



Liana Lima Rocha
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Liana Lima Rocha
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Gerente de Criação de Projetos
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Gestores Editoriais
Marcos Tardin
Deglaucy Jorge Teixeira
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Gerente Técnico
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Coordenadora de Projetos e Relacionamento
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Coordenadora de Operações
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Analista de Contas
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Secretária Escolar
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Desenvolvedora Front-End
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Assistentes Educacionais
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Designers
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Kamilla Damasceno
Analista de Mídias Sociais
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Concepção e Coordenação Geral
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Coordenação de Conteúdo
Daiany França Saldanha
Ilustração
Carlus Campos
Edição de Arte
Andrea Araujo
Designer
Mariana Araujo
Analista de Operações
Alexandra Carvalho
Analista de Projetos
Elizabete Dantas


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
R672p
2025-5389
Rocha, Liana Lima
O papel da escola e da educação física na inclusão e permanência de meninas e mulheres no esporte [recurso eletrônico] / Liana Lima Rocha; ilustrado por Carlus Campos. –2. ed. - Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2025. ePUB.
ISBN: 978-65-5383-199-5 (ePUB)
1. Esporte. 2. Educação. 3. Meninas. 4. Mulheres. 5. Inclusão. I. Campos, Carlus. II. Título.
CDD 796
CDU 796
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
1. Esporte 796
2. Esporte 796


Você já refletiu sobre o papel da escola e da Educação Física na inclusão de meninas e mulheres no esporte? E como esses espaços podem contribuir para a permanência delas nas práticas esportivas ao longo da vida?
Neste módulo, vamos explorar questões como:
5 Qual é a função social e pedagógica da escola no acesso ao esporte?
5 Como a Educação Física pode promover a equidade de gênero?
5 Noções de“jogos com fronteiras” e como eles afetam a participação de meninas?
5 Como a escola pode ser um espaço de negociação e transformação social?
5 Quais estratégias podem ampliar a permanência de meninas e mulheres no esporte?
5 Como enfrentar estereótipos e desigualdades no ambiente escolar?
Ao longo da leitura, você vai compreender como práticas escolares e pedagógicas podem contribuir para a construção de ambientes mais inclusivos e equitativos, fortalecendo a presença feminina no esporte desde a infância até a vida adulta.


Ao final deste módulo, você será capaz de:
5 Reconhecer a escola como espaço estratégico para promover a participação e permanência de meninas e mulheres na prática esportiva e nas atividades físicas;
5 Compreender como a Educação Física pode atuar de forma crítica e inclusiva, enfrentando barreiras de gênero, estereótipos e práticas discriminatórias;
5 Conhecer o conceito de “jogos com fronteiras” e refletir sobre como eles podem expressar ou reforçar desigualdades;
5 Visualizar estratégias para ampliar a permanência feminina no esporte;
5 Fortalecer a percepção sobre a importância de transformar o ambiente escolar em um território seguro, motivador e comprometido com a equidade e a diversidade.


Para entender a função social e pedagógica da escola no acesso ao esporte, é preciso lembrar primeiro o que é a educação e qual o sentido da escola. Educar é um processo que acontece durante toda a vida, em diferentes lugares: na família, no trabalho, nas relações sociais, em projetos comunitários e, claro, dentro da escola.
A escola é o espaço onde temos acesso aos conhecimentos culturais e científicos acumulados ao longo da história da humanidade. Nela, aprendemos sobre o mundo e nos preparamos para a vida em sociedade.
Metaforicamente a escola pode ser compreendida como espaço repleto de portas e janelas, onde cada porta ou janela aberta representa um acesso a diferentes conhecimentos sobre o mundo, aos quais os estudantes vão se apropriando ao longo do tempo. vivos” podem ser definidos como aqueles que não têm programa genético, nem metabolismo, não realizam reprodução autônoma e cujas mudanças só acontecem por ação de fatores externos, observe:

Cada porta e janela corresponde aos componentes curriculares, que são áreas de estudo que fazem parte do currículo escolar. Eles organizam os conhecimentos que os estudantes devem aprender.
Tudo aquilo que o estudante precisa aprender chamamos de direitos de aprendizagem. São conhecimentos e valores fundamentais para o desenvolvimento integral da pessoa e para sua participação plena na sociedade, sendo, portanto, um direito do estudante e um dever da escola proporcionar essas aprendizagens.
Um desses componentes curriculares é a Educação Física responsável por tematizar as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, reconhecidas como um patrimônio da humanidade sistematizado sob a forma de jogos, esportes, ginásticas, lutas, danças, entre outros (BRASIL,2018).
Na BNCC a Educação Física é sistematizada por 6 unidades temáticas:
5 Jogos e Brincadeiras;
5 Ginástica;
5 Esportes;
5 Lutas;
5 Danças;
5 Práticas Corporais de Aventura.
Essa foi a linha adotada pela Base Nacional Comum Curricular para sistematização dos conteúdos/objetos de estudo pertencentes a essa área de conhecimento e que são direitos de aprendizagem para serem acessados pelos estudantes ao longo da Educação Básica, nas aulas de Educação Física (BRASIL, 2018).
Logo, é papel da Educação Física Escolar tematizar as práticas corporais e, consequentemente, os esportes, que constituem o tema central deste módulo. Observe que a escola, por meio da disciplina de Educação Física, tem um papel fundamental no direito de aprendizagem das crianças e jovens sobre o esporte, garantindo que todos tenham acesso a esse saber, independentemente do gênero, origem étnico-racial, classe social, etc.
Imagine uma escola sem a disciplina de Educação Física, sem o professor ou a professora de Educação Física, será que você aprenderia a jogar vôlei ou outro esporte? Dependendo da época em que você vivenciou sua infância e do seu domicílio talvez você tenha brincado com outras crianças e adolescentes na rua ou no condomínio, e tenha aprendido um pouco algum esporte, principalmente sendo menino. Ou pode ser que alguém da sua família tenha te ensinado algum esporte, mais uma vez, principalmente sendo menino.
Apesar de existirem possibilidades de aprender esportes fora da escola, as chances de acesso são bem menores quando comparadas às oportunidades oferecidas no ambiente escolar, através da Educação Física. Além de atingir um público maior, a variedade de esportes que os(as) alunos(as) podem aprender ampliam-se significativamente

Quer conhecer todas as possibilidades de práticas corporais/esportes que a Educação Física pode trabalhar na escola? Acesse a BNCC e confira como os conteúdos da Educação
Física são diversificados e organizados: BNCC Educação Infantil e Ensino Fundamental
Nesse sentido, a escola, por meio da disciplina de Educação Física cumpre uma função social importantíssima que é democratizar o acesso às práticas esportivas. Por isso que a Educação Física na escola não pode ser do tipo “rola bola”, ou apenas carimba para meninas e futebol para meninos, ou ensinar somente o “quarteto-fantástico”.


Nesse momento, apresento a você como a Educação Física tem “jogado no time da equidade de gênero”, ou seja, contribuído para a sua promoção. Mas antes precisamos revisitar seu passado, compreendendo suas transformaçõescomo ela passou de uma área excludente, que reproduzia desigualdades, a um meio de promoção da justiça social. Afinal, essa concepção mais inclusiva nem sempre foi regra nesse “jogo”.
Aqui no Brasil, o início da Educação Física se deu por volta da segunda metade do século XIX, fundamentada pelo pensamento higienista, pela corrente positivista e a euge-
nia. Predominava assim uma visão biologizada, médica, militarista, e tecnicista, pautada no discurso da performance, da aptidão física e no treinamento voltado para a formação de um corpo forte e sadio, produzindo padrões e exclusões.
Essa concepção enfatizando a dimensão biológica, contribuíram para a segmentação da Educação Física em categorias masculinas e femininas, reforçando as desigualdades de gênero, sendo implementada com objetivos e atividades diferentes para meninos e meninas.
Os meninos tinham acesso ao ensino de esportes, exercícios de força e atividades competitivas, sendo preparados para o desempenho físico, a disciplina e, em alguns contextos, até para a defesa nacional. Já as meninas aprendiam exercícios leves, ginástica suave e cuidados posturais, com foco na saúde, na estética e em habilidades domésticas, refletindo os papéis de gênero da época e preparando-as para a maternidade.
Essa diferença de acessos aos saberes limitaram as experiências físicas das meninas.
recomenda-se a leitura do livro “Educação Física Escolar: Relações de Gênero em Jogo”, publicado em 2015. Na obra, Helena Altmann analisa como as relações de gênero influenciam as práticas corporais, especialmente o esporte, no contexto escolar. Ela destaca como as aulas de educação física podem ser espaços de transformação, onde meninas e meninos negociam e redefinem seus corpos e papéis sociais.
A disciplina responsável por lidar com o corpo na escola nada mais fazia do que preparar os sujeitos e seus corpos para seguir seus “distintos destinos”. Ou seja, era mais uma “peça de uma engrenagem social”, que através de vários processos pedagógicos, dentre eles, a escola (e, reitero, as aulas de Educação Física), ensinava meninos e meninas a se constituírem como homens e mulheres de acordo com representações hegemônicas de corpo, gênero e sexualidade, dentre outras categorias (AVELINO, 2007, p. 30).
Ao longo de quase todo o século XX a Educação Física foi vivenciada com ênfase nessas visões e padrões, impregnada de estereótipos, preconceitos e exclusões. Essas tendências se mantiveram quase que hegemônicas até a década de 1980 quando surge na Educação Física um grupo de estudiosos que impulsionam críticas ao modelo tradicional, biologicista e tecnicista, buscando ressignificar a Educação Física Escolar.
Conferindo um discurso amparado pela Ciências Humanas e Sociais, ultrapassando as explicações naturalizantes do movimento humano, compreendendo a Educação Física por uma perspectiva cultural. Superando a concepção de movimento e corpo humano reduzida a um fenômeno meramente físico.
Presenciamos assim um considerável números de estudos, produções, possibilidades e ações substituindo práticas preconceituosas e excludentes, por experiências e compreensões inclusivas e mais justas, abrindo espaço para uma Educação Física pautada na justiça social.
Perceba que é nesse contexto que estudos e possibilidades foram e continuam sendo produzidos. Identificando, refletindo e apresentando soluções sobre como podemos extinguir essa Educação Física promotora de desigualdades com relação às práticas corporais entre homens e mulheres, e dando lugar a uma Educação Física voltada para a promoção da equidade de gênero, em que todos e todas têm acessos e incentivos aos mesmos saberes e experiências.
Note que, hoje, já se tem a compreensão de que um dos papéis da Educação Física escolar é problematizar as práticas corporais, superando estereótipos, preconceitos e desigualdades com relação ao gênero, compreendendo que meninas podem jogar futebol, andar de skate e que meninos podem dançar e praticar ginástica.

Atualmente existem pesquisas, projetos e experiências que reconhecem o papel da Educação Física na promoção da equidade de gênero. Como exemplo, posso citar minha própria tese de doutorado, intitulada “Respeita as mina: o ensino do skate na Educação Física Escolar”, que teve como um dos objetivos a elaboração de uma proposta pedagógica de ensino e aprendizagem do skate, problematizando as questões de gênero, construir estratégias voltadas ao respeito e ao empoderamento das mulheres.
acesse a tese https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/74455
Observe, portanto, que antigamente, a Educação Física tinha uma visão limitada e conservadora. Meninos e meninas não tinham acesso aos mesmos aprendizados e vivências corporais, o que reforçava a separação de gênero. Essa forma de organização refletia as ideias excludentes da própria sociedade da época.
Hoje sabemos que muitas dessas desigualdades, infelizmente, ainda existem, mas não são as únicas perspectivas possíveis. Uma vez que temos um modelo de Educação Física inclusivo, que além de possibilitar que meninos e meninas estejam juntos na mesma aula e tenham acesso aos mesmos saberes, ajuda também a desconstruir preconceitos, promove o respeito às diferenças e incentiva a participação de todos e todas, por meio de uma prática coeducativa.


Avançamos bastante em várias questões sociais, porém ainda há muito a conquistar, pois mesmo no século XXI, ainda encontramos situações que mantêm e reforçam essa desigualdade de gênero na Educação Física, assim como em outros contextos sociais.
Os padrões de gênero estabelecidos na sociedade criam “fronteiras”, existentes em diversos contextos sociais, são linhas que demarcam limites entre meninos e meninas. A fronteira presente nos jogos, configura a ideia de que existem jogos frenéticos ou efervescentes para meninos e comedidos, discretos e assim menos arrisca -
dos para as meninas, separando e limitando o vivenciar o jogo por conta do gênero.

O conceito de “jogos com fronteiras” refere-se a demarcações sociais instituídas e sobre os jogos e que acabam por delimitar espaços, papéis e comportamentos que são considerados adequados para meninos e meninas na relação e na vivência dessas práticas. Por exemplo, quando certas modalidades são vistas como “naturais” para meninos por que exigem força, coragem e tem uma lógica mais competitiva, enquanto que para as meninas acontece o contrário, a elas são direcionadas vivências mais delicadas e cooperativas. Nos defrontamos com o que chamamos de “jogos com fronteiras”.
Perceba que essa separação restringe as possibilidades de vivência corporal de acordo com o gênero, perpetuando a seguinte ideia: meninos são corajosos e meninas devem ser protegidas, impondo limites em suas experiências, seja dentro do jogo ou fora dele, determinando modelos de socialização humana, como meninos jogam futebol que é um esporte de contato, de invasão, onde existe uma disputa, e meninas jogam vôlei, um esporte que não tem contato, criado inicialmente para ser praticado por idosos.
Dessa forma, a prática esportiva é vivenciada como se existissem fronteiras que demarcam os lados, do que é o jogo de menino e daquilo que é considerado o jogo de menina. Mas antes de compreender de forma mais aprofundada essa situação, vamos trazer algumas questões:
5 Será que o problema está no jogo?
5 O que pode gerar exclusões e desigualdades dentro dos jogos?
5 Por que precisamos ressignificar certas ideias sobre gênero no esporte?
5 A afirmação “meninas não sabem jogar” é verdadeira ou um preconceito?
5Que injustiças esse tipo de pensamento pode causar? O jogo em si não é o problema, o que gera exclusões e desigualdades são os sentidos e significados sobre ele em relação às questões de gênero, portanto precisamos ressignificar alguns conceitos existentes, como a ideia de que “meninas não sabem jogar”, refletindo um grande equívoco e também uma grave injustiça.
Veja que, desde cedo, muitos meninos recebem bolas e muitas meninas, bonecas. Esse costume orienta os pri-
Meninas recebem menos incentivo em diversas situações, como por exemplo, matérias sobre atletas mulheres são menos frequentes do que aquelas relacionadas a atletas homens. No campo profissional, elas têm salários mais baixos e muita dificuldade em conseguir patrocínio. Além disso, seus corpos são mais valorizados do que suas habilidades no jogo.
Assista ao vídeo “Precisamos falar sobre as mulheres no esporte | Parte 1”, da skatista Karen Jonz 4x campeã mundial de vertical feminino e conquistou o primeiro ouro brasileiro feminino nos X Games. Nele, a atleta compartilha suas experiências e reflexões sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no universo esportivo, como o machismo, a desigualdade de oportunidades e a luta por reconhecimento. https://www.youtube.com/watch?v=txyuZCLGRbM
Dentro e fora do jogo, na maioria dos casos, meninas, garotas e mulheres ainda enfrentam dificuldades para ultrapassar fronteiras que as impedem não apenas de jogar, mas também de viver plenamente, sem limitações e opressões. meiros ao jogo e as segundas ao cuidado — lógica que, por muito tempo, foi tratada como regra e que, em parte, ainda persiste.


Nascemos e nosso primeiro contato com o mundo acontece através do convívio com a nossa família, nossa formação inicial enquanto pessoas vai acontecendo por essa relação. À medida que avançamos na idade e vamos conquistando outros espaços, as nossas experiências formativas vão se ampliando por meio de outros contextos. Um desses lugares é a escola.
Parte daquilo que constitui a base formativa das pessoas é estabelecida pela escola. Inclusive esse período escolar é conhecido como educação básica. Grande parte da nossa visão de mundo se forma na escola e quem nos tornamos é resultado também dessa vivência. 4
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/1996) estabelece, nos artigos 2º, 4º e 6º, que a escolarização é obrigatória dos 4 aos 17 anos. Isso significa que o Estado deve garantir o acesso à educação básica obrigatória e gratuita para todas e todos nesse período. A família tem o dever de assegurar a matrícula dos filhos. Caso a criança ou adolescente não seja matriculado, podem ocorrer implicações legais e sociais, incluindo processos por omissão de cuidado.
Entenda que, por sua importância, a escola torna-se um espaço de disputas, pois o tipo de pessoa que ajudará a moldar a sociedade é, em parte, formado por ela. Dessa forma, a escola pode reproduzir desigualdades sociais, reforçando privilégios de classe, gênero e raça. Ao mesmo tempo, a escola pode ser também um espaço de resistência e transformação social, quando promove práticas pedagógicas críticas (APPLE, 2001).

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
Nelson Mandela
Perceba, assim, dois modelos de escola. O primeiro é conservador, que conforma as pessoas a padrões tradicionais, é composta por visões excludentes, não respeita as diferenças, reproduz estereótipos, preconceitos e opressões. Esse modelo não luta por justiça social, ao contrário seu objetivo é a manutenção de privilégios de classe social, gênero, raça, entre outros.
Apresenta, portanto, um ensino bancário centrado no professor, memorização, conformismo e reprodução das relações de poder e das desigualdades sociais. É esse modelo de escola que, por exemplo, é favorável à estrutura normativa de uma sociedade machista e patriarcal, em que homens detêm o poder e o controle sobre mulheres, tanto ao nível social quanto individual, com base em normas de gênero que favorecem os homens e desfavorecem as mulheres.
Já a outra escola é inclusiva, estabelecida por preceitos da justiça social. Uma educação emancipadora e libertadora, que respeita as pessoas e busca a transformação social. Mais do que uma educação que apenas transfere conhecimento, seu objetivo é ajudar as pessoas a entender e transformar a realidade.
Esse modelo de escola tem como finalidade o estabelecimento de uma sociedade democrática, justa e libertadora, baseada em princípios de igualdade, equidade, participação, solidariedade e fraternidade, que valoriza a cooperação e o respeito mútuo, formando pessoas que reconheçam a dignidade humana e os direitos do outro.


5.1 Primeiro, a sociedade e principalmente aqueles que trabalham diretamente com o esporte precisam compreendê-lo sobre uma perspectiva ampliada, entendendo não apenas sob um ponto de vista biológico, mas percebendo a influência que o contexto cultural tem sobre a relação das pessoas com o esporte. Ninguém nasce sabendo jogar futebol ou nasce sabendo andar de skate, não deve ser o sexo biológico e nem o gênero que vai definir o esporte que cada pessoa vai praticar.
O envolvimento com os esportes ocorre muito mais pelo contexto cultural, pelo meio que a pessoa está inseri-
da e pelas vivências que ela acessa ao longo da vida. Você já parou para pensar porque a maioria das meninas tem um nível de habilidade inferior ao dos meninos? Podemos observar que, em geral, as meninas apresentam um nível de habilidade no futebol considerado inferior ao dos meninos. No entanto, isso não acontece por questões físicas ou biológicas. A diferença está relacionada, principalmente, à menor intensidade e frequência com que elas têm oportunidade de brincar e participar de jogos com a bola nos pés.
Não podemos esquecer que aqui no Brasil entre as décadas de 1940 e 1970, as mulheres foram oficialmente impedidas de praticar futebol e outras modalidades consideradas “incompatíveis com a sua natureza”. A justificativa era de que o esporte era masculino, violento e poderia prejudicar a feminilidade, a saúde reprodutiva e o papel social esperado delas (ALTMANN, 2015).
assista o documentário “Mulheres no Esporte” (TV Justiça, 2023) – traça a trajetória da proibição das mulheres nos esportes durante a Era Vargas e até a ditadura, resgatando os desafios e a superação. https://www.youtube.com/watch?v=YGjmiGFnrMk
Por isso, um dos passos para ampliar a permanência de meninas e mulheres no esporte é compreendê-lo por uma perspectiva ampliada, a partir da dimensão cultural e não biológica.
5.2 Outra estratégia importante é a oferta de uma Educação Física Escolar efetivamente pedagógica, alinhada com os reais objetivos da escola, que é democratizar o saber, ser um espaço-tempo focado em aprender, compreender os direitos de aprendizagens e não ser uma aula de exibição dos mais habilidosos, que estão ali para performar.
Compreenda que a aula de Educação Física não é um espetáculo, ela não busca formar atletas, seu enfoque deve ser educacional. É muito comum que a aprendizagem dos movimentos esportivos ocorram em práticas informais e em outros espaços como: parques, ruas e escolas de esportes. Essas aprendizagens quando levadas para as aulas de Educação Física em alguns casos, se tornam um espaço de demonstração de habilidades previamente adquiridas e não de construção de novas aprendizagens.
Dessa forma, perceba que a aula perde seu enfoque pedagógico que é garantir o acesso ao conhecimento específico da área, tornando-se um palco para aqueles que têm possibilidade de participação de aprendizagens do esporte fora da escola, exibam suas habilidades já adquiridas (ALTMANN, 2015).
Portanto, a Educação Física escolar não pode perder de vista sua função pedagógica, sobretudo porque ela já passou por inúmeras crises de identidade. Isso ocorre, pois a própria Educação Física, em um âmbito geral, apresenta diversas finalidades, que variam conforme o contexto em que se insere. Ao longo da história, por exemplo, ela pode assumir um viés militarista, competitivo ou educativo.
Assegurar a função pedagógica da Educação Física Escolar significa promover a compreensão, por parte dos(as)
Trata-se de garantir que o ensino privilegie os fundamentos básicos, aliado a uma didática capaz de implementar estratégias em níveis adequados à turma, respeitando e valorizando as diferenças. Compreender essa função pedagógica é também implementar os conhecimentos/objetos de estudo a partir da dimensão dos conteúdos, que são: conceitual, atitudinal e procedimental.
Estabelecendo uma Educação Física que vai além da simples execução de movimentos, incorporando aspectos sociais, afetivos e cognitivos no processo de ensino-aprendizagem. Ensinando de forma inclusiva e acessível a todos, independentemente de habilidades ou condições sociais, e que o ensino do esporte deve ir além da técnica, promovendo valores como respeito, cooperação e cidadania.
5.3 Outro caminho que pode ser adotado como estratégia é problematizar o esporte, seja na aula de Educação Física ou em qualquer outro contexto, precisamos refletir criticamente os seus significados, superando, preconceitos e estereótipos.
Essa estratégia dialoga diretamente com o primeiro ponto destacado neste tópico, referente à ampliação da perspectiva sobre o esporte. Problematizar significa analisar, questionar ou refletir criticamente sobre algo em vez de aceitar como certo ou natural. Em outras palavras, é olhar para uma situação, ideia ou prática e questionar, refletir de forma aprofundada, indo a fundo nas questões, supeprofessores(as), de que as atividades devem ser inclusivas e não pautadas em técnicas de treinamento profissional, as quais tendem a limitar a aprendizagem.
rando ideias rasas, conceitos superficiais, ou seja o senso comum. É o que Paulo Freire (1996) descreve como a superação da curiosidade ingênua em direção a uma curiosidade epistemológica.
Geralmente, ao problematizar o esporte devemos fazer questionamentos como: “Por que pensamos que meninas não jogam futebol?” “Que preconceitos ou estereótipos existem sobre isso?” Depois das questões vem a busca por respostas, mas não é qualquer resposta, é aquela embasada, principalmente em estudos científicos. Ao fazer esse exercício de problematizar o esporte podemos desconstruir ideias preconcebidas, encontrar soluções e promover mudanças mais justas e inclusivas.
É importante problematizar também o machismo estrutural, para compreender que as desigualdades entre homens e mulheres estão incorporadas nas regras, leis, instituições, cultura e práticas sociais. Criando barreiras para a participação plena das mulheres na política, no trabalho, na educação, e em outros espaços.
dê uma olhada no artigo “Machismo: você entende mesmo o que significa?”, publicado pelo Politize!. Ele apresenta machismo como uma forma de opressão estrutural, explicando como isso cria uma relação desigual de poder entre homens e mulheres. https://www.politize.com.br/o-que-e-machismo/
Por isso, é fundamental criar momentos de reflexão e debate, possibilitando que os/as estudantes analisem criticamente as práticas esportivas, questionem desigualdades e construam novas formas de compreender e vivenciar o esporte. Nesse sentido, vários questionamentos podem ser feitos, como, por exemplo:
5 Por que as mulheres têm mais dificuldade de conseguir patrocínio em comparação aos homens?
5 Por que as premiações e os salários são desiguais entre homens e mulheres, mesmo quando disputam a mesma modalidade?
5 Por que os uniformes femininos costumam ser mais justos e curtos, enquanto os masculinos são mais largos e longos?
5Por que os jogos e competições femininas recebem menos cobertura midiática e menor transmissão televisiva?
5 Por que há menos oportunidades profissionais para treinadoras, árbitras e repórteres mulheres em cargos de destaque no esporte?
5.4 Outra forma de estratégia é por meio do resgate de fatos históricos para explicar situações de desigualdade. Ao evidenciar os fatos históricos da exclusão das mulheres nos esportes, você mostra que a baixa participação não é natural, mas resultado de preconceitos e desigualdades. Note que esse resgate histórico favorece a compreensão sobre sua baixa participação nesse campo e, ao mesmo tempo, reforça a necessidade de ações que promovam seu incentivo e valorização.
Dessa forma, nunca é o bastante resgatar esses fatos, seja nas aulas de Educação Física Escolar, ou em progra-
mas de televisão, vídeos no YouTube e nas redes sociais. Abaixo listamos alguns fatos históricos marcantes que evidenciam como as mulheres foram excluídas e oprimidas no acesso ao esporte no Brasil e no mundo:
5 Jogos Olímpicos da Grécia Antiga – as mulheres eram proibidas de participar, tanto como atletas quanto como espectadoras (salvo em casos muito específicos, como sacerdotisas).
5 Jogos Olímpicos modernos (1896) – na primeira edição organizada por Pierre de Coubertin, as mulheres não puderam competir, sob a justificativa de que o esporte “não era adequado ao corpo feminino”.
5 Atletismo e futebol feminino – durante décadas, várias modalidades olímpicas foram vetadas às mulheres. Somente em 1984, por exemplo, a maratona feminina foi incluída nos Jogos Olímpicos.
5 Legislação brasileira de 1941 não permitia que mulheres praticassem esportes “incompatíveis com sua natureza”. Em 1965 outra lei proibia as mulheres de praticar lutas, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo aquático, rugby, halterofilismo. Essas leis vigoraram até 1979.
5.5 É fundamental elaborar e implementar ações e projetos que garantem às meninas o acesso aos espaços destinados às práticas esportivas. Infelizmente ainda é comum percebermos nos dia a dia das escolas uma intensa monopolização desses lugares, a quadra no recreio na maioria das vezes é dominada pelos meninos e as meninas são excluídas ou se sentem acuadas. Essa situação é percebida também fora da escola, nas quadras
das praças, nas areninhas, nos campinhos, nas pistas de skate e até no mar com os esportes aquáticos.
Portanto, construir essas ações e projetos é fundamental. No contexto escolar, ao perceber que os meninos estão dominando a quadra, é importante articular-se com a comunidade escolar para desenvolver estratégias que assegurem às meninas o direito de também usufruir desse espaço.
A seguir, apresento um estudo de caso baseado em minha experiência: em uma escola em que lecionava e que observei que eram apenas os meninos que usavam a quadra.
Contexto: Na escola em que lecionava, observei que a quadra era quase sempre ocupada por meninos, e as meninas participavam pouco das atividades esportivas.
Desafio: Garantir às meninas o direito de acessar e utilizar a quadra, superando barreiras culturais e estereótipos de gênero
Ação: Criação do projeto “A quadra também é delas”, incentivando a participação das meninas no esporte e oferecendo um espaço de acolhimento e apoio entre elas.
Resultados: O projeto aumentou a participação das meninas nas atividades esportivas e fortaleceu vínculos de apoio e confiança entre elas, mostrando a importância de ações pedagógicas intencionais para a igualdade de gênero.
Esse tipo de iniciativa não acontece apenas dentro das escolas. Em São Paulo, por exemplo, mulheres ocuparam quadras públicas e criaram espaços de prática do basquete voltados para elas, fortalecendo a presença feminina no esporte e incentivando a participação coletiva. Essa mobilização foi destaque na mídia especializada (Dibradoras, 2018).https://dibradoras. com.br/2018/08/09/elas-ocuparam-as-quadras-de-sp-e-levaram-o-basquete-para-muitas-mulheres/
Um projeto como esse pode ser implementado tanto na escola quanto em outros espaços que são direitos de todos. Para que isso aconteça, é necessário mobilização e fortalecimento das mulheres, de modo que unidas possam se articular pela garantia do acesso aos espaços esportivos. Os homens também têm um papel importante nesse processo: apoiar o movimento, respeitar e reconhecer esse direito. Além de se conscientizarem sobre as barreiras históricas enfrentadas pelas mulheres, deixando de reforçar práticas que as desestimulam ou excluem, sendo também engajados nessas ações.
Além de garantir o direito ao uso dos espaços, essas ações e projetos também podem se configurar como oportunidades de ensino e aprendizagem esportiva para meninas e mulheres, sobretudo em modalidades que historicamente lhes foram negadas ou que carecem de incentivo e apoio para sua prática.
As estratégias aqui apresentadas não são rígidas ou isoladas; pelo contrário, dialogam e se complementam. Um exemplo disso é a proposta de implementar o ensino do esporte a partir de uma abordagem coeducativa (6), trata-se de uma ação pedagógica que defende a educação conjunta de meninos e meninas, reconhecendo que não basta simplesmente colocar alunos e alunas na mesma sala, formando turmas mistas. É necessário implementar práticas educativas que problematizam as desigualdades de gênero e promovam igualdade, respeito e inclusão. Para isso, a abordagem coeducativa precisa ser incorporada às experiências de aprendizagem daqueles que atuam no ensino dos esportes, como nos cursos de formação inicial em Educação Física, e também na formação continuada, especialmente para profissionais que receberam uma formação inicial baseada em um ensino conservador do esporte.
DIMENSÃO
CULTURAL DO ESPORTE
EDUCAÇÃO FÍSICA
PEDAGÓGICA
Compreender o esporte sob uma perspectiva ampliada, não apenas pela visão biológica, mas refletindo a partir da cultura.
Assegurar a função pedagógica da Educação Física Escolar, implementar atividades inclusivas e não pautadas em técnicas de treinamento profissional, estabelecer uma didática com estratégias em níveis adequados à turma, respeitando e valorizando as diferenças.
PROBLEMATIZAR O ESPORTE
Refletir criticamente o esporte e também o machismo estrutural. Compreender os motivos que as mulheres são oprimidas no esporte. Desenvolver questionamentos e debates sobre as desigualdades de gênero no esporte.
RESGATAR FATOS HISTÓRICOS DE DESIGUALDADE
AÇÕES E PROJETOS DE ESPORTE PARA MENINAS E MULHERES
ESPORTE COEDUCATIVO
Resgatar fatos históricos para explicar situações de desigualdade, como a exclusão das mulheres.
Elaborar e implementar ações e projetos que assegurem o acesso das meninas aos espaços esportivos, promovendo experiências de ensino e aprendizagem, sobretudo naqueles esportes historicamente negados a elas.
Implementar experiências educativas sobre o esporte a partir da abordagem coeducativa.



A escola como uma instituição que transmite regras de conduta, define, reforça e regula comportamentos, assim como valores e normas sociais. Quando pautada por um modelo tradicional, pode reforçar estereótipos e desigualdades de gênero. É possível identificar essa reprodução quando os meninos são mais incentivados em atividades de liderança e poder, enquanto as meninas são mais voltadas à tarefa de cuidar. Materiais pedagógicos e livros didáticos também podem reforçar esses estereótipos, trazendo representações que mostram os meninos com mais frequência em situações de aventura, força e as meninas mais ligadas a atividades suaves e estéticas.
Expressões usadas por professores e professoras também podem reproduzir esses estereótipos, a forma de tratamento diferenciada entre meninos e meninas, são atitudes que podem reforçá-los. Falas que naturalizam essas diferenças ainda são comuns no ambiente escolar. Tão grave quanto as zombarias que satirizam ou humilham, como: “Coisa de mulherzinha”,“Só os meninos conseguem fazer isso” ,”Jogo de homem”, “Meninas não são capazes”. A escola pode contribuir para perpetuar estereótipos, em diversos momentos nas aulas ou extraclasse. Tem situações que são mais evidentes, a hora do recreio é um desses momentos, observe como estão as meninas e os meninos, a maioria performam os papéis determinados pelo gênero. A corrida para chegar na frente da fila da merenda, quem geralmente corre são os meninos, depois passe na quadra e veja que a maioria jogando também são os meninos, olhe para a mesa de pingue-pongue e até na sala de música, quem está lá no violão e nos instrumentos de percussão? Os meninos.
Perceba que nas aulas de Educação Física todo esse estereótipo e as desigualdades são ainda mais evidentes, veja quem são os mais interessados em participar da aula, na maioria das vezes são os meninos, observe o comportamento das meninas geralmente preocupadas com a estética seja por vergonha do corpo, ou interessadas em despertar olhares. Na hora de montar as equipes geralmente os/as professores/as começam pelos meninos, ou usam exemplo de homens, e não incentivam as meninas, o que acaba por desestimulá-las a participar e se envolver mais com a aula.
Outro momento em que podemos perceber essas diferenças são nos jogos escolares. Além das falas, posturas e atitudes que reproduzem esses papéis, as meninas participam em um número muito menor, elas não são incentivadas às práticas esportivas, portanto a maioria delas não despertam interesse para os esportes. Quando se envolvem geralmente é para disputar os jogos de queimada (também conhecido como “carimba”) ou vôlei, é muito difícil formar equipes de futebol ou basquete feminino.
Infelizmente são esses os estímulos e incentivos dados a meninas e meninos, em que há uma notória diferença. Você percebe que são os meninos que disputam o primeiro lugar e dominam os espaços recreativos? Enquanto as meninas são excluídas, ficando no final da fila ou nas arquibancadas.
Como você pode observar a escola ainda é um lugar impregnado de ações estereotipadas entre os gêneros, portanto estratégias precisam ser adotadas, abaixo listamos algumas delas:
Incorporar a temática de gênero nos cursos de formação inicial e continuada de professores e professoras, para que compreendam os padrões misóginos, sexistas e homofóbicos presentes na sociedade e evitem reproduzir, além de combater expressões, linguagens e comportamentos que reforcem esses padrões.
Garantir que meninos e meninas tenham igual acesso aos espaços, materiais, saberes e experiências ou seja tenham as mesmas oportunidades - para isso professores, professoras e gestão devem construir e implementar intervenções pedagógicas que promovam essa igualdade. Planejar ativi-
dades que quebram padrões tradicionais, incentivando todos a experimentar diversas modalidades e papéis.
Usar uma linguagem inclusiva, abolindo de vez termos, falas e expressões que reforçam os estereótipos, preconceitos e desigualdades. A regra deve ser usar uma linguagem que valoriza a diversidade, evita generalizações e promove o respeito. A linguagem inclusiva evita o uso de termos apenas masculinos para representar ou se referir às pessoas, exemplo usar “professores e professoras”, “todas e todos”, “estudantes”. Evitar também expressões que reforçam as desigualdades como“isso é coisa de menino” ou “isso é coisa de menina”.
Fomentar uma escola acolhedora, pautada na inclusão, no respeito às diversidades, à pluralidade, à fraternidade, à solidariedade, à cooperação, à empatia, à cultura de paz e à justiça social. Uma escola fundamentada por uma educação progressista, democrática, em que as pessoas sejam respeitadas em sua singularidade.
Apesar dos avanços, os desafios ainda são muitos, e é por isso que ações, medidas e projetos que tratam e enfrentam as desigualdades de gênero são tão necessários e por isso precisam ser estabelecidos com intensidade e constância, principalmente no ambiente escolar que é, um dos espaços que mais influencia no modelo de sociedade vigente.
Portanto a escola precisa reforçar práticas pedagógicas que valorizem as diversidades, questionem as normas, padrões, estereótipos e desigualdades, assegurando igualdade de oportunidades, respeito e justiça social.

TEMATIZAR: Desenvolver/abordar determinado assunto/ conteúdo de forma didática tendo intencionalidade pedagógica. Não é apenas mencionar ou falar sobre um tema de estudo; é estruturar o conteúdo como um eixo central de aprendizado de forma que os alunos possam aprofundar, refletir e aprender sobre ele de maneira organizada e significativa. Ao tematizar, o(a) professor(a) não apenas apresenta informações, mas constrói atividades, discussões e experiências que ajudam os alunos a compreender o tema em diferentes contextos, relacionando-o com a realidade, outros conhecimentos e valores sociais.
“ROLA BOLA”: É uma expressão usada na Educação Física escolar para descrever práticas em que o(a) professor(a) apenas entrega a bola aos alunos(as), sem conduzir atividades estruturadas ou planejadas, configurando um faz de conta. Nessas situações, a aula não possui intencionalidade pedagógica, e os alunos(as) ficam em desvantagem, pois seu direito à aprendizagem não é garantido, em que jogam sem orientação e sem que os objetivos de aprendizagem sejam efetivamente trabalhados.
“QUARTETO-FANTÁSTICO”: É uma expressão usada na Educação Física escolar para se referir aos esportes mais comuns - futebol, vôlei, basquete e handebol. Muitas vezes, a expressão é utilizada de forma crítica, pois em alguns contextos esses são os únicos esportes ensinados pelos(as) professores(as). No entanto, existem diversas outras práti-
cas corporais que a Educação Física pode tematizar em suas aulas. Limitar o ensino ao “quarteto-fantástico” reduz as possibilidades de aprendizado e a diversidade de experiências que poderiam ser oferecidas aos alunos(as).
PENSAMENTO HIGIENISTA: É uma corrente de ideias que associa saúde, moralidade e comportamento, influenciando políticas sociais e educacionais, especialmente entre os séculos XIX e XX. Trata o corpo apenas como objeto de disciplina e controle, ignorando a diversidade biológica e cultural das pessoas, privilegia certos grupos e marginaliza outros, legitimando preconceitos de classe, gênero e etnia. No contexto escolar, o pensamento higienista influenciou práticas pedagógicas, incluindo a Educação Física, priorizando disciplina, ordem, controle corporal e padrões de comportamento.
CORRENTE POSITIVISTA: é uma corrente sociológica criada por Auguste Comte no século XIX, que trata os fatos sociais como “coisas naturais”, explicáveis pelas mesmas leis que regem fenômenos físicos ou biológicos, ignorando a complexidade, a cultura, os significados e as relações de poder presentes na vida social, essa abordagem produziu teorias que justificavam a desigualdade sociais por conta das desigualdades biológicas.
EUGENIA: É um movimento e teoria social surgida no final do século XIX que reforça a ideia de padronizar corpos e comportamentos, ligando exercícios físicos à formação de indivíduos “aptos” para a sociedade, justificava a exclusão de grupos marginalizados (pobres, negross, mulheres, deficientes ou doentes) alegando que eram “biologicamente inferiores. A visão biologicista, confere a
compreensão do corpo e do movimento por um viés estritamente biológico, tecendo explicações com base na dimensão física, e não cultural.
DIMENSÃO DOS CONTEÚDOS: São os aspectos de um conhecimento que podem ser aprendidos, considerando não apenas fatos, conceitos ou técnicas, mas também valores, habilidades e atitudes. Essa ideia tem como intuito superar a prática antes limitada ao “saber fazer”. É dividida em três tipos: Cognitiva (conhecimento e raciocínio) refere-se às informações, conceitos, teorias e explicações que os alunos devem compreender. Procedimental (habilidades e prática) engloba as ações, técnicas e procedimentos que os alunos aprendem a executar, como movimentos corporais, estratégias ou métodos. Atitudinal (valores e comportamentos) trata dos valores, atitudes e comportamentos que se espera desenvolver, como cooperação, respeito às regras e ética.
EPISTEMOLÓGICA: Esse termo é usado por Paulo Freire quando ele mencionou que existe uma curiosidade que ingênua e uma oposta que a é a epistemológica, em que a primeira é referente ao senso comum, a uma ideia superficial, por isso considerada ingênua, e a segunda não ela busca um aprofundamento, uma análise mais criteriosa e também mais crítica, tendo como intenção justamente o encontro de respostas verdadeiras e não se deixando levar por ficções, para aproximar o sujeito da realidade com maior precisão.

ALTMANN, Helena. Educação física escolar: relações de gênero em jogo. São Paulo: Cortez, 2015. 153 p. (Coleção Educação & Saúde).
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Liana Lima Rocha
Professora de Educação Física da Secretaria da Educação do Ceará. Professora de Educação Física
Universidade Estadual do Ceará/ UAB. Doutorado e Mestrado em Educação Brasileira Universidade Federal do Ceará (UFC). Graduação em Educação Física UFC. Integrante do Grupo Saberes em Ação. Linhas de pesquisa/estudo: Educação Física Escolar; Práticas Corporais de Aventura; Gênero.

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