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Festejos Natalinos

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Referências

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Seguindo o costume português, os primeiros moradores de Petrolândia tinham como tradição no Natal a apresentação do pastoril, a montagem de lapinhas e a festa de rua. Com barracas de comes e bebes e jogos, o largo da rua do comércio era iluminado a lampião para receber o povo de todas as classes sociais. À meia noite, fogos de artifício anunciavam o nascimento do menino Jesus. Assim contava D. Afonsina Cavalcante, professora, nascida em 1896, falecida aos 106 anos.

Até a hora da missa, na “rua da frente”, como se costumava chamar a Av. D. Pedro II, o povo assistia as apresentações do pastoril encenado diante do presépio da casa dos seus organizadores.

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“Às oito horas, em casa do Sr. Silvino Delgado Filho, onde sua irmã D. Anna Delgado armara linda lapinha, teve lugar bonito pastoril assistido pela população local e em que tomaram parte as gentis senhoritas Lourdes, Alzira e Afonsina Menezes, Doralice, Belinha e Carminha Delgado, Prosperina Lima, Vitinha, Nina e Noemia Costa, Lourdes Cavalcante, Mariêta e Juvina Dantas, Maria do Socorro,

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Dourinha Costa, Arthemisa Silva e Clotildes Lisbôa” . Cantaram A Diana, Os Astros, A Matuta e o Estudante, A Camponesa e os Três Reis Magos, com muita graça e expressão, sendo muito aplaudidas. Em casa do Sr. Aurélio Aragão, D. Afonsina Cavalcante, armou também bonita lapinha, que foi bastante visitada. (Correio da Pedra, 03.01.1926).

A mesma nota publicada na sessão “DOS NOSSOS CORRESPONDENTES”, o Correio da Pedra, jornal fundado pelo empresário Delmiro Gouveia, onde Hildebrando de Menezes exercia a função de Diretor, continua detalhando os festejos natalinos ocorridos na cidade de Jatobá, em sua edição de 03.01.1926:

“Transcorreram com regular animação os festejos de Natal nesta cidade. Grande multidão encheu o largo da Rua do Comércio, em grandes manifestações de alegria, jogando Maior ponto, Donzela e outros jogos populares. (...)” ‘‘À meia noite realizou-se a missa, que logrou avultada concorrência. As diversões populares prosseguiram até o amanhecer do dia seguinte,

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sem que houvesse a mínima alteração da ordem”

Já no ano de 1934, provavelmente em função da gravíssima seca que assolava o sertão e suas consequências para a economia local, a cidade não mostrou a mesma animação, conforme registrou o jornal petrolandense CORREIO DO SERTÃO, em sua edição de 30.12.1934, na sessão de notícias locais:

Transcorreu o dia de natal em Jatobá, sem o brilho e a animação de outros anos. Às duas horas do dia seguinte houve missa muito concorrida celebrada pelo reverendíssimo cônego Frederico de Oliveira, vigário da Freguesia. O ajuntamento de pessoas no pátio da feira foi reduzido, os jogos permitidos muito fracos e o comércio fez pouco negócio.

Os festejos de rua, com jogos, dramatizações e danças, no início, organizados principalmente pelas famílias, posteriormente passa a acontecer no “Rinque” (largo cimentado, onde mais tarde seria construída a Praça Antônio Correia Gomes da Cruz, mais conhecida como Pracinha Nova). Enfeitado com palhas de coqueiro e bandeirolas fechava-se o espaço para a dança. Ao lado, os leilões e o pastoril

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aconteciam em palanque armado na esquina do Ponto Ideal (casa comercial pertencente à família de Dona Celestina). Durante o dia circulava pela cidade a banda de pífano, que passava tocando pelo comércio a fim de ganhar uns trocados “de agrado”. Sentados na calçada da padaria de João Rodrigues, num instante de descanso, invariavelmente enfrentava a tortura da saliva a encher a boca provocada pela meninada que, de maldade, vinha chupar tamarindo na frente do flautista. Do Alto da Raposa (comunidade da periferia de Petrolândia), vinham os brincantes do reisado, que no Dia de Reis visitavam as casas de algumas pessoas cantando loas ao dono da casa, de agrado ou desagrado, conforme eram recebidos. No Núcleo Colonial de Barreiras os seus administradores passaram a patrocinar apresentações de Pastoril no largo da Igreja do Sagrado Coração de Jesus em noites de Natal. O povo se divertia em arrematar galinhas e perus assados nos leilões com a finalidade de arrecadar fundos para a igreja, que não chegou a ser concluída, mas resiste até hoje em meio ao lago da barragem. Nos anos 70, o Coral Vozes do São Francisco encenava o nascimento de Jesus no palco do Grêmio Lítero.

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Na mesma época, o Pastoril passou a ser organizado, com muita dificuldade, por iniciativa de mulheres das classes mais populares e foi perdendo o seu caráter beneficente. Dona Carminha, Dona Marinete, Euza de Ernesto, Dona Marieta e outras tantas, em épocas diferentes, foram se sucedendo na montagem de grupos de pastoril, praticamente sem ajuda oficial Com o tempo, a festa do dia de Natal, sem apoio do poder público, passou a ser celebrada basicamente na igreja. A festa de rua mais marcante vinculada a Igreja passou a ser a do Padroeiro. Iniciativas, como a de Dona Marinete, que, apesar de não ser uma pessoa de posses, chegava a ornamentar as ruas da nova cidade no Natal por conta própria, tornou-se rara. Assim, ela com o pastoril e Lourdinha Menezes com a lapinha armada no terraço de sua casa, foram algumas das poucas pessoas a manterem a tradição na nova cidade, e assim o fizeram até o fim de suas vidas. Até 2013 o pastoril de Dona Marizete resistiu apresentando-se nas escolas. Outra iniciativa do tipo só veio surgir cinco anos depois. Da Lapinha resta a de Dona Anália, armada no terraço de sua residência à vista de quem passa.

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