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LITTERA - O MITO DA CAVERNA - Salette Granato

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Revista LITTERA N4

Revista LITTERA N4

O MITO DA CAVERNA

Analogia contemporânea

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O Mito da Caverna é uma metáfora do filósofo grego Platão tentando explicar a condição de ignorância em que vivem os seres humanos aprisionados pelos sentidos e os preconceitos que os impedem de adquirir o verdadeiro conhecimento, conhecida também como Alegoria da Caverna ou Caverna de Platão, a metáfora integra o capítulo VII da obra “A República”, escrita por volta de 380 a.C. É um dos textos filosóficos mais debatidos e conhecidos pela humanidade, um diálogo entre as personagens Sócrates e Glauco, onde Sócrates responde a questionamentos de Glauco, na visão platônica. Sócrates pede a Glauco para imaginar um grupo de pessoas vivendo numa grande caverna, com braços, pernas e pescoços presos por correntes, uma parede impede os acorrentados de verem os que passam em frente ao fogo. A partir disso, Sócrates explica a Glauco que uma dessas pessoas, liberta das correntes, perceberia a verdadeira forma da realidade e deixaria a caverna e se voltasse para contar aos demais, esses não seriam capazes sequer de compreender e o matariam. Então, alerta a Glauco que as pessoas da caverna são muito semelhantes aos humanos; quanto à ignorância humana, há aqueles que são incapazes ou relutantes de procurar a verdade e a sabedoria. Simbolicamente, segundo Platão, a caverna seria o mundo onde todos os seres humanos vivem; as sombras projetadas em seu interior seriam a falsidade dos sentidos; as correntes seriam os preconceitos e a opinião que aprisionam os seres humanos à ignorância e ao senso comum; o prisioneiro significaria então, o papel do filósofo e o desfecho trágico do ex-prisioneiro, uma referência ao ocorrido com seu mestre, Sócrates, acusado de corromper a juventude com seu pensamento questionador; o filósofo foi julgado e condenado à morte pelos atenienses.

Numa Analogia contemporânea, o meu ponto de partida será o filme Idiocracia: “Em 2005, Joe Bowers é selecionado para participar de um experimento secreto militar que o coloca em hibernação. Quando a experiência governamental cai no esquecimento, Bowers acorda no ano 2505 e encontra uma sociedade tão emburrecida pelo comercialismo de massa e pela alienante programação de TV, que ele acaba sendo o cara mais inteligente do planeta. Agora, cabe a um cara pra lá de mediano colocar a evolução da raça humana de volta nos trilhos”. Um filme sensacional que nos faz refletir sobre o futuro. Podemos elencar algumas situações contemporâneas partindo do princípio da sociedade dividida em grupos que habitam em cavernas, isoladamente, habitam dentro de suas verdades, sem enxergar o outro e suas dificuldades, tendo a liberdade como justificativa; outros habitam no seu porto seguro consolador, sem novos desafios. Então, dentro desse contexto social, muitos querem liderar grupos ou dominar o mundo sem nunca terem saído de suas cavernas. Vamos subdividir a sociedade (partindo do pressuposto da sociedade dividida em classes). Vou citar quatro exemplos e comentá-los, impossível seria citar e comentar todos os grupos existentes, porque para mim, nasce um todo dia, basta observar os comentários sobre tudo nas redes sociais: 1. Ouvem e não escutam. 2. Convictos de tudo. 3.Habitam Zona de Conforto. 4. Creem que tudo está bem.

1.Ouvem e não escutam: Você cita um livro, comenta sobre ele, planta a semente cultural, explica, convida, até empresta livro, mas a preguiça domina e o livro se vai. Mas, se falar sobre a vida dos outros, os ouvidos se esticam e a curiosidade aparece. Então, volto aos heterônimos de Fernando Pessoa, que por ter tantos dentro de si, criou vários dele; aos Contos sem fechamento de Lygia Fagundes Teles, a maior contista do Brasil; ao excelente pianista e compositor D. Pedro I; ou até o movimento Diretas Já, que resultou na nossa Constituição Cidadã, fazendo menção a Ulisses Guimarães e a Sobral Pinto, mas nada, todos fazem ouvidos moucos de mercador e viram-se à aquele que tem um olho, porque em terra de cego quem tem um olho é rei! Ignoram aqueles que enxergam com os dois. Regras que precisam ser ouvidas e entendidas: Respeito sempre, não importam as diferenças e não faça ao outro o que não deseja que faça para você, simples, mas, não escutam. 2. Convictos de tudo: Pirâmides, jogos de azar, dinheiro digital, mercado sobe e desce, tudo sobe, tudo cresce, tudo desce, povo sua, povo chora, povo paga, nada tem, nada pode; não conhece sua história, não olha para o passado para construir o futuro, esse povo acredita em tudo e vive no processo de tentativa e erro, sem reconhecer que os testes já foram feitos e já poderíamos estar na fase da tentativa e acerto. Somos sombras do passado! 3. Habitam zona de conforto: Filosofar pra quê? Você parece louca! Estudar a essa idade, pra quê? Você trabalha demais, estuda demais, pensa demais, lê demais! Homem não gosta de mulher assim! Volte pra casa! Ninguém quer sair da zona de conforto, aprender é “boring”! 4. Creem que tudo está bem: Talvez sombras também habitem as redes sociais, um mesmo padrão, todos são sombra de alguém, todos iguais, tudo com filtro, até a cultura tem filtro, frases e livros citados de autores desconexos, autoria equivocada, todos num padrão social, tudo politicamente correto. Parafraseando Provérbios (Bíblia) às avessas: Nada é permitido, mas tudo convém e não ouse discordar, poderá ser cancelado!

Sair da caverna é um desafio ignorado por muitos e quando alguém sai e quer compartilhar suas experiências e outra visão de mundo, atualmente, a pena é o cancelamento e como disse Lygia Fagundes Telles na virada do século: "O duro ofício de testemunhar um planeta enfermo nesta virada do século. Às vezes, o medo. Quando perseguido, o polvo se fecha nos tentáculos e solta uma tinta negra para que a água em redor fique turva e, assim, camuflado, ele possa então fugir. A negra tinta do medo. Viscosa, morna. Mas o escritor precisa se ver e ver o próximo na transparência da água. Tem de vencer o medo para escrever esse medo. E resgatar a palavra através do amor, a palavra que permanece como a negação da morte. Às vezes, a esperança. O homem vai sobreviver, e essa certeza me vem quando vejo o mar, um mar que talhou com tanta poluição, embora! Mas resistindo..." Então, na minha simplicidade de iniciante, completaria: Não é possível acender uma vela dentro oceano da ignorância #salettegranato. Tudo aqui descrito é um simples talvez. Quem sou no mito da caverna? Sou aquela que saiu da caverna e vive descobertas diárias! Quem sou no mito da caverna, sem filtro? Observando a humanidade: O mundo está tão chato e desinteressante que acabo por querer voltar à caverna, expulsar seus habitantes, levar todos os livros do mundo para lá e convidar o sol para o chá das cinco, claro, tendo a lua por testemunha, habitando nesse novo lugar!

Salette Granato Academia Jacarehyense de Letras Cátedra nº 10 – Patrono Roberto Donizete de Souza

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