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ensaio especial
uma nova abordagem para a governança do
setor florestal brasileiro
O único país do planeta com nome de árvore e que, ainda hoje, detém um terço das florestas tropicais do mundo no seu território, não pode aceitar um tratamento periférico à sua importância e à magnitude do papel que representa no plano nacional e no exterior. Essa indiferença é recorrente na esfera governamental, mas também está instalada no seio da sociedade. O poder não funciona com base em combustão espontânea, ele é configurado pelas pressões e contrapressões que nascem dos embates políticos, da mobilização e do engajamento da cidadania. Logo, se o setor não tem o reconhecimento que julgamos merecedor, há de se perguntar sobre o que estamos fazendo para dar-lhe visibilidade e inseri-lo nas mais altas esferas onde ocorrem os processos de tomada de decisão. Dito isso, introduzo uma questão provocativa: o setor florestal realmente existe, organicamente falando? Quais as atividades florestais o compõem? Por que sua importância política é tão desproporcional à sua importância econômica e social? Não são perguntas de respostas simples, até porque, dependendo da visão dos diversos segmentos que o integram, serão dadas respostas distintas para cada um desses questionamentos.
se o setor não tem o reconhecimento que julgamos merecedor, há de se perguntar sobre o que estamos fazendo para dar-lhe visibilidade e inseri-lo nas mais altas esferas onde ocorrem os processos de tomada de decisão."
José Carlos Carvalho Ex-Ministro do Ministério do Meio Ambiente
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Entre tantas causas e argumentos que podem ser esgrimidos para apontar a debilidade institucional do que chamamos de setor florestal, esta é uma que considero relevante: a sua excessiva fragmentação. A pulverização dos interesses acarreta a diluição da representação política e institucional do setor, o que enfraquece seu papel político na interlocução com os governos e nas suas relações com a própria sociedade, já que um setor excessivamente fragmentado e pulverizado não adquire identidade própria, mostra uma cara multifacetada e vive mergulhado numa permanente crise identitária. Assim é, no meu entendimento, o setor florestal brasileiro. A debilidade institucional na esfera pública começa com a falta de representatividade de alto perfil no âmbito privado, incluindo o terceiro setor.