PhysikUPDATE - edição nº7

Page 1


physikuporto physik_up

www.fc.up.pt/physikup/

EDITORIAL

A PhysikUPDATE é a revista do Departamento de Física e Astronomia (DFA) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) feita pelos alunos e para os alunos.

Esta edição foi preparada pelas nossas equipas do ano letivo 22/23 e 23/24 - Leonor Andrade (1º ano do Mestrado em Engenharia Física), Gonçalo Coelho (3º ano de Licenciatura em Engenharia Física), Beatriz Salvador (2º Ano da Licenciatura em Engenharia Física), Guilherme Teixeira (3º ano de Licenciatura em Engenharia Física), Fábio Gaspar (2º Ano da Licenciatura em Engenharia Física), Marco Loureiro (3º ano de Licenciatura em Física), David Gonçalves (Ex-aluno da Licenciatura em Engenharia Física), Ana Sofia Caldeira (3º ano de Licenciatura em Engenharia Física), Luís Vilaça (Mestrado em Engenharia Física), Eva Rodrigues (3º ano da Licenciatura em Engenharia Física), Francisco Frade (2º Ano da Licenciatura em Engenharia Física), Marta Oliveira (2º Ano da Licenciatura em Engenharia Física), Henrique Dias (3º Ano da Licenciatura em Engenharia Física – Atual Coordenador do Departamento de Integração).

De que fala a nossa revista? A PhysikUPDATE fornece-vos uma coletânea de artigos sobre temas relevantes e contemporâneos na física atual, bem como conteúdo que pode ser útil para os estudantes de física. Para além de certas atividades desenvolvidas no departamento, tais como PEEC’s, trabalhos realizados por alunos de mestrado ou doutoramento, poderão ainda encontrar entrevistas exclusivas a professores, testemunhos de alunos, artigos de opinião e jogos. Nesta edição, podem contar com um artigo sobre semicondutores a temperatura ambiente, um artigo de divulgação sobre o Comboio Maglev, um artigo de opinião sobre o mais recente álbum dos Arctic Monkeys – The Car, um artigo de divulgação de uma visita internacional no âmbito do PhD em Astrofísica, um conjunto de sugestões e diversões para vos entreter nos tempos livres, a receita do famoso bolo dos TPC’s do Professor João Viana Lopes, testemunhos de estudantes relativos às várias licenciaturas e mestrados disponíveis no DFA, e ainda uma entrevista sobre o Prémio Nobel da Física 2022 ao Professor Ariel Guerreiro, que colaborou com um dos galardoados.

Posto isto, a publicação desta revista teria sido impossível sem o apoio do DFA, da Teresa Van Zeller (designer), do Tomás Moura (ex-Presidente do PhysikUP), da Leonor Andrade (Presidente do PhysikUP) e da participação especial de Ana Rita Silva, Professor João Viana Lopes, Professor Ariel Guerreiro, João Cardoso, Carolina Silva, Miguel Braçais, Guilherme Moreira, Guilherme Botelho, Rita Albergueiro, Ana Silva, Gonçalo Gorito e, claro, de vocês - os nossos leitores. Como sempre, a equipa da PhysikUPDATE deseja-vos uma boa leitura, e votos de um bom ano académico!

ÍNDICE

artigo técnico

3. SUPERCONDUTIVIDADE A PRESSÃO E TEMPERATURA

AMBIENTES > FRANCISCO FRADE

artigo de divulgação

5. MAGLEV > MARCO LOUREIRO

artigo de opinião

6. THE ARCTIC MONKEYS ARE BACK > LEONOR ANDRADE

artigo de divulgação

7. TESTEMUNHO DE DOUTORAMENTO EM ASTRONOMIA > ANA RITA SILVA

9. ÁLBUNS, LIVROS;

10. DOCUMENTÁRIOS, FILMES E SÉRIES

11. BOLO DE CENOURA, LARANJA E COCO > PROFESSOR JOÃO VIANA LOPES

passatempos

12. PIADAS DE FÍSICA, PALAVRAS-CRUZADAS, XADREZ SOLUÇÕES EDIÇÃO ANTERIOR

receita sugestões testemunhos

13. LICENCIATURA: física, engenharia física; MESTRADO: física experimental, física teórica, física médica, astronomia e astrofísica, engenharia física, ensino de física e de química no 3ºciclo do ensino básico e no ensino secundário

entrevista

17. PROFESSOR ARIEL GUERREIRO, PRÉMIO NOBEL DA FISICA 2022 > LEONOR ANDRADE

SUPERCONDUTIVI_ _DADE A PRESSÃO E TEMPERATURA AMBIENTES

POR FRANCISCO FRADE \

/ LICENCIATURA EM ENGENHARIA FÍSICA

Em julho de 2023, saiu um artigo da autoria de três investigadores da Universidade da Coreia (Sukbae Lee, Ji-Hoon Kim e Young-Wan Kwon), intitulado “The First Room-Temperature Ambient-Pressure Superconductor”, que, como o nome indica, revela a invenção do primeiro supercondutor que funciona a condições de pressão e temperatura ambiente, algo que poderá ser revolucionário no mundo da física. Os supercondutores são materiais que permitem que a corrente elétrica circule sem resistência, nos casos ideais. Estes materiais já são conhecidos desde o início do século XX, e muitas experiências a seu respeito foram levadas a cabo desde então. No entanto, apenas conseguem ser supercondutores a temperaturas extremamente baixas ou se estiverem sob elevada pressão, ou seja, condições apenas reprodutíveis em laboratório. Existem em máquinas de ressonância magnética e em computadores quânticos, por exemplo, mas dadas essas limitações, não é possível que estes materiais tenham uma aplicação mais abrangente. Ora, os investigadores sul-coreanos afirmam ter descoberto um supercondutor que não se restringe às condições supracitadas. Chama-se LK-99, e é composto por vanadinite (um mineral relativamente vulgar), ao qual é adicionado um pequeno número de átomos de cobre. Uma invenção como esta promete revolucionar completamente as redes elétricas (onde a energia é perdida na transmissão) e criar dispositivos magnéticos mais potentes e eficientes, por exemplo, tendo um impacto significativo

no quotidiano de qualquer cidadão. Mas também pode ter impacto em áreas mais técnicas, como nos chips de computação, onde a resistência elétrica que limita a velocidade deixaria de ser um problema.

Não há nada na física teórica que indique que estes supercondutores não podem existir, no entanto, a sua descoberta foi sempre levada como algo utópico, de certa forma, o que levou a um forte ceticismo por parte da comunidade científica à data de publicação do artigo. Obviamente, para uma descoberta ser considerada válida, a experiência tem que ser replicada em outros laboratórios, a fim de se chegar às mesmas conclusões. A verdade é que os acontecimentos não se sucederam exatamente dessa maneira. Desde que os autores publicaram o artigo, já se tentou produzir LK-99 em diversos laboratórios e logo nos primeiros testes, principalmente feitos em universidades chinesas, foram obtidos resultados contraditórios.

Na Universidade de Ciência de Tecnologia de Huazhong, foi possível observar o efeito de “flutuação” sobre um íman, característico dos supercondutores. Este fenómeno deve-se ao efeito Meissner, em que o material, perdendo toda a resistência interna, torna-se capaz de expulsar todos os campos magnéticos do seu interior. Nestas condições, quando um íman é aproximado de um supercondutor, este cria correntes elétricas internas que geram um campo magnético oposto ao campo gerado pelo íman. Essas correntes induzidas criam uma força

repulsiva entre o supercondutor e o íman, resultando na levitação do supercondutor no espaço, uma vez que se tenta afastar-se do campo magnético do íman. As perspectivas eram animadoras em Huazhong, no entanto, na Universidade Normal de Qufu, a equipa investigadora afirma que não se observou o anulamento da resistência. Já na Universidade do Sudeste (Nanjing) mediram resistência zero no material LK-99, mas apenas a uma temperatura de 110 Kelvin (-63oC), algo que não é propriamente a temperatura ambiente, não se distinguindo assim de outros supercondutores. O artigo, que inicialmente prometia divulgar uma descoberta revolucionária, rapidamente se tornou alvo de fortes críticas por parte de vários físicos, entre os quais Michael Norman (físico do Laboratório Nacional de Argonne, nos Estados Unidos), que foi arrasador nas suas declarações: “Os autores mostram ser verdadeiros amadores, eles não percebem muito de supercondutividade e a forma como apresentaram os dados é duvidosa”, afirmou. Por sua vez, Nadya Mason (física experimentalista da matéria condensada na Universidade de Illinois Urbana-Champaign), apresenta um comentário mais assertivo: “Reconheço que os autores foram claros sobre as técnicas de fabricação do material, apesar dos dados apresentados serem um pouco desleixados”. Para Michael Fuhrer (investigador da Universidade de Monash, na Austrália), mesmo que o LK-99 seja um supercondutor a temperatura ambiente, ainda demoraria algum tempo para determinar a sua verdadeira utilidade. O mesmo nota que não é fornecida informação sobre quanta corrente elétrica este material pode transportar mantendo as suas propriedades de supercondutor—uma averiguação fundamental, se um dos objetivos for a melhoria das redes elétricas. Ainda assim, apesar de alguma controvérsia, é inegável que este artigo provocou um desassossego saudável na comunidade científica. Uma vez que é uma área com ainda muito por descobrir, a publicação do artigo pode ser vista como algo indubitavelmente estudados. O erro faz parte do processo científico; se a publicação deste artigo parece um grande falhanço à vista desarmada, no futuro podemos olhar para este momento como um dos primeiros passos rumo a um grande sucesso.

MAGLEV

Indubitavelmente, já todos imaginámos um futuro distante em que as pessoas se deslocam em carros voadores. Atualmente, há que considerar o quanto esta ideia, apesar de futurista, é antiquada: sabemos que não é possível conciliar os recursos limitados da Terra e a crise climática com os meios necessários para que se continuem a utilizar transportes privados com a frequência atual.

No entanto, mesmo que os carros voadores nunca venham a ser uma realidade, pelo menos, teremos comboios flutuantes. Um substituto, que talvez possa ser considerado menos impressionante para a vista, mas muito mais eficiente e fácil de executar. Refiro-me à tecnologia de comboios de levitação magnética, comummente conhecidos por comboios maglev, que usam dois conjuntos de eletroímanes para se moverem ao longo da linha sem lhe tocar. Como é que isto acontece? O segredo está no facto de se usarem dois conjuntos distintos de eletroímanes: um deles irá servir para repelir a linha (que geralmente é feita de um condutor metálico), e o outro irá aproveitar a maior parte da energia para impelir o comboio em frente. O fenómeno chave aqui é o facto de interações entre um campo magnético variável e um bom condutor resultarem em forças repulsivas.

Mas que vantagens terá este tipo de comboio em relação aos clássicos inter-regionais da CP – Comboios de Portugal? Em primeiro lugar, há que ter em conta um aspeto fundamental: não há dissipação de energia devido ao atrito, pois o comboio não está

> POR MARCO LOUREIRO

em contacto com a linha. Deste modo, as perdas de energia são unicamente devidas à resistência do ar – e, mesmo essas, podem ser minimizadas, introduzindo nas linhas tubos com vácuo parcial. Em segundo lugar, os comboios maglev são extremamente limpos (não emitem grandes quantidades de gases tóxicos) e silenciosos.

Por outro lado, há que ter em conta que os ímanes e os condutores têm de ser mantidos frios, uma vez que um aumento da temperatura conduz a um aumento das suas resistividades. Acabamos por poupar energia ao não haver contacto com a linha, mas temos de gastar mais energia para manter os materiais frios, o que torna o investimento controverso.

Há que se citar também o problema da infraestrutura: países como Portugal, que já possuem bastantes linhas de comboio, teriam de as alterar completamente para que estas fossem compatíveis com o maglev, o que é economicamente discutível. A verdade é que, para avaliar a eficiência dos comboios de levitação magnética, temos ainda de ter em conta que estes têm velocidades mais fáceis de manipular, e assim podemos comparar o maglev tanto com as linhas de alta velocidade atuais como com as linhas de baixa velocidade.

No caso da alta velocidade, o maglev parece sair vencedor. Estabelece os recordes de velocidade, necessita de pouquíssima manutenção comparativamente aos TGV, acelera e desacelera mais facilmente, e é muito mais eficiente a altas velocidades. Perde apenas por não ser compatível com as linhas de comboio atuais; contudo, alguns cientistas propõem modelos maglev híbridos, com rodas que lhes permitam circular na infraestrutura mais antiga. O exemplo mais conhecido de um sistema maglev operacional é o Transrapid de Shanghai, que atinge os 470km/h.

Já no caso da baixa velocidade, o maglev parece competir com transportes como o metro; e o facto é que, na linha de Linimo, no Japão, a velocidade que atinge é de 100km/h, que é superior em 20km/h à velocidade máxima dos veículos LRT do Porto. Em suma, a levitação magnética em comboios é uma tecnologia emergente e que, com toda a certeza, dará que falar no futuro. Ainda que os preços associados à infraestrutura sejam elevados e haja discussão acesa quanto ao rendimento energético, considero que, no futuro, veremos mais desenvolvimentos desta tecnologia. De certo, estes tornarão a generalização da tecnologia maglev menos quimera que carros voadores.

THE ARCTIC _MONKEYS ARE BACK

Após terem dado várias pistas do conteúdo do seu mais recente álbum, a banda escocesa finalmente lançou, no final de 2022, o tão aguardado novo disco. Os fãs estavam desejosos por ouvir o álbum após terem sido tocados vários singles em concertos pelos vários cantos da Europa. Chegou a altura de tirar o blusão Motard e os óculos de sol, que o Favourite Worst Nightmare e o AM nos proporcionaram, e passar a uma roupa mais confortável, para ouvir um vinil em estilo anos 70 até à agulha ficar gasta. Entre as passagens impecáveis entre as músicas até uma misticidade inigualável, podemos dizer que os Arctic Monkeys elevaram o seu patamar na música com este lançamento. Sinto que o Alex Turner está a crescer, e nos está a fazer crescer com ele - um dos poucos artistas contemporâneos que se dá ao luxo de o fazer, representando as diferentes fases do seu ser através da sua música.

Nem todos os fãs ficaram satisfeitos com este novo registo da banda, tendo havido críticas severas a este novo álbum, que se seguem a críticas similares do álbum precedente. Contudo, creio que os verdadeiros fãs da banda e os verdadeiros apreciadores de Rock, conseguem ver para lá do álbum e para lá da personagem, e desfrutar de todas as emoções que cada música pode proporcionar!

8.3/10

POR LEONOR ANDRADE

\ MESTRADO EM ENGENHARIA FÍSICA

INSTRUMENTAL VOZ

CONCEITO DO ÁLBUM MELHOR FAIXA

\SCULPTURE OF ANYTHING GOES

TESTEMUNHO DE _DOUTORAMENTO EM ASTRONOMIA

Acordei da minha sesta e olhei pela janela do avião, vi o sol a nascer sobre a Cordilheira dos Andes e caí em mim: estava a caminho de um dos mais conceituados observatórios astronómicos terrestres: o Observatório de La Silla, no Chile. O telescópio de 3.6m, o meu principal local de trabalho, é o mais distante do edifício principal. Então todos os dias tinha o prazer de percorrer a estrada por entre diversos outros telescópios para lá chegar. Do topo da cúpula, a vista é de tirar a respiração. As minhas principais tarefas consistiam em montar algumas peças que faltavam no novo espectrógrafo NIRPS (Near-InfraRed Planet Searcher), selar a cápsula protetora, e começar os processos de arrefecimento e criação de vácuo dentro da cápsula. Estes processos levam vários dias a completar, mas uma vez terminados, os meus colegas poderiam realizar as observações de teste.

Durante o meu tempo em La Silla, também tive a possibilidade de participar nas observações realizadas com outro instrumento do telescópio 3.6m, o espectrógrafo HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher). Ao pôr-do-sol, reportava à sala de controlo para conferenciar com o operador de telescópio. No decorrer da noite, ia indicando os objetos celestes para os quais queríamos apontar o telescópio, enquanto monitorizava as condições atmosféricas e meteorológicas. Por último, no tempo livre, dediquei-me à procura dos petróglifos - desenhos pré-históricos - que se encontram espalhados pelas encostas do observatório. Também me estreei na astrofotografia, pois com um céu maravilhosamente despoluído de luz como aquele, até um smartphone é capaz de conseguir fotografias fantásticas da Via Láctea.

POR ANA RITA SILVA

livros

álbuns

AMArctic Monkeys

Buracos Negros - Stephen Hawking

ParachutesColdplay

Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago

Use Your IllusionGuns n Roses

Atomic Habits - James Clear

documentáriosfilmes

Dahmer: Um Canibal Americano

Inside Bill’s Brain: Decoding Bill Gates

Return to Space

séries

Inglourious Basterds
Monty Python and the Holy Grail
Schindler’s List Salvation
Dark
Glória

BOLO DE CENOURA ,LARANJA E COCO

> PROFESSOR

JOÃO VIANA LOPES

PARA O BOLO:

5 ovos

1 chávena de açúcar

2 chávenas de farinha T55

1 chávena de coco

1/2 chávena de óleo girassol

1 cenoura grande ralada fininha

1+1/2 laranja a raspa e o sumo

1 colher (sobremesa) de fermento

PARA A COBERTURA:

1/2 litro de leite meio gordo

5 colheres (sopa) de chocolate em pó

4 colheres (sopa) de açúcar

2 colheres (sopa) de maizena

1 colher (sopa) de manteiga

A chávena que uso é de 240 ml

1. Ligue o forno a 180oC. Unte uma forma de buraco, com manteiga e polvilhe com farinha, reserve.

2. Bata muito bem o açúcar com as gemas, o óleo, junte o coco, a cenoura ralada, o sumo e a raspa da laranja.

3. De seguida, deve peneirar a farinha juntamente com o fermento e adicioná-los ao preparado e mexer bem novamente.

4. Bata as claras em castelo, vá misturando aos poucos e com cuidado para não perder o ar.

5. Coloque a massa na forma que reservou e leve a cozer o bolo em forno que já está pré-aquecido durante pelo menos 30 minutos a 35 minutos, mas antes faça o teste do palito até que ele saia seco.

6. Depois de cozido retire do forno e deixe arrefecer.

7. Enquanto isso prepare a cobertura:

8. Coloque o leite numa taça que vá ao micro-ondas, o açúcar, o chocolate, a maizena e a manteiga.

9. Misture com uma vara de arames todos os ingredientes para dissolver bem. Leve ao micro-ondas mexendo sempre de minuto a minuto até engrossar.

10. Quando o bolo estiver morno, desenforme, coloque a calda que acabou de fazer por cima do bolo e decore com granulado de chocolate branco, (pode decorar também com coco ralado ou granulado de chocolate preto, fica a gosto).

11. Agora é só servir uma boa fatia com um café e saborear este bolo bem delicioso.

BOM APETITE!

piadas de física

HORIZONTAL

3. Propriedade das partículas subatómicas que determina a direção de rotação intrínseca

5. Nome do físico dinamarquês que contribuiu para o desenvolvimento da teoria quântica

8. Unidade de medida de força no sistema internacional

11. Nome do fenómeno que ocorre quando partículas carregadas aceleradas emitem radiação eletromagnética

14. Conceito fundamental na teoria quântica que descreve a impossibilidade de conhecer simultaneamente a posição e o momento de uma particula

15. Teoria que propõe a existência de múltiplas dimensões além das três espaciais

16. Nome da partícula subatômica que transporta a força eletromagnética

17. Unidade de medida de resistência elétrica

VERTICAL

1. Nome do fenómeno em que um objeto pode existir em múltiplos estados simultaneamente

2. Nome do físico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade

4. Um dos hobbies da Dra Ana Rita Silva ao trabalhar no Observatório de La Silla era procurar -

6. Nome da primeira lei de Newton

7. Nome do físico teórico que formulou as equações fundamentais da teoria do eletromagnetismo

9. Como são conhecidos os comboios que funcionam com levitação magnética

10. Partículas subatómicas que compõem neutrões e protões

12. Ondas eletromagnéticas de menor frequência

13. Partícula hipotética que constitui a matéria escura

ENIGMA

A opção mais vantajosa é trocar para a caixa 3. Sabemos que, ao início, as probabilidades são iguais (1/3). Contudo, alteramos o sistema ao fixar uma caixa: de facto, a probabilidade está relacionada com a quantidade de informação que temos sobre cada uma das caixas. A probabilidade de o prémio estar na caixa que fixámos continua a ser 1/3, uma vez que não obtivemos nenhuma informação nova sobre a caixa 1. O mesmo não acontece para as caixas 2 e 3: como separámos o sistema na componente fixada (caixa 1) e na componente sobre a qual vamos obter informação (caixas 2 e 3), as probabilidades das duas componentes conservam- se: P_1 = 1/3 e P_2 + P_3 = 2/3. Se a caixa 2 está vazia, P_2 passa a ser nula, e temos P_3 = 2/3. Logo, P_3 > P_1 e é mais vantajoso trocar de caixa

XADREZ

1. Qxg4 Kxg4; 2. Bc4+ Qe6; 3. Bxe6# 1-0

em física

A Física ensinou-nos que toda a matéria que existe no Universo tem duas caras – chamamos a isto a dualidade onda-partícula. Por vezes convém-nos usar a face corpuscular, no entanto, há outros casos em que a face ondulatória é muito mais útil. O que importa realmente é saber fazer esta escolha e aceitar que as duas caras fazem parte da mesma moeda - são maneiras diferentes de olharmos para os mesmos problemas.

A Licenciatura em Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto partilha este curioso aspeto com a ciência que pretende ensinar. Este curso pode ser descrito também por duas perspetivas que, à partida, se parecem contradizer. Neste caso, a dualidade é entre o bom, o ótimo até, e o mau, o péssimo, por vezes. Por um lado, posso dizer confiantemente que há imenso de positivo neste curso. Desde excelentes professores (alguns que considero os melhores que já tive) que irradiam uma clara paixão pelo que ensinam e se preocupam pelo sucesso e bem-estar dos seus alunos, conseguindo tornar as suas aulas cativantes, divertidas e que suscitam reflexão, até aos próprios temas lecionados, que se provam, em geral, muito

relevantes. É de notar também o bom ambiente do corpo estudantil que, da minha perspetiva, é sempre amigável e de mútua ajuda entre os seus constituintes. Tudo isto culmina, na maior parte das vezes, numa relação alunos-professores muito simpática que facilita a aprendizagem dos conceitos, teorias e técnicas matemáticas da Física que serão tão importantes no nosso futuro. Pelo outro lado, não há regra sem exceção. Diria que há tantos bons professores neste curso como há maus e apesar de considerar alguns dos bons os melhores que já tive, também consigo dizer que os maus são provavelmente os piores. Das suas características negativas poderão constar: má capacidade de transmitir conhecimentos, aparente desinteresse total pelo que lecionam, péssimos meios de avaliação e uma relação pouco amigável com os seus alunos. Isto afeta-nos significativamente, tendo ocorrido já inúmeras situações de descontentamento e frustração da nossa parte: abandono quase total das aulas teóricas; desencanto pelos conteúdos lecionados devido ao desinteresse e falta de cativação dos professores; exames considerados demasiado difíceis para o seu tempo de duração ou com uma percentagem demasiado elevada de conteúdos não pertinentes; querelas com professores. Estas situações prejudicam gravemente a nossa educação.

Mas como nos ensinou a Física, há que saber escolher para onde olhar e, portanto, estando neste curso é preciso seguir os seus concelhos. Escolhamos na maior parte das vezes olhar para o que está bem, para os professores que nos fazem pensar, refletir e rir até, para a matéria lecionada que nos fascina e desperta curiosidade – esta é a melhor forma de aprendermos. No entanto, reconheçamos quando devemos olhar para o que está mal numa tentativa de o corrigir – esta é a melhor forma de melhorarmos a nossa aprendizagem.

licenciatura licenciatura engenharia

física

Após mais de um ano na faculdade posso ter a certeza que esta é a minha vocação. Engenharia Física é sem dúvida um curso desafiante, mas que pode ser enfrentado com sucesso se tivermos uma vontade genuína de ficar a conhecer mais sobre o Universo. Na minha opinião, é esta curiosidade que nos permite aproveitar o processo de aprendizagem em si, tornando o estudo, as dúvidas e os problemas difíceis algo positivo e que nos faz andar em frente, em vez de uma tarefa aborrecida que tem de ser cumprida.

Para além disso, percebi que é possível conciliar o estudo com outras atividades. Em primeiro lugar, o desporto, que é fundamental para manter uma boa saúde, quer física quer mental, e que é sempre possível encaixar no horário. Depois, o associativismo, que é todo um mundo de pessoas incríveis e atividades espetaculares, que por um lado nos ensina verdadeiramente a trabalhar em equipa (eu achava que já sabia e estava muito enganado) e por outro nos permite impactar de forma muito positiva e direta a comunidade de estudantes de que nós próprios fazemos parte!

Por fim, quero dizer apenas que a sensação que trago para casa dia após dia na faculdade contém sempre uma grande porção de inspiração, vinda não só dos professores, que são verdadeiros cientistas e investigadores, mas também dos meus colegas, que me dão vontade de aprender e de fazer mais sempre que ouço uma nova perspetiva sobre a matéria ou uma nova atividade que vai decorrer na faculdade!

mestrado

O Mestrado em Física com especialização experimental representou, para mim, uma oportunidade única de aprofundar os tópicos que mais me tinham cativado durante a Licenciatura em Física.

A grande gama de cadeiras opcionais disponíveis permitiu-me escolher os temas que me dão mais gosto de explorar, tornando o percurso académico adaptável ao perfil de cada aluno. Na escolha do tema da dissertação, essa adaptabilidade é ainda mais notória, pois temos alunos no mesmo curso a fazerem trabalhos completamente diferentes, encaminhados para aquilo que os motiva. No geral, vejo este curso como fornecedor de uma série de ferramentas que cada aluno tem capacidade de usar da maneira que lhe fizer mais sentido, abrindo-lhe portas tanto para a vertente académica como para a industrial.

emfísica experimental mestrado em física teórica

O Mestrado em Física Teórica foi a próxima etapa lógica do meu percurso académico e profissional. Tendo concluído a Licenciatura em Física, o mestrado apresentou-se como uma oportunidade de prosseguir o estudo dos tópicos que me despertam interesse e de continuar o caminho para uma futura carreira de investigação.

Nesse sentido, satisfez aquilo que dele requeria, sendo simultaneamente desafiante e empolgante. Requerido mais dedicação do que tinha sido exigido de mim até então, a possibilidade de trabalhar em tópicos ativos de investigação mostrou-se muito mais gratificante. Algum desencanto que tinha pela área ao fim dos 3 anos de licenciatura, que não só me fez refletir sobre as decisões que tinha tomado até então mas também questionar o meu futuro, foi em parte combatida no Mestrado em Física Teórica.

A oportunidade de estar a estudar e trabalhar em áreas que genuinamente acho fascinantes e motivantes, bem como a maior proximidade com o mundo da investigação, permitiram que tenha mais confiança em dar seguimento ao percurso académico e prosseguir para um posterior doutoramento.

^ CAROLINA SILVA

mestrado em física médica

ALBERGUEIRO

astro-física e

Desde pequena tive a necessidade de perceber a origem e razão, não só do nosso planeta e do que o rodeava, mas também de fenómenos simples que ocorrem no nosso dia a dia. Física deu-me muitas dessas respostas apesar de algumas permanecerem por esclarecer. Por outro lado, a saúde também foi sempre uma área que me interessou. Provavelmente, por dar algum sentido à evolução tecnológica, o famoso sentimento de ajudar alguém.

A escolha de seguir uma licenciatura em física foi a minha forma de iniciar um novo desafio. A ideia de escolher uma profissão “para o resto da minha vida” sempre me pareceu assustadora. No entanto, como física, tenho a flexibilidade de explorar diversas áreas e mudar de direção à medida que o tempo passa. Curiosamente, no final do primeiro ano da licenciatura, já tinha decidido que o mestrado em Física Médica era o caminho ideal para mim.

Durante a conclusão da minha tese, surgiu a oportunidade de realizar um estágio curricular no serviço de Medicina Nuclear do Centro Hospitalar Universitário do Santo António onde estive envolvida no tratamento de radioembolização hepática com microesferas de hólmio. Além disso, ganhei experiência prática no uso de softwares modernos de dosimetria em Medicina Nuclear e trabalhei com Python e R, o que me proporcionou uma capacidade de análise estatística.

Inscrevi-me também no centro de investigação do IPO. A realização da tese me deu uma injeção de motivação, não apenas para colocar as mãos na massa, mas também para explorar soluções inovadoras e aprimorar a qualidade dos tratamentos. Por fim, gostaria de dizer que, ao resumir estes cinco anos num pequeno texto, é claro que destaco os melhores momentos e conquistas, mas também houve muitas “lágrimas e suor” ao longo do caminho. Física não é um curso fácil e não vou negar isso. É um desafio constante que nos leva aos limites e nos faz questionar muitas coisas. No entanto, é exatamente isso que expande a nossa mente e nos faz raciocinar como nunca.

Comecei o meu mestrado em Astronomia e Astrofísica em 2021/2022 e uma das coisas que logo reparei foi que a nossa turma tinha apenas uma dezena de pessoas, talvez menos. Talvez se deva a um interesse reduzido no geral em seguir esta área, embora eu sinta que isso possa mudar para melhor nos próximos anos.

A quantidade reduzida de pessoas nesta área acabou por mostrar os seus pontos positivos. Acabávamos por nos conhecermos melhor e unirmo-nos mais facilmente para trabalhos de grupo e nos ajudarmos uns aos outros para trabalhos individuais. Desenvolvi uma relação relativamente próxima dos meus professores, muitos deles investigadores no Centro de Astronomia da Universidade do Porto.

Acima de tudo, aprendi que, enquanto na maior parte das outras áreas de estudo e investigação, muitos dos grupos estão em direta competição entre si; em Astrofísica, o reduzido número acaba por levar a um maior espírito de entreajuda, em que partilhamos dados uns com os outros, apresentamos os nossos conhecimentos, e em que damos mais importância à descoberta e a partilha de conhecimento científico do que aos méritos que nos são atribuídos por esses feitos.

Antes de se querer cultivar o conhecimento pelo cosmos, há que se adquirir um gosto. É um grande sistema complexo e vasto, indiferente à nossa insignificante existência, aparentemente vazio, mas ao mesmo tempo cheio de diferentes mundos, estrelas e galáxias, de mistérios ainda por resolver e muitos outros ainda por encontrar, observar e descobrir. Como dizia Carl Sagan, “Somos feitos de poeira estelar. Nós somos uma maneira de o cosmos se autoconhecer.”

Iniciei o meu percurso académico na licenciatura em Física, no entanto passados 3 anos mudei para o metrado integrado em Engenharia Física e fui uma das alunas que fez parte da transição do mestrado integrado para a divisão em licenciatura e mestrado. Já cá estou há 8 anos e estou neste momento na fase final de entrega da minha dissertação. Nos dois últimos anos da faculdade comecei a ganhar uma certa curiosidade e um gosto por Economia e tendo encontrado a oportunidade escolhi auto propor um tema na área da Econofísica, sob a orientação do professor José Abílio Matos (FEP) e do professor João Viana Lopes (FCUP). Para todos os que tem curiosidade a história da ligação entre Economia e Física existe há alguns séculos. A Econofísica tenta compreender e explicar alguns fenómenos na Economia através de métodos da física estatística.

Desde que me lembro sempre tive bastante interesse em ciência. Quando era mais nova achava que talvez Astronomia seria a minha escolha. Acabei por entrar em Física, mudar para Engenharia Física e acabei a fazer a tese em Econofísica. Para todos aqueles que entram sem um caminho definido, não se preocupem irão encontrá-lo. E para todos aqueles que já entram com o caminho bem definido não stressem demasiado se não correr como expectável.

O meu nome é Gonçalo Gorito, estudante de Mestrado em Ensino de Física e de Química no 3oCiclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário. Comecei o meu percurso no ensino Superior com um Mestrado Integrado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais e posteriormente, o meu percurso Profissional como Bolseiro de Investigação enquanto estudante do Programa Doutoral, onde tive a oportunidade de ser Professor Assistente Convidado, tendo sido este o meu primeiro contacto com o ensino. Esta experiência enquanto docente, associado ao gosto pela Física e Química e por sempre ter dado explicações ao longo deste percurso, fez-me refletir o que realmente gostava de fazer e qual seria a minha vocação. Assim, tomei a decisão de desistir do Programa Doutoral e enveredar no Mestrado em Ensino.

Depois de tomada esta decisão, falei com o Diretor do Mestrado, Professor Doutor João Paiva, no sentido de verificar os requisitos necessários para ingressar neste curso. Assim, depois de ter estado a realizar Unidades Curriculares Singulares de forma a cumprir o número de ECTS necessários, iniciei este novo trajeto na minha vida.

Ser estudante deste Mestrado tem sido bastante enriquecedor do ponto de vista pedagógico e didático, na medida em que, nos é ensinado muito mais do que os conteúdos teóricos e práticos de Física e de Química. Ser um bom Professor não passa só por dominar estes conteúdos, mas saber a melhor forma de os transmitir e relacioná-los com o mundo real, motivando os alunos numa disciplina que é muitas das vezes encarada como um “bicho de sete cabeças”. Outro fator positivo é a proximidade que temos entre colegas do Mestrado e até mesmo com os docentes. Com uma turma reduzida, devido ao número limitado de ingressos, o ambiente tornou-se mais particular e acolhedor, o que fomentou uma cultura de entreajuda e um objetivo comum de melhorar o Ensino da Física e da Química em Portugal. Como tudo o que vale a pena dá trabalho de ser conquistado, o Mestrado tem vindo a revelar-se desafiante. Para além das aulas, as Unidades Curriculares requerem bastante trabalho autónomo, o que exige um grande esforço. Apesar de não ser fácil, com organização e disciplina, consigo conciliar o Mestrado com outras responsabilidades, como Professor de Física e Química, explicador e atleta. Ao longo de todo este percurso, nunca abdiquei da prática desportiva, sendo atleta federado de Basquetebol há 16 anos.

em ensino mestrado defísica e de química no 3º ciclo do ensino básicoe no ensino secundário

Com muita determinação e força de vontade, é possível fazer tudo aquilo que nos propomos e sonhamos.

^
ANA SILVA

PROFESSOR ARIEL GUERREIRO

POR LEONOR ANDRADE >

[LEONOR] O prémio Nobel de Física do ano passado, citando o comunicado da Academia do Nobel, foi “Experiências com fotões emparelhados estabelecendo a violação das desigualdades de Bell e sendo pioneiros na ciência da informação quântica”. A primeira questão que tenho para si é saber como é que se interessou por esta área da informação quântica?

[DR. ARIEL] Eu diria que existem duas razões. A primeira, a mais genérica, tem a ver com o meu interesse pela Física Quântica e em particular pela Ótica Quântica, isto é o tratamento quântico da luz e as propriedades quânticas atuais que a luz tem. Na minha opinião, é o meio que torna mais fácil para as hipóteses, teorias, modelos teóricos se poderem testar no laboratório. O Prémio Nobel indica que se conseguiu implementar esses testes utilizando a luz (essencialmente as propriedades dela), o que fascina o meu interesse pela área. Depois, também tive um estudante de doutoramento na altura que tinha interesse por esse assunto e que me cativou pelo seu interesse para aprofundar conhecimentos nesta área. Na altura, conseguiu-se que o estudante fosse fazer um périplo por vários laboratórios na Europa, sendo que um dos laboratórios onde ele esteve associado foi precisamente o laboratório (ou grupo de investigação) onde surgiram estes resultados, em Viena - Áustria. Na altura eles propuseram um desafio, um problema que estava por resolver. Fomos analisar o entrelaçamento quântico, neste caso, entre uma cavidade ótica, em que num dos espelhos estava montada uma mola e, portanto, podia tremer, podia vibrar. Isto traduz-se num oscilador harmónico que, ao vibrar, altera o tamanho da cavidade e, portanto, há um acoplamento entre a vibração mecânica do espelho e o campo eletromagnético que existe dentro da cavidade. Assim, o estado de um determina a evolução do estado de outro e vice-versa. Isto indica que podemos criar um estado entrelaçado entre os fotões que existem dentro da cavidade e o movimento de vibração do espelho, o movimento mecânico do espelho. Por outro lado, é um sistema em que é relativamente fácil controlar a temperatura experimentalmente. Neste sistema, além disso, nós incluímos um laser de excitação. Há uma fonte

de luz que está constantemente a injetar fotões para dentro da cavidade. E o que nós verificamos é que conseguíamos ter entrelaçamento quântico a uma temperatura arbitrariamente alta. Foi a primeira demonstração ou a primeira possibilidade de existência do que eu poderia chamar de entrelaçamento de alta temperatura - da mesma maneira que há supercondutividade a alta temperatura. Este foi o desafio que nós completamos. Fizemos uma publicação cuja explicação técnica foi escolhida pela American Physical Society e depois há os colegas de Viena – connosco fizeram um segundo trabalho em que demonstram que aquele resultado podia ser utilizado para técnicas de arrefecimento em sistemas opto-mecânicos.

Acha que os conhecimentos experimentais que surgiram desta pesquisa e que levaram ao prémio Nobel vão representar um ponto de viragem na forma como se vê a informação quântica e nas aplicações que podemos retirar da mesma?

Eu acho que o impacto já se sente, não é uma coisa que há de vir, já é um impacto e aparece a dois níveis. A nível tecnológico, do que foi necessário desenvolver para se poder fazer esta experiência, um impacto que é típico de quem faz a ciência fundamental. Fazer atualmente ciência fundamental é tecnologicamente e tecnicamente difícil, exigente, e, portanto, para podermos fazer estes testes, como foi o caso das desigualdades de Bell, só tem de se desenvolver a tecnologia além dos limites que ela tem no momento, e, portanto, isto acaba por ter consequências positivas para o resto da sociedade. Quando o senhor Volta pôs as perninhas da rã a esticar, a demonstrar que havia ali uma corrente elétrica, não lhe passava pela cabeça que hoje a sociedade que nós temos seja maioritariamente fundamentada em tecnologias que utilizam eletricidade. Portanto, «se quisermos», esse é o primeiro impacto. O segundo impacto que é, no fundo, o objetivo do ponto de vista da Física Fundamental: foi anular a hipótese das variáveis escondidas, e, portanto, afirmar a teoria da Física Quântica, da Mecânica Quântica, como aquele que melhor explica o comportamento das partículas à escala microscópica. Aquilo que muitas vezes a

prémio nobeldafísica2022

Física fundamental experimental faz, e daí a importância, é não só dar-nos pistas para perceber como é que se calhar a natureza está a funcionar, mas também, extremamente importante, é eliminar hipóteses do espaço de probabilidades. No final, o que sobra desse trabalho científico é a melhor teoria que nós temos, a melhor distribuição que nós temos no momento. Assim, é essa, se quisermos, uma das grandes importâncias daquele prémio Nobel que foi, entre múltiplos testes que foram feitos à Mecânica Quântica, aquele foi um que permitiu excluir uma formulação alternativa que era racionalmente robusta, no sentido em que não havia nada do ponto de vista da análise do raciocínio que estava por trás dessa hipótese que a inviabilizasse. O que o Senhor Bell fez foi dizer “O.K., então se nós assumimos esta hipótese, eu vou obter estes resultados. Então se estes resultados não se confirmarem é porque a hipótese tem de ser falsa.” Lógica pura! Em suma, nunca há demonstrações de uma teoria, há sempre demonstrações da falsidade das alternativas.

Como investigador da FCUP, e como o professor José Luís Santos nos costuma dizer, eterno estudante, de que forma acha que estes resultados e desenvolvimentos na investigação da Mecânica Quântica poderão influenciar a sua própria investigação e orientação que dá aos seus estudantes de mestrado e doutoramento?

Eu vou pegar na última coisa que disse. A Mecânica Quântica é relativamente recente. Eu ainda sou do tempo de conhecer pessoas que acompanharam o aparecimento da Mecânica Quântica. E, portanto, o ensino da Mecânica Quântica em Portugal começou de uma forma muito titubeante. Havia pessoas na Faculdade de Ciências de Lisboa que não acreditavam na Mecânica Quântica, que achavam que eu estava errado. E tinham boas razões para isso, ou seja, o nível de informação que se tinha – nós sabíamos que existiam determinados fenómenos, estava confirmado, agora, se a Mecânica Quântica era a boa explicação, era ambíguo. O primeiro grande impacto é o nível de confiança com que eu posso ensinar, que me permite escolher esta área de trabalho. Dizer assim

– não estou a investir numa coisa excessivamente arriscada que se descubra amanhã que está totalmente mau - ela pode estar mal, mas não estará completamente mal. Porque essa é uma das vantagens do nosso método científico, é que, muito embora possamos ter de evoluir nos nossos modelos, nas nossas descrições da realidade, há sempre qualquer coisa da realidade anterior que não estava completamente errada. É possível ensinar teorias que podem não estar corretas porque ainda não sabemos o grau de correção que elas têm - desde que se faça esse enquadramento. Lidar com estas teorias, os modelos, as explicações que ainda não estão ainda completamente validadas é o nosso trabalho, o nosso métier. Também me permite não só ter confiança que a minha linha de investigação no trabalho científico tem relevância, vai dar contributos porque estava alinhado com uma boa direção, mas também permite promover junto das novas gerações - «atenção, esta é uma área que tem relevo, que tem impacto, que vale a pena para quem tiver interesse». Obviamente, é importante que as pessoas sintam interesse. Felizmente, a ciência, a Física, têm muitos sabores e, portanto, há uma diversidade para diferentes gostos e diferentes competências e diferentes formas de olhar para a realidade – nem toda a gente vai para Física Quântica, especialmente se for contrariada. Há problemas além da Física Quântica que são extremamente válidos, extremamente importantes, isto é, há trabalho para todos. Uma coisa que eu tenho estado a tentar fazer nos últimos anos no nosso departamento, além destas disciplinas teóricas, por exemplo Mecânica Quântica, que são fundamentais no sentido de dar as ferramentas racionais, lógicas, etc., para as pessoas conseguirem criar um mapa mental, uma representação mental desta teoria, deste modelo; mas também tentar que nós passemos de um ensino puramente teórica de Física Quântica para um ensino cada vez mais experimental. Portanto, um dos meus objetivos que «tenho de trabalhar e tenho proposto, por exemplo, à direção do departamento e até à diretora da faculdade», precisamente para tentar criar aqui uma pequena instalação laboratorial precisamente para o estudo, para a realização de experiências em Ótica Quântica. O vosso futuro e o futuro das gerações que se

vão seguir à vossa, vai passar precisamente por um bom domínio da ciência e da tecnologia quântica. Se nós vos queremos dar, e temos essa responsabilidade enquanto instituição de ensino, a melhor preparação possível para singrarem nas múltiplas profissões e atividades que Físicos e Engenheiros Físicos podem ter, nós temos de vos dar as ferramentas, e as ferramentas não é só saber calcular teorias de perturbação independentes do tempo. Eu tenho a certeza, uma convicção fortíssima, que muitos da sua geração, vão precisar esta formação, vão ter de poder chegar ao laboratório, olhar para um número de contagens no detetor e saber: “Ah, esta partícula estava entrelaçada com outra partícula”. Uma aplicação de base quântica é a nossa capacidade de medir campos magnéticos muito ténues e isso, por exemplo, é utilizado para monitorizar o funcionamento do cérebro. Há correntes elétricas no nosso cérebro, produzem campos magnéticos e monitorizando esses campos magnéticos temos informação da região que está ativa, de que forma é que está ativa, etc... Estas tecnologias estão aí, umas já estão, outras estão ao virar da esquina, outras estão a contornar a esquina *risos*, neste momento creio que a IBM vai anunciar um computador quântico, se não são de 550, creio que são de 500 Qubits. As tecnologias surgirão no final da minha carreira? Eu acho que não, será ainda durante a minha carreira, mais rápido do que muitos pensarão, poderemos ver o primeiro impacto destas tecnologias, a vossa geração vai ver os impactos disso. Se a vossa geração sair daqui da Universidade do Porto sem formação experimental, não fizemos bem o nosso trabalho porque não vos preparámos para o futuro próximo que vocês vão encontrar lá fora. É a nossa missão dar-vos o canivete suíço com as ferramentas básicas que a dada altura até vão deixar de precisar. O objetivo não é que uma pessoa saia da universidade e esteja perfeitamente capacitada, a pessoa vai ter de se construir e formar ao longo da sua vida, um cientista é um eterno estudante, se saiu um paper na última semana, tem de ser estudado, não está nos livros, não aprendemos na faculdade e, portanto, esse espírito tem de existir. Agora, que já tem de ser possível, em Portugal, no Porto, no nosso departamento, dar-vos essa formação experimental, continuo a defender que, se não o fizermos, não estamos a cumprir o compromisso institucional que temos com as novas gerações.

A última pergunta que eu tinha para lhe fazer vai nesse sentido. Para os estudantes que neste momento estão no departamento e para os estudantes que estão a ponderar vir para o departamento,

podemos dizer que este crescimento na vertente experimental da mecânica quântica e das tecnologias quânticas pode ser uma possibilidade no futuro para investigar neste departamento estas áreas?

Não é uma possibilidade, é uma necessidade *risos*, eu explico-lhe porquê. Se nós não o fizermos, tornamo-nos dinossauros. O suposto é sermos capazes de fazer isso e pensar: “Então como é que no laboratório posso fazer uma experiência de dupla fenda de Young?”. Pelo menos isso, para os alunos perceberem, por exemplo, como se faz a análise das contagens. Quando fazemos uma experiência com fotões clássica, também contamos bips que aparecem no contador de fotões, é a mesma coisa. Só que o tipo de luz já não é o laser tradicional, tem de ser uma fonte específica, para que, por exemplo, os efeitos que estão associados ao facto de ser um único fotão possam tornar-se evidentes no detetor. Para isso, tem de ter uma boa sensibilidade, um ruído muito bem controlado, a corrente negra muito bem controlada para nós sabermos se aquilo são flutuações, se é ruído térmico. Quando trabalhamos nestes limites, como dizia há um bocado, os erros estão lá, ainda são mais sofisticados. Ser sofisticado não quer dizer que seja complicado, tem é que se aprender e a melhor forma de aprender é fazer, especialmente nestas questões experimentais. Qualquer aluno de primeiro e segundo ano sabe, que quando faz uma experiência, por mais simples que seja, pela primeira vez, é complicado e vão fazer coisas que não estão bem e depois descobrem que não fizeram bem e podem corrigir.

E da próxima vez já não fazem mal.

Exatamente! Que não se menospreze o poder pedagógico de errar. Se o erro for feito com inteligência, ou seja, se eu olhar para o erro como uma oportunidade de aprender, o erro é uma vantagem. Nós aprendemos com os erros de tudo o que não funcionou para trás, esperemos que alguma sabedoria exista também na nossa comunidade, é vital. Embora nós separemos a física em áreas, por uma questão de pragmatismo para ensinar, isto é tudo um sistema de fases comunicantes. Numa instituição académica, os profissionais e candidatos a profissionais (estudantes) têm de ter esta visão abrangente. Mesmo que se especializem, têm de ter cultura científica para perceberem as ligações que existem, as conexões que podem ser exploradas entre diferentes campos da ciência e do conhecimento. E eu tenho a certeza, seja na gravitação, seja na matéria condensada, seja nas nanotecnologias, etc., perceber experimentalmente as propriedades

quânticas de sistemas microscópicos vai ser crítico. Perceber que o valor expectável e a invariância que calculamos nas aulas de mecânica quântica não são aquilo que se mede no laboratório e de que forma estão relacionados é fundamental. Se fizermos a papel e lápis vamos achar que é a mesma coisa, mas não são. Um aspeto interessante é que estas novas dimensões da física exigem cada vez mais um domínio muito bom de todas as lâminas que estão no “canivete suíço”. Portanto, estudem Eletromagnetismo, mecânica quântica, mecânica clássica, façam todos esses estudos, porque têm de ter uma boa base teórica. Um bom experimentalista é aquele que constrói a experiência percebendo de que modo aquela experiência representa a descrição. Podemos trabalhar uns preferencialmente à secretária e outros preferencialmente no laboratório. Se nós não nos visitarmos e não formos capazes de falar a mesma língua, vamos ficar fortemente limitados.

Sim. Eu tinha só mais uma coisa para lhe perguntar: Acha que esta investigação e estes desenvolvimentos vão aliciar mais os estudantes de física ou os estudantes de engenharia física?

Temos substância para todos! As coisas não são estanques, têm metodologias diferentes e abordam o problema de maneira diferente, às vezes abordam problemas que não são exatamente o mesmo. A física tem sempre sido muito focada na interação fundamental, na constituição fundamental, partir aos bocados para ver como funciona por dentro, e agora está a aparecer uma nova tendência, que é: como é que combinando coisas pequenas se explica o todo. Esse é um problema, entre vários, que eu posso indicar para pessoas com uma vontade de “papel e lápis”, teoria de simulação, etc. Vai exigir também aos físicos puros experimentalistas que trabalhem, mas também vai exigir aos engenheiros físicos que tratem de pôr o sistema criogénico, de medição, que façam todo esse design como deve ser. Se a montagem não estiver bem feita e a tecnologia necessária para fazer a experiência não existir, não há experiência. O modelo teórico continuará a ser um rabisco numa folha de papel, cuja validade não está determinada. Perguntar-me-á se é mais para físicos ou mais para engenheiros físicos. Eu diria que é mais para pessoas inteligentes, interessadas e motivadas. Se uma pessoa estiver motivada para enfrentar um desafio e gostar deste tipo de desafio, seja físico, engenheiro físico, biólogo ou matemático, isto não é estanque. Por exemplo, teoria quântica da informação, acho que às vezes está mais no domínio da matemática do que no domínio

da física. Por exemplo, nos computadores quânticos onde é que começa a física e onde é que começa a ciência de computadores? A computação quântica deve ser dada em ciência de computadores, ou em física? Provavelmente em ambas. Com a mesma abordagem, talvez não, mas para conseguir construir um computador quântico eu vou precisar de tudo. Se dominarem as técnicas, se forem, motivados, interessados, perceberem que é preciso queimar células cinzentas no processo, mas seja de que formação forem, vão encontrar aqui trabalho. Por exemplo, desenvolver uma câmara single-photon, nós já sabemos do fotão, já sabemos da energia, já sabemos dos processos de absorção, isto é claramente uma coisa para engenheiros. Físicos podem contribuir? Claro! Deve estar lá um? Claro! Mas é porte de engenharia. Perceber se eu consigo introduzir um grau de entrelaçamento entre quatro partículas, se calhar é mais para o físico teórico, provar que aquele sistema a 200ºC ainda tem entrelaçamento, já é trabalho para o experimentalista. Essa é a vantagem quando se tem uma revolução física e tecnológica, que é o que está a acontecer. Há muita coisa por fazer e, portanto, todos os recursos humanos e todas as competências são necessárias.

Muito obrigada pelo seu tempo e disponibilidade para explorar este tópico connosco. Agradecemos o contributo que nos deu, que creio que servirá de uma boa base para se iniciar a conversação de uma mecânica quântica mais experimental.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.