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Washington Luiz Esteves Magalhães, Embrapa Florestas
como as florestas estarão no nosso futuro?
Via de regra, as universidades e os institutos de pesquisa se preocupam com o futuro das florestas. Isso ocorre porque, no caso dessas instituições, é necessário um planejamento de longo prazo, pois essas pesquisas demandam muitos recursos financeiros, humanos e de infraestrutura, que, em geral, são muito caros e apresentam resultados lentos e demorados.
Desse modo, não podemos desperdiçar todos esses recursos para, apenas quando o futuro chegar, percebermos que empregamos mal os investimentos feitos no presente. No caso das universidades, devemos, ainda, considerar um outro importante papel por ela desempenhado: a formação de recursos humanos aptos a lidar com questões complexas que se apresentarão daqui a 10, 20, 30 anos ou mais.
No mundo corporativo das empresas privadas, a visão de futuro com os seus mais variados cenários é de capital importância, pois isso pode significar a diferença entre crescimento econômico e o fim do empreendimento.
De uma maneira didática, as universidades e os institutos de pesquisa da área florestal teorizaram três grandes vertentes para a área florestal. A primeira delas, sem dúvida, é atender à sociedade com produtos por ela demandados, mas, agora, com um componente muito importante, que é o socioambiental. Segunda, as florestas ocupam uma posição de destaque no cenário da conservação do nosso meio ambiente e na qualidade de vida das pessoas. A terceira, que tem sido relegada a segundo plano, é o turismo florestal. No Brasil, em particular, o turismo fica restrito às áreas dos sistemas agroflorestais, plantios mistos de árvores com outras culturas do agronegócio e até com animais. Geralmente, trata-se de pequenas propriedades ou associações de produtores familiares. É difícil encontrarmos exemplos brasileiros de grandes empreendimentos voltados para o turismo na área florestal.
O planejamento feito pelas universidades e institutos de pesquisa, considerando essas três grandes vertentes, é bem antigo, mas podemos dizer que ainda continua na moda. O que realmente vem mudando e que deve fazer uma grande diferença no futuro é o sistema agroindustrial de processamento da biomassa florestal como matéria-prima. Há bem pouco tempo, essa biomassa era usada tão somente para geração de polpa de celulose e de energia, carvão vegetal e madeira maciça ou reconstituída para a construção civil de um modo geral. Agora, estamos juntando esses setores ou essas vertentes ambientais e de produção num só.
A sociedade está exigindo produtos advindos dessa biomassa florestal que sejam mais verdes, ambientalmente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis. A biomassa florestal deverá gerar, além daquilo que produz atualmente, muitos outros produtos para substituir os de origem fóssil.

Washington Luiz Esteves Magalhães
Pesquisador da Embrapa Florestas

Estamos ainda no início da era da bioeconomia, e a ferramenta mais apropriada para o setor florestal adentrar esse novo mundo é a biorrefinaria. Nesse novo conceito, o setor deverá produzir várias substâncias e produtos que já são produzidos usando uma matriz fóssil, numa substituição simples e direta. Mas, também, deveremos propor substâncias e produtos novos.
As florestas plantadas crescem no Brasil com taxas até dez vezes maiores quando comparadas a de diversas outras regiões do mundo. Essa vantagem competitiva não se restringe apenas às florestas, mas também a outras biomassas vegetais. E, em última análise, temos, nessa biomassa, carbono, oxigênio e hidrogênio, e esses átomos podem ser rearranjados nas mais diferentes moléculas e substâncias, o que permite produzirmos absolutamente tudo que o petróleo nos oferece. A questão primordial são os custos, ainda proibitivos, mas, quando questões internacionais elevam o preço do barril de petróleo acima de 100 dólares, muitos produtos podem se tornar competitivos.
O agronegócio brasileiro, incluindo o setor florestal, que nos enche de orgulho como um dos pilares de nossa economia, não foi capaz de prever a alta dos preços de um de seus mais importantes insumos, os fertilizantes, nem fez movimentos significativos para diminuir nossa dependência externa. Pois bem, o setor florestal deveria, num futuro próximo, se empenhar para ajudar o País no esforço para diminuir a importação de nutrientes. A nanocelulose e a nanolignina, por exemplo, podem ser usadas com sucesso na produção de fertilizantes de liberação lenta, a custos competitivos. Essa tecnologia permite a redução do uso de fertilizantes convencionais com muito pouco desperdício desse insumo para o solo e corpos d’água. A biomassa de origem florestal, que gera energia, elétrica e térmica, emite gás carbônico no processo de combustão. Devemos capturar esse gás e usá-lo para produzir fertilizantes, como a ureia (usando nitrogênio do ar) e carbonatos (como o de potássio). Dessa maneira, ao invés de o setor ser considerado neutro na emissão de carbono, pois as árvores usam o CO2 do ar para crescerem, no processo chamado fotossíntese, passaríamos a ter emissão negativa, ou seja, consumiríamos mais carbono do que emitimos.
O momento de crise internacional nos mostrou a importância de pensarmos sobre o futuro e agirmos com responsabilidade e patriotismo e, mais ainda, a importância de pensarmos, todos juntos, o futuro do setor florestal. n
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