46 Pra não dizer que não falei das flores De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento...
Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
Todos nós temos uma história para contar na qual a mulher sempre está presente. Seja na geração da vida ou na construção de toda a evolução humana, desde a origem remota (mãe terra e a lua), a gestação e nascimento através do sangue de quem ama. Nas histórias aqui contadas, algumas mulheres já foram citadas. Mas se todas elas fossem nomeadas daquele tempo passado, cada uma no seu papel de amiga, irmã, mãe, esposa, tia e avó dos personagens caracterizados, precisariam de outro livro. Assim, se faria jus aos nomes estimados e aqui reabilitados, a fim de que a história de um tempo perdido adquirisse mais sentido. Faltaria espaço e argumentos, no entanto, para ilustrar esse jardim de flores e seus sentimentos, cada uma com seu encanto. As garotas da alpina vila, na época do rock-and-roll¹ e Demétrius ídolo da Jovem Guarda, imitando Rita Pavone atualizadas e participativas com o momento presente de sua geração, eram jovens mais intelectuais e compassivas que os meninos. Inteligentes e ativas estavam sempre bem informadas e ligadas com a moda. As mais jovens bebendo 7Up ou Grapette² divertiam-se com bambolês, dançavam twist, mascando chicletes… Vencendo o custoso aclive na subida do Morrinho, depois do rebanho da dona Maria pastora dos caprinos e da casa da avó da Neide, vizinha da Ivani (que trazia seus recados para o Bel), chega-se à casa da irmã do Claudio, a singela Verinha. Ela morava na frente da casa da Marli, irmã do Carlinhos. E era vizinha da atrativa Marisa, irmã do Serginho. Mais para cá acima do Campinho, na alpina vila de então, havia a humorada Lurdinha, irmã do Virsola. E também a Lurdes, irmã do Zé-do-macacão. Na direção de quem vinha à Padaria do seu Armando - cuja esposa era a enérgica D. Rosa, podia deparar com as Marlis ouvindo Renato e Seus Blue Caps. E próximo da Mercearia de D. Alice e seu Antônio onde tudo se podia encontrar para a despensa, a inocente Maria (irmã do Riquinho) e a italiana Anezia (irmã do Cosmo) assistindo a Jovem Guarda. Depois da Farmácia do seu João, já na Rua 8 no nº 1, a Tita (irmã do Bel) brincava com sua amiga e vizinha, a simpática Nininha. Na casa da frente, a saudável Roseli, filha da D. Judite, ouvia o Trio Esperança. Na direção do Cine Caiçara, avistavase no portão a Irene (irmã do Son - Edson). E tantas outras que mereciam ser aqui citadas. Da antiga geração, em sua faina no labor doméstico, vamos mencionar as mães vizinhas de dona Conceição. Pequena porção das valorosas mulheres que geraram a juventude privilegiada daquele tempo passado. Começando pela gentil Dona Vera, mãe do Claudinho (Vera alugava o salão para o barbeiro Orestes). E a esperta Dona Pia, mãe do Mário e do Faustinho; Gina, mãe do Serginho. Na farmácia, mãe da Peteka e Zé Carlos (Cuquinha), a vivaz dona Éclair. A sorridente e humilde Dona Cida (Aparecida), mãe da Nininha e da Liluca. Introspectiva, D. Lourdes, mãe da Irene e Sueli. E a mãe do Zé-dagaiola e do Alcides, a simples D. Maria. Quantas outras de mesmo brilho olvidadas! Ainda merecem a reverência de Bel as suas cunhadas³ até agora não citadas: a alegre Nicinha (Elenice), esposa do Zé do Chinelo (José). A saudosa Maria Augusta, esposa do Miguel. E a esposa do João Antônio, a mineira Isabel. E para não dizer que não falei da Rosa (6.4.1951 a 27.1.2018), a mãe do Marcel Alani e do Daniel, companheira da primeira jornada, registro aqui meu reverente respeito e digno apreço. ¹Além de Elvis Presley (8.1.1935 a 16.8.1977) o Rei do Rock, um dos pioneiros que inventaram o rock’n’roll no início dos anos 1950, o maior compositor foi Chuck Berry (18.10.26 18.3.17). Com seus elegantes riffs de guitarra e letras geniais, Berry criou o imaginário do rock e influenciou artistas de rock, inclusive os Beatles. ²Grapette: refrigerante lançado no Brasil em 1948, o primeiro com sabor uva do país. Origem: USA (1930). ³Antônia Neusa Prezutto (esposa do Euclydes). Com reverência e elevada estima, fica aqui a saudade dessa amada pessoa, que nos deixou em 30 de outubro de 2002†
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Histórias restauradas de um tempo perdido