Histórias restauradas de um tempo perdido (Versão digital) rev. 2022

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42 Herdeira da compaixão “Bem-aventurados os humildes de [em] espírito, porque deles é o reino dos céus”. Mt 5:3

Tita, a menina de tranças e fitas Na tenra idade, Bel aprendeu a ler e a escrever não por si próprio. Nem tampouco involuntariamente, é claro! Para isso teve exemplos de Branca Alves de Lima (19112001), nos primeiros passos da cartilha Caminho Suave. E ainda, sendo o caçulo da casa e privilegiado pela irmã que frequentava a mesma escola e que era muito aplicada nos estudos, aprendeu com a Tita o básico. No ambiente familiar, entremeio de tanta virilidade (ela era a única filha entre cinco irmãos homens) não deveria ser fácil Tita manter sua delicadeza e feminilidade. Suas amigas vizinhas companheiras de despertamento e de segredos juvenis, entre elas Nininha (filha de seu Niquim) e Irene (filha de seu José), compensavam a liberdade e a expressão essenciais a alguém por florescer. Cabelos que nunca conheceram uma tesoura se estendiam pela sua cintura delgada. Negros e cuidadosamente penteados, com tranças repartidos, quase sempre adornados com fitas de cetim. A compostura pessoal e o arranjo de seu vestido e adereços eram impecáveis. - A menina de tranças e fitas com sorriso contido e pintinhas no rosto era finesse, e bonita! (à direita da foto abaixo) Antes mesmo de formada, já no corte e costura empregava seu talento promissor: desenhava, modelava e formas criativas na costura davam ao tecido que suas mãos talentosas cortaram. Já na idade adulta, na atenção especial com a mãe, apoiando o pai, respeitando os irmãos, amando os filhos e o marido, com todos sempre manteve espontânea afeição. Excedia os cuidados com todos aqueles com quem se relacionava. Sempre hospitaleira, bem recebia quem em casa chegava: podia ser um desconhecido ou um parente distante, ao vizinho idoso ou à amiga constante. Cumprimentava com um sincero e cativante sorriso, acolhedor abraço e palavras de incentivo. E todos reconheciam e retribuíam o que dela recebiam. Pois ela cumpria, em espontâneo, valoroso mandamento: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Lv 19:18 Hoje, não mais a chamariam por seu apelido: Tita. Aliás, ao longo da vida as pessoas trocam de nome ou apelido, em função dos papéis que desempenham e do contexto em que se encontram. Entretanto, esse era o seu chamamento em família: Tita! Há pessoas notadas pela aparência exterior e há aquelas outras notáveis pela compleição interior, da alma, cujo temperamento é acurado graças à prática da compaixão. Esta é a índole da Tita: ‘um sentimento piedoso e participação espiritual na infelicidade alheia, um impulso altruísta de ternura para com o outro sofredor’. Herdara de D. Conceição, exemplo de caridade e compaixão, esses sentimentos que levaria por toda a sua vida na busca por amenizar as mazelas do próximo (ou distante), seu semelhante: “Ao aflito deve o amigo mostrar compaixão…” Jó 6:14 A Tita de outrora é hoje uma vovó senhora na expressão serena da menina que fora. Pela vida bem-aventurada, na paz da sua morada na alpina vila, ainda desfruta o bem das suas muitas sementes plantadas e granjeadas em santidade e graça. João Antônio, o bonachão

Antônia Neusa, Miguel, Bel e Tita (Neuza Maria)

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Histórias restauradas de um tempo perdido (Versão digital) rev. 2022

34min
pages 2-5, 8-15

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pages 2, 12-15

Histórias restauradas de um tempo perdido (Versão digital) rev. 2022

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pages 46-47, 59-60

‘Chega de Saudade’: é a vez da Bossa Nova

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Imagens de uma época da infância de Bel (cont

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Homenagem ao poeta João Cabral de Melo Neto e Lasar Segall

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50. De médico e de louco todo mundo tem um pouco (poesia

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Mensagem Final (2015

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51. Lá em cima daquele Morrinho ninguém podia morrinhar (poesia

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Referências e Mensagem aos leitores

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49. Brincadeiras de rua, coisas de criança feliz (poesia

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47. Sete é o número predileto de Deus

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48. A culpa é da Nestlé /Sentimento latente se tornando explícito (poesia

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42. Herdeira da compaixão

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page 64

45. Revolução do cravo, na mocidade

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46. Pra não dizer que não falei das flores

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43. Ao mestre, com carinho

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pages 65-66

44. Profissões reconhecidas publicamente

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pages 67-68

41. O quintal da Tita, onde todos brincavam

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pages 62-63

40. As pessoas já eram o que deveriam ser

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page 61

35. Índia negra e poderosa

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30. História para Boris Karloff dormir: A Múmia

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33. Enseada de São Sebastião: nunca mais, camarão

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34. Ouviram do Ipiranga numa vil calçada

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32. Parque Shangai, o Playcenter dos anos 1950

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