44 Profissões reconhecidas publicamente Das atividades humanas de ocupação e ofício do trabalhador, no comércio, na indústria, nas empresas públicas ou privadas, de forma autônoma ou liberal, o homem e a mulher deixam marcas de sua personalidade e caráter à medida que beneficia algo (um produto ou serviço) para alguém, que o reconhece e o prestigia; ou ainda simplesmente usufrui sem perceber a importância do fruto de seu trabalho. Embora o trabalhador enriqueça e ensoberbeça muito patrão usurário. Infelizmente, justiça do trabalho alguns proprietários não praticam. Muito pelo contrário! Barbeiro, costureira, enfermeira (o), sapateiro, doméstica, repórter, jornaleiro. Feirante, vigilante, lixeiro, relojoeiro, fotógrafo, carteiro. Professor, policial, motorista, taxista, frentista… tantas outras pessoas em profissões dignas de seu trabalho. E nas atividades inseparáveis, tais como, o mecânico o eletricista e o funileiro; manicure e cabeleireira; zelador e porteiro; o dentista e o protético; o escriturário e a secretária; o encanador o pintor e o pedreiro; o padeiro e o confeiteiro; o garçom e o cozinheiro etc. Sem contar com os prestigiados médicos, engenheiros, advogados, oculistas e dentistas. E os afortunados e hábeis comerciantes e industriais de sucesso. Seu Nelson (Lupércio), o sapateiro Antes da soleira da porta, um viveiro com três araras-canindés multicoloridas: bico recurvado de cauda longa, em frenética gritaria. Assim se adentrava na sapataria. Nelson era humilde e manso, não era limpo de mãos pelo exercício da profissão, mas bom de coração. Aprumado em seu avental de couro, sorriso perene, sempre bem barbeado, perfumado com água-de-colônia; rosto iluminado, óculos de aros metálicos finos e expressão duma mente aberta ao entendimento ou à conversa trivial. Digno de sua profissão, seus consertos e reparos faziam restaurar a função e o brilho do calçado a ele confiado. Sempre saudava e cumprimentava a quem recebia ou despedia. Irmão na fé exercia a profissão de cuidar dos pés de seus semelhantes, protegidos pelo humilde sapateiro cristão. Seu João e o José, os farmacêuticos Quando o sangue escorria por acidente ou hemorragia, o ouvido doía, o verme atacava e a barriga contraía, a cólica apurava ou a cabeça girava e alguém desmaiava ou vomitava, era à Farmácia do seu João que acorria. Ali, prontamente a qualquer hora da noite ou do dia, seu João e José, a todos atendiam. Sempre havia remédio, solução temporária para a dor e a aflição. Ao Pronto Socorro ou ao Hospital, nem sempre era necessário ser levado. Pois, o farmacêutico aplicava injeções, fazia os curativos, orientava ou ele mesmo receitava e vendia o remédio mais apropriado, além dos conselhos dados. Introspectivo e responsável, seu João com seriedade a todos tratava. Num contraponto do também competente José, que, descontraído e alegre, circulava pelo balcão da farmácia assoviando uma melodiosa canção. Curada ou remediada, a clientela da alpina vila confiava sua saúde nas mãos de José ou de João. Seu Armando (lusitano filantropo), o padeiro Armando, saudoso de sua Lisboa distante, na alpina vila ia além das suas funções profissionais de panificação. Proprietário ao que se sabia de duas ou três padarias, português de sotaque carregado, fidalgo e de costumes cultivados era também devotado às causas sociais e jamais olvidado por sua caridade. Apurado nos cálculos das finanças do próprio negócio, Armando também era cuidadoso no trato com a freguesia 62
Histórias restauradas de um tempo perdido