Gestão e carreira

GESTÃO E CARRE IRA

Atendimento de qualidade

que cabe no bolso

Com boa infraestrutura e médicos qualificados, clínicas médicas populares avançam e se consolidam como novo modelo de negócio na área Por Paula Netto | Fotos: acervo AMB, arquivo pessoal e divulgação

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ilas gigantescas, longa espera por atendimento, demora no agendamento de consultas ou custos elevados já fazem parte da rotina de milhões de brasileiros que necessitam de atendimento médico, seja no sistema público ou na saúde suplementar. Sem vislumbre de melhorias no setor, cabe à população buscar caminhos alternativos. Espalhadas nas principais regiões 16 | VOX Otorrino

metropolitanas do país, as clínicas médicas populares têm crescido consideravelmente por oferecerem serviço de qualidade a um preço acessível.

A variedade de serviços oferecidos nos locais por um preço abaixo do que o comumente praticado pelo mercado, aliada à rapidez no atendimento, são os principais fatores para conquista de clientes. Para o Dr. Bruno

Rossini, otorrinolaringologista especialista em Gestão de Carreira Médica, as lacunas assistenciais deixadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelos planos de saúde fortalecem o modelo. “Muitos pacientes, principalmente das classes C, D e E, não conseguem bancar um plano de saúde mensalmente e também não querem ser atendidos pelo SUS. Por outro lado, eles concordam em pagar até 120 reais por uma consulta, se forem atendidos de forma rápida e digna. Estamos falando de cerca de 100 milhões de pessoas no Brasil com este perfil”, diz.

O especialista afirma que as clínicas populares são uma excelente oportunidade de negócio por serem “escalonáveis, replicáveis e lucrativas”, gerando, ainda, repercussão social positiva. “A instalação de uma clínica popular tem um custo cerca de 30% menor comparado à instalação de uma que atenda as classes A e B. Além disso, o impacto social é enorme. Pacientes que ficariam meses na fila do SUS, por exemplo, podem ter seus diagnósticos e tratamentos estabelecidos rapidamente”, aponta.

Rapidez, aliás, é a máxima praticada pela Policlínica Granato, no Rio de Janeiro. Segundo o Dr. Paulo Granato, médico patologista e sócio-fundador da clínica, a prestação de serviços ágil é um diferencial. “O paciente pode se consultar e fazer os exames solicitados logo em seguida, tendo um prazo de 15 dias para retornar à consulta gratuita”, explica. A disponibilidade para marcação de consultas e exames também chama a atenção. “Se uma pessoa ligar para cá ou comparecer à clínica, temos atendimento para o mesmo dia ou semana. Se as agendas estão cheias, abrimos mais horários.

A ideia é proporcionar o atendimento no prazo que o paciente precisa, mesmo que isso acarrete em chamar mais médicos’, salienta. Graças a esta política, a clínica contabiliza cerca de 900 mil atendimentos desde a sua criação, em 2008, o que a posiciona como uma das maiores redes do segmento no estado.

“Muitos pacientes, principalmente das classes C, D e E, não conseguem bancar um plano de saúde mensalmente e também não querem ser atendidos pelo SUS. Por outro lado, eles concordam em pagar até 120 reais por uma consulta, se forem atendidos de forma rápida e digna. Estamos falando de cerca de 100 milhões de pessoas no Brasil com este perfil”

Dr. Bruno Rossini

“O paciente pode se consultar e fazer os exames solicitados logo em seguida, tendo um prazo de 15 dias para retornar à consulta gratuita”

Dr. Paulo Granato

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“As localidades foram pensadas para facilitar o deslocamento do paciente até o centro médico, ao mesmo tempo em que é fácil também para os médicos, que trabalham em vários locais, se deslocarem para lá” Guilherme Aranha O engenheiro Guilherme Aranha também encontrou no nicho uma oportunidade para empreender. Ao lado do amigo médico Sérgio Luiz Figueiredo (esse já desiludido com a precariedade do atendimento à população nos lugares por onde passou), fundou o Centro Médico Pastore, também no Rio de Janeiro, por onde já passaram aproximadamente 50 mil pacientes. Com unidades no Centro e na Tijuca, a localização faz parte da estratégia do negócio.

“As localidades foram pensadas para facilitar o deslocamento do paciente até o centro médico, ao mesmo tempo em que é fácil também para os médicos, que trabalham em vários locais, se deslocarem para lá”, declara.

Dos planos para as clínicas populares

“A demora de até meses para marcar uma consulta ou exame, e outros empecilhos que os planos criam para os pacientes terem acesso aos serviços geram muita dificuldade.

Em uma clínica popular, a pessoa consegue marcar na mesma semana, com um prazo de espera bem menor. O atendimento é ágil e com a qualidade de um serviço particular”

Dr. Rodrigo Visconti

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Um fato curioso do mercado é que, embora o foco dessas clínicas sejam as classes de menor poder aquisitivo, usuários de planos de saúde também aproveitam as vantagens oferecidas pelo segmento. Diferente dos convênios, nas clínicas os pacientes pagam pelo serviço que usam, o que gera um alto contraponto em relação ao custo cobrado pelos planos. Diante do atual cenário de crise, esse fato firma-se cada vez mais: cerca de 1,3 milhão de brasileiros deixaram de ter planos de assistência médica entre março de 2015 e março de 2016, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Atualmente, entre um terço e um quarto dos nossos pacientes possuem plano de saúde, mas nos procuram simplesmente porque não conseguem atendimento junto aos convênios que adquiriram”, revela. O Dr. Rodrigo Visconti, cardiologista fundador do serviço de Cardiologia que funciona como clínica popular no Hospital da Gamboa, no Rio de Janeiro, reitera a fala de Aranha: “A demora de até meses para marcar uma consulta ou exame, e outros empecilhos que os planos criam para os pacientes terem acesso aos serviços geram muita dificuldade. Em uma clínica popular, a pessoa consegue marcar na mesma semana, com um prazo de espera bem menor. O atendimento é ágil e com a qualidade de um serviço particular”, finaliza.

Atrativos também para os médicos Se o preço baixo atrai o paciente, os médicos também têm motivos para aderirem a esse tipo de negócio, tais como a estrutura e os procedimentos adotados no setor. “Tentamos simplificar ao máximo a experiência para o médico, oferecendo prontuário eletrônico, consultas com hora marcada – de forma que eles saibam seus horários de entrada e saída – e equipe de enfermagem à disposição para ajudar em exames e procedimentos. O médico recebe uma estrutura pronta para seu trabalho, não precisando arcar com os custos financeiros e de tempo para montar e gerir seu próprio consultório”, relata Aranha. Segundo o gestor, a remuneração também seduz por ser competitiva, uma vez que os médicos ganham, em média, mais do que ganhariam atendendo em ambulatórios de planos de saúde, por exemplo – e contando com melhores condições de trabalho.

Para o Dr. José Luiz Bonamigo, diretor da Associação Médica Brasileira (AMB), o setor dá aos médicos segurança e maior liberdade de atuação, além da qualidade. “É o que consagra esse mercado, porque se as clínicas não fossem boas, as pessoas não se consultariam lá”, defende. O bem-estar é outro fator de peso. “O médico sabe que trabalha em um bom ambiente, arrumado e limpo, gerando satisfação profissional e pessoal”, enfatiza. “Os médicos se sentem bem percebendo que estão fazendo a diferença na vida dessas pessoas”, complementa o Dr. Granato.

“Se as clínicas não fossem boas, as pessoas não se consultariam lá.

Quanto ao médico, ele sabe que trabalha em um bom ambiente, arrumado e limpo, gerando satisfação profissional e pessoal”

Dr. José Luiz Bonamigo

Desafios Assim como em qualquer negócio, desafios fazem parte da rotina. Embora o preço baixo já seja um atrativo e tanto para o paciente, os gestores de clínicas populares devem estar atentos a outros fatores. Um dos grandes desafios, na visão do Dr. Granato, é desconstruir o conceito de que “O que é barato não é bom”.

“Oferecemos espaços amplos, equipamentos de ponta e bom atendimento. A clínica é barata porque temos volume de atendimento”, ressalta.

Por sua vez, o Dr. Bruno Rossini acredita que, para alcançar uma estratégia lucrativa, é necessário ter uma gestão eficiente. “É preciso conseguir uma alta eficiência nos processos, sem que haja perda de tempo e de energia por parte da equipe. O uso de ferramentas tecnológicas pode ajudar”, indica. Para ele, os funcionários também precisam estar motivados e alinhados à missão da clínica, prestando bom atendimento, com pontualidade e cordialidade. “Todos têm que ser parceiros do empreendimento. A experiência do paciente durante todo o contato com a clínica deve ser pensada e constantemente melhorada”, conclui.

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