Histórias restauradas de um tempo perdido (Versão digital) rev. 2022

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45 Revolução do cravo, na mocidade Era abril de 1964. O mesmo mês que enaltecemos a morte do herói Tiradentes¹ na Inconfidência Mineira (1789). Diferentemente de A Revolução dos Cravos², no Brasil a ‘Revolução’³ já fora deflagrada. Brasília a nova Capital Federal, construída e habitada pelos candangos, e inaugurada em 21 de abril de 1960 pelo então presidente Juscelino Kubitschek, agora no período do Regime Militar instaurado ostentava um general; depois de outro presidente constitucional: João Goulart (Jango), deposto pelos militares. Bel, na puberdade, indiferente ao momento histórico de mudanças profundas nas instituições de seu país, estudava no colégio Cel. Bonifácio de Carvalho, em São Caetano. E esforçava-se por passar nos exames de seleção da escola técnica4 e nas provas de habilidade e de saúde física na indústria automobilística, que o empregaria e manteria seus estudos por longos três anos com salário garantido na carteira profissional quando fosse aprovado. Alguns colegas de infância não haviam passado nos exames e outros, privilegiados por pais zelosos e abastados dispensavam a formação técnica preferindo a formação clássica. Bel, entretanto, de família humilde de pais e irmãos trabalhadores, necessitava garantir seu futuro, próximo e distante. Assim, empenhado nos estudos e responsável por si mesmo, agora tinha seu salário, registro em carteira profissional e desfrutava da proteção da lei enquanto menor de idade… Como tivera sucesso nas provas e exames finais, se preparara para a fase importante em sua formação: nasceria profissionalmente em uma organização nacional exemplar: a empresa Brasinca5, fornecedora da indústria automobilística - eixo propulsor da economia de então. Brasilidade na alma, dedicação esmerada nos estudos e na prática no chão de fábrica, Bel se dedicava e se aplicava. Assim, conciliava conhecimento apreendido com a competência a ser conquistada nas máquinas da Ferramentaria. Começou como torneiro e concluiu como ferramenteiro. Isso quase lhe custou um dedo (médio) estourado no polimento de um eixo em um torno mecânico… Seu colega vizinho de máquina operatriz perdera o dedo indicador nas engrenagens da caixa de mudanças. Infelizmente, como ainda não havia CIPA6, naquela época membros eram decepados no exercício profissional. Nos semestres da escola técnica, aplicado aos estudos, interessado nas aulas de Ciência e de Laboratório, recebeu a melhor nota por seu empenho. VicePresidente do grêmio, orador da turma, segunda melhor nota na conclusão do curso. Nas horas de folga dos turnos puxados da fábrica, tomava seu lanche na Cabine de pilotagem (Cockpit) do cupê esportivo Uirapuru, ou Brasinca 4200 GT7, admirando o painel de jacarandá e o surpreendente design. Bel em breve almejava chegar à Engenharia de Produto, por seu esforço próprio e a graça de Deus. Adquiriu gosto pelo exercício da profissão se espelhando no modelo (integridade): seu Antônio, o forneiro. Nessa época, Bel, o cravo, fora convocado para o Serviço Militar, passou pelos exames da Aeronáutica que o enviaria ao Rio Grande do Norte, mas optou pelo Exército Brasileiro a fim de continuar os estudos e não se afastar da família amada. Além do que não pretendia seguir carreira militar, mas intencionava retomar na automobilística seu aperfeiçoamento na engenharia. No Batalhão de Guardas, serviu na Sala de Meio como desenhista ilustrador na elaboração de manuais de armas (FAL) para a escola regimental. Deu baixa com louvor, pois serviu com fervor para o bem de sua amada pátria, Brasil. Financeiramente independe desde os quatorze, profissional oficial do seu ofício e comportamento continente, ao completar dezoito anos, mesmo sem a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), comprara seu primeiro carro: um Fusca novinho, 1969, vermelho, 1300 cv. O VW ficava polido tinindo, abastecido e guardado escondido na garagem de casa, esperando o tempo passar até que o jovem Bel pudesse se habilitar. - Bem, daí por diante fica para outra vez a história restante! ¹Tiradentes - Joaquim José da Silva Xavier (12.11.1746) morreu como mártir no dia 21 de Abril de 1792.

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Histórias restauradas de um tempo perdido (Versão digital) rev. 2022

34min
pages 2-5, 8-15

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pages 2, 12-15

Histórias restauradas de um tempo perdido (Versão digital) rev. 2022

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pages 46-47, 59-60

‘Chega de Saudade’: é a vez da Bossa Nova

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Imagens de uma época da infância de Bel (cont

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Homenagem ao poeta João Cabral de Melo Neto e Lasar Segall

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page 83

50. De médico e de louco todo mundo tem um pouco (poesia

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pages 75-76

Mensagem Final (2015

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51. Lá em cima daquele Morrinho ninguém podia morrinhar (poesia

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Referências e Mensagem aos leitores

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49. Brincadeiras de rua, coisas de criança feliz (poesia

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47. Sete é o número predileto de Deus

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48. A culpa é da Nestlé /Sentimento latente se tornando explícito (poesia

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42. Herdeira da compaixão

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45. Revolução do cravo, na mocidade

4min
pages 69-70

46. Pra não dizer que não falei das flores

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43. Ao mestre, com carinho

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pages 65-66

44. Profissões reconhecidas publicamente

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pages 67-68

41. O quintal da Tita, onde todos brincavam

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pages 62-63

40. As pessoas já eram o que deveriam ser

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35. Índia negra e poderosa

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30. História para Boris Karloff dormir: A Múmia

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33. Enseada de São Sebastião: nunca mais, camarão

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pages 55-56

34. Ouviram do Ipiranga numa vil calçada

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29. Sessão de cinema encerrada com pizza e pedrada

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31. Monstro da Lagoa Negra: a Bela e a Fera, da pauliceia

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32. Parque Shangai, o Playcenter dos anos 1950

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Histórias restauradas de um tempo perdido (Versão digital) rev. 2022 by N. Gilber - Issuu