia do índio” . A ancestralidade que pulsa e vibra nas periferias não pode ser rebaixada a clichês. Perguntar é a melhor resposta- precisamos questionar de onde veio a ideia de folclore? Quem decide o que é popular e o que é cultura clássica? Quais são as narrativas históricas sobre a formação do Brasil? Quem escreveu essas histórias? E principalmente perceber que o processo de colonização está a pleno vapor. Um estado nação extremamente desigual, em que a população negra e indígena sofre expulsão e massacre contínuos, ainda é colonial. Nossa proposta aqui é integrar nossas práticas com comprometimento, responsabilidade e de forma continuada, para que as culturas ditas populares brasileiras tenham origem, lugar, nome, história, força ancestral, reconhecimento e façam parte da rotina na relação com crianças e adolescentes. Qual o lugar das crianças e adolescentes na construção de mundo? Ser criança e adolescente é condição de invisibilidade? Do que estão impregnadas nossas subjetividades, nossos imaginários? O colonialismo coloca a criança como um “recipiente” no qual deve ser depositado o adultocentrismo, para que ela um dia “se torne alguém”- lêse como alguém, um adulto branco. O colonialismo financia o patriarcado, a branquitude, o genocídio, os epistemicídios, comunitaricídios e infancicídios- aniquilamento das infâncias. Que discursos e modos de agir excludentes e racistas estão naturalizados nas práticas artístico- pedagógicas e educativas? VIBRAR NA VIDA!...

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Nascido em Minianga, na República Democrática do Kongo, o doutor Kimbwandende Kia Bunseki FuKiau escreveu o livro Kindezi- A arte Kongo de cuidar de crianças, no qual diz que:

“Uma infância arruinada é uma sociedade arruindada”. Doutor FuKiau nos narra a organização da educação das crianças no Kongo, uma educação para a vida, cosmogônica, compartilhada e integrada. Kindezi é a arte praticada pelo Ndezi- o cuidador ou cuidadora das crianças, essa é uma das tarefas mais importantes e valorosas que alguém pode ter na sociedade do Kongo, sendo que nela, os velhos sábios têm papel fundamental ao difundir seus conhecimentos com a criança. A arte kindezi é a arte de nutrir o muntu- ser humano- ou sol interno, para que esse sol cresça e brilhe cumprindo todo o seu ciclo de vida. “Assim, Kindezi é uma arte focada não apenas no cuidado dos jovens da sociedade, mas no crescimento do Ndezi (o cuidador, aquele que pratica a arte da Kindezi). Em outras palavras, ao passo que uma pessoa desenvolve as habilidades da Kindezi, desenvolve-se a si mesmo. Ndezi deve ajudar o muntu, o “sol vivo” a “brilhar” (6); e, no processo, ele/ ela aprende como “brilhar” com o poder do “sol vivo”. Porque esse processo é contínuo, a maior Kindezi (experiência de serviço para a comunidade) descansa com os anciãos. Na sociedade Africana, os anciãos são aqueles que tornaram-se fisicamente mais debilitados, mas que são espiritualmente mais fortes, porque eles cresceram ainda mais no desenvolvimento pessoal e se moveram para mais perto dos Ancestrais, para o mundo espiritual e a própria “Força da Vida” (Kalunga). Um ancião não é apenas uma “pessoa mais velha”, mas é alguém ainda “mentalmente e espiritualmente forte e sábio o bastante, não apenas para manter a comunidade unida, mas acima de tudo, para construir a fundação moral da comunidade jovem e das gerações que virão.”1

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Kindezi: A Arte Kôngo de Cuidar de Crianças. K. Kia Bunseki Fu Ki.Au e A.M. Lukondo-Wamba. Por Mo Maiê . Terreiro de Griôs - setembro 14, 2017

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Sulear nossas práticas Sulear é olharmos para outra direção, que sempre esteve ali, que é muito anterior ao mundo greco-romano, que pulsa e gera conhecimentos desde muito tempo, mas que ao “nortearmos”, deixamos de lado. Sulear é despachar as formas monológicas, universais e monoteístas, passando a agir de forma cosmológica, pluriversal e politeísta. É agregar e compartilhar. O termo Sulear foi criado pelo professor Boaventura de Sousa Santos e sistematizado pelo filósofo sul africano Mogob Ramose. Remamos fazendo o caminho de volta, múltiplo, sem hierarquias subalternizantes. O que se entende por Integração? Estamos na encruzilhada, lugar de intersecção, possibilidades, de caminhada e de caminhos. Riscamos o ponto pedindo a benção dos nossos kumbas: FuKiau, Nêgo Bispo dos Santos, Leda Maria Martins e Muniz Sodré Antônio Bispo dos Santos ou Nêgo Bispo, mestre quilombola piauiense nos imanta de saber orgânico, um saber que se relaciona com a vida, envolvedor do ser, confluente, e que só faz sentido se for integrado e compartilhado. Dá o exemplo da capoeira e do futebol: 60


...Dizem que quem inventou o futebol foram os ingleses né? Então, logo

quem inventou o futebol foram os colonialistas, quem pensou o futebol. Então digamos que tenha na Fonte Nova um Bahia, tem 30 mil pessoas assistindo esse Bahia e Vitória, matematicamente é possível que no país do futebol, onde tem 30 mil pessoas assistindo um jogo, onde 22 pessoas apenas estão jogando, nesses 30 mil é possível que tenha alguém que jogue tão bem ou até melhor do que um dos 22, matematicamente é possível não é isso? Mas pra gente não se cansar muito fazendo conta, vamos logo pra prática. Digamos que o Neymar resolve assistir esse jogo, aí é o Neymar né… o melhor do Brasil senta na arquibancada e os 22 jogando, num determinado momento o Neymar se irrita porque vê que um daqueles do time que ele tá torcendo tá jogando muito ruim, e ele pede pra entrar no lugar daquele que ele acha que tá jogando muito ruim. Ele pode? Não pode não é isso? Como aqui na Bahia também se fala muito de capoeira, digamos que tem lá no Pelourinho uma roda de capoeira e tem 50 pessoas na roda e tem 1 pessoa assistindo, essa pessoa que tá assistindo nunca que tinha visto uma roda de capoeira, mas de repente ela pede pra entrar. Pode? (público responde- Pode) Tá vendo a diferença? É simples… quem pensou a capoeira? Nós, nós pensamos a capoeira, da mesma forma tudo que nós pensamos, o samba também é assim, a capoeira é assim, batuque é assim, tudo que nós pensamos cabe todo mundo, e de forma integrada. Numa roda de capoeira, a criança de dois anos pode jogar com um senhor de oitenta, a menina pode jogar com o menino, mesmo tendo muito machismo, mas ainda arrisca a jogar, se mete pra jogar, no futebol não, é tudo segmentado…”1

1Transcrição da fala de Nêgo Bispo na Mesa: Saberes tradicionais, Fórum Negro de Arte e Cultura, na Uni-

versidade Federal da Bahia, dia 21 de março de 2019. Disponível no youtube do Encruzilhada Grupo.

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Referências Katiuscia Ribeiro- Ontológica do Sujeito: https://www.youtube.com/watch?v=fQ_GViUHImE&t=2447s Nego Bispo- Saberes quilombolas: https://www.youtube.com/watch?v=ByWld8Gonr8&t=610s Leda Maria Martins- Performances do tempo espiralar Mauricio parada, Murilo S.B. Meihy, Pablo de Oliveira M. - História da África Contemporânea Bunseki Fu kiau, Kindezi- A arte Kongo de cuidar Tese de doutorado Tiganá Santana- A cosmologia africana dos BantuKongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8160/tde-30042019-193540/pt-br. phpIywB3dEA&t=170s Branqueamento e branquitude no Brasil- Cida Bento

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Espaço, Tempo Imaginação

Diogo Noventa, Karin Giglio e Ж

No dia 19 de junho de 2020 a Área de Comunicação do Programa de Iniciação Artística – PIÁ realizou um encontro formativo para parte do programa. A necessidade deste encontro se deu a partir de uma conversa reflexiva entre as áreas de comunicação e artístico pedagógico. O ponto de partida inicial foi o fato de muitas equipes estarem produzindo vídeo como suporte/linguagem de suas postagens quinzenais; postagens que em nossa área chamamos de partilha de objetos sensíveis. Na primeira conversa de planejamento deste encontro formativo existia uma tendência, “como escuta do programa”, de darmos foco para uma oficina técnica de edição de vídeo. Levando em conta o acúmulo crítico da área de comunicação chegamos a proposta de fazer uma reflexão sobre os sentidos históricos e políticos sobre a produção/criação de imagem em movimento. A “simples” apropriação instrumental de ferramentas de edição não significariam necessariamente a consciência e o domínio da linguagem. Optamos por uma introdução da ideia da técnica como cultura, estética e ética dentro de uma intencionalidade de criação de vídeos na perspectiva anti hegemônica, que se desvincule de práticas liberais de produção, representação e produtividade comunicativa. Por fim o encontro foi chamado de Tempo e Espaço – um convite a imaginação. O encontro teve como objetivo apresentar anti referências da narrativa clássica, estilo de narrativa cinematográfica adotado pela indústria cultural no contexto internacional, que consolidou o cinema como um espetáculo gerador de lucro, sendo – no campo das expressões artísticas – um expoente das formas capitalistas de desenvolvimento econômico do início do século XX. A identificação do uso do método da narrativa clássica em um filme, significa identificar, no campo da forma, sua aproximação com os interesses da classe dominante, ou o audiovisual como forma de discurso dentro dos limites definidos por uma estética dominante, de modo a fazer cumprir através dele necessidades correlatas aos interesses da burguesia. Contudo o seu oposto não é verdadeiro, não é possível afirmar que a não utilização da narrativa clássica significa um rompimento com os interesses dominantes.

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As bases da narrativa clássica no cinema e sua consolidação de produção em escala industrial ocorrem na década de 20 do século XX, mas o período que a antecede é referente à invenção do cinema, momento essencial para compreender que

“a linguagem do cinema não tem nada de natural nem de eterna, ela tem uma história e é produzida pela história”. Noel Burch Sendo assim organizamos esse “início de conversa” como uma breve passagem pelo contexto dos primeiros filmes, que surgiram no final do século XIX e foram difundidos em espaços de diversão popular como circos, quermesses, museu de cera e de aberrações, e significaram uma prática da classe não dominante. Os materiais de referência usados no encontro estão nesta Playlist: https://www.youtube.com/playlist?list=PL9Bin25O9GkYETOCOCO3 y0IyzOTL4Ejwl

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Relato sobre a oficina mapas afetivos: Imaginando um mundo pós-quarentena

Felipe Gregório

Certa vez escutei de um professor um conceito sobre território vindo dos Guaranis, dizendo que estes se identificam a partir do Eu (Tekó), do Outro (Tekorãn) e da Totalidade, o bem viver (Teko porãn).

“Os Guarani têm uma noção de territorialidade própria e esta é uma territorialidade fluida, ou seja, “território”, para eles, não é um local definido geograficamente, mas representa a busca por um local/espaço onde seja possível viver e desenvolver-se segundo os preceitos éticos de vida Mbyá “

Borghetti, 2014

Outra vez, escutei do Lumumba, músico percussionista e fundador do terreiro Ilê Asè Omò Ayé, em São Luís do Paraitinga; que cada indivíduo um dia retornará ao lugar de onde nasceu... Estas foram algumas pistas que tomei para reformular uma narrativa que falasse de mapeamento na segunda vivência durante a Semana de Formação neste ano. Inicialmente a ideia desta vivência surge com a necessidade de pensar o território nesta edição como proposta de acesso à cidade de SP, conforme orientação para o formato emergencial. Ainda, é uma tentativa de apresentar alguns caminhos para uma possível articulação com a equipe como estratégia de ação cultural. Pensar o território como um lugar fluido, em constante movimento, como as culturas, representaria talvez uma necessidade também de mover a comunidade para uma apropriação do programa. Esta apropriação se daria pelo fato em desenvolver abordagens que não considerassem os modos de criação e contato com a cultura vinda 68 68


Identifico esta sazonalidade no PIÁ algo como muito propositivo a pensar o território a partir de uma ideia que

imagem: Marcia Cristina Silva

“reuniria os indivíduos não a partir da pertença a um lugar ou uma ideologia, mas sim as capacidades de compartilhamento dos saberes individuais, uma vez que as identidades passaríam a ser identidades do saber” (LÉVY, 2003)

Este é um dos paradigmas para pensar um PIÁ PÓS-QUARENTENA! Neste modo remoto, já temos crianças de vários lugares e Estados que participam do programa: da Bahia, de Minas, etc. Temos também intercâmbios para dentro de outros programas (como é o caso do AE Victor Mello Cantagesso) que levou experiências para o projeto Rizoma favorecendo assim novas dinâmicas e modos de estar junto. Durante a vivência na oficina “Mapas Afetivos: Imaginando um Mundo PÓSQuarentena”, como proposição, foi pedido para cada participante apresentar uma fotografia que integrasse um brinquedo ou brincadeira (projeção cartográfica); uma narrativa, um dizer-escrito (memórias- rosa dos ventos) e um símbolo (Legendas).

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Uma possível leitura destas imagens estaria conforme (Barthes, 1991) em “A Câmera Clara”, em identificar o Operador que é o Fotógrafo; O Spectator que somos nós, espectadores das coleções de fotos e o Spectrum, o que é fotografado, o alvo, o referente, o espetáculo.

imagem: Maria Isabel

Esta divisão e estes conceitos, para mim se relacionam também com a ideia de Marina Marcondes (trazida pela Elaine da Silva, Área Artístico Pedagógica) onde: Mapear-se pode traduzir o que há de mais íntimo na experiência de imaginar e fantasiar: sem sair do lugar, nos transportamos para situações, climas e atmosferas, dos tempos passado, presente e futuro concomitantemente. Como também da cosmovisão Guarani! Num dado momento do compartilhamento das fotografias, percebemos uma participante emocionada em prantos, algo que comoveu a todos e nos trouxe para o lugar das memórias, o lugar que nos habita e nos atravessa assim, de repente! Tudo isso, é território! Tudo isso nos diz sobre os modos e os porquês em compartilhar, principalmente agora.

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Enfim, ainda sem saber muito como tornar alguns mapeamentos, processos artísticos, significativos através de dados e pesquisas para as famílias para que estas reinventem suas formas de estar e participar com a cultura e as instituições a sua volta, segue abaixo um pensamento registrado num momento posterior a semana e que integra nosso plano de ação para este ano:

imagem: Natalia Lima Pires da Silva

No centro está o nó (PIÁ- EDIÇÃO 2020)! Busquemos as teias que nos liguem aos que vieram antes... No teclar da presença, a sintonia que rege o timoreiro ao leme de profundidade. Abaixo está o chão- brinquedo! Pela esquerda, a criticidade que faz o caminho inverso para a simbiose... Lugar. À conquista deste. Que sonha com os rios... Lugar da experiência! Que somam memórias... Esboçando trajetos... Percursos dos Sul- jeitos. Desses jeitos que são nossos lugares na existência.

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Sobre Mapas e Territórios

Giulia Fontes - Artista educadora Edição 2020

Registro reflexivo acerca da oficina “Territórios Invisíveis” do Eixo de Cultura Digital, realizada em 13 de maio na Formação para Educadores do Projeto Piá 2020 A partir da experiência proposta na oficina, percebo que nossa relação com mapas e territórios podem servir como disparadores para diversas dinâmicas e reflexões sobre nossos espaços, afetos e o tipo de vínculo que temos ou não com cada geografia com a qual nos relacionamos. Pensar sobre o que se mapeia e como se mapeia (idéias chaves da autora Marina Marcondes, citada na oficina, e minha ex professora de metodologia na ESACH) são pistas preciosas para nos fazer indagar sobre a diferença entre mapa e território. Afinal, quais as diferenças entre o espaço que eu cartografo e sua própria cartografia E quando se tratam de mapeamentos afetivos, como eu defino os parâmetros e distâncias? O que seria o centro? O que seria a periferia? Quem determina os trânsitos entre esses pontos? Como transformar um espaço em território?. Todas essas são algumas das perguntas com as quais saí neste dia, e somadas a tantas outras, me inspiraram a desenvolver, junto a minha dupla Nathalia Bevilacqua (AE na linguagem de Artes Visuais na microrregião Sul2) o nosso plano de trabalho para o PIÁ 2020 como AES responsáveis pela Biblioteca Marcos Rey: “Mapas para Mundos invisíveis” - em que buscamos atividades lúdicas para pensar outros mundos possíveis; nos debruçando no exercício de organizar estes mundos de maneiras visíveis: seja por meio de vídeos, áudios, imagens, narrativas ou jogos.

imagem: Ж

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imagem: Carolina Nascimento

Referências BARTHES, Roland. A Câmera Clara. São Paulo, Perspectivas, 1980. BORGHETTI, Andrea. Tekó, Tekoá, Nhanderecó e Oguatá: territorialidade e deslocamento entre os MbyáGuarani. Brasília, 2014. LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2003.

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Remédio, Mandiga e Abracadabra Pílulas de um minuto para curar qualquer doença Celso Amâncio, Elaine Silva e Vanessa Biffon Como atravessar um tempo de pandemia? O Programa trabalha em essência com a pulsão de vida. A vida faz parte do brincar, da infância, da educação, da arte. Arte e vida se entrelaçam tanto quanto inspiração e reflexo quanto no fato de que quem cria, anima, dá vida, revive, ressuscita. O bonequeiro que faz mexer o mamulengo trabalha com a mesma intenção que uma criança ao tornar lúdico um objeto. A criação artística dissemina, semeia, faz brotar novas dimensões de onde só havia a aspereza do concreto da existência. O processo artístico também pode transformar os nossos olhares sobre as pessoas e sobre o mundo. Assim, a equipe de Articulação de Processos Artístico-Pedagógicos buscou um modo criativo de falar de cura para um tempo em que nossa condição humana tanto se fragiliza. Enquanto proposição, pensamos em uma vivência que tivesse, enquanto forma, a criação de pequenos vídeos e, como conteúdo, a invenção de um tratamento de doença por meio de remédios, abracadabras, poções mágicas, antídotos, processos de curas e outras práticas, que dialogassem com o imaginário e a experiência de cada participante.Lançamo-nos à pergunta: como criar pílulas de um minuto para curar qualquer doença? Para alimentar o encontro propusemos um material guia, uma espécie de kit, um agrupamento de referências que tinham o intuito de estimular a criatividade dos participantes. No kit continham vídeos, imagens e conceitos sobre formas de curas que acessamos a partir das nossas culturas.

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No entanto, ficamos receosos quanto ao modo como estávamos abordando o tema, principalmente quando trouxemos palavras como simpatia, ritual, feitiço, mandinga, pois muitas delas estavam deslocadas da sua origem. Resolvemos enviar esse material para a Suelen Ribeiro1, afim de nos orientar (provocar) nesse sentido. Ela nos fez um convite para aprofundarmos e sulearmos2 nossa compreensão do que os processos de cura significam para culturas afroindígenas. E de lá para cá temos percebido o quanto nós, propositores desta oficina, conhecíamos pouco dessas perspectivas e de todo o processo de apagamento que nossas culturas afroindígenas passaram e passam. O que vamos apresentar aqui, portanto, é um texto que relata nossa oficina de maio de 2020 e também traz alguns acréscimos de leituras posteriores feitas por Elaine da Silva e Vanessa Biffon3, em um constante exercício de desconstrução do pensamento colonial. Na oficina, abrimos os caminhos a partir das palavras Remédios, Mandingas e Abracadabras para incitar o diálogo sobre as curas diversas e hoje percebemos que tem a ver também com práticas ancestrais. Essas palavras escolhidas possuem significados diferentes entre as civilizações, mas queremos ressaltar os processos de cura contidos nelas, na busca pela saúde e o retorno da alegria daquela pessoa que está enferma e/ou daquilo lhe faz falta. A cura acontece pela sabedoria, através da fé, do que se acredita, pela força que intensifica, pela divindade que é dada. São amuletos, patuás, rezas, orações, crenças, palavras e tantas possibilidades usadas para proteger o corpo contra efeitos negativos vindos de pessoas ou seres invisíveis. Embora tenhamos apresentado referências também no campo da fantasia, da abracadabra, foi a mandinga o elemento que mais reverberou nas experiências relatadas dos participantes nos dias de oficina. Em pesquisas posteriores, pudemos perceber o quão significativo formam (e são) os amuletos, tanto para compartilhamento de saberes quanto para a preservação de culturas, de vidas. Patuá, por exemplo, tem uma origem e significação identificadas como indígenas, embora haja debates sobre isso.

1Suelen Ribeiro, juntamente com Thiago Arruda, são coordenadores do PIÁ, na edição de 2020 2 Ao contrário de nortear, sulear é uma maneira de visibilizar e destacar a perspectiva do sul como local

de produção de conhecimento, em um gesto contínuo de descolonização de nossos corpos, atitudes e memórias. O termo foi cunhado por Boaventura Santos, utilizado por Paulo Freire e aprofundado por Mogobe Ramose. 3 Celso Amâncio precisou se desligar do Programa em maio de 2020.

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“No Brasil “Patuá” tem origem tupi, segundo Antenor Nascentes, esta palavra significa cesta,baú, na qual se colocavam ingredienes protetivos. Há um debate entre os linguistas se esta palavra seria parte parte dos tupinismos ou africanismos na língua portuguese do Brasil. Mas, desde o século XVIII era usada para referir-se aos amuletos usados pelos africanos. Segundo o Vocabulário Português e Latino (1728),organizado pelo padre Raphael Bluteu, a palavra amuleto, no início do século XVIII, tem o mesmo sentido, tanto em sua origem grega quanto latina. Na primeira, vem de atadura, porque se usava o amuleto atado ao corpo para expelir coisas ruins. Do latim, tinha o significado de livrar de perigos ou proteger de quebrantos.( Santos, S/D)” Assim como os patuás, as bolsas de mandinga, de origem africana, também eram amuletos em formato de bolsinha levadas no pescoço e continham ingredientes que protegiam contra doenças. Na tese da Vanicléia Silva Santos, As bolsa de mandinga no espaço Atlântico: século XVIII (2008), é possível conhecer melhor a origem dos mandingas, povos originários dos Mandês,

“suas histórias estão contadas nos tarikhs. No antigo reino do Mali, também chamado de reino Mandinga, os habitantes eram os povos Maliqué, Mande ou Mandéu” Santos,2008.p.23

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imagem: Guerreiros mandingas. Imagem retirada da tese de SANTOS, 2008, p.44

Além dos amuletos, muitas raízes, ervas e tratamentos que usamos tem origens africanas. São sabedorias construídas pelos povos balantas, manjacos, bijagós, mandingas, jejes, haussás, iorubas, provenientes do que hoje são Angola, Benin, Senegal, Nigéria, Moçambique, entre outros que reinventaram práticas e construíram e novas formas de viver, possibilitando a existência de sociedades afro-diaspóricas Também é assim nos povos originários. A cura é uma ciência de homens e mulheres que dominam os poderes da ancestralidade diaspórica, indígena e culturais em busca de curar o indivíduo doente de alguma enfermidade. E para realizar esta prática, usam seus conhecimentos afim de restabelecer o equilíbrio físico e espiritual a partir de chás, búzios, cartas, rezas, benzimentos, banhos e outros. Na oficina, depois de apresentarmos algumas dessas referências, pedimos para que as/os/es participantes se apresentassem falando alguma memória pessoal sobre cura, benzimento e simpatia familiar. Algumas delas foram: Benzimento de “vento caído” pra crianças de até 3 anos Maria Alencar Bolsa no chão, vai roubar o marido, huahuahua. Piéra Varin O do raio tem aquela história que não pode ficar na frente do espelho que a “cara”entorta. Stefanie Bertholini Santos 78


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imagem: PiĂŠra Varin


Para nossa surpresa, este momento de relatos pessoais foi abraçado com empolgação pelos participantes. Vieram então memórias de avós, de infâncias, de territórios e terreiros variados. Passamos mais tempo do que o planejado neste compartilhamento. Percebemos que era forte o desejo pelo encontro, mesmo que impalpável, e a vontade de rever as parcerias, de falar de sua história, de se iniciar no PIÁ, pois todo ano é um ano que convida ao aprendizado mútuo. Olhares renovados para um momento em que todos nós tateamos por novos modos de nos relacionar. Depois de tantas histórias havia o desejo por fazer juntes, e se colocar em teste para realizar as pílulas de curas na prática em audiovisual. Nos dois dias de encontro os grupos foram divididos, os contatos trocados por WhatsApp e foi dado um tempo para que retornassem à nossa sala virtual. Os vídeos que chegaram surpreenderam a todos. Com pouco tempo os grupos conseguiram se articular, definir suas temáticas, suas veredas e trazer seus encantamentos. Foram vídeos que expressaram a potência poética do programa e deram uma amostra do que veríamos em breve com as postagens das equipes. Os vídeos foram construídos na oficina pelos Artistas educadores do Programa de Iniciação Artística – PIÁ. Turma do dia 11/05/2020 https://www.youtube.com/watch?v=99VfKj0I6dM&feature=youtu.be Turma do dia 12/05/2020 https://www.youtube.com/watch?v=HDygNk0Ff9c&feature=youtu.be Concluímos que os dois dias de encontro foram efetivos, atuaram como uma forma de acolhimento dos participantes e conseguiram fazer com que fossem elaborados uma amostra do que seriam as ações artísticas de 2020. Foram dois encontros que nos confirmaram nossas potências apesar de toda a situação adversa pela qual passamos com a pandemia da Covid-19. E que a sabedoria de cura engloba uma imensidão de conhecimentos sobre a vida. O aprendizado desses saberes é passado de geração para geração, e tais conhecimentos independem do processo formativo formal, ocorre no dia-a-dia. Pudemos observar que a espiritualidade é algo presente na vida das pessoas, seja dentro do seu núcleo familiar, na arte, na educação, na cultura e na ancestralidade, pelo menos na vida das pessoas que participaram da nossa oficina, e isso nos trouxe uma dimensão do que seria uma vida integrada.

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Esta oficina foi e ainda é um processo de aprendizado tanto para quem participou de um dos dois dias de oficina, quanto para nós, articuladores da Área de Processos Artístico-Pedagógicos. Fica o convite para que, assim como nós, as pessoas que estão nos lendo, embarquem nas referências apresentadas (e outras tantas!) e verifiquem nas suas experiências o quanto a sabedoria dos nossos antepassados nos ensinaram e nos formaram enquanto sujeitos. Referências Bibliográficas: SANTOS, Vanicléia Silva. As bolsas de Mandinga no espaço Atlântico Século XVIII. Tese de doutoramento, São Paulo: USP 2008. Site consultado: SANTOS, Vanicléia: “O patuá nasce de recriações da cultura negra na diáspora”. Disponível em: <http://blogs.correio24horas.com.br/emcantos/vanicleiasantos-o-patua-nasce-de-recriacoes-da-cultura-negra-na-diaspora/ >

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Expediente Prefeitura da Cidade de São Paulo

Secretaria de Cultura e de Educação da Cidade de São Paulo Supervisão de Formação Cultural Programa Piá Arttistas Educadores Adreísa Marlany Cangussú Barbosa Adriani Ferreira Simões Ágata Cérgole Alan Rodrigues de Oliveira Bruna Amaro dos Santos Ana Elisa Buzanin Caldana Ana Cristina Alexandre de Souza Ana Lídia Miranda Durante Ana Paula Corrêa do Carmo Ariane de Oliveira Silva Atilla Ramos Leite Ayumi Lea Hanada Bárbara Santos Jesus Beatriz Georgopoulos Calló Gabriela Flores Nunes Maria isabel de Matos Barabara Luksevicius Moraes Bruna Vitorino de Sousa Bruno de Tarcis Silva Bruno Vaz de Mello Magalhães Carolina de Vasconcelos Neves Caroline Flavia Casimiro Ramos Ana Carolina Silva Nascimento Carolyn Amanda Ferreira da Silva Maria Cecília Amaral Pinto Celso Ohi José Carlos Jordão Neto Cristina Borba Salvador Marcia Cristina Silva Dalilla Kellen Leon Moreira da Silva Dandara Francisca Martinho da Luz Daniele Aoki Daniel Pereira dos Santos Denise de Oliveira Teófilo Adriana Teodoro do Nascimento Adriana Souza Lima Rodrigues Diego Castro da Silva Cavalcante Éder Augusto Marcos da Silva José Eduardo da Silva (Eduardo Mansu) Juliana Rosa de Sousa

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Fabíola do Nascimento Moraes Fernanda Toito Gomes Ferreira Fernando Henrique dos Santos Isabela Carolina Rossi Garbielle Rainer Constantino Glaucea Helena de Brito Giulia Soares de Amorim Giulia Cardozo Fontes Glauber Pereira da Silva Henrique Ramos Ávila Ingrid Alves Esteves Janaina Amorim da Silva Janete Menezes Rodrigues Jéssica Aparecida da Silva Evangelista Jéssica Policastri João Batista Marques Filho Jocarla Oliveira Gomes João Halles Gomes da Silva Jonathan Mendes Tavares Kelly Cristina Santos Késsia Midory Alves da Silva Karina Zichelle Steff Leal Letícia Elisa Lourenço Leal Amoroso Douglas da Silva Lima Joyce Rodrigues de Lima Lisdalva Jerônimo de Moura Lilia Nemes Bastos Lorena Tófani Horta Luis Henrique Setúbal Quiel Lucas Mendes Beda Luciano Archanjo Lucila Matsumoto Lucia Miura Luiza Moreira Salles Maria Julia Santos Minervino Alejandro Javier López Jericó Marcela Hacib Camasmie Mar Saldanha


Expediente Prefeitura da Cidade de São Paulo Silveirade Secretaria de CulturaTatiane da Martins Cidade São Paulo

Maria de Fátima de Alencar Santos Maria Gabriela Felipe Marina Chagas de Souza Bezerra Neves Marcos Vinicius Ferreira Silva Milena Gasparetti Santos Marcio Minoru Ueno Mônika Bernardes e Silva Thiago Lopes Moreira Maria Teresa de Mello Magna Bosco Marina Vecchione Ungaro Nancy Teixeira Feliciano da Silva Nathalia Bevilacqua Adreísa MarlanyAguiar Cangussú Barbosa Nathalia Lima Pires daSimões Silva Adriani Ferreira Regina Elias da Costa Ágata Cérgole João Alves de Medeiros Alan Rodrigues de Oliveira AndréBruna Rodrigues Rangel Amaro dos Santos ThaísAna Oliveira ElisaSilva Buzanin Caldana PauloAna Junio Santos Oliveira Cristina Alexandre de Souza Patricia Conceição Nogueira AnaMaria Lídiada Miranda Durante PauloAna Marcelo Oliveira PaulaSouza Corrêa do Carmo PiéraAriane Cristine Varin de Oliveira Silva MariaAtilla Carolina de Hollanda Cavalcanti Piñeiro Ramos Leite RafaelAyumi da Lapa Santos Borges Lea Hanada Raíssa HelenaSantos RamosJesus Tomasin Bárbara Raquel de Carvalho Catão Beatriz GeorgopoulosDias Calló Rebecca Alves Flores BeckerNunes Gabriela Renata Martins Marinho dos Santos Maria isabel de Matos Henrique Alexandre Santos BARBARA LUKSEVICIUS MORAES Ricardo Ferreira Barison Bruna Vitorino de Sousa Rita de Cássia Coelho Teixeira Bruno de Tarcis Silva Luis Vitor Maia Bruno Vaz de Mello Magalhães Sabrina Dias Carolinade deMacedo Vasconcelos Neves Samya Enes de Oliveira Caroline Flavia Casimiro Ramos Stefani Bohatir Ana Carolina Silva Nascimento Stefanie Bertholini Santos Carolyn Amanda Ferreira da Silva Sueliton Edson Martins Maria Cecília Amaral Pinto Tatiana Polistchuk Celso Ohi TadeuJosé Renato Botton Ribeiro Carlos Jordão Neto Tatiane Ferreira Damasceno Cristina Borba Salvador ChicoMarcia GuerraCristina Silva Dalilla Kellen Leon Moreira da Silva Dandara Francisca Martinho da Luz Daniele Aoki Daniel Pereira dos Santos Denise de Oliveira Teófilo Adriana Teodoro do Nascimento ADRIANA SOUZA LIMA RODRIGUES Diego Castro da Silva Cavalcante Éder Augusto Marcos da Silva José Eduardo da Silva (Eduardo Mansu) JULIANA ROSA DE SOUSA

Thaís Gomes da Silva Nozue Cintia Alves da Silvia de Matos Tiago da Silva Reis Vanessa Cristina Monteiro Furtoso Vanessa Rosa de Araújo Verônica Vieira Soares dos Santos Victor Mello Cantagesso Wendell Müller dos Santos Lima Weslley Rocha Loiola Rosana Cristina Serra Pereira

Supervisão de Formação Cultural Programa Piá

Coordenação Técnica Miguel Prata Administrativo Ilton Yogi Comunicação Cássio Bonfim Coordenação Artístico-Pedagógica Suelen Ribeiro e Thiago Arruda Artistas Articuladores de Áreas Celso Amancio Diogo Noventa Elaine Silva Karin Virginia Giglio Patrícia da Silva Santos Paulo César Veríssimo Romão Theda Cabrera Gonçalves Pereira Zina Filler Vanessa Biffon Ж Artistas Articuladores Regionais Beatriz Miguez Bruna Oliveira

Evandro Gonçalves Felipe Gregório Gerson Rodrigues Helen Campos Guilherme de Almeida Luis Anastácio Natália Belotti Thalita Duarte Sonia Costa William Lima Concepção e Design

Cor[ ]dilheiras - Procedimento artístico-pedagógico

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