Edição 95

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Douglas Trancoso, Divulgação/O Caxiense

Hábitos culturais

Com 400 ou 45 pessoas, todas as atrações do Caxias em Cena levantaram a plateia, um exagero caxiense coerente com a qualidade do festival

QUANDO VALE APLAUDIR DE PÉ O 13ª Caxias em Cena não teve espetáculos nem públicos superiores à edição de 2010. No entanto, a renovação e qualificação da plateia, objetivo do festival, continua crescendo

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por MARCELO ARAMIS marcelo.aramis@ocaxiense.com.br

o apagar dos holofotes, ouvem-se os primeiros aplausos para avisar aos espectadores iniciantes que o espetáculo terminou. Acendemse as luzes do teatro e os atores se alinham em frente ao palco. Antes que façam a primeira flexão para cumprimentar a plateia, todos os espectadores já estão de pé em um longo e peculiar aplauso. O feito deveria representar o mais alto nível de reconhecimento ao desempenho no palco. E o fato de alguém sentir-se suficientemente satisfeito para levantar não deveria pressionar os demais a fazer o mesmo. Talvez o hábito não seja genuinamente caxiense, mas aqui se aplaude tudo de pé. O 13° Caxias em Cena, que encerra no domingo (25), não foi feito somente de ótimos espetáculos. No entanto, o conjunto do festival merece esse aplauso exagerado e até os gritos e assovios – o maior nível do reconhecimento daqui – ouvidos nas melhores apresentações da programação. Em 13 dias de programação, com pelo menos duas atrações por dia, o festival teve 28 espetáculos entre teatro, dança e música. Na música, Nei Lisboa e Ana Prada deram conta da parcela de grandes nomes pela qual o público anseia e compensaram o cancelamento tardio do show do Pato Fu. A dança contentou a já esperada restrita plateia em três espetáculos. No teatro, a ausência de Vladmir Brichta, que veio no ano passado, ou de qualquer

O Caxiense

outro global não comprometeu as bilheterias. Excluindo os espetáculos que tiveram sessões especiais – gratuitas – para alunas do Projeto Conviver e escolas municipais, o show de Nei Lisboa teve o maior público: 457 pessoas. O campeão deverá ser superado somente por O Circo de Bonecos, do grupo Tholl. A menor plateia foi a da dança contemporânea em sobreVIVENTES, da Cia. Municipal, com 45 espectadores. A bilheteria ainda sofre influência do gênero e da popularidade dos espetáculos. Até a quarta (21), o Caxias em Cena havia atraído cerca de 3,8 mil pessoas, pouco mais do que a média de 180 pessoas por sessão contabilizada em 2010. Os números, injustos com algumas apresentações, dizem pouco sobre a qualidade das atrações, mas comprovam uma tese da organização: festivais motivam as pessoas a frequentar espetáculos nos quais não teriam interesse em uma programação avulsa. Para a edição deste ano, Ângela Lopes, coordenadora do Festival, recebeu mais de 300 inscrições, de grupos do mundo inteiro. O festival fechou com 19 espetáculos nacionais, dois internacionais e sete locais. “A programação acaba tendo a cara de quem faz. Mas fazemos o exercício de nos afastar dos gostos pessoais e trazer a maior diversidade possível”, explica Ângela. A diversidade já é marca do Caxias em Cena, no palco e na plateia. “As pessoas têm percebido o conceito de festival e não compram ingresso só

24 a 30 de setembro de 2011

para um determinado gênero. A função do Caxias em Cena também é esta. Proporcionar uma visão mais ampla sobre o teatro, que não é só comédia pastelão.” O fenômeno da atração de novos públicos, destaque da edição 2010, se repetiu. E a coordenadora garante: os estreantes voltam ao teatro em novas oportunidades.

retamente”, diz Ângela sobre o retorno do público além dos aplausos. Os grupos repetem o coro dos contentes. O Caxias em Cena dividiu uma verba de R$ 250 mil entre a estrutura do festival e o pagamento dos cachês, R$ 50 mil a mais do que em 2010. “Cortamos alguns absurdos, mas, em geral, procuramos pagar o que os grupos pedem”, explica Ângela. Com a Casa da Cultura em reforNa saída da primeira sessão mas, a Secretaria da Cultura prede cada noite, que inicia às 20h, cisou alugar o Teatro São Carlos e sempre tem alguém o recém-inauguraapressado para a do Teatro Murialdo, próxima, em outro “As pessoas têm que custam cerca de local, às 21h30. Na percebido o R$ 1 mil por noite, última terça (20), conceito de festival além de contar com cerca de 150 pesso- e não compram o espaço público da as aproveitaram o Sala de Teatro do feriado para assistir ingresso só para Ordovás e com a às poéticas acro- um determinado parceria do Teatro bacias de Casca de gênero”, avalia do Sesc. A lacuna Nós, da Companhia a coordenadora da Casa da Cultura, dos Pés, na facha- Ângela Lopes que passou desperda da igreja Cristo cebida pelo públiRedentor. Depois co, deve aumentar a de 40 minutos com o pescoço tradicional sensação de vazio culesticado sob os guarda-chuvas – tural depois do Caxias em Cena. a qualidade da peça justificaria Por causa da reforma, a Casa não ainda mais esforço –, alguns cor- realizou a Temporada do Teatro reram para o Teatro do Ordovás Caxiense, que ocorria na segunda para assistir Ponto de Partida, semana de cada mês. As atrações do grupo Nohgátikus, de São culturais públicas no teatro não Paulo, este sim torturante. Nova- devem cessar, mas ficarão mais mente aplaudiram de pé, mas não escassas. Se depender do apetite evitaram o comentário “perdi a cultural aberto pelo Caxias em novela” na saída do teatro. No dia Cena, a plateia logo sentirá fome. seguinte, voltaram à maratona do Bom sinal. Para a primeira semafestival. Como acredita Ângela, na sem banquete, o UCS Teatro, diversidade desenvolve a capaci- e o Sesc, já tem agenda (veja no dade de crítica. Guia de Cultura, página 16), ape“Nenhum espetáculo passa sem ritivo para os velhos e novos absalguém vir agradecer e elogiar di- tinentes.

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


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