O menino e o gato na floresta de aço - de Igor Mendes (prévia)

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O menino e o gato na floresta de aço Igor Mendes

O menino e o gato na floresta de aço

@n-1edições

ISBN 978-65-6119-051-0

Embora adote a maioria dos usos editoriais do âmbito brasileiro, a n-1 edições não segue necessariamente as convenções das instituições normativas, pois considera a edição um trabalho de criação que deve interagir com a pluralidade de linguagens e a especificidade de cada obra publicada.

Editores Chefes Peter Pál Pelbart e Ricardo Muniz Fernandes

Coordenação editorial Gabriel de Godoy

Assistência editorial Inês Mendonça

Preparação Gabriel Rath Kolyniak

Ilustrações Isabel Lee

Projeto gráfico Isabel Lee

A reprodução parcial deste livro sem fins lucrativos, para uso privado ou coletivo, em qualquer meio impresso ou eletrônico, está autorizada, desde que citada a fonte. Se for necessária a reprodução na íntegra, solicita-se entrar em contato com os editores.

1ª edição | Agosto, 2025 n-1edicoes.org.

O menino e o gato na floresta de aço

Igor Mendes

“CASA NOVA. Vida nova e esperanças simples, simples esperanças.”
O meu pé de laranja lima
Para Isadora e Ana
Para Rubi

Dos primeiros dias neste mundo, já não me lembro de mais nada, exceto do cheiro da terra e do gosto do leite, disputado à nossa da mãe por outros filhotes tão mirrados quanto eu.

Uma vez por mês, eu preciso responder à moça de jaleco branco coisas chatas, do tipo: “Diego, me diga da onde você veio”, ou “se lembra dos teus pais?”. Então, na minha cabeça, surgem o cabelo desgrenhado da minha mãe, o cheiro de cigarro das suas roupas, os meus irmãos largados pelo chão de terra, o traque-traque do trem, que chegava a balançar as paredes moles da nossa casa. Dessa vez, eu estava tão enjoado da repetição, que disse que não me lembrava de coisa alguma: para minha surpresa, pela primeira vez, ela parou de escrever no papel e me olhou bem nos olhos, como se estivesse preocupada.

Depois, aquela caixa. Um a um, algum estranho nos puxava para fora. Eu, que não sou bobo, mordia e arranhava qualquer coisa que se mexia à minha frente: como saber se lá fora era melhor do que aqui dentro? Por fim, eu fiquei sozinho, e tive que descobrir isso por conta própria.

Na escola, as outras crianças apontam para nós, os “do abrigo”. Mas não há nada demais em morar lá. Na primeira noite, eu fiquei com tanto medo que até chorei. Depois, você acaba descobrindo que o o beliche não é ruim, o mingau não é ruim, as tias que nos vigiam não são ruins, o fim de semana diante da TV não é ruim, os meninos briguentos não são ruins, a diretora carrancuda não é ruim — só a saudade é que é ruim, mas com isso você também pode se acostumar, se quiser.

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