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Mitocontos Recontados por Esther Rosado
Mitocontos recontados
I. Sísifo
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Mais um dia e Sísifo saltou da cama. Assim, pois mal amanhecera. Pôs no chão os pés cumpridores e imaginou : depois do banho tiraria o carro da garagem e faria o mesmo percurso de todos os dias até o prédio do escritório. No caminho, buzinas. O gosto do café ainda na boca. Pensou que se sentia igual a sempre, carregando como se uma pedra para o alto da montanha. E então, inesperadamente para ele próprio, em um cruzamento nunca visto, mudou o percurso, acelerou. A música do carro estava altíssima, Jesus alegria dos homens de propósito. Desatou o nó da gravata, afrouxou o cinto, desamarrou os cadarços do sapato, jogou a pasta e o celular pela janela e tomou uma estrada nunca antes imaginada. Ao fim dela, pode ver o mar azul do dia; gritou ouvindo o mar, marulho. E riu. Gargalhou sem medo de o tomarem por doido varrido. Abandonando o carro, pôs-se a andar com seus ligeiros pés, livre como se fosse voar sem nunca ter tido asas, esquecido , leve, ligeiramente embriagado de algo novo que jamais sentira: estava livre, livre. Estava absolutamente feliz.

II. Ícaro e Dédalo
Eles se chamavam assim: Dédalo , o pai, inteligente e perspicaz, já entrado nos quarenta anos; e Ícaro, o filho, um menino de 14 , os olhos azuis e o cabelo ruivo. Não se sabe por que diabos tinham a mesma preferência: jogar um game de nome Labirinto. Um jogo para quem gostava de fugir de um bicho esquisito chamado Taurominos, com cabeça de homem num corpo de bovino.
O fim do jogo é sabido de todos os habitantes de Colossus, a cidade em que ambos moravam, cujo prefeito era um homem irascível: Cretos. Que fim do jogo era esse? você me perguntará... Quem ganhasse, ah, quem ousasse ganhar, teria que saltar, nu em pelo, das escarpas de Colossus para o mar Ingreu. Foi então que Dédalo, que era arquiteto, construiu a primeira asa deste planeta Ground-Earth. Uma para si e outra para o filho. E de asas, nus como tinham vindo ao mundo, saltaram sobre o Delta-Egeu. E voaram, e subiram para perto da Estrela e nada, nem asas, nem penas, nem cera derreteu. Fugiram para a Ibéria e lá continuam até hoje. Inventaram um outro fim para o game: a personagem SeuTeu mata Taurominos no Labirinto e uma aranha chamada Adriadne fabrica um fio que tece outras tantas asas para quem quer fugir. E lá, eu garanto, há sempre alguém nelas interessado.
III. A Caixa
Um dia, DoraPan recebeu uma caixa. Era o presente de Beus para o casamento dela com Piripeteus. Beus disse: -DoraPan, nada de abrir a caixa! É proibido. Só depois do casamento, hein? Um dia, bem antes do casamento,ficou curiosa, abriu a caixa proibida e dela saiu a Esperança que povoou e repovoou a Terra e encheu de alegria o coração dos homens. Os males, todos, ficaram dentro da caixa. Como é sabido, o Bem sempre vence o Mal. Ponto final.