PhysikUPDATE - edição nº 2

Emigra ç ã o Lu nar A po phis Projeto em D esenvo lvi mento

no 2 maio 19

P r i mer En t r ev i st a a o P r o f . Jo sé Mo r ei r a

Redação Mafalda Matos Martim Carvalho Patrícia Vieira César Couto

EDITORIAL-.

Edição Bruna Dias

Design Irene Peixoto

A PhysikUPDATE é a revista do Departamento de Física e Astronomia (DFA) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) feita pelos alunos e para os alunos.

Todos os trimestres poderão encontrar uma nova edição desta mesma, preparada pela nossa equipa da casa—Mafalda Matos (3º ano da Licenciatura em Física), Martim Carvalho e Patrícia Vieira (2º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Física), César Couto (3º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Física) e Bruna Dias (2º ano da Licenciatura em Física).

De que vai falar a vossa revista? A PhysikUPDATE vai pôr-vos up to date dos acontecimentos atuais do mundo da Física. Para além de todas as atividades desenvolvidas no nosso departamento, tais como trabalhos realizados por alunos de mestrado ou doutoramento, irão poder ainda encontrar entrevistas exclusivas a professores.

Posto isto, a publicação desta revista teria sido impossível sem o apoio do CAUP (Centro de Astronomia da Universidade do Porto), do DFA (Departamento de Física e Astronomia), da Irene Peixoto (designer), da Carolina Silva (presidente do PhysikUP) e, claro, de vocês – os nossos leitores.

A PhysikUPDATE deseja-vos uma boa leitura!

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índice

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Emigração Lunar

Apophis

Buraco Negro M87 Artigo de Opinião _Primer Problema em Desenvolvimento_ Entrevista ao Professor José Moreira CAUP DFA

Mas Será Possível?

Emigração Lunsar 4

Em 21 de julho de 1969, o Homem deu um grande salto na história da humanidade, pisando pela primeira vez a Lua. Desde então, o interesse por este nosso satélite nunca cessou, sendo que o uso da expressão colonização é cada vez mais abordado com o decorrer dos anos.

Os mais curiosos e atentos perguntam: “Porque é que o Homem nunca mais pisou a Lua?”. Bem, a verdade é que, embora muitas expedições tenham sido feitas, nunca mais a respetiva recebeu uma visita da nossa espécie (pelo menos, de que se tenha conhecimento geral), advindo daí muitas especulações.

Assim como a Lua e Marte entram nesta figura, outros planetas são alvo de uma procura incessante por características que proporcionam a existência de vidaseja por mera curiosidade científica, exploração espacial ou para solução de contingência (um “plano B” para caso o nosso planeta Terra entre num estado de saturação). A ideia de conotar a lua como futura casa é algo muito mais exequível do que, por exemplo, nós vivermos em Marte. Para além de estar muito mais perto, o satélite dispõe de condições mais viáveis.

Para além de 1 dia/noite na Terra equivalerem a aproximadamente 696 horas na Lua, a temperatura no solo alcança grandes amplitudes. Nos pólos, ronda os 0º, admitindo-se assim a hipótese de água congelada.

Este seria um dos locais mais propícios para a colonização. Não podemos esquecer também o facto de que a sua gravidade é cerca de 1/6 da da Terra… Bem, tal seria uma mais valia para quem anda a tentar perder uns “kilinhos”, pois iria pesar muito menos.

Outra solução para habitação lunar seriam os tunéis existentes no subsolo, resultado da passagem de lava há biliões de anos atrás, devido à atividade vulcânica da altura. Estima-se dimensionalmente uma cidade inteira subterrânea.

Também não podemos esquecer-nos do facto de que a superfície lunar está coberta de um tipo de rocha chamado isolito, que, bem trabalhado, pode ser usado para a construção “civil”, dadas as suas propriedades isolantes.

Já foram vários os protótipos feitos pelas principais empresas espaciais, sendo que um deles passaria pela solução de residência em iglus todos ligados por canais a uma mega estufa, para fins de alimentação.

Contudo, ainda existem muitos problemas por ultrapassar, como a falta de uma atmosfera protetora e obviamente a produção oxigénio, a intensa atividade sísmica, a produção alimentar em grande escala, entre outros fatores. A habitação lunar torna-se cada vez mais uma realidade do que apenas um sonho, ressalvando que ainda há muito por analisar e estudar. No entanto, a verdade é que o estilo de vida que levamos hoje em dia não é sustentável; poluição, falta de recursos, exploração desmedida e população excessiva são pesarosas realidades. Temos de pensar no cenário em que, num futuro breve, a Terra já não será ideal para a vida humana, e a solução será a emigração espacial, sendo uma das hipóteses mais praticáveis... a Lua.

Como Seria Viver na Lua?

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por Patrícia Vieira

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A App o opp h hii s s

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- . . por César Couto

A hipótese de um grande asteroide colidir com a Terra aponta para uma sexta-feira 13, uma data propícia a especulações sobre o fim do mundo. Mas os cientistas estão a levar a sério o risco de embate: acertam cálculos e procuram soluções.

Batizado com o nome da divindade egípcia do mal e da escuridão, Apophis, descoberto em 2004, tem um tamanho equivalente a 3 campos de futebol e meio - o suficiente para causar uma hecatombe, caso embata na Terra durante o seu percurso pelo espaço. Uma das consequências menores deste impacto seria a criação de um novo deserto com uma superfície equivalente ao território da França. Em termos de massa, o objeto terá cerca de mil milhões de toneladas. Cálculos já efetuados pela NASA indicam que, se um objeto com a massa de Apophis colidir com a Terra, será libertada uma energia cem mil vezes superior à da explosão nuclear de Hiroshima.

Portanto, este asteroide captou de imediato a atenção da comunidade científica, que estimara 2,7% de probabilidade de impacto com a Terra na sua passagem em 2029. Porém, pesquisas mais recentes negam tal antevisão, apenas prevendo uma trajetória mais próxima para esse ano, a cerca de 30 mil quilómetros, mantendo só uma possibilidade de embate para 2036. Contudo, 2029 será uma boa ocasião para os peritos aperfeiçoarem eventuais estratégias para desviar ou destruir o objeto, evitando a colisão. A rota do asteroide estará sempre a ser acompanhada, pois é previsível que se altere.

Mesmo os cálculos mais precisos terão de contar com o carácter errático da trajetória destes corpos que vogam no espaço.

Além disso, o Apophis tem uma terceira visita à trajetória da Terra calculada para o ano de 2068. Então, as probabilidades de colisão aumentam um pouco. O diretor da Agência Espacial Federal Russa (Roscosmos) já reuniu um corpo de cientistas para propor formas de evitar uma colisão. Já há algum tempo se fala de um projeto para a construção de uma nave com esse fim específico, por parte de Anatoly Perminov, que conta com a colaboração tanto da agência espacial norte-americana (NASA) como das agências espaciais europeia (ESA) e chinesa (CNSA). As discussões científicas sobre a matéria apontam para soluções como o uso de mísseis nucleares para fragmentar o objeto celeste, ou o recurso a técnicas para lhe mudar a trajetória. Estes planos são muitas vezes retratados em filmes de ficção científica como Armageddon ou Deep Impact.

Face a todas estas hipóteses, surgem inevitavelmente o medo e as dúvidas. Será que é a humanidade que vai acabar com o planeta, ou será um objeto celeste de grandes dimensões a pôr fim à Terra tal como a conhecemos? E com tudo isto acabamos por pensar que colonizar outros planetas... talvez não seja má ideia.

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Buraco Negro

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por Martim Carvalho

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No dia 10 de abril deste ano, capturou-se a primeira imagem de sempre de um buraco negro. O feito foi apenas possível por intermédio da organização Event Horizon Telescope em colaboração com mais de 40 países, tendo estado envolvidos no projeto mais de 200 cientistas. A descoberta realizada veio comprovar experimentalmente a existência de buracos negros de acordo com a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, desenvolvida em 1915.

O buraco negro em questão encontra-se no centro da galáxia M87, localizada a 53.5 milhões de anos-luz de distância da Terra. Já havia sido indiciada a existência do mesmo graças a uma descoberta de há 101 anos atrás: detetou-se um feixe de luz constituído por plasma disparado do centro da Via Láctea (teoricamente emitido por ele), que atravessara o universo e marcara o centro da sua galáxia.

Apesar de o corpo ser de grandes dimensões e compacidade - uma massa 6.5 mil milhões de vezes maior que a do Sol e um diâmetro de 100 mil milhões de km (mais de 20 vezes o da órbita de Neptuno, o planeta mais distante do Sol no Sistema Solar)-, a imagem obtida tem um aspeto desfocado. Isto deve-se à enorme distância que separa as duas galáxias, que põe à prova os limites da atual capacidade tecnológica: o tamanho na nossa é de apenas 40’ (ângulo que faz com o céu).

Devido ao limite de difração, seria necessário um telescópio do tamanho da Terra para observar o centro da galáxia M87. Isso justifica-se pela fórmula descoberta em 1873 por Ernst Abbe. O limite de difração de Abbe para um dado comprimento de onda λ viajando num meio com índice de refração n e convergindo para uma posição com ângulo θ prevê uma resolução mínima d dada por:

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Sendo isto impraticável, realizou-se uma colaboração entre investigadores e dividiram-se oito telescópios à volta do globo de acordo com as coordenadas adequadas: um na Antártida, um em Espanha, um no Arizona, um no México, dois no Havai e dois no Chile. Os seus diâmetros variam entre 10 e 50 m, e juntos preenchem o tamanho de um telescópio do tamanho da Terra com o período de rotação da mesma, observando em simultâneo o centro da galáxia M87.

O resultado revelou plasma a orbitar o buraco negro supermassivo, e permitiu aos cientistas dentro da investigação afirmar que o fenómeno ocorre no sentido horário. O mesmo foi observado pelos nossos telescópios através de ondas eletromagnéticas de comprimento de onda λ = 1.3 mm (ondas de rádio). O espetro usado permitiu mostrar as características do buraco, conseguindo também passar o disco de acreção - estrutura constituída por variados materiais que possuem momento angular à sua volta - e o pó interestelar, para construir a imagem entre os telescópios.

Além disso, por viajar perto da velocidade da luz, a imagem do horizonte de eventos revela um feixe mais claro (semicircunferência de baixo), que viaja na nossa direção, e um mais escuro (semicircunferência de cima), que se afasta de nós. A esta mudança de luminosidade aparente devida a efeitos relativistas, que se observa para altas energias e emite matéria a velocidades próximas da velocidade da luz, dá-se o nome de Beaming Relativista. Assim, é necessário ter em mente a expressão do fator de Doppler e as respetivas variáveis associadas:

Onde θ é o ângulo de vista com a Terra e v é a velocidade do feixe de luz do plasma anteriormente referido. Os jatos relativistas são feixes de matéria ionizada (neste caso, de plasma) com aceleração perto de velocidade da luz, c.

O supermassivo buraco negro em M87 é muito ativo, o que significa que está constantemente a alimentar-se de imensa matéria do seu disco de acreção quente e brilhante. Também manifesta jatos relativistas estreitos, perpendiculares ao plano do disco, criados devido a campos magnéticos muito fortes, que se estendem-se no mínimo por 5 mil anos-luz.

Admitindo diferentes orientações do buraco negro, afirma-se que a distorção do espaço-tempo à volta do mesmo nos permite observar sempre a luz à volta dele. Visto que um dos jatos parece apontar mesmo para a Terra, imagina-se que a nossa perspetiva esteja de frente para o disco de acreção. A razão pela qual conseguimos ver o jato que vem na nossa direção, mas não o jato que se afasta, está intrinsecamente associada ao Beaming Relativista anteriormente referido, o rque eitera o significado físico da fotografia do centro da galáxia M87.

Com este grande feito em mente, recordo a opinião de Stephen Hawking: “É triste que às vezes factos sejam mais estranhos que ficção, e não há onde isto seja mais verdade do que em buracos negros. Os buracos negros são mais estranhos do que qualquer coisa sonhada por escritores de ficção científica, mas são firmemente matérias de factos científicos.” Portanto, faz sentido destacar a afirmação que Michael Kramer proferiu aquando a conferência europeia para a apresentação da fotografia, que nos leva a refletir: “A história da ciência vai ser dividida no tempo antes e depois desta imagem.”

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Fator de Lorentz

Beta Relativista Velocidade da Luz

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P r i

P r i mme - .e Artigo de Opinião por Mafalda Matos

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Primer é o primeiro filme realizado por Shane Carruth, um antigo engenheiro de software, que foi lançado em 2004. Tendo um orçamento de apenas sete mil dólares, o filme fez um incrível sucesso tanto com os críticos como com a audiência geral, tendo ganho, entre outros, o Festival da Sundance e 841.926 dólares no Box Office.

O enredo inicia-se com uma pequena empresa de quatro pessoas que procura criar dispositivos rentáveis a partir da garagem de Aaron, protagonizado por Shane. Contudo, a busca não aparenta dar frutos, levando a um conflito entre Aaron, Abe e os seus colegas, sobre o futuro das investigações – Aaron e Abe querem testar algo diferente que os outros consideram demasiado perigoso.

Portanto, os dois criam, em segredo, uma máquina que consegue reduzir a massa de um objeto, uma boneca russa, mas que é instável. Porém, Aaron consegue tornar a caixa segura, e o duo tenta, durante meses, definir que produto é que acabam exatamente de inventar. Isto é, claro, até que Abe repara que a boneca russa se encontra consumida por uma proteína criada por um fungo que prolifera em zonas fechadas e húmidas.

Ao consultar um especialista, apreendem que normalmente seriam necessários cerca de cinco ou seis anos para a boneca estar com uma cultura tão desenvolvida, quando, aparentemente, ela só passara cinco ou seis dias consecutivos dentro da caixa.

A maneira mais simples de explicar o sucedido lá dentro é: o objeto entra no ponto A e viaja para o ponto B numa forma de elipse. No entanto - por razões não explicadas no filme - em vez de sair logo, na primeira passagem, no ponto B, o objeto permanece “a viajar” entre os pontos A e B, até que é expelido em B depois de 1300 passagens ou loops. Para físicos, esta ideia não fica muito aquém daquela do wormhole.

No entanto, pelo facto de não conseguirem controlar quando é que o objeto sai do loop, Aaron e Abe decidem inverter o circuito e entrar em B para sair em A.

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e r mer

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A verdadeira aventura começa então, quando eles criam máquinas de tamanho humano e as deixam correr durante seis horas. Evitam tudo e todos enquanto ficam num hotel durante esse período de tempo ou vão à biblioteca procurar, anonimamente, os resultados do mercado da bolsa. Passadas as seis horas, regressam às caixas e, armados de tanques de oxigénio, deitam-se nos seus interiores. Acordam passadas outras seis horas, quinze minutos depois do momento em que ligaram as máquinas – este intervalo serve apenas para que as versões passadas dos protagonistas tenham tempo de ir embora.

Enquanto que fazer dinheiro no mercado da bolsa pode não trazer grandes consequências, quanto mais habituados se tornam às viagens, mais mostram a sua verdadeira natureza. Ao emparelhar Aaron, a metade impulsiva que procura sempre estar um passo à frente, a Abe, a metade cautelosa que procura manter-se o mais ignorante possível, o filme mostra-nos, não só como cada um reage a ter esta capacidade, como também mostra a fragmentação de um único universo em várias timelines.

Isto não deveria de ser um problema visto que o duo achava que as caixas eram de uso único – só se poderia ligar a caixa depois de a usar, voltando sempre, no máximo, ao ponto em ela foi ligada inicialmente – mas e se não fossem?

Aaron e Abe descobrem maneiras de contornar esta questão – que não serão discutidas aqui visto que envolvem major spoilers – e assim tornam-se livres para abusar do seu poder. Como se isso não fosse suficiente, vemos, ao longo do tempo, a amizade deles a desmoronar-se lentamente, graças à falta de confiança e ao secretismo que se desenvolve entre si – será que é a primeira vez que o outro está a ver este decorrer de eventos? Será que já tentou interferir antes?

Com as timelines meticulosamente mapeadas, Primer aborda temas sobre viagens no tempo, tão nossos conhecidos, de maneira incrivelmente realista: os paradoxos, os duplicados, os esquemas para fazer dinheiro, os segredos obrigatoriamente envolvidos e todas as consequências que vêm com isso.

Não há modo de explicar o que faz este filme tão interessante sem ter de explicar todos os detalhes envolvidos no enredo e todas as pequenas pistas deixadas para uma segunda revisão. Sendo assim, não há mais nada a dizer a não ser: vejam o filme até que o compreendam.

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DA NANOESTRURAÇÃO D À PRODUÇÃO DE ENERG Margarida Maia 5ºAno Mestrado Integrado de Engenharia Física 02/04/2018

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Da nanoestruração de um material à produção de energia Nos últimos anos, a humanidade tem tomado cada vez mais consciência do impacto das suas ações no nosso planeta. Consequentemente, a procura de novas formas de produção de energia sem recorrer aos combustíveis fósseis tem sido um grande foco de investigação.

Analisando as áreas de maior consumo energético mundial, o calor desempenha um papel fulcral, não só como forma de consumir energia, mas também como um produto desperdiçado. Atualmente, mais de 60% da energia produzida é posteriormente dissipada sob a forma de calor. Neste contexto, os materiais termoelétricos surgem como solução para o reaproveitamento do mesmo.

Quando um gradiente de temperatura é aplicado a um material deste tipo, é criado um gradiente de energia na banda de condução do referido, ou seja, os portadores de carga do lado quente (elevada energia) tendem a difundir para o lado frio (baixa energia). Assim, eles acumulam-se neste último e é gerada uma diferença de potencial entre as extremidades do material (Figura 1). O coeficiente que relaciona linearmente o gradiente de temperatura aplicado com a diferença de potencial gerada é designado por Coeficiente de Seebeck. Este coeficiente pode ser negativo ou positivo - sendo os portadores de carga eletrões ou lacunas -, e o termoelétrico classificado como de tipo n ou de tipo p, respetivamente.

De modo a avaliar a capacidade termoelétrica de um material, é utilizada a sua Figura de Mérito (valor ZT), uma grandeza adimensional dependente do seu coeficiente de Seebeck e das suas condutividades elétrica (diretamente) e térmica (inversamente). Logo, uma forma de a aumentar consiste na diminuição desta última condutividade. Ao contrário da primeira, que apenas depende da estrutura de bandas, ou seja, do movimento dos eletrões, a condutividade térmica depende também da rede cristalina, influenciando o scattering de fonões (vibrações da rede). Assim, para que a condutividade elétrica não se altere, a diminuição da condutividade térmica

deverá ser feita apenas ao nível fonónico (Figura 2).

A manipulação da componente relacionada com a rede cristalina é conseguida pela diminuição do livre percurso médio dos fonões através do aumento do seu scattering, criando assim uma barreira à difusão de calor. Tendo em conta que estes efeitos ocorrem à nanoescala, a nanoestruturação dos materiais torna-se essencial, sendo a principal causa do grande desenvolvimento dos materiais termoelétricos nas últimas décadas.

Atualmente, o grupo do IFIMUP-IN tem vindo a desenvolver e a estudar novos materiais termoelétricos para várias aplicações. Neste contexto, foi possível alterar as propriedades termoelétricas do ZnO através da manipulação da forma das suas nanopartículas, bem como da inclusão das mesmas numa matriz de Bi2Te3. Uma utilidade inovadora destes materiais consiste na fabricação de tintas para posterior impressão de dispositivos através da técnica de screen-printing.

Estas tintas têm dois componentes principais: partículas funcionais (material inorgânico), que neste caso são os materiais termoelétricos, e um ligante (material orgânico), geralmente um polímero. A produção de dispositivos através de impressão permite obtê-los de forma mais fácil, a baixo custo e em grande escala.

Um dos protótipos já desenvolvidos no grupo, em colaboração com o CAP – INESC-TEC, consiste num dispositivo termoelétrico capaz reaproveitar o calor de um feixe laser para produzir energia. Este tem como objetivo ser utilizado em locais remotos, alimentando uma série de sensores, por exemplo, que apenas são ativados quando o feixe é focado no seu centro (Figura 3).

Assim, os materiais termoelétricos surgem como uma forma simples e económica de reutilizar calor para produzir energia. Uma vez que abrem portas a imensas possibilidades diferentes, o seu estudo e desenvolvimento revelam-se apenas no início, havendo ainda muito mais para explorar.

DE UM MATERIAL GIA

Figura 1 – Efeito Seebeck. A diferença de temperatura causa a difusão dos portadores de carga maioritários na direção do fluxo de calor, resultando em fluxos de corrente em direções opostas, dependendo do tipo de material (tipo p ou tipo n).

Figura 2 – Scattering de fonões causado pelas mudanças na fronteira de grão e nanoinclusões no material. Estas alterações permitem a manipulação do livre percurso médio dos fonões, criando uma barreira à difusão do calor, diminuindo a componente da rede da condutividade térmica do material.

O movimento dos eletrões não é influenciado.

Figura 3 – Dispositivo termoelétrico radial para reaproveitamento do calor provocado pela focagem de um feixe laser num material.

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Prof. José Moreira

Entrevista 12

Apresentamos a seguir alguns excertos da entrevista. Para a leres na sua totalidade, visita o site do núcleo ou usa simplesmente o QR Code.

Mafalda Matos (M.M.): O que o fez decidir que queria ser professor?

José Moreira (J.M.): Eu diria que ser professor, no meu caso, não foi propriamente dito uma decisão, talvez tenha sido uma casualidade ter seguido esse caminho. (…) Fui muito bem acolhido, principalmente pelo professor João António Bessa Menezes e Sousa, que me integrou dentro do seu grupo de trabalho e investigação. Estávamos no início, tínhamos poucos recursos, poucos aparelhos de medida, mas muita vontade de começar a investigar e de obter publicações que conferissem projeção internacional. Tal percurso levou-me a perceber que a minha vocação estava, de facto, na docência e investigação.

M.M.: Qual foi o projeto/desafio que mais gostou de fazer na sua carreira?

J.M.: Tive a oportunidade de por iniciativa do professor João Bessa, me deslocar a França, por um período de aproximadamente um 1 mês. Fiz um estágio no grupo do professor Albert Fert (que foi posteriormente prémio Nobel da Física 2007) (…) Regressei ao Porto com a intenção de pôr em prática, nos nossos laboratórios, tudo o que tinha aprendido em França. Foi sem dúvida um desafio extraordinário! Claro está que não foi nada fácil, havia dias muitos frustrantes, mas também dias de muita alegria, quando finalmente conseguíamos ultrapassar as dificuldades – faço notar que na altura o uso de computação era incipiente, era tudo feito à base de colheita manual de dados e de gráficos em papel milimétrico.

Foi sem dúvida um dos meus maiores desafios M.M.: Mencionou que o departamento estava no início da investigação, pode elaborar?

J.M.: Havia já trabalhos de relaxação térmica, na resistividade de materiais à base de cobre e prata. Contudo, a precisão das medidas da tensão elétrica que surgia nos terminais das amostras ainda não era a ideal. Era necessário melhorá-la, para procurar obter as derivadas da resistividade em ordem à temperatura e ao tempo resultantes dessas relaxações térmicas e que são essenciais para o estudo detalhado de parâmetros físicos muito relevantes na análise crítica dessas propriedades M.M.: Qual é a origem dos nomes dos seus cães?

J.M.: A origem do nome dos meus cães é algo de muito engraçado, porque todos eles têm dois nomes, o próprio e o apelido (…) O mais velho é o Billy Afonso (…) Agora falemos da menina. Como eu gosto muito de meninas a cantar, eu decidi dar-lhe o nome de Cuca Maria (…) “Ao mais novo pus o nome de Prince Marley.

M.M.: O que dizem os olhos dos seus cães?

J.M.: Na verdade, este mundo é fantástico, eu vejo isso nos meus cães. O respeito uns pelos outros é uma coisa brutal e o cão mais novo, que é o maior de todos, respeita estritamente o mais velho, ou seja, basta o Billy ladrar um bocadinho que, o maior que é o triplo ou quadruplo do seu tamanho, pisga-se logo e vai-se agachar cheio de medo porque sabe que ele está há muito mais tempo em casa e que é ele que manda.

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CAUP

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Centro de Astrofísica da Universidade do Porto

30 anos a promover a Astronomia Nacional

Em resultado da iniciativa da Professora Teresa Lago, o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) foi criado a 4 de Maio de 1989 como uma associação científica e técnica privada, sem fins lucrativos e reconhecida de utilidade pública, tendo a Universidade do Porto e a Fundação Gomes Teixeira como Associados Fundadores.

Desde a criação que inscreve entre os seus objetivos estatutários promover a Astronomia e Astrofísica através de quatro linhas principais: investigação científica, educação ao nível graduado e pós-graduado, atividades para escolas do ensino básico e secundário, divulgação e promoção da cultura científica, com particular ênfase na Astronomia.

O CAUP foi anfitrião da antiga unidade de investigação da Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT) com o mesmo nome.

Em 2014 esta unidade fundiu-se com o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL) para criar o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, que engloba a maioria da produção científica nacional na área. Na última avaliação da FCT o IA foi classificado como Excelente e referido pelo painel internacional de avaliação como “o mais importante instituição de investigação no domínio da Astronomia e Ciências Espaciais em Portugal”.

Sendo o IA uma unidade de referência a nível nacional e internacional, o CAUP serve de instituição de acolhimento a vários projetos de investigação de ponta, que frequentemente incorporam alunos a todos os níveis, desde projetos para alunos do secundário, passando por bolsas de iniciação científica dirigidas a alunos de licenciatura, até orientações de teses de mestrado e doutoramento.

Neste momento há quase 30 alunos de doutoramento a desenvolverem as suas teses no CAUP, e estão abertas várias BICs, para integração de alunos de licenciatura/mestrado integrado em projetos de investigação nas áreas dos exoplanetas, astrofísica estelar astronomia galáctica e cosmologia.

Uma das missões complementares do CAUP é a promoção da cultura científica e o apoio ao ensino formal e informal.

Para tal, logo em 1990 é criado o Núcleo de Divulgação e adquirido um planetário portátil “Starlab”. Este foi um dos pri-

meiros projetos de divulgação e apoio ao ensino em Portugal, com o objetivo de levar a astronomia para dentro das salas de aulas. Pelas várias encarnações do Planetário Portátil já passaram mais de 250 mil crianças, que assistiram a sessões devidamente adequadas à sua faixa etária e curriculum escolar.

A perseverança da Professora Teresa Lago, primeira diretora do CAUP e atual secretária geral da União Astronómica Internacional (IAU), em conjunto com a experiência do planetário portátil foram essenciais para que, em 1998, abrisse ao público o Planetário do Porto, um centro da rede de Centros Ciência Viva. Desde essa altura que o CAUP é responsável pela gestão científica do Planetário do Porto – Centro Ciência Viva, que acolhe mais de 30 000 visitantes por ano nas suas diversas atividades de sensibilização, cerca de 75% dos quais público escolar.

O Planetário do Porto é uma parte importante na estratégia de comunicação do CAUP, estratégia que passa ainda por incorporar em todas as atividades de promoção da cultura científica exemplos da excelência da Astronomia feita em Portugal, sempre que possível enquadrada no contexto da participação nacional nos grandes projetos europeus, como o Observatório Europeu do Sul (ESO) e Agência Espacial Europeia (ESA).

Muitas destas atividades de divulgação contam ainda com a colaboração de alunos de licenciatura, essencialmente das áreas da física e astronomia, mas também de outras áreas próximas, como química, biologia ou geologia.

O CAUP ainda apoia todos os programas de formação académica em Astronomia na Universidade do Porto e os seus investigadores são frequentemente convidados a participar no ensino de unidades e módulos curriculares. Além disso, existe um vasto leque de atividades de formação acessíveis a todos os investigadores do CAUP, incluindo cursos avançados, seminários, clubes de revistas e reuniões de grupos / equipas.

Promove ainda vários cursos de formação abertos ao público e dirigidos a professores dos ensinos básico e secundário.

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www.facebook.com/physikuporto www.instagram.com/physik_up/ www.fc.up.pt/physikup/

apoios