3 minute read

Corrida do Umbu

Next Article
Banda de Pífano

Banda de Pífano

Rito próprio do Povo Pankararu instalado no Brejo dos Padres, repetido anualmente entre os meses de janeiro a março. Tem quatro semanas de duração e envolve cerimônias reservadas e públicas, com a participação de visitantes. O ritual é organizado em etapas ordenadas compostas por músicas, cantorias, danças, rituais, oferta de comidas, bebidas e fumo. Sendo que a força central está nas máscaras dos rituais denominadas praiás.

Praiás. Foto: Daniel Filho.

Advertisement

113

Cada praiá veste um encantado, figura central da Corrida do Umbu, considerado pelos Pankararus como uma entidade sobre humana com poderes de cura e aconselhamento. São organizados segundo uma hierarquia sob o comando do Mestre Guia. Os “Zeladores de Praiás” ou “Donos de Praiás” recebem dos encantados, através de sonho, seu nome, de que forma a sua vestimenta deve ser decorada, passos rituais a serem dançados no terreiro e seu toante (música de cada encantado) e têm como obrigação confeccionar as vestimentas e oferecer fumo regularmente aos encantados. Nos terreiros, os donos de praiás repetem suas coreografias exaustivamente. A composição das filas de praiás durante a movimentação no terreiro não é aleatória. Há uma hierarquia nessa distribuição, sendo o primeiro da fila, em geral, o encantado “dono do terreiro” e o comandante do rito; e o último, sempre um dos encantados de mais “força”, de preferência Cinta Vermelha, identificação usada nos praiás do “Tronco Velho”, responsável pela proteção do grupo de possíveis agressões de entidades sobre-humanas. A Corrida tem início com o flechamento do umbu. O primeiro umbu encontrado é trazido para o Pajé, em seguida envolto em um pequeno saco de caroá que pendurado numa forquilha vai ser flechado pelos encantados. A quantidade de flechas atingindo

114

o alvo vai dizer se o ano será de fartura ou de dificuldades. Durante os quatro finais de semana da Corrida do Umbu, no sábado á noite, acontece o ritual da Noite dos Passos onde, os donos de praiás e as dançadeiras dançam uma sequência de cantos relacionados, principalmente, a animais. No domingo, algumas moças, incluindo as dançadeiras da Noite dos Passos, conhecida como “botadoras de cesto” levam cestos com frutas, refrigerantes e doces que serão oferecidos aos encantados em retribuição às promessas atendidas.

As “botadoras de cesto” convidam pares do sexo masculino, responsáveis por providenciar os suprimentos da cesta, para as acompanharem na dança ritual.

Botadeiras de cestos. Foto: Daniel Filho.

115

Um cortejo com todos os participantes, conduzido pelas “moças” que estão oferecendo os cestos aos encantados, leva até o terreiro onde acontecerá a Queima do Cansanção – local diferente de onde ocorreu a Noite dos Passos –, momento em que homens e mulheres, dançando em círculo, tocam-se com galhos de cansanção.

Queima do Cansação. Foto: Daniel Filho

Os donos de praiás não se queimam com a urtiga. Esse é um sacrifício e penitência dos homens que é oferecido aos encantados, em troca, ficam encarregados de protegê-los dos seres sobrehumanos que provocam a doença e o sofrimento e de garantir um mundo de fartura, saúde e bem-estar. A Queima do Cansanção é também, o momento de pagamento pelo atendimento das promessas, em geral, as referentes às curas de doenças.

Ao final do ritual as “moças” e os donos de praiás oferecem comida e garapa às entidades e humanos. Nesse momento os donos de praiás se

116

recolhem para a refeição em local privado chamado poró.

A Corrida do Umbu é finalizada pela entrega da tradição e da penitência ao Mestre Guia em ritual reservado, na mata, privativo dos donos de praiás.

Ao final de cada fase da Corrida do Umbu é dançado o Toré, como rito de passagem do sagrado para o profano e de comunhão e celebração entre todos os presentes, índios e não índios.

117

This article is from: