Porqu[L]ê N.º8, "Celebrar a Liberdade de Abril"

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8 | abril | 2024
Fotografia de Ana Carvalhais Celebrar a ISSN: 2975-9021
2024
N.º
LIBERDADE de abril!
1974—

P03| EDITORIAL

P04| PERSONALIDADES

António Cabral, dinamizador cultural e poeta do povo duriense.

P06| ENSINO/EDUCAÇÃO

P06 25 de Abril: a anatomia de uma revolução ímpar. P07 O início do fim do regime. P08 Ainda sobre o 25 de abril: Entrevista a Rui Santos, Presidente do Município de Vila Real. P09 Celebrar a democracia fora de portas. P10 Liberdade para ensinar, autonomia a aprender. P11 Euroscola“Promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos povos”. P12 Grécia, o berço da democracia P13 Liberdade de escolha na EDUCAÇÂO? Eis a questão. P14 Passo a passo, a ciência “pula e avança”... P16 Libertar os afetos dá saúde e faz crescer! P16 Há mulheres para quem abril ainda não chegou! P17 Conto contigo. P17 Articulação e continuidade educativa. P18 No projeto de filosofia para crianças (PFpC): “A pensar a liberdade”. P19 O legado de Abril: por uma educação que inspire, capacite, inclua.

P20| OPINIÃO

P20 De casa às armas: Vitória delas em todas as frentes. P21 Onde chegamos! P21 Hortoterapia: uma liberdade que compensa! P22 Mulheres ao volante numa revolução a várias velocidades… P23 Da liberdade das memórias às memórias da liberdade!

P24| MEMÓRIAS

P24 Quem é quem? P25 Memórias: o início... de uma nova vida. P25 Nunca diga onde estava no 25 de Abril! P26 7 de Outubro de 1965. P27 Entrevista ao meu avô: ditadura e guerra colonial.

P28| ARTES

P28 Vozes sussurradas… Nunca silenciadas. P29 Adeus, lápis azul! P30 Trovas e trovadores da liberdade. P32 Lição em rima ingénua para os mais novos. P32 Freiheit. P33 Concurso de fotografia.

P34 |DESPORTO

P34 Ontem, hoje e sempre... P35 |PASSATEMPOS & CURIOSIDADES

Adriana Anjos. Alunos de Alemão (10.º B e D). Alzira Perdigão. Ana Maria André. Ana Paula Ribeiro. Ana Rita Marracho. Anabela Quelhas. Anabela Videira. Beatriz Marcelino. Carla Pomar. Cecília Barros. Cristina Esteves. Clube Europeu. Diogo Alves. Duarte Gonçalo. Emília Raposo. Eugénia Paula Almeida. Eugénia Silva. Filipe Frederico. Francisca Geraldes. Gonçalo Anjos. Henrique Jorge. Jamiel Eber. João Luís Sequeira Rodrigues. Joaquim Silvano. Leandro Félix. Luísa Costa. Manuela Leal. Maria do Carmo Cabral. Maria Manuel Carvalhais. Maria Olinda Ledo. Matilde Braga. Miguel Moura. Otília Duarte. Raquel Santos. Ricardo Montes. Teresa Margarida Capela. Tiago Garcia.

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Ação, Empatia, Método, Motivação. Somos AEMM
Índice
NDICE DE AUTORES/COLABORADORES Somos

Ricardo Manuel Pinto Montes

Diretor

Caríssima comunidade escolar,

Esta edição da revista do nosso Agrupamento visa celebrar a Liberdade que nos foi legada pela revolução de abril. Para muitos, a Liberdade não passa de um mero conceito ao qual não dão importância, porque a assumem como garantida. Talvez não lhe atribuam importância por não saberem que, antes do 25 de abril de 1974, a escola visava a disciplina rígida, o controle ideológico, as limitações à liberdade de expressão, a propaganda política e a desigualdade socioeconómica.

Assim, no contexto da Escola do século XXI, em que as redes sociais e a tecnologia marcam o nosso quotidiano, a revolução dos cravos deverá ser muito mais que mera reflexão do passado. Compreender e ensinar o 25 de abril é capacitar para a democracia, para os direitos humanos e para a participação cívica. É também fomentar, capacitar e inspirar os nossos jovens para a defesa dos valores democráticos, não apenas em Portugal, mas também no mundo.

O nosso Agrupamento de Escolas sempre respondeu de forma empenhada, criativa e resiliente ao apelo da promoção e defesa da Liberdade. Somos especialmente bons nisso. É nas nossas escolas que muitos dos nossos alunos iniciaram o seu percurso enquanto agentes de mudança positiva e tal não acontece por mero acaso. Somos e continuaremos a ser facilitadores de meios de promoção da justiça social, de inclusão, de solidariedade, de empatia e de respeito pelos deveres fundamentais.

Nesta revista terão a oportunidade de perceber o nosso compromisso com a Liberdade e a democracia, mas acima de tudo o nosso compromisso com a formação de cidadãos críticos, conscientes e comprometidos com a construção de um futuro mais justo e democrático.

Esperamos que a partilha vertida nas próximas páginas possa constituir uma jornada de descoberta e inspiração.

Boa leitura!

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Editorial
do Agrupamento de Escolas Morgado de Mateus

Personalidades António Cabral

Professor João Luís Sequeira Rodrigues

António Cabral, dinamizador cultural e poeta do povo duriense

No ano em que se assinalam 50 anos sobre a revolução de 25 de Abril de 1974, é interessante fazer um exercício retrospetivo relativamente a pessoas que residiram em Vila Real e que, por via da sua atividade em alguma área da nossa vida social, tenham contribuído para a evolução do nosso concelho e influenciado a vida de muitos de nós.

Se nos detivermos nas áreas da educação e da cultura, há, desde logo, uma personalidade que sobressai e cuja ação se constitui como uma referência na vida cívica vila-realense. Falamos de António Cabral. Professor, poeta, romancista, etnógrafo e etnólogo, divulgador cultural, especialista na teoria do jogo, entre outras áreas de ação, António Cabral foi uma personalidade que marcou decisivamente o panorama educativo e cultural do nosso concelho na segunda metade do século passado.

António Cabral nasceu na aldeia de Castedo do Douro, no concelho de Alijó, em 30 de Abril de 1931, filho de Manuel António Teixeira Cabral e Ana Joaquina Magalhães. O pai era um lavrador da região duriense, facto que viria a marcar a vida e obra de António Cabral, que contactou de perto com as difíceis condições de vida da população rural desta região. Na verdade, tanto os livros de poesia e prosa do futuro escritor, como as suas opções ideológicas e políticas foram profundamente influenciadas pelo sentido de solidariedade que António Cabral, desde a infância, partilhou com as gentes pobres e sofridas do Douro, e também pelo sentimento de injustiça social gerado pela desigualdade na partilha da riqueza gerada pelo negócio do chamado vinho generoso. Os avultados proveitos que ficavam nos bolsos de comerciantes e exportadores contrastavam com a miséria em que viviam os pequenos produtores e trabalhadores agrícolas, que eram o sustentáculo de todo o negócio do “Vinho do Porto”.

António Cabral frequentou o ensino primário na sua aldeia natal e, em 1942, ingressou no Seminário de Vila Real, onde frequentou e concluiu o Curso de Teologia, em 1954, tendo sido ordenado padre no ano seguinte. Posteriormente, já na década de 70, António Cabral frequentou a Universidade de Letras da Universidade do Porto, licenciando-se em Filosofia, em 1975, o que o habilitou a exercer funções docentes nas escolas secundárias de Vila Real e no Magistério Primário.

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Nessa altura, já António Cabral se tornara numa figura conhecida e polémica na sociedade vila-realense e no seu limitado meio cultural. Assim, em 1951, havia publicado o seu primeiro livro de poemas, intitulado Sonhos do meu Anjo. No início da década de 60, António Cabral assumira a dinamização do “Movimento Setentrião”, que congregava um grupo de jovens interessados pela ação cultural e política, tendo alguns deles vindo a destacar-se na vida social portuguesa. Esse grupo juvenil incluía personalidades como António Barreto (sociólogo) e o seu irmão Nuno Barreto (pintor), Eurico de Figueiredo (médico e ativista político), os poetas Eduardo Guerra Carneiro, Carlos Loures e José Gonçalinho de Oliveira, Ascenso Gomes (melómano), entre outros.

também muito ativo junto dos jovens vila-realenses nas tertúlias que animava na “Pastelaria Gomes”.

ção cultural e na defesa, preservação e divulgação da cultura popular. As múltiplas formas de expressão do povo foram, desde sempre, uma paixão do poeta.

Este grupo teve também uma ação editorial relevante. Em 1962, foi publicado o primeiro número da revista Setentrião e, no ano seguinte, saiu ao público Poemas Durienses, uma das obras de referência de António Cabral, na qual o poeta se irmana com os pobres agricultores durienses e denuncia as difíceis e injustas condições em que subsistiam. O carácter político e social deste livro, claramente identificado com a corrente neorrealista, valeu a António Cabral o epíteto de “padre vermelho”, por parte de algumas autoridades eclesiásticas.

Nos anos seguintes, António Cabral deu continuidade à sua carreira literária, com a publicação de vários livros de poesia e teatro, na maioria tendo como cenário e inspiração a região transmontana- duriense e as suas gentes, e à faceta de dinamizador cultural no “Movimento Setentrião”, mantendo-se

Em 1972, António Cabral, com autorização da Santa Sé, abandona o sacerdócio e contrai matrimónio com Maria Alzira Vilela que, tal como o escritor, foi docente nas escolas secundárias de Vila Real. Dois anos depois, dá-se a Revolução de 25 de Abril, tendo António Cabral assumido particular destaque nas movimentações sociais da sociedade vilarealense da época. Na histórica manifestação do 1º de Maio de 1974, que ocorreu na Avenida Carvalho Araújo, António Cabral discursou ao lado de alguns companheiros de luta antifascista, entre os quais se contavam os médicos Otílio de Figueiredo e Luís Roseira.

Na sequência da revolução de Abril de 1974, António Cabral teve oportunidade de centrar a sua atividade na dinamiza-

Entre 1974 e 1976, assumiu o cargo de Delegado Regional do Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ) e, em 1977, teve um papel central na realização dos primeiros “Jogos Populares Transmontanos”, evento que teve várias edições ao longo da década de 80, sempre com forte adesão popular. Neste aspeto, há a salientar o facto de António Cabral ser considerado uma personalidade de referência, tanto a nível nacional como internacional, na investigação e reflexão sobre a teoria do jogo. Esteve também na génese do Núcleo Cultural Municipal de Vila Real, que, em 1978, publicou a revista Tellus, que ainda subsiste na atualidade, sob a direção do escritor A. M. Pires Cabral, outra personalidade de referência no panorama cultural local e nacional.

António Cabral fundou e presidiu à Associação Nacional de Animadores Socioculturais (ANASC) e foi também um dos fundadores do Centro Cultural e Regional de Vila Real, em 1979, instituição que se mantém em atividade. Nesse mesmo ano, esteve na origem do jornal Nordeste Cultural, do qual foi também diretor. Em 1989, António Cabral publicou o seu primeiro romance intitulado Memória Delta, seguido por A Noiva de Caná, em 1995. De 1999 a 2006, António Cabral exerceu funções de Delegado Regional do INATEL, em Vila Real.

Foi agraciado com medalhas de mérito cultural pela Câmara Municipal de Alijó e pela Câmara Municipal de Vila Real.

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Fotografia de Duarte Carvalho Museu do Som e da Imagem

Ensino/Educação

A chegada de Salazar ao governo

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Ensino/Educação

Ainda sobre o 25 de ABRIL

Entrevista a Rui Santos, Presidente do Município de Vila Real

Clube Europeu: Começamos com a pergunta obrigatória: Onde estava no dia 25 de abril de 1974?

" Eu, no dia 25 de abril de 74, tinha 5 anos e estava em Malange, em Angola. O meu pai foi cumprir o serviço militar para Angola em 1970 e eu, em 71-72, fui para Angola, e portanto nessa altura estava em Angola na companhia dos meus pais, na cidade de Malange."

Clube Europeu: Na sua visão de adulto, o que difere entre as expectativas iniciais do povo português e a realidade 50 anos após o 25 de Abril?

Clube Europeu: Estando em Angola e sendo tão novo, teve noção do que estava a acontecer em Portugal?

" Não, não tive noção, até porque as notícias na época chegavam sempre atrasadas, não havia telemóveis, a televisão ainda era a preto e branco e em Angola não havia, também não havia internet, mas mesmo que houvesse se calhar com 5 anos de idade não teria a perceção do que estava a acontecer. Eu tenho a perceção é das consequências do 25 de abril, algumas foram a médio prazo ou a longo prazo, mas como consequência imediata foi a necessidade de fazer a descolonização; eram 'Mundos desde abril' . Nós regressamos a Portugal Continental em 75, na companhia dos meus pais, e essa consequência imediata tenho-a presente."

" Quando se faz uma revolução há sempre a utopia de que tudo é possível, e que tudo se pode alcançar com extrema facilidade, e não é assim. A democracia constrói-se diariamente. Os direitos que vamos conquistando também exigem uma ação diária. Nas melhorias da nossa condição de vida acontece exatamente a mesma coisa, exigem trabalho, porque o único sítio onde o sucesso aparece antes do trabalho é no dicionário. Portanto a expectativa e a utopia era que tudo se alcançaria com muita facilidade e a realidade demonstranos que o progresso é imenso em todos os indicadores civilizacionais. O progresso de Portugal, se olharmos para Portugal de 74 e para o Portugal de 2024 percebemos que os progressos são imensos, na esperança média de vida, nos direitos das mulheres, na proteção das crianças, na mobilidade quer rodoviária quer dentro do continente europeu e até dentro do Mundo, as comunicações mudaram drasticamente. Há uma melhoria nas condições de habitabilidade das nossas habitações, houve uma melhoria extraordinária, mas há sempre alguma coisa por realizar, desde o Serviço Nacional de Saúde, na Segurança Social pública para todos, o Serviço de Educação público e gratuito para todos… Estas são coisas que não aconteciam antes do 25 de abril, por exemplo se alguma das vossas mães estivesse casada antes do 25 de abril, para sair do país tinha de ter uma autorização dos vossos pais, e portanto essas coisas mudaram. Nós damos tudo como adquirido, mas de facto temos de lutar diariamente para manter aquilo que temos e para melhorar o muito que temos para melhorar."

Clube Europeu: Concorda com aqueles que dizem que, nos dias que correm, é necessário acontecer outro 25 de abril?

" Não, nós vivemos em liberdade, em democracia, acho que há respeito por todos, pela opinião de todos, não há censura, pelo menos que nós tenhamos perceção, diz que há sempre uma mão invisível que condiciona algumas ações, algumas políticas e algumas posições do País e do Mundo, mas eu julgo que não é necessário uma revolução, é necessário sobretudo uma consciencialização dos nossos direitos, dos nossos deveres e do trabalho que temos de fazer para ter um País melhor e um mundo melhor."

Clube Europeu: Muito gratos pelo seu contributo.

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Pelo Clube Europeu

A equipa Erasmus do AEMM associa-se às comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril, desenvolvendo este ano dois projetos específicos onde serão exploradas as temáticas da liberdade e democracia.

A pertinência e relevância do tema atraíram duas escolas alemãs, uma de Berlim e outra de Buxtehude –Hamburgo, que aderiram ao projeto, dando origem a duas parcerias e futuros intercâmbios de alunos.

No âmbito do consórcio com o Município, no qual participam as diferentes escolas de Vila Real, o Agrupamento Morgado de Mateus está a organizar um intercâmbio Erasmus+ que permitirá a deslocação de 19 alunos (sendo 10 do AEMM e os restantes das outras escolas da cidade) à cidade de Buxtehude, na Alemanha, durante a semana do 25 de Abril de 2024. O projeto, com o título “Cultura democrática: o maior tesouro dos europeus”, tem como principal objetivo o reforço da cultura da democracia nos jovens, levando a celebração dos 50 Anos de democracia em Portugal para além fronteiras.

A comitiva portuguesa, composta de 26 pessoas (alunos e professores), levará a mensagem de uma democracia conquistada de forma pacífica e em nome da paz, bem como de uma cultura democrática consolidada ao longo de 50 anos, cujos valores pretendemos preservar para o futuro.

Será promovido o diálogo multicultural e a cooperação entre os jovens, através da partilha de conhecimentos relativos à história e cultura de ambos os países, numa experiência de interculturalidade que lhes permitirá aprender a viver juntos em igualdade em sociedades democráticas culturalmente diversas.

Estas parcerias terão continuidade aquando da vinda dos alemães a Vila Real, no mês de Junho, altura em que se dará um segundo passo com vista à consecução dos grandes objetivos do projeto. O diálogo multicultu-

ral será completado com a tomada de decisões conjuntas e a construção de obras coletivas em cooperação, experienciando a democracia de forma ativa e consciente.

Consideramos estas competências indispensáveis para que os aprendentes venham a participar eficazmente numa cultura da democracia tornando-se cidadãos democráticos competentes. As instituições democráticas só funcionam na prática se estiverem enraizadas numa cultura da democracia, isto é, em valores, atitudes e práticas democráticos.

E é em nome destes valores europeus comuns que os alunos serão convidados a refletir em conjunto na construção de um futuro comum, em que as diferenças culturais não sejam vistas como obstáculo, mas como um valor acrescentado, conferindo sentido ao lema da UE, “ ”.

Ganha também aqui maior significado o lema do Clube Europeu do AEMM.

Pelo sonho é que vamos, Unidos pelos mesmos valores, Como um belo arco-íris Orgulhoso das suas cores.

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Professora Luísa Costa

Ensino/Educação

Professora Emília Raposo

Uma vez que são cada vez mais necessárias metodologias dinâmicas/criativas que captem a atenção dos alunos, com o objetivo de rever conteúdos, no início do ano letivo 2023-2024, convidei três colegas, tal como eu, a lecionar inglês no segundo ciclo, a colocar em prática uma estratégia que emerge de um contexto híbrido de ensino e aprendizagem - o modelo de Rotação por Estações. Uma estratégia em que as atividades são normalmente resolvidas em grupo privilegiando o trabalho em equipa, em que se desenvolvem competências cognitivas e sociais, o raciocínio lógico e as habilidades sociais. A Rotação por Estações permite também a resolução de tarefas e a obtenção de resultados num curto espaço de tempo, algo do agrado dos discentes, cujo tempo de concentração nas atividades é, de modo geral, diminuto.

Em trabalho conjunto, as três turmas do sexto ano de escolaridade foram distribuídas em pequenos grupos e os alunos convidados a executar um conjunto de atividades, sendo uma delas “online”. Dispostos pelo auditório “Via Láctea” da Escola Monsenhor Jerónimo do Amaral, os grupos “rodaram” pelas várias “estações”, de forma a completar os desafios propostos. A resolução de problemas (desafios), enigmas e quebra-cabeças, conduz ao desenvolvimento (e ao aprimorar) de diferentes competências. Por isso, as tarefas propostas tinham várias formas: jogos, quizzes, preenchimento de espaços, organização de palavras, legendagem de imagens, etc. “As atividades não tinham uma ordem sequencial, podendo ser desenvolvidas de forma independente” (Santos, 2022, p.53), respeitando, é claro, o(s) tema(s). No entanto, o número de “estações” tem de ser equivalente ao número de grupos, para que seja possível a participação de todos, assim como devem ter o mesmo tempo de realização, pois só assim é que os discentes podiam “rodar” simultaneamente, e realizar as operações. Enquanto a atividade decorria, as docentes observavam o trabalho/desempenho dos grupos, que, de forma autónoma, ritmada e dentro do tempo disponibilizado, concluíam as tarefas, auxiliando os que mostravam aprendizagens mais frágeis e/ou quando alguma dúvida surgia.

Nos últimos quinze minutos da atividade, num momento de partilha e de “feedback” (oralmente e por escrito), os discentes

“informaram” que tinham gostado muito da atividade, sobretudo porque partilharam conhecimentos com os colegas, tinham saído da sala de aula e que nem tinham dado pelo tempo passar. Também foi questionado: “quando é que fazemos outras?”

Posteriormente, nas aulas, os alunos tiveram acesso à correção das tarefas através da plataforma classroom e/ou powerpoint e, numa pequena conversa em grupo turma, eles próprios identificaram os conteúdos mais frágeis e propuseram atividades para as ultrapassar, que foram colocadas em prática na(s) sala(s) de aula e nas plataformas digitais.

Apesar do tempo dedicado à organização desta aula, uma vez que foi cuidadosamente planificada/estruturada e os materiais minuciosamente preparados, as docentes concluíram que os objetivos a que inicialmente se propuseram tinham sido atingidos: a promoção do trabalho em equipa de modo responsável e lúdico; a participação dos discentes em atividades de grupo, tendo estes a oportunidade de “pedir e dar informações e sugestões de modo a analisar um problema sob perspetivas novas e expressar a sua opinião.” (DGE, 2018, p.8); o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo dos discentes, tornando-os capazes de escutar e compreender as opiniões dos seus colegas pensando criticamente sobre elas (DGE, 2018, p.9), o alargamento do conhecimento vocabular na língua inglesa; fomentar e consolidar conhecimentos no âmbito do funcionamento da língua e promover nos discentes capacidades de interpretação/compreensão de textos curtos e muito simples sobre temas estudados no quinto ano (DGE, 2018, p.5).

Recentemente fomos informadas de que a estratégia já tinha sido utilizada com outros grupos e que o seu resultado tinha sido também muito positivo.

Referências Bibliográficas:

Santos, I. L. (2022). Rotação por Estações. In A. A. Carvalho, (Org.), Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais Digitais (pp. 52_53). FAPEMA.

Direção-Geral da Educação (2018). Aprendizagens Essenciais – Ensino Básico: Inglês – 6.º ano

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“Promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos povos”

Por toda a Europa, onde os ecos do passado ressoam por ruínas e calçadas ancestrais, existe uma história de resiliência, redenção e reconciliação. Uma autêntica narrativa entrelaçada na linha do tempo, em que as cicatrizes deixadas por duas guerras mundiais deram origem a uma visão de Paz que não olha a fronteiras e que abraça nações.

No meio das cinzas da Segunda Grande Guerra, uma luz de esperança brilhou e o sonho por um futuro onde inimigos se tornariam aliados na procura pela Paz começou a tomar forma. Contra todas as probabilidades, foi criado um testemunho do poder da imaginação humana e da audácia do nosso espírito - nasceu a União Europeia! Fazendo-se corpo numa comunidade de carvão e aço, ganhou músculo no bastião da Paz. A memória da UE narra o triunfo sobre a adversidade, a união perante a divisão e a Paz a prevalecer sobre a guerra.

Ainda assim, a Paz não pode ser tida como garantida. Apesar dos esforços da UE em desempenhar um papel ativo decisivo na mediação de conflitos em todas as partes do mundo, lançando mão a uma diplomacia criativa que propõe harmonizar interesses particulares com o interesse comum, a guerra continua aí! É a realidade de um quarto da população mundial. Estamos a falar de cerca de dois biliões de pessoas. Milhões de avós, pais e filhos. Milhões de famílias que não conhecem a estabilidade, nem a segurança, nem o conforto que a Paz fornece.

É precisamente neste tempo inquieto, instável e inseguro que os jovens europeus têm a responsabilidade de alcançar e preservar a paz. Mahatma Gandhi já apontou: “Não há um caminho para a Paz, a Paz é o caminho!”. Porquê? Porque a Paz é o ventre donde brota a humanidade, aquilo que faz de nós mais humanos. É um compromisso contínuo com a liberdade, a justiça, a não-violência, a igualdade, a solidariedade, a segurança, a dignidade, a integridade e a democracia.

E será possível propor uma Paz Global? Esta pergunta origina uma notável discrepância de respostas. Muitos são os que respondem negativamente, argumentando que os conflitos são de um tal grau de complexidade que os entendimentos e resoluções são impossíveis. Outros há a defenderem que a guerra e a violência são inerentes à natureza humana. Mas, se pensarmos bem, voar não é inerente à natureza humana e bem podemos dizer que a humanidade soube estender, nas

asas do avião, o seu corpo. Portanto, ainda que assim seja, não há lugar para a resignação que só apouca a humanidade.

Não podemos ter a certeza que a paz global é alcançável, mas é inegável que um mundo mais pacífico e harmonioso traz benefícios dignos. Alcançar a Paz mundial exige compromisso, cooperação e exímias capacidades de liderança por parte dos governos, das organizações internacionais. Mas, para alcançar a Paz, impõe-se fazer as pazes.

Confuso? Passamos a explicar: tanto “fazer a Paz” como “fazer as pazes” são ingredientes essenciais à receita para alcançar e manter a Paz mundial. O importante é reconhecer que a Paz começa connosco, na nossa relação com nós próprios e com aqueles mais próximos de nós. Nós somos o ponto de partida.

“Fazer as pazes”, no contexto da Paz mundial, é como curar feridas antigas para abrir caminho a um futuro harmonioso partilhado por todos. É como unir peças soltas de um quebra-cabeças global, reconhecendo que cada peça, por mais diferente que seja, é essencial para o desenho da Paz.

“Fazer as pazes” é plantar as sementes da Paz em solo fértil, nutrindoas com compreensão, respeito e empatia. É construir pontes sobre abismos de desconfiança e divisão, sabendo que juntos conseguiremos ultrapassar qualquer obstáculo. É escolher o amor sobre o ódio, a compreensão sobre a ignorância e a cooperação sobre a competição. É criar um mundo onde todos possam florescer livremente, sabendo que a força reside na nossa capacidade de nos unirmos em prol de um bem maior: a Paz para todos os povos e para todas as gerações vindouras.

Nós, jovens, somos os líderes do amanhã, e enquanto caminhamos para o futuro, iluminados pela tocha da liberdade, lembremo-nos do passado, para construirmos um mundo onde a sinfonia da Paz ecoe pelos séculos, unindo as nações na melodia eterna da esperança e da harmonia.

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Francisca Geraldes e Maria do Carmo Cabral, 11ºA Ilustração de Ana Rita Soares, 9ºF Ilustração de Ana Rita Soares, 9ºF Ilustração de Nair Queiroga, 9ºF

Ensino/Educação

Professora Eugénia Paula Almeida

No ano em que se comemora o 50º aniversário do 25 de Abril, o início da era da democracia em Portugal, o AEMM oferece a opção da disciplina de Grego, criando uma turma de 25 alunos. Uma coincidência que implicou persistência, perseverança e muita vontade por parte dos professores que acreditam que o conhecimento de línguas e culturas clássicas é uma mais-valia e de ousadia por parte de alunos que aceitaram um desafio que, à partida, não se afigurava fácil. Por outro lado, a estes alunos foi dada a liberdade de contactarem com excertos da Bíblia em grego e lerem pequenos textos de Esopo e Homero, entre outros, na língua original. Afinal, trata língua do povo que é o berço da democracia.

A palavra “democracia” deriva do grego “δεμος” ( povo) e “κρατια” (autoridade, governo). Por volta de 508 a.C., foi criado na cidade de Atenas um novo sistema político a democracia que representava uma alternativa à tirania. Este processo teve início quando o cidadão ateniense Clístenes propôs algumas reformas que concediam a cada cidadão um voto nas assembleias regulares relativas a assuntos públicos. A igualdade de todos perante a lei alicerçou um conjunto de reformas de clara inspiração democrática que, por sua vez, resultaram numa maior participação na vida política.

Ao falar de democracia e da Grécia não se pode ignorar o papel da Tragédia grega, que nasceu na moldura histórica peculiar das convulsões políticas e sociais do século V a.C., contemporânea da democracia, como dinamismo espetacular de educação cívica e partilha de valores identitários. Empenhada no objetivo superior de promover a reflexão filosófica, validando ou questionando os valores e as instituições, ela ampliou democraticamente a consciência e a virtude cívica, incrementando em simultâneo a certeza de uma identidade coletiva.

A representação trágica transcendeu seguramente a esfera da experiência estética de forma explícita como um mecanismo de educação ético-política.

A Grécia é o berço da civilização ocidental, é o berço de um bem que todos almejam, mas nem todos, infelizmente, experienciaram em pleno século XXI a liberdade.

Neste sentido, a disciplina de Grego constitui-se, entre outros aspetos, como um espaço que permite o exercício do dever de refletir, que possibilita o acesso à cultura (um passo gigante para garantir a liberdade), buscando no passado conhecimentos que permitem criar cidadãos com a consciência do belo, do bom e do moralmente correto, que saibam viver em democracia e que a respeitem e defendam como um valor supremo. Afinal, o que se está a festejar é a liberdade proporcionada pela Revolução dos Cravos.

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Liberdade de escolha na EDUCAÇÃO? Eis a questão.

Vivemos num mundo onde, com o passar do tempo, a liberdade de escolha adquiriu imenso protagonismo. Também na educação essa liberdade é pertinente: liberdade de escolher a escola, liberdade de escolher o curriculum, liberdade O Luís reside num concelho do interior do país e terminou o nono ano de escolaridade na escola secundária X, única escola pública com sede nesse concelho. Existe ainda, no mesmo concelho, uma escola privada. O Luís quer escolher o curso de artes, mas a escola X não dispõe dessa oferta; ela existe apenas na escola privada. O Luís pode escolher outra escola? Claro que pode. Porém, a escola pública mais próxima cuja oferta curricular inclui o curso de artes fica a mais de 100 km do local de residência do Luís e os pais do Luís não têm como suportar os custos associados à deslocação e muito menos podem pagar a mensalidade da escola privada. O Luís ainda pode escolher? Claro que sim. Existem três opções na escola do Luís: nenhuma é a que ele pretende, mas pode escolher uma delas.

As desigualdades socioeconómicas impedem que muitos alunos possam fazer uma verdadeira escolha e tenham de se limitar ao que está ao seu alcance.

Álvaro é o diretor da escola secundária X e gostaria de oferecer uma matriz curricular adequada às necessidades da comunidade em que se insere. Álvaro elaborou um projeto de intervenção que pretende ver implementado, onde está prevista uma alteração profunda da matriz curricular, uma melhoria clara das condições de trabalho dos recursos humanos e o conforto da comunidade escolar.

Terá possibilidade de concretizar o seu Projeto? Claro, se não for além dos 25% relativos à flexibilidade e autonomia, limitando-se à oferta complementar de escola e, quanto à melhoria das condições de trabalho e conforto, dados os parcos recursos da escola, se alguma entidade financiar a melhoria das condições físicas e tecnológicas.

Ao fim do primeiro ano de mandato, Álvaro gostaria de poder reconduzir no cargo vários docentes que exerceram funções na escola e que desenvolveram trabalho de qualidade ao longo do ano letivo, tendo-se mostrado uma mais-valia para a instituição, porém não está ao seu alcance fazê-lo, não é da sua competência. A colocação dos professores é da competência do poder central.

Na escola X existe um número considerável de docentes que entende que o diretor deveria ter opções diferentes na gestão da escola. Esses docentes também gostariam de ter participado de forma direta na escolha de quem os dirige, porém este modelo de gestão escolar entrega a responsabilidade da escolha do diretor a duas dezenas de pessoas onde a classe docente está representada em clara minoria.

Que liberdade de escolha temos, afinal, na escola? A liberdade de escolha não é para quem quer, é para quem quer e pode. Existem muitas barreiras à verdadeira liberdade de escolha, umas de natureza económica, outras de natureza social, outras, ainda, de natureza geográfica. Parece que existe a liberdade de escolher, o que resulta de uma ou mais seleções prévias, limitando as opções.

Na verdade, existe uma liberdade de escolha limitada, que muitas vezes se torna possível quase pelo acaso.

Na atualidade, a liberdade de escolha na educação é uma questão complexa. Justifica discussão em contextos diversos e recolhe diferentes perspetivas, com pontos fortes e pontos fracos que dependem de cada uma delas e de circunstâncias específicas.

Para a escolha ser possível importa que exista oferta e, na verdade, temos escolas públicas, escolas privadas, escolas religiosas, colégios, e até a modalidade de ensino em casa, que permitem às famílias várias abordagens pedagógicas e diferentes ambientes educativos. Se aos alunos e famílias a liberdade de escolha da escola permite maior diversidade de opções, às escolas obriga à competição e incentiva à inovação pedagógica e a novas abordagens do ensino, de forma a manter os seus alunos e conquistar outros. À partida, deve incentivar as escolas a estarem mais atentas às necessidades dos alunos. Se o caminho a percorrer é uma escolha nos-

sa, será realizado com maior entusiasmo; se o tema a estudar é do nosso interesse, o sucesso da aprendizagem será certamente maior. Como defendia o psicólogo Howard Gardner, é importante reconhecer e valorizar a diversidade de habilidades e talentos individuais e permitir que os alunos escolham caminhos de aprendizagem que correspondam às suas aptidões.

A este respeito, Paulo Freire, educador brasileiro, autor de várias obras na área da pedagogia, defendia a importância de uma educação que respeitasse e valorizasse a cultura e as experiências dos alunos, permitindo-lhes escolher temas e abordagens educacionais relevantes e significativas para as suas vidas. Porém, um sistema educativo onde 75% do currículo é definido e imposto pelo poder central não deixa grande margem à criação de uma identidade própria por parte da cada instituição de ensino.

Além disso, devido às desigualdades socioeconómicas ou mesmo de desempenho, a liberdade de escolha pode levar à exclusão de certos grupos de alunos menos desejáveis para certas escolas que procuram acautelar a sua imagem quando esta é sustentada em avaliações externas baseadas em rankings que têm como referência os resultados da avaliação externa dos alunos.

Importa reconhecer que nem todos os alunos têm acesso igual à liberdade de escolha na educação. Portanto, é essencial garantir políticas educativas que promovam a melhoria da qualidade das escolas, que invistam na melhoria da formação profissional dos recursos humanos, na melhoria os recursos tecnológicos e apoiem as famílias de modo a permitir que a liberdade de escolha seja para todos, garantindo que nenhum aluno seja excluído e todos tenham acesso a oportunidades de qualidade.

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Professor Henrique Jorge

Ensino/Educação

, A CIÊNCIA “PULA E AVANÇA”…

Antes da Revolução dos Cravos, 25 de abril de 1974, Portugal estava sob uma ditadura autoritária liderada por António de Oliveira Salazar e, posteriormente, por Marcelo Caetano. Durante esse período, houve uma certa estagnação no desenvolvimento científico e tecnológico do país. A política do Estado Novo limitava a liberdade académica e científica, reprimindo a livre expressão e dificultando o acesso a ideias e conhecimentos inovadores, incluindo os campos da Física e da Química, que era caracterizado por restrições políticas, falta de investimento e isolamento internacional, o que limitava o desenvolvimento dessas áreas.

Mas importa referir algumas das datas mais importante. Em 1929, foi fundada a Junta de Educação Nacional com o objetivo de reformar o sistema educativo português e promover o desenvolvimento da educação em todas as suas vertentes. Foi criada, em 1936, uma secção desta, o Instituto para a Alta Cultura, para estabelecer e apoiar diversos laboratórios e unidades de investigação ligados às universidades. Em 1952, o Instituto para a Alta Cultura foi reorganizado e assumiu um papel ainda mais proeminente no financiamento e promoção da investigação científica em Portugal. Embora estas iniciativas tenham representado um passo inicial no financiamento da investigação científica em Portugal, é importante notar que o investimento em ciência e tecnologia durante o Estado Novo foi geralmente limitado e, por vezes, foi um forte constrangimento ao desenvolvimento científico nacional. Nos últimos anos do Estado Novo foi criada a Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) e, também, os primeiros institutos sectoriais sob tutela de diferentes ministérios de investigação que estão na origem dos atuais Laboratórios do Estado.

sistema científico do país. No entanto, apesar dessas dificuldades, houve avanços significativos em termos de estabelecimento de instituições de investigação, como o Instituto Gulbenkian de Ciência, e a criação de políticas e programas para promover a investigação científica em Portugal. A partir dos anos 80, com uma maior estabilidade política e económica, o país começou a desenvolver estratégias mais claras e consistentes para o desenvolvimento do seu sistema científico e tecnológico. Um dos marcos importantes foi entre 1985 – 1989, quando Mariano Gago assumiu a presidência da JNICT, contudo é mais conhecido pelo seu papel posterior, especialmente como Ministro da Ciência e Tecnologia em três governos diferentes entre 1995 e 2011. Durante esse período, ele desempenhou um papel fundamental na modernização e fortalecimento do sistema científico e tecnológico português, promovendo o investimento em investigação e inovação, a internacionalização da ciência portuguesa e a criação de políticas para o desenvolvimento tecnológico e a promoção da inovação.

Assim, depois do 25 de Abril, começou a haver uma abertura política e cultural em Portugal, o que permitiu um maior desenvolvimento da ciência e da investigação no país. Registou- se um aumento significativo do investimento em educação, ciência e tecnologia e uma abertura política e cultural que permitiu o florescimento de novas ideias e iniciativas. O acesso a recursos internacionais e colaborações científicas também se expandiu, contribuindo para um ambiente mais dinâmico e colaborativo na comunidade científica portuguesa.

Além disso, a criação de instituições públicas e programas de financiamento específicos para pesquisa científica impulsionou ainda mais o progresso nesse campo.

Após o 25 de abril de 1974, e até meados dos anos 80, a intervenção pública na promoção da investigação científica em Portugal foi caracterizada por hesitações e uma falta de clareza em relação ao modelo de coordenação e desenvolvimento do

A investigação em Física e Química em Portugal tem ganhado destaque nas últimas décadas. Algumas áreas de investigação neste campo do conhecimento são:

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A investigação nessas áreas é fundamental para fazer avançar o nosso conhecimento sobre o mundo natural e desenvolver aplicações práticas numa variedade de campos.

Em resumo, em Portugal, a investigação em Física e Química é realizada em várias instituições e abrange uma ampla gama de temas e áreas de investigação. Os investigadores portugueses são ativos e contribuem significativamente para o avanço do conhecimento e desenvolvimento de novas aplicações nestas áreas.

Bibliografia:

Fiolhais, Carlos. (2015) 40 anos de Ciência em Portugal. Almedina, Coimbra. ISBN 9789724056494. p. 941-952.

Fundação para a Ciência e Tecnologia. História e Memória da Ciência, Tecnologia e Inovação em Portugal Acedido a 4 de março de 2024, em https://act.fct.pt/historiada-ciencia/historia-e-memoria-da-ciencia-tecnologia-e-inovacao-em-portugal/

Rodrigues, Maria de Lurdes (2017). Políticas de ciência em Portugal nos 40 anos de democracia [Versão eletrónica]. Revista Iberoamericana de Ciencia, Tecnología y CTS, vol. 12, núm. 36, pp. 11-31, 2017. Acedido a 4 de março de 2024, em Políticas de ciência em Portugal nos 40 anos de democracia (redalyc.org) P15

Ensino/Educação

Aliberdade que hoje vivemos nas escolas permite e favorece a manifestação dos afetos, criando experiências simples e bonitas de solidariedade, amizade e amor entre todos.

Cremos que este é um dos muitos caminhos que vale a pena trilhar para incutir valores democráticos e de cidadania nos nossos pequenos, adultos bem formados do futuro. Para isso trabalhamos.

Assim, em fevereiro, os alunos das turmas D3 e D5 da EB do Douro, em articulação com a Biblioteca Escolar, comemoraram o “Mês dos Afetos”. Realizaram o jogo da troca de amizade, partilharam e escreveram mensagens de carinho, elaboraram e trocaram postais, fizeram cartazes, deram abraços e beijinhos e até concluíram que, afinal, não há turmas, mas sim amigos!

Foram ainda estafetas da poesia e, com muito entusiasmo, expressaram sentimentos de amizade recitando o poema do “Amigo Aprendiz”, de Fernando Pessoa, entre outros relacionados com o tema, a toda a comunidade educativa. A experiência foi muito profícua, criativa e carregada de emoções.

Esta foi a conclusão a que chegaram os alunos da turma D5 da Escola Básica do Douro quando, no âmbito da Cidadania e Desenvolvimento, trabalharam de modo transversal a temática “Igualdade de Género”.

As pesquisas realizadas permitiram constatar que os Direitos da Mulher ainda se encontram aquém do desejável no acesso à educação, no salário e na participação política. Concluíram que não há profissões de homens e de mulheres, que a diferença salarial não faz sentido, uma vez que uns e outras trabalham lado a lado, como também não faz sentido discriminar quem exerce trabalho de acordo com a sua escolha e competência.

Foi ainda trabalhada a vida e obra de três mulheres inspiradoras: Marie Curie, uma personagem multifacetada cujo trabalho, desenvolvido na área da ciência, a tornou numa das mulheres

HÁ MULHERES PARA QUEM ABRIL” AINDA NÃO CHEGOU!...

mais influentes na História da Humanidade. Foi a primeira pessoa a ser laureada duas vezes com um Prémio Nobel. Beatriz Ângelo, figura nacional, deu o seu importante contributo para que as mulheres conquistassem o direito ao voto em Portugal. Malala Yousafzai ficou conhecida por defender o direito das mulheres à educação e foi a pessoa mais jovem a ser laureada com o Prémio Nobel da Paz.

Para assinalar o dia oito, Dia Internacional da Mulher, os alunos elaboraram um postal e recitaram um poema feito coletivamente por todos os elementos da turma.

A apresentação dos trabalhos, as pesquisas e os debates permitiram-lhes concluir que a igualdade de género é um caminho que se constrói todos os dias, em todos os contextos da vida do cidadão.

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Professoras Cecília Barros e Eugénia Silva Professora Cecília Barros

Este projeto nasceu do trabalho conjunto entre professoras e encarregados de educação, direcionado aos alunos das turmas A4 e A5 do 1º ano de escolaridade, da Escola Básica Abade de Mouçós. Conta com a cooperação das professoras e recursos da Biblioteca Escolar.

Cientes da importância dos contos para o desenvolvimento do imaginário e da capacidade criadora da criança, pensámos em tornar o momento da leitura deste tipo de texto mais íntimo e emocional. Assim, lançámos o desafio aos pais dos nossos alunos de serem eles a apresentar, todos os meses, ao longo do 2º e 3º períodos, os contos de vários autores, adequados a este grupo etário. As obras

e autores propostos foram: Aquela Nuvem e outras, de Eugénio de Andrade; Vamos contar um segredo, de António Torrado; Corre, corre cabacinha, de Alice Vieira; Pedrito Coelho, de Beatrix Potter; Dez dedos, dez segredos, de Maria Alberta Menéres e a Flor vai ver o mar, de Alves Redol.

Pretende-se promover a participação ativa dos pais e encarregados de educação no Projeto Educativo da Escola e promover a participação das famílias no processo de desenvolvimento de competências dos seus educandos. Como as ações de participação são realizadas no âmbito da Educação Literária, especificamente na apresentação de obras constantes do Plano Nacional de Leitura, adequadas ao

1º ano de escolaridade, é trabalhado, também, o domínio da leitura e da escrita. À medida em que são aprofundados conhecimentos sobre a vida e obra de escritores, são aduzidos os vários tipos de texto e dinamizada a leitura de forma expressiva/criativa e, muitas vezes, transformada esta, através das várias expressões artísticas, em música, teatro, dança e composições de artes plásticas. O objetivo primordial é desenvolver o gosto pela leitura e a leitura por gosto.

Até ao final do 2º período, foram apresentadas as três primeiras obras dos autores acima referidos e o esforço e empenho dos Encarregados de Educação/dinamizadores tem sido louvável.

As professoras das turmas A4 e A5, do 1° ano, da E.B. Abade de Mouçós, em cooperação com a professora da Biblioteca Escolar (dando continuidade ao projeto "Escola a Ler"), coordenaram atividades no âmbito da comemoração do centenário da morte do escritor Guerra Junqueiro

Foi planificada uma aula de Português, com o objetivo de promover a articulação entre o 1° Ciclo e o Pré-escolar e proporcionar uma experiência de continuidade educativa para os alunos de 5 anos, dos Jardins de Infância da referida escola e da E.B. de Vila Meã, que ingressarão no primeiro ano.

Depois da apresentação do ilustre escritor, de homenagens que lhe foram prestadas e a algumas das suas obras, os alunos foram agradavelmente surpreendidos com a dramatização do conto "João Pateta", realizada pelas suas professoras e educadora. Esta atividade mereceu muitas gargalhadas e um muito bom entendimento da história, que foi comprovado na organização acertada das imagens, da sequência da narrativa e aquando da resolução de uma ficha de leitura, a pares, nas salas de aula.

Uma experiência de leitura e de articulação bem-sucedida e, portanto, a continuar!

Professoras Alzira Perdigão e Raquel Santos
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Ensino/Educação

No PFpC o diálogo é utilizado para pensar grandes temas e facilitar o desenvolvimento de competências essenciais a uma cidadania humanista. Porque o momento assim o requeria (os 50 anos de abril), a Liberdade foi a temática escolhida para as sessões deste período.

Na impossibilidade de reproduzir aqui o diálogo ocorrido em tempo real com as falas das crianças individualizadas, procuramos por esta via representar o que esteve em discussão.

Um momento do “Agora Nós!” dos alunos da turma A3 (4.º Ano) do Centro Escolar de Mouçós.

1) O que é, para ti, ser livre?

R: Para mim, ser livre é poder fazer o que eu quiser. Ser livre é ter a oportunidade de viver feliz. Estar com quem eu quero e gosto. É ter a liberdade de dizer aquilo que eu penso.

2) Será que há várias formas/tipos de liberdade?

R: Claro que sim. Por exemplo: a liberdade de escolher o que vestir; a liberdade de brincar com os amigos; até a liberdade de escolher o sabor do bolo de aniversário. Se não houvesse liberdade, nós, as crianças, não tínhamos o poder de escolha.

3) E a liberdade de dizerem o que pensam? Já pensaram nisso? Vamos lá pensar: Então, o que é a liberdade de expressão?

R: Sim, eu já pensei; eu também… A liberdade de expressão é quando podemos dizer o que pensamos, seja a falar, a escrever ou até a desenhar! É poder partilhar as nossas ideias, opiniões e sentimentos sem ter medo de sermos punidos por isso. É importante porque nos deixa ser quem somos e mostrar o que sentimos sem termos de esconder nada!

4) Se te proibissem de dar a tua opinião sobre um assunto, concordavas? Porquê?

R: Não, porque é muito importante cada um de nós dar a sua opinião sobre qualquer assunto. Cada um tem o direito de ter a sua

opinião e é importante respeitar isso. Então, não concordaria com isso.

5) E a liberdade de movimento (liberdade de ir e vir…). Sabem o que é?

R: Liberdade de movimento é quando podemos ir aonde queremos, quando queremos! É a liberdade de andar na rua sem medos e sem ninguém a chamar-nos à atenção. Podemos sair de casa para brincar com os amigos, visitar a família ou até mesmo visitar novos lugares.

6) Outra coisa, e se te proibissem de vir à escola? Como te sentirias?

R: Se me proibissem de vir à escola, eu ficaria triste. Eu ficaria chateado… A escola é um lugar onde aprendo coisas novas, brinco com os meus amigos e divirto-me também. É onde posso crescer e aprender para ser alguém melhor no futuro. Então, sentir-me-ia muito triste.

7) E se não pudesses viajar para um país que gostavas de visitar, como ficavas?

R: Aí, se não pudesse ir viajar para um país que queria mesmo conhecer, ficava mesmo muito triste! Queria tanto explorar aquele lugar, ver coisas novas e provar comidas diferentes. Viajar é tão fixe, e era uma pena não poder ir! Mas, se não desse mesmo, podia sempre tentar aprender mais sobre o país através de livros e filmes e, quem sabe, um dia ainda conseguisse visitá-lo, não é verdade?

8) Como te sentirias se prendessem um dos teus amigos ou familiares, sem que eles tivessem feito nada de errado?

R: Se prendessem um dos meus amigos ou familiares sem que eles tivessem feito nada de errado, eu ficaria mesmo muito triste e preocupado! Não ia entender porque é que isso estava a acontecer. Eu ia querer ajudálos. Também ia ficar com medo, porque se isso aconteceu com eles, podia acontecer comigo ou com qualquer

pessoa. E isso era muito mau…

9) Sabes que há países cujos regimes políticos controlam a liberdade das pessoas? Qual a tua opinião sobre isso?

R: Eu acho isso muito triste e injusto! As pessoas deviam poder ser livres para fazerem as suas próprias escolhas e dizer o que pensam. Não é justo. Todos deviam ter direito à liberdade, porque é isso que nos faz sentir vivos e felizes. Espero que um dia todos os países possam ter liberdade para as pessoas viverem as suas vidas como quiserem.

10) E no nosso país, sempre houve liberdade? Fala sobre isso…

R: Antigamente, em Portugal, não era assim tão fixe. As pessoas não podiam falar à vontade ou escolher quem queriam que as governasse. Mas depois, aconteceu “uma mudança, uma coisa…” chamada "Revolução dos Cravos". Agora, podemos brincar e ser felizes sabendo que temos liberdade aqui em Portugal!

11) Consegues dizer uma data e um símbolo que marcam o aparecimento de um novo tempo, um tempo de liberdade?

R: Foi num dia muito importante, foi em 25 de abril de 1974! Sabes, foi quando os cravos apareceram e tudo mudou em Portugal! Antes, não podíamos dizer o que pensávamos, mas depois desse dia, podemos falar à vontade e escolher quem queremos que nos governe. Os cravos são como uma flor mágica que trouxe liberdade e alegria para o nosso país!

As professoras responsáveis pelo projeto (Manuela Leal e Deolinda Ferreira) agradecem a forma empática com que sempre as recebem e a excelente colaboração das crianças, da professora Elizete Brás (docente titular da turma) e da Coordenadora do Centro Escolar, professora Eulália Afonso. Gratas a todos…

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Professora Manuela Leal

O legado de Abril: por uma Educação que inspire, capacite, inclua Francisca Geraldes, 11ºA

Numa manhã impregnada de promessas e anseios, as ruas de Portugal despertaram sob um céu tingido de esperança e revolução. Era o dia 25 de abril de 1974, um marco inesquecível na história do nosso país. Nas ruas e ruelas das cidades e nas aldeias serenas do interior, o povo aguardava o desabrochar de uma nova era, onde as correntes da ditadura seriam finalmente quebradas pelo ímpeto de uma nação sedenta pela mudança.

Soldados avançaram pelas ruas, não com armas destruidoras, mas com cravos vermelhos, símbolo de vitória e paixão; os rádios ecoaram mensagens de esperança, anunciando o fim de décadas de opressão e o brotar de uma democracia. Era como se cada esquina, cada praça, cada rosto, transpirasse a ânsia por uma revolução há muito sonhada e nesse dia finalmente alcançada.

O 25 de abril é uma recordação viva do poder do povo e é nesta aura de memória e celebração que podemos relembrar e honrar não apenas o passado, mas também refletir sobre o significado da liberdade no presente e do seu papel inestimável na construção de um futuro mais justo e inclusivo para todos os portugueses.

Assim como a Revolução dos Cravos se imortalizou como um marco da liberdade em Portugal, a sessão distrital do Parlamento de Jovens, com o tema "Abril na Educação - caminhos para uma escola plural e educativa", revelou-se como mais um capítulo na saga da democracia e da participação cívica dos jovens.

No dia 27 de fevereiro, eu e mais dois deputados eleitos na sessão escolar do Parlamento dos Jovens, participámos, com os deputados das escolas do distrito de Vila Real, na sessão distrital do mesmo. Com o tema tendo como inspiração os 50 anos do 25 de abril, as propostas de cada escola teriam de promover a inclusão e a pluralidade das instituições educativas a nível nacional. Nos debates e nas ideias partilhadas, testemunhou-se o legado de Abril presente nas vozes dos jovens deputados que se ergueram para reivindicar uma educação que não apenas instrua, mas também inspire, uma escola que não apenas ensine, mas também capacite e inclua. É nestes encontros que cada passo em direção à inclusão e liberdade na educação é também um tributo à coragem e à visão daqueles que nos antecederam.

É na escola que se moldam mentes e se planta o conhecimento e o valor da liberdade, responsável pela criatividade e pelo pensamento crítico. É nos corredores das instituições educativas que amadurecem os nossos futuros líderes e é por isso que é tão crucial ter oportunidades como o Parlamento dos Jovens, onde os alunos podem aprender a arte da cidadania ativa e a importância de ter uma voz na política do país.

Assim como os cravos vermelhos desabrocharam nas espingardas dos soldados, a liberdade floresce nos corações e mentes daqueles que a defendem. É algo que devemos proteger, celebrar e promover. Que o 25 de abril seja sempre uma lembrança do poder do povo unido em prol da democracia e que as escolas continuem a ser espaços para a educação plural e participativa, onde cada jovem é protagonista da sua própria história e do destino da pátria.

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|Op i nião|

DE CASA ÀS ARMAS: VITÓRIA DELAS EM TODAS AS FRENTES

Antes do 25 de Abril, a mulher era tratada como um ser inferior ao homem. Elas governavam a casa, eles mandavam no mundo. Os direitos delas eram tão limitados que só lhes era possível sair do país com autorização do marido. Na história das mulheres, há desigualdade, discriminação e muita violência.

Após o 25 de abril, Portugal testemunhou uma transformação significativa na participação das mulheres na vida social em geral e no ambiente militar em particular (tema da nossa pesquisa), marcando uma mudança radical em relação ao período anterior.

Antes da Revolução dos Cravos, as Forças Armadas eram predominantemente compostas por homens, com as mulheres limitadas a funções auxiliares e administrativas, confinadas a papéis secundários e subestimadas nas suas capacidades.

No entanto, com a chegada da democracia e o fim do regime autoritário, as mulheres começaram a ganhar espaço e reconhecimento dentro das Forças Armadas. Essa mudança não respondeu apenas a uma questão de justiça social: foi também uma resposta às necessidades do momento histórico.

A partir desse período, observou-se um aumento gradual da representação feminina em todos os ramos das Forças Armadas, desde o Exército até à Marinha e à Força Aérea. As mulheres passaram a desempenhar papéis ativos em operações militares, participando em missões nacionais e internacionais, e contribuindo de forma significativa para a segurança e defesa do país.

Essa mudança não ocorreu pacificamente, sem obstáculos desafiantes. Inicialmente, as mulheres enfrentaram resistência e preconceitos enraizados dentro da instituição militar. No entanto, ao longo do tempo, as Forças Armadas Portuguesas demonstraram um compromisso crescente com a promoção da igualdade de género e a criação de um ambiente inclusivo para todos os seus membros.

Hoje, as mulheres desempenham papéis fundamentais em todos os aspetos das Forças Armadas, desde a linha de frente até aos cargos de liderança. As suas contribuições têm sido fundamentais para fortalecer a eficácia operacional e a coesão das tropas, enquanto também desafiam perceções tradicionais de género e abrem caminho para futuras gerações de mulheres militares, de mulheres no poder.

(Nota: Texto elaborado a partir do testemunho de uma senhora que integra as Forças Armadas, entrevistada por este grupo de alunas no âmbito do seu projeto interdisciplinar sobre a igualdade de género.)

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Ana Rita Marracho, Adriana Anjos, Beatriz Marcelino (11ºA)
https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.exercito.pt%2Fpt%2Fjunta

Onde chegamos!

No país das cinco quinas, a Liberdade, no mês dos cravos, completa 50 voltas ao sol. Senhora de meia-idade, apesar de dotada de sabedoria e experiência vastas, não escapou à ideia que mata todas as ideias – o fascismo. O palco é de pessoas que existem mas não pensam. Descartes deverá estar a dar voltas no túmulo! Atropelada por vozes xenófobas e chauvinistas, a Liberdade é ameaçada por sombras que falam de raça, como se entre nós e os outros houvesse um abismo intransponível.

Porém, ela continua vaidosa. Tam-

Linhagem de Mateus

Professora Carla Pomar

bém não é para menos orgulha-se do passado, dos valentes da revolução que, com bravura e por ela, travaram a derradeira luta. Mas assim que o seu pensamento a leva para o tempo que ainda há de vir, os seus olhos ficam humedecidos e o coração magoado. A sua atual condição evoca a necessidade de cuidado e atenção para superar as dores e reencontrar a sua autodeterminação.

Força, Liberdade! Recupera a esperança. Onde chegamos não é o fim!

Fotografia aérea de Mateus, anos 60 Gentilmente cedida por J. Barreira Gonçalves

HORTOTERAPIA: uma LIBERDADE que compensa!

A hortoterapia é um tratamento com base no cultivo de plantas e na jardinagem para melhorar a saúde física, mental e social.

Os principais benefícios físicos são reduzir a obesidade, elevar a poder imunitário do organismo e melhorar a coordenação motora.

Do ponto de vista da saúde mental, a hortoterapia combate a depressão, reduz a ansiedade, melhora a autoesti-

ma, aumenta a satisfação e a qualidade de vida.

Socialmente, proporciona relacionamentos com outras pessoas, ao favorecer a troca de experiências e ideias sobre o cultivo de plantas.

Esta terapia é de baixo custo, pois apenas exige vasos, terra e sementes que pode colocar numa janela, na varanda ou num pequeno terreno.

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Fotografia de Ana Carvalhais
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Professora Otília Duarte

Longe vão os tempos em que a mulher portuguesa precisava de autorização masculina para quase tudo e tirar a carta de condução não era a banalidade que hoje conhecemos. Maria Fernanda Teles de Castro, nascida em 1900, foi uma das primeiras mulheres a ter carta de condução em Portugal.

Apesar de muitos pensarem - ainda hoje - que o automobilismo é um desporto para homens, foi no século passado que surgiu a primeira automobilista de todo-o-terreno portuguesa. Joana Lemos, nascida em Lisboa a 24 de abril de 1973 (em vésperas da Revolução, ou melhor, à distância de um ano e um dia da proclamada Liberdade), era automobilista e gestora. Correu em duas e quatro rodas, iniciando a sua carreira em 1990. Seria a primeira portuguesa a competir nas provas do deserto e a mais nova do mundo a concluir a Taças das Senhoras do Paris-Dakar. Após interromper a sua carreira desportiva em 2006, continuou proativa na área do desporto automóvel, como organizadora de grandes eventos de automobilismo em Portugal, como o Rally LisboaDakar.

Quanto a circuitos urbanos, queremos destacar o de Vila Real, nosso e internacionalmente conhecido. Mas, nas corridas da nossa cidade, até às décadas de 80 / 90, existem poucos registos de mulheres portuguesas a participar. Na verdade, a primeira mulher a correr no Circuito Internacional de Vila Real foi uma italiana, Maria Teresa de Filippis, nascida a 11 de novembro de 1926. Acelerou na nossa pista em 1958, num Maserati A6GCS. Mulher destemida, era uma apaixonada por velocidade desde muito nova. Cresceu a assistir a corridas e sonhava um dia poder participar. Não permitiu que as convenções da época, bem como o seu género, a impedissem de fazer aquilo de que gostava. Em 1958, tornou-se a primeira mulher a competir em grandes prémios de Fórmula 1. Regressaria a Vila Real mais tarde, em 2007, para ser homenageada na promoção do circuito. O percurso de Filippis no desporto automobilista sofreu todos os preconceitos da mulher ao volante, tendo sido algumas vezes impedida de competir, apenas porque a visão machista entendia que o único capacete que deveria usar seria o do cabeleireiro.

Nas últimas décadas, o número de mulheres que se entregam ao automobilismo cresceu exponencialmente. Basta ver algumas das que já passaram pelo famoso circuito da nossa cidade transmontana: Renata Parente, em 2010; Adriana Barbosa, em 2014; Rita Azevedo, em 2015; Rita Graça, que se estreou no circuito de Vila Real em 2017; entre outras.

Felizmente os tempos mudaram e as vontades e as perspetivas também. Por isso: acelerem, Senhoras!

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Maria Teresa de Fillippis, anos 50 | https://historiahoje.com/ Miguel Moura e Gonçalo Anjos, 11ºA

Somos feitos de escolhas! Escolhas de sentido consentido! Escolhas feitas de razão e emoção que se agarram à pele e nos marcam a alma.

Escolhi-me! Dentro dos limites do possível, escolhi Ser Professora. Uma escolha de vida e

do, muito antes da sua chegada, que os seus filhos “seguiriam os estudos”, como se falava em casa quando se recordavam os tempos idos. Benditos pais que assim pensaram e assim fizeram. Que orgulho desses pais capazes de pensar “fora da caixa”!

professora simbolizava sabedoria e liberdade.

E sim, essa criança sou eu! Professora por convicção, professora de Filosofia por paixão. Amo o que sou e o que faço! Daquele tempo trouxe lições de liberdade, duma liberdade

para a vida. Costumo dizer que “Se não fosse professora, tinha que ser professora!”. Escolha que me define, mas que responde a uma escolha maior. Escolhi Ser Livre! Escolha sentida e de sentido, pois nada é por acaso, a não ser o próprio acaso, tudo o resto é circunstancial.

No começo das circunstâncias está uma criança livre e feliz, filha de um tempo não-livre. Corriam os anos sessenta quando essa criança-menina, muito desejada, veio juntar-se a dois irmãos, quase homens, para gáudio de toda família, sobretudo dos pais que, apesar da idade fora dos parâmetros da maternidade/paternidade daquele tempo, a amaram desmesuradamente. Essa menina cresceu com as regras que, àquela época, se impunham para uma “boa educação”, mas que não eram impeditivas de brincar na rua e no largo da aldeia com os amigos-vizinhos. E como ela gostava dessa liberdade que a “rua” e a fértil imaginação, própria das crianças, lhe proporcionavam.

Foi ali, numa pequena aldeia, do interior transmontano, que desde cedo começou a desenhar o seu caminho. Gostava da escola, de aprender coisas novas, até saber cantar a tabuada, as serras e os rios, eram atos prazerosos, e continuar a estudar, além dos muros da escolinha, era um desejo que abraçava. Desejo esse em que não era acompanhada pela generalidade dos colegas, pois a escola e, sobretudo, o que fosse além da quarta classe, não só era pouco valorizado como muitas famílias secundarizavam essa opção. Os magros recursos económicos e a inexistência dessa oferta de ensino público no meio envolvente, ou seja, na vila, sede de concelho, favoreciam a baixa escolarização que se fazia sentir, em particular nos meios pequenos e mais afastados do litoral e das grandes cidades. Quis “o destino” que esta menina tivesse nascido numa família com um pensamento divergente e, que, apesar de humilde em recursos, fosse Grande em sabedoria. Conscientemente os seus pais tinham decidi-

Brincava “às professoras” e confidenciava às amigas que queria e ia ser professora. Não fosse a professora, a sua professora, uma diferente todos os anos, o modelo a vestir. Uma escolha fácil, pois, apesar dos pesares, era, de entre as “pessoas importantes” da aldeia, a única que representava algo de positivo. Deixando de lado os “ricos” que, sabe-se lá porquê, não lhe diziam nada, frequentavam a aldeia, esta e as demais, três pessoas importantes e que representavam, por vias diferentes, o poder. O poder da religião e da fé habitava o Sr. Padre, o poder político era representado pelos “homens da farda”, a GNR, e o poder do conhecimento encarnava na professora, pois eram sempre mulheres.

Não havia que enganar! Não gostava de padres, profissão de homens, e os pais, pessoas de fé, não eram frequentadores assíduos da igreja, chegando mesmo a ter quezílias judiciais com um desses senhores da batina preta. Os “homens da guarda” não lhe granjeavam apreço e, sempre que se apercebia da sua chegada ao largo da aldeia ou os avistava a subir a rua, fechava-se em casa. E não era a única, pois ainda que tudo parecesse normal, o silêncio que se fazia sentir só era interrompido pelo ladrar dos cães. É que nem aos companheiros do homem conseguiam agradar. A farda era marco de autoridade e eles eram os representantes dum poder ditatorial, pelo que o silêncio era o “pão nosso de cada dia” e, ainda que nem sempre praticado, as consequências dessa insurreição, real ou forjada, eram absolutamente indesejáveis. Nunca mais gostou de fardas! A professora, apesar da “régua”, alimentava as crianças com sabedoria e, na dose certa da temporalidade, dotava-as de asas. Era na escola que se lançavam as sementes do voo. E era na mulher-professora que essa menina vislumbrava a capacidade de voar. Idealizava o dia em que também ela encarnasse essa posição de mulher-nómada semeadora de sonhos. Desta feita, é facilmente entendível a escolha dessa crian-

que eu sentia e que nem as conversas sussurradas entre os mais velhos, dentro das quatro paredes, conseguiam anular. Como reza o poeta “não há machado que corte| a raiz ao pensamento| (…) | porque é livre como o vento| porque é livre, (Carlos Oliveira). Hoje canto a liberdade nas aulas e apregoo-a aos quatro ventos. Haverá melhor lugar do que a sala de aula, do que as aulas de filosofia, para se cantar e semear a liberdade? Alguns dirão que sim. Eu digo: talvez, mas duvido!

Entre as fronteiras do programa e os referenciais do currículo formal há todo um espaço, que integra, ainda, o currículo oculto, para ensinar a pensar a liberdade. E como é imperioso defender e manter viva a liberdade, já que nela se alicerça o sentido do humano. O mundo precisa de pessoas humanistas, de cidadãos ativos e interventivos, habitados por uma liberdade responsável e empática.

Aqueles que um dia se viram ou ainda veem privados de liberdade são os que melhor reconhecem o seu valor. Os não livres priorizam a liberdade nas suas escolhas. Antes e acima de tudo escolhem ser livres. A elevação do homem, sobretudo do oprimido, é a única forma de viver com plenitude, e pressupõe a substituição do “tu deves” pelo “eu quero” (Nietzsche). Ser livre é ser autêntico, pois só o homem livre pode assumir o papel de artista da sua própria vida.

Foi essa escolha de liberdade que habitou os homens de abril, em Portugal. Homens que lutaram pela liberdade de um povo, que não se vergaram ao jugo da ditadura. Essa luta, feita de cravos, de há cinquenta anos, trouxenos até aqui, fez-nos homens e mulheres livres, senhores da nossa vida e das nossas escolhas. Que essa lição do passado seja, hoje e sempre, presente!

Sim, eu também escolhi ser livre! Somos feitos de escolhas! Escolher não escolher já é uma escolha, como dizia Sartre, o filósofo existencialista francês.

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Professora Manuela Leal

Memórias |

Professora Anabela Quelhas

Passaram-se 50 anos, eram crianças e jovens, como todas as crianças e jovens que têm passado neste agrupamento.

Alguns ainda não tinham nascido. O desafio da biblioteca constou em descobrir quem era quem mediante fotos tiradas no ano de 1974 de elementos da comunidade escolar e afixadas no acesso às bibliotecas das escolas Monsenhor Jerónimo Amaral e Morgado de Mateus, em simultâneo, aceder a alguma informação sobre a Revolução de Abril.

Para os alunos de hoje, este marco histórico da democracia portuguesa é algo distante, com significado menor, sendo dever da Escola lembrar e valorizar.

Para eles, a democracia e a liberdade são tão naturais como respirar, porque não conheceram outra realidade, porém, deverão ter consciência que nem sempre foi assim.

Todos os representados nestas imagens nasceram numa ditadura, onde se vivia na miséria, com elevado analfabetismo, sem liberdade de expressão, com prisões cheias de pessoas que pensavam diferente e com uma guerra de muitas frentes de combate, onde os jovens com 20 anos, combatiam e muitos morriam. Foi necessário fazer uma revolução para acabar com isto e conquistar a liberdade.

A democracia é um ideal que deve ser alimentado diariamente e encontra muitos obstáculos. Apesar de tudo, hoje vivemos melhor do que há 50

UEM É QUEM?

anos. A guerra terminou, podemos eleger os nossos governantes, todos têm oportunidade de estudar na Escola Pública, há mais igualdade social, temos um Serviço Nacional de Saúde que, apesar dos problemas, apoia muitos portugueses, estamos integrados na Comunidade Europeia e todos têm liberdade de expressão.

Quem é quem no 25 de abril de 1974?

Identifiquem quem está lá, mas sobretudo identifiquem a esperança numa sociedade melhor e a avidez pela liberdade. A democracia constrói-se num caminho onde todos podemos participar e lutar por uma vida melhor, tendo o cuidado de não pôr em causa os pilares dessa democracia e as conquistas realizadas ao longo destes 50 anos. E conquistamos tanto! E a liberdade? É preciso cuidar da nossa e saber onde começa a liberdade dos outros, respeitando-a, hoje e todos os dias.

Gratidão por todos os que fizeram a Revolução de Abril e por todos os que valorizam a democracia e a liberdade. Tu, que tentas descobrir quem é quem, o que tens feito e o que irás fazer para não te tirarem a liberdade? Continuarás a respeitar este legado? Como valorizarás e enriquecerás o caminho da democracia?

P??
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Memórias: O início… de uma nova vida!

Professora Ana Paula Ribeiro

Era uma manhã fria como tantas outras. Mas aquela manhã de janeiro de 1973 mudara toda a minha infância e a vida da nossa família.

O meu pai, homem desde muito cedo insatisfeito com a vida em Portugal, já tinha tudo combinado com um tio que morava em Chaves e com um espanhol habituado a fazer “passar portugueses” para o outro lado da fronteira, a troco de dinheiro.

O meu pai apenas possuía o passaporte para a minha mãe e para o meu irmão mais novo, mas todos tinham que partir.

Naquele dia, por volta das dez da manhã, já com as malas colocadas no nosso Peugeot 404, iam, em família, tentar a sorte noutro país: França.

O encontro estava marcado para as treze horas, numa taberna em Vila Verde da Raia, já perto da fronteira. Sentado numa mesa, estava o tio com um desco-

nhecido, que rapidamente trocaram umas palavras e acertaram o próximo encontro. O espanhol, homem de poucas palavras, colocou-me às cavalitas, pegou na minha irmã ao colo e saiu.

Os meus pais ouviram atentamente as informações dadas pelo espanhol ao tio, despediram-se e dirigiram-se para a fronteira, onde passaram sem qualquer problema.

Passado uma hora, o reencontro fez-se de novo num café, mas

desta vez em território espanhol. Os meus pais entraram e logo viram o contrabandista sentado à lareira, comigo e com a minha irmã, à espera deles. Conta a minha mãe que foi um alívio, quando nos viu. Após uma curta conversa despediram -se e entrámos no nosso Peugeot 404 para iniciar uma viagem de muitas horas até à casa que seria nossa durante longos anos.

Tenho poucas memórias desse tempo, mas lembro-me que, um

NUNCA DIGA ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL!1

Professora Maria Manuel Carvalhais

O dia 25 de abril de 1974, para mim, nasceu semelhante aos anteriores, mas rapidamente se tornou muito diferente.

Arranjar-me e fazer a pé o percurso para a escola Diogo Cão foram os passos rotineiros. A primeira aula era de Ciências Naturais e a turma, só meninas, entrou na sala específica à hora certa e aguardou a chegada da professora: chamava-se Fátima Barros Ferreira e foi ela que, passados uns inabituais longos minutos, nos veio anunciar que houvera uma Revolução, que não haveria aulas nesse dia e que devíamos regressar a casa! Pasmo geral! Uma “Re-vo-lu-ção”?! Não íamos ter aulas e não podíamos ficar a jogar à barra forte no recreio?! Mas o ar solene da professora não deixava dúvidas: saem por aquela porta e vão direitinhas para casa, entendido?

Em casa, na sala de estar dos meus avós, havia assembleia familiar. Não era inédito: no “núcleo duro” da nossa

1 Conselho amplamente repetido em programas femininos da “socialite”.

família – avós maternos, meus pais, eu e, mais tarde, meus irmãos – sempre houve debate e liberdade de expressão. Mas, nesse dia de possível esperança e de incerteza certa, uma preocupação adensava o ambiente: é que o meu pai era o jovem Presidente da Câmara Municipal em exercício, um cargo de nomeação e, consequentemente, político. Esse facto colocavao ou colocava-nos em perigo? Ninguém podia saber, nesse dia primeiro dos dias diferentes, que a Revolução seria exemplar na forma pacífica como decorreu.

Não pôs, pelo menos fisicamente. Não foi necessário rumar ao Brasil, como alguns aconselhavam, para nos “refugiarmos” junto dos nossos parentes, descendentes do bisavô emigrante. Nada disso. Permanecemos, resistimos aos embates, que sempre os há, aprendemos muito sobre a natureza humana, continuámos a reunir e a debater na sala de estar dos meus avós e passámos a usufruir plenamente da liberdade que aprendêramos a construir em casa.

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Memórias

Memórias

O meu avô, Fernando Garcia, nasceu em Tabuaço em 1949. Com um ano de idade, foi para África e ficou a viver em Luanda, Angola. Frequentou a Escola Industrial Oliveira Salazar. Nos tempos livres ajudava o pai, na oficina, a reparar carros e camiões. Com 18 anos, ofereceu-se como voluntário para a Força Aérea e veio para Portugal, para a base da Ota, onde tirou um curso de mecânico atirador. Em Alverca fez a prática. Foi enviado para Angola onde exerceu a atividade de especialista nos helicópteros Puma e Allouette. Colocado na Base Aérea de Luanda, fazia missões no mato, em plena guerra. Veio casar a Portugal e regressou a Luanda. Terminou a sua vida militar em 1973 e em 1975 voltou definitivamente para Portugal com a família.

teatro (revistas), livros, anúncios publicitários, etc.

Tiago - Havia alguém que apoiasse, nestas condições, o governo de ditadura?

Avô - Há sempre! Quem pretende impor-se no meio político! Nesta altura só havia um partido autorizado pelo Governo – a União Nacional. Salazar, assim, conseguia saber quem estava com ele e quem estava contra ele. Criou a Legião Portuguesa, uma espécie de exército que tinha por objetivo defender a Nação e proteger o país da ameaça comunista. Criou ainda a Mocidade Portuguesa, destinada a jovens e crianças dos 7 aos 14 anos. Procurava desenvolver o culto do chefe e o espírito militar.

Tiago - Também pertenceste à Mocidade Portuguesa?

interesse que estes territórios continuassem nossos. Mas o governo português não se preocupava com a vida e valorização dos negros. Pouco ou nada se fez para que eles estivessem satisfeitos e começaram movimentos de revolta. O objetivo era a independência.

Tiago - Porquê?

Avô – Todas as antigas colónias europeias eram já independentes! As nossas colónias desejavam a independência e a mudança! As guerrilhas e a violência aumentaram, o que provocou milhares de mortos, negros e brancos. Só a revolução do 25 de Abril acabou com o regime de ditadura e deu início a um período de liberdade e democracia. As colónias viram o momento certo para obterem a independência.

Tiago - Como se deu essa independência?

Tiago - Quando deste conta que, no teu país, não havia “liberdade”?

Avô – Desde miúdo, ouvia o meu pai dizer que “o que se ouve em casa não é para ser contado lá fora”! Mesmo em Angola, as pessoas não podiam falar em política, muito menos criticar o governo, por exemplo, no café ou noutro lugar público. Dar opinião ou pôr em dúvida podia ser um passo certo para ir parar à prisão! Nunca se sabia se havia por perto agentes da PIDE! Três ou quatro pessoas em grupo a conversar, era logo motivo para desconfianças!

Tiago - O que acontecia às pessoas que eram contra?

Avô - Todos os que não concordavam com Salazar viveram momentos de terror. Quem se arriscava a falar sobre o que se passava em Portugal (Continente e Colónias Ultramarinas) ou sobre ideias diferentes, era perseguido, torturado e preso. Eram enviados para o campo de concentração do Tarrafal, situado na ilha cabo-verdiana de Santiago. Ficavam ali isolados, deixados ao abandono sem quaisquer condições, torturados, chegando mesmo a morrer. O forte de Caxias e de Peniche foram também prisões políticas.

Tiago - Os jornais não davam essas notícias?

Avô - Nem pensar! A Censura cortava qualquer artigo que fizesse alusão ou desse a entender que o assunto era antissalazarista! Os jornais eram obrigados a enviar à Comissão de Censura 4 cópias de cada página. O censor com o seu “lápis azul” anulava, aprovava, com ou sem cortes, notícias, canções, peças de

Avô - Sim, pertenci! Eu e todos os meus colegas da escola não pudemos escapar àquela farda (calções, camisa verde, bivaque)! O pior eram os desfiles nas ruas de Luanda e as marchas noturnas, mas o melhor eram os acampamentos! O meu pai não gostava nada destas manifestações fascistas! E muitas vezes me ocupava na oficina, como desculpa para eu não ir!

Dar opinião ou pôr em dúvida podia ser um passo certo para ir parar à prisão! Nunca se sabia se havia por perto agentes da PIDE!

Tiago - Salazar valorizava as Colónias?

Avô - Salazar era inteligente e manter sob o seu domínio as colónias (Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné e S. Tomé e Príncipe) demonstrava ao mundo o poder e a grandeza da pátria portuguesa. As matérias-primas (algodão, café, minérios, sisal, etc.) eram essenciais para a indústria portuguesa que enviava depois produtos industriais e alimentares Segundo as teorias salazaristas, as colónias faziam parte integrante da Nação Portuguesa. Competia a Portugal defender, civilizar e colonizar os territórios do Império Colonial Português.

Tiago - Também andaste na tropa, na Guerra Colonial?

Avô - Tive que ir... Mas resolvi oferecer-me para a Força Aérea, antes de ser chamado.

Tiago - Por que razão havia essa guerra?

Avô - Como já te disse, as colónias eram muito importantes, porque de lá vinham muitas riquezas – petróleo, diamantes, café, algodão, açúcar, etc. Havia,

Avô - Muito mal! Muito mal... toda a gente sabia que mais tarde ou mais cedo isso se viria a dar, que a guerra não ia durar muito, mas a forma como se fez não foi a melhor para ninguém! Como sabes, fui para África com um ano de idade e sempre me considerei angolano, casei e voltei para Luanda, o meu filho, teu pai (Pedro) nasceu lá, a tua tia Lídia nasceu em Luanda, o meu pai, o teu avô Jorge chegou a Angola com 24 anos de idade, sem recursos, trabalhou no duro e investiu... Chegou com nada e partiu sem nada... Acabamos por ter de “fugir”...

Tiago - Vamos mudar de assunto porque vejo que ficaste triste! O que é, para ti, viver em democracia?

Avô – Quem, como tu, não faz ideia do que é viver em ditadura, só fazendo a transição se sente e percebe!... Comparando a escola de hoje com a escola do meu tempo: as salas eram separadas para rapazes e raparigas; tínhamos de usar bata; os livros eram escolhidos pelo Estado, os funcionários públicos e os professores não se podiam casar sem autorização do governo; os alunos da universidade não podiam fazer concentrações nem manifestações porque eram presos pela PIDE... as mulheres eram aconselhadas a ser donas de casa e viver só para a família. Eu, como vivi durante o Estado Novo (ditadura) e depois da revolução do 25 de abril, tenho que dizer que só em democracia as pessoas se podem sentir em liberdade respeitando as ideias dos outros.

Tiago – Obrigado, avô Fernando, por teres estado à minha disposição nesta entrevista que a professora Ana André sugeriu! É muito bom que todos fiquem a saber um pouco mais sobre a época da ditadura por alguém que a viveu!

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Tiago Garcia (12.ºC)

7deOutubrode1965 Memórias

Decorria o ano de 1965 e o outono tinha chegado e com ele as tão esperadas vindimas. Trabalho abençoado para todos, miúdos, graúdos, homens e mulheres que esperavam arrecadar alguns “tostões” para as despesas do ano. Os pequenitos, enquanto a escola não abria, de cesta na mão, acompanhavam os pais na tarefa da vindima, apanhando os bagos que caiam ao chão no momento do corte dos cachos. Tarefa difícil, mas que ajudava a levar mais algum dinheiro para comprar o que era necessário para a escola: o livro, que era único, a lousa e o regrão/ ponteiro, que facilmente se partiam … e, não menos importante, a roupa e um par de sapatos/botas ou socas. Chegava outubro e, pelas ruas da aldeia em direção ao largo da escola, meninas e meninos desciam ruas e ruelas até chegarem à escola. As meninas, ao contrário dos rapazes, aguardavam, perfiladas, a professora junto à escola. À sua chegada saudavam-na com um levantar de braço e um forte bom dia ou boa tarde.

A escola era um edifício de dois pisos. No rés-do chão funcionava a escola masculina e, no primeiro andar, ao qual se acedia por uma escada ingreme e muito estreita em madeira, era a escola feminina. Chegadas ao cimo dessa escadaria havia um hall e um pequeno compartimento com uma “sanita” em madeira para a professora. Seguia-se a sala de aula. Carteiras e mais carteiras todas em fila! Um quadro negro em ardósia colocado na parede fronteira exibia o abecedário maiúsculo e minúsculo, com letras primorosamente desenhadas.

Era outubro! Pela mão da minha mãe sou levada até à escola. Receosa, com medo, com curiosidade …um misto de sentimentos atordoava-me, mas a motivação para aprender a ler e a escrever, incutida pelos meus pais, alimentava esse ensejo. Era importante seguir os passos do meu irmão que já se tinha iniciado, há alguns anos, no mundo das letras!

As carteiras ficaram todas preenchidas. Naquela sala estavam alunas dos 6 aos 12, 13 anos talvez, num total que ultrapassava as trinta, dos quatro anos de escolaridade. Havia duas janelas e uma pequena varanda de onde a professora, na hora do recreio, se certificava de que não haveria misturas com os rapazes.

Ano após ano, fui aprendendo aquilo que se pretendia que aprendesse, não sem ter experimentado a célebre “menina de cinco olhinhos” sempre que não correspondia ao que a professora queria.

Os invernos eram rigorosos, o frio apertava, as mãos engaranhavam-se e ficavam cheias de frieiras! Na sala havia apenas uma braseira, debaixo da secretária da professora, que era levada dia a dia por uma aluna diferente. Sanita, para as alunas, não havia! As necessidades eram satisfeitas num quinteiro, ao ar livre, entre uma habitação e a capelinha do Sr. dos Aflitos.

Tantas alunas! Tão diferentes umas das outras, umas mais capazes do que outras, mas a mesma exigência. Que tarefa difícil a da professora, que tinha de preparar todas por igual! Chegadas à quarta classe éramos submetidas a um exame que nos levava até uma escola de Vila Real, onde, numa primeira fase, realizávamos a prova escrita e, caso ficássemos aprovadas, faríamos a prova oral. Como era exigente este exame! O melhor de tudo isto era que, nestes dias, estreávamos roupa e sapatos novos! A professora sempre com o coração nas mãos, rezava para que não falhássemos, pois estava em causa a sua reputação como professora. O ministério exigia-lhe 75% de sucesso.

Antes, nos meses de maio e junho, para se prepararem para o tal exame, logo que o sol nascia, as alunas da quarta classe rumavam a casa da professora a fim de resolverem problemas e mais problemas, praticarem a escrita, aplicarem a gramática…. Passei! Passamos todas! Éramos crianças felizes! Tínhamos objetivos… mas só quatro alunas continuamos os estudos. As outras ficaram pela aldeia entrando no mundo do trabalho. Os anos foram passando e já prestes a completar os 15 anos de idade, eis que na manhã do dia 25 de abril de 1974 a rádio anuncia a revolução. Não saí de casa. Acompanhei as notícias pela rádio e pela televisão que ainda era a preto e branco. Tudo o que se passou na sociedade e no ensino depois, tem sido sobejamente descrito.

Formei-me no Magistério Primário. Exerço esta profissão que abracei, com muito amor e espírito de missão, há 44 anos. Alguns anos foram muito difíceis, mas cada vez é mais difícil ser professor, aquele que foi, é, e sempre será o pilar fundamental da EDUCAÇÃO!

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Professora Maria Olinda Ledo

VOZES SUSSURRADAS… NUNCA SILENCIADAS!

Professora Teresa Margarida Capela

A sátira política e social anima as páginas dos cânones literários portugueses, visando inspirar a reflexão crítica dos leitores. Encontramo-la ao longo de séculos, nos versos do teatro vicentino; nas reflexões do poeta da epopeia camoniana; nos ataques de Garrett contra o cabralismo; na representação caricatural da decadência política generalizada de Eça; nas diversas produções neorrealistas de feição materialista e politicamente “engagée” contra o regime salazarista; no teatro épico - ao modo brechtiano - de Sttau Monteiro; nos acutilantes romances de Saramago

Estes e muitos outros autores usaram a sua arte como estandarte ideológico, como arma de arremesso verbal, de conteúdo político mais ou menos explícito, mais ou menos violento, mais ou menos perigoso, num atrevimento temerário nem sempre prudente - que o inconformismo corajoso e a resistência heroica espoletam –contra os poderes insensíveis, incompetentes, absolutos, autoritários, repressivos, coercivos, abusivos. Poderíamos evocar muitos outros adjetivos e muitas outras obras também - poéticas, narrativas, dramáticas - retratos de vários momentos sombrios da história nacional em que o lema miguelista “Em política, quem não é por nós é contra nós” (Sttau Monteiro), de uma forma ou de outra, se repetiu, para perseguir e condenar inocentes ou para os conduzir a exílios tiranamente forçados ou profilaticamente autoinfligidos.

Decorridos cinquenta anos desde a Revolução dos Cravos, não esquecemos o traço azul sob as palavras censuradas de um povo que quiseram manter ignorante e mudo, para mais facilmente o manipular (“Trocaram tudo em maldade, / é quase um crime viver. / Mas embora escondam tudo / e me queiram cego e mudo, / não hei de morrer sem saber / qual a cor da liberdade.” Jorge de Sena, 1956).

Recordemos outros hinos literários que, há muito, clamavam pela chegada da primavera, agitando energicamente os braços da recusa e do inconformismo: “Liberdade do homem sobre a terra, / Ou debaixo da terra. / Liberdade! / O não inconformado que se diz / A Deus, à tirania, à eternidade. / (…) Passados e presentes cidadãos: / Temos nas nossas mãos / O terrível poder de recusar! / E é essa flor que nunca desespera / No jardim da perpétua primavera.” (Torga, 1958). Recuando ainda mais no tempo, encontramos muitas letras unidas às escuras, com os olhos cravados na ténue luz com que perscrutavam a saída do túnel: “Espera cavador! O Sol que dorme, / agora, amanhã há de voltar…/ E, do negrume dessa noite enorme / que parece jamais querer cessar, / de tuas mãos, com teu esforço enorme, / Um Novo Mundo há de surgir, brilhar…” (Álvaro Feijó, 1938).

Evoquemos ainda versos que, naquele ansiado dia 25 de abril e nos seguintes, celebraram os tons e os sons da Liberdade: “Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a subs-

tância do tempo.” (Sophia, 1974); proclamaram a vitória e a confiança: “Agora que já floriu / a esperança na nossa terra / as portas que Abril abriu / nunca mais ninguém as cerra.” (Ary dos Santos, 1975); cruzaram o limiar da igualdade: “Deu-nos Abril / o gesto e a palavra / fala de nós / por dentro da raiz / Mulheres / quebrámos as grandes barricadas / dizendo: igualdade / a quem ouvir nos quis” (Maria Teresa Horta, 1977).

Os Escritores aqui lembrados compuseram por sua conta e risco, “por sua própria convicção, sem recado mandado”. Não fizeram como certos jornalistas que, na ficção saramaguiana, em 1936, escreveram “porque alguém lhes guiou a mão, se não foi suficiente sugerir ou insinuar”, para propagandearem “a doutrina política estabelecida entre nós (…) motivo de estudo em outros países”. Mas não bastava ler para crer (aliás, raramente basta), era “preciso ver com os próprios olhos (…) a disciplina (…), o sossego das ruas e dos espíritos, uma nação inteira entregue ao trabalho sob a chefia de um grande estadista, verdadeiramente uma mão de ferro calçada com uma luva de veludo” (José Saramago, in O Ano da Morte de Ricardo Reis). Caso para estranhar que tantos portugueses suspirassem pela extinção do mui distinto e protetor “Dinossauro Excelentíssimo” (corrosiva metáfora de José Cardoso Pires) e sonhassem, mesmo depois da sua queda da cadeira, com o clamor e com a cor da liberdade

Assim foi, ano após ano, neste nosso “jardim da Europa à beira-mar plantado” (Tomás Ribeiro), que é também “terra onde só cortam as árvores para que não façam sombra aos arbustos” (fala intemporal de Matilde, in Felizmente há Luar!). Houve dias que “foram anos / a esperar por um só dia. / Alegrias. / Desenganos. / Foi o tempo que doía / Com seus riscos e seus danos. / Foi a noite e foi o dia / na esperança de um só dia.” (Manuel Alegre).

Nesse dia, os silêncios – até então atroadores - quebraram os grilhões ameaçadores dum tempo que era já passado. Nesse dia, as vozes sussurradas soltaram gritos de alívio e de alegria. As metáforas que outrora esvoaçavam por entre as grades de ferro, levadas ao sabor dos ventos frios, derrubaram os muros negros e saíram à rua, leves, vestidas de branco e de paz, cobertas de verde e de esperança, envoltas em ouro e luz.

E as palavras soaram bem alto, nos tons e nas cores que quiseram, e - enfim dançando livres - aplaudiram a Primavera.

(NOTA DA AUTORA: Muitos foram os escritores que contribuíram para o valiosíssimo espólio da nossa literatura de intervenção e de resistência e lutaram com esta arma poderosa que é a Palavra! Muitos foram os que desejaram a Liberdade e a celebraram: muitos mais dos que couberam neste espaço e mereceriam a nossa homenagem.

Quais os critérios de seleção? Apenas um: a inspiração momentânea da autora deste artigo no ato de o escrever. Se poderiam ser outros os evocados? Sem dúvida! Se outro fosse o autor ou outro o momento de escrita.)

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Adeus,lápisazul!

Duarte Gonçalo, 12ºC

Quando a porta do escritório de Fábio foi rispidamente aberta, ele estava com o lápis azul na mão.

Fábio Torres é um censurador. O seu trabalho é verificar as obras antes de elas serem publicadas, para conferir que nada nelas vá contra os princípios do governo. Algo que, já agora, ele faz muito bem. Muitas vezes foi elogiado pelo seu meticuloso e excelente trabalho. Até porque ele nunca deixou escapar nada. Pelo menos até hoje.

Neste momento, a mulher de Fábio, Maria Felisberta Torres, está a correr pela casa aos gritos. Entra, com o rosto pálido e os olhos pulsantes, pelo escritório do marido adentro, como se alguma catástrofe tivesse acontecido.

- Ai, meu homem! Ai, meu homem! E agora? E agora, o que será de nós?

Fábio, que estava a silenciar um artigo sobre as perdas nas guerras coloniais, conduz os olhos espantados em direção à mulher e diz desajeitado:

- O que se passou? Raios, Maria, o que se passou?

- É o fim! É o fim! Há cravos! Há cravos em todo o lado! - Dizia Maria Felisberta, com as pernas a tremer de pânico. – Ai, meu marido, que será feito de nós agora?

- Cravos? Do que estás a falar, mulher? – Fábio levanta-se para consolar Maria, que tem os olhos banhados de lágrimas. Mas antes de a alcançar, ela prossegue:

- A revolução. Chegou a revolução! Há cravos nas espingardas! O governo foi derrubado! – Maria continua a falar, mas Fábio já não olha para ela. Neste momento, ele está a olhar pela janela, está a olhar para o calmo céu azul de abril.

Fábio anda pelo escritório vagarosamente, ignorando as lágrimas desesperadas de Maria. Depois, detém-se e começa a calcar as tábuas de madeira do chão, até ouvir um som oco:

- Aqui está. – Murmura para si mesmo e abaixa-se.

- Aí está o quê? Fábio, prestaste atenção ao que te falei? O que será de nós agora?

Fábio, com as duas mãos, retira uma tábua do chão e poisa-a a seu lado. Os seus olhos, agora, estão cobertos de lágrimas, não de tristeza, mas de alegria. Do buraco da tábua, Fábio começa a tirar livros, jornais e revistas.

- Estão todos aqui! Estão todos aqui! Quem bom que vos guardei!

Maria, que não entendia o que diabos Fábio estava a fazer, apenas ficou ali a olhar o marido, pensando que ele tinha enlouquecido. Na realidade, Fábio estava tudo menos louco, nunca na vida tinha estado tão lúcido, tão bem.

Fábio levanta-se com um lápis azul na mão e olha pela janela, mais uma vez. O céu está realmente belo hoje. Pensa para si. Em seguida, parte o lápis azul ao meio e diz:

- Adeus, lápis azul, até nunca mais!

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TROVAS E TROVADORES DA LIBERDADE

Professora Maria Manuel Carvalhais

derramar na canção / o que dói no país / ser a revolução / ser a boca que diz:

A música, só por si, é libertadora. Os sons envolvemnos, afagam ou arrepiam, transportam-nos. Sem esforço, transbordamos, galgamos as fronteiras do corpo, pairamos sobre as coisas cá de baixo. A música tem poder.

Ouvir a palavra pode ser música e entendê-la uma libertação do espírito. A palavra, bem o sabemos, é poderosa arma. Quando cantada, a harmonia e o ritmo abrem-lhe caminho para o coração e a consciência. Entoada, cresce e contagia: é hino, é união!

Assim foi, durante os longos anos da opressão. As palavras que diziam o que o povo era, o que o país sofria, o que as bocas na rua calavam, o medo, a angústia e a esperança uniram-se à música em canções de denúncia e de protesto, de incitamento e de expectativa.

Vamos lá, companheiros, que o que faz falta (José Afonso) é a paz, o pão/ habitação /saúde, educação é a liberdade a sério! (Sérgio Godinho) Mas para chegar a esta clareza de expressão da vontade foi preciso trilhar sinuosos caminhos de subtileza, dominar os duplos sentidos e as meias palavras, achar formas de dizer não dizendo, colorir de inocência a carga explosiva do discurso, diluir o azul de um lápis castrador em indestrutíveis melodias! Ou partir e fazer ecoar noutras latitudes a revolta nacional.

Poetas, cantores, músicos, cantautores, compositores, intérpretes enriqueceram, então, um cancioneiro nacional de séculos com as novas trovas que o seu tempo exigia. E foram muitos, porque demorou o despertar (Carlos Paredes) e, só depois de o avô cavernoso (José Afonso) enfim cair, o tom pôde crescer e subir ao palco, substituindo cançonetas fúteis por bandarilhas de esperança para afugentar a fera (Ary dos Santos/Fernando Tordo). Os ventos que se haviam recusado a levar aos exilados novas deste país, deixaram de calar a desgraça (Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira) e espa-

lharam a espera cheia de urgência da liberdade, para lá de todas as fronteiras.

Quando foi a hora, Paulo de Carvalho cantou a senha radiofónica para o movimento dos capitães, um promissor E Depois do Adeus, a que se seguiu a confirmação com a incontornável Grândola, Vila Morena, na voz de José Afonso, que se tornou um hino!

E depois?... Depois, os céus encheram-se de gaivotas que voavam, voavam livres (Ermelinda Duarte), de bolas coloridas nas mãos de muitas crianças, que eram, afinal, sonhos de adultos a – até que enfim! – comandarem a vida (António Gedeão/Manuel Freire). Depois, foi a maré alta da alegria, porque a liberdade passou mesmo por aqui, como previu o Trovador! (Sérgio Godinho)

Mas a passagem não é permanência… e os valores da Liberdade têm de ser entoados e repetidos, como um refrão de que muito gostamos e prevalece na memória de todos!

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1 Adriano Correia de Oliveira 2 António Gedeão 3 Ary dos Santos 4 Carlos Mendes 5—Carlos Paredes 6—Ermelinda Duarte 7 Fausto 8—Fernando Tordo 9 Francisco Fanhais 10 Joaquim Namorado 11 José Jorge Letria 12 José Luís Tinoco 13 José Mário Branco 14 José Niza 15 Luís Cília 16 Manuel Alegre 17 Manuel Freire 18 Mário Viegas 19 Paulo de Carvalho 20 Pedro Barroso 21 Sebastião da Gama 22 Sérgio Godinho 23 Vitorino 24 Zeca Afonso
A Garota Não, Canção a
Mário
José
Branco
P31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 18 17 16 15 13 20 21 22 23 14 19 24

Diz-se e é bem verdade: de poeta e de louco todos temos um pouco!

LIÇÃO

EM RIMA INGÉNUA para os mais novos

Professora Teresa Margarida Capela

- Menino, o que é livre-arbítrio e opinião?

- Caramba, isso ainda não sei não.

- E ter tento na língua, falar com moderação?

- Desculpe, não percebi a questão!

- Jovem, confundes Liberdade e anarquia?

- Essa diferença eu não conhecia.

- Ofendes ou atacas quem te contraria?

- Se me deixassem, fá-lo-ia

- Ouve:

A Liberdade é um direito

Com limites: exige respeito.

Usa o filtro da regulação

E não te estiques na expressão!

- Eu sei:

O meu pai já me ensinou

A fugir de extremismos;

Com discursos de ódio não me dou,

Afasto-me de fanatismos.

- Aprende:

Não há liberdade absoluta

Nem mesmo a intelectual.

Modera o teu pensamento. Luta

Contra a ofensa pessoal.

- Entendi:

Moral, ética ou social,

De imprensa, política ou religião, Já sei que, no direito individual,

Honrar os Outros é condição.

Freiheit

Ein Wort nur

Aber es bedeutet so viel

Alunos de Alemão, 10ºB e D

Professora Cristina Esteves

Für mich, für dich und für uns alle

Jeder will frei sein

Es ist aber nicht für alle möglich

Aber wir können nicht aufhören,

Für unsere Freiheit zu kämpfen.

Die Nelken symbolisieren die Freiheit in Portugal

Der Fall der Mauer repräsentiert die Freiheit in Deutschland

Frieden wollen alle,

Freiheit ist unser letzter Ziel.

Aber ist die Freiheit möglich, ohne Waffen, Krieg und Gewalt?

Ja, mit Dialog, Liebe und Geduld.

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Os premiados

CONCURSO DE FOTOGRAFIA

TEMA: A LIBERDADE

Alunos de Design de Comunicação e Audiovisuais

https://w1.pngwing.com/

Esta imagem representa uma borboleta que dança ao sabor do vento numa delicada sinfonia de cores, simbolizando a eterna procura da liberdade.

Joaquim Silvano e Filipe Frederico, 3.ºA1

Num cenário sereno, onde o verde da natureza se mistura com o roxo das flores, uma borboleta branca repousa delicadamente numa folha. Ali, ela é a própria essência da liberdade, as asas delicadas contrastam com o ambiente ao redor. Em seu voo, ela recorda-nos a beleza simples e a importância de seguir os nossos próprios caminhos. Nesse momento encantado, a borboleta brilha como um símbolo de pureza e autonomia, em perfeita harmonia com a natureza.

Matilde Braga e Leandro Félix, 3.ºA1

Um pássaro caminha graciosamente sobre a relva verde, as suas asas cerradas sugerem mistérios de liberdade. Flores coloridas dançam ao redor, numa celebração da diversidade da vida. Sob a luz suave da aurora, a cena convida à contemplação da serenidade da natureza.

Jamiel Eber e Diogo Alves, 3.ºA1

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e

Também no domínio do desporto foi dado um passo de gigante desde o tempo em que a prática desportiva nas escolas se cingia ao programa estipulado pela “Mocidade Portuguesa”, organização de que já se falou nestas páginas.

Hoje, é missão do Desporto Escolar contribuir para a formação integral e realização pessoal de cada aluno, cumprindo o compromisso com o que se consagra no artigo 79 da Constituição da República Portuguesa: “todos têm direito à cultura física e ao desporto”.

As escolas que constituem o Agrupamento Morgado de Mateus cresceram no período pós-revolução do 25 de abril e sempre dedicaram uma boa parte da sua energia ao desenvolvimento desportivo das várias gerações de jovens que nelas se têm formado. Muitas taças e muitas medalhas foram conquistadas ao longo destes anos, mas, mais importante do que isso, grande foi, e continua a ser, o número de participantes entusiastas em várias modalidades desportivas e no âmbito da arbitragem.

O Futsal feminino tem sido uma das modalidades preferidas das nossas atletas e tem merecido muitas distinções. Também os corta-mato escolares contam com uma ampla participação de iniciados e de juvenis. A estes vêm agora juntar-se os muito apreciados passeios de BTT.

A pensar, também, nos menos jovens, têm sido propostas caminhadas para a comunidade escolar, uma promoção do convívio saudável na natureza para todos.

Não paramos!...

P34

— Teste os seus conhecimentos!

[ encontra todas as respostas nos artigos desta edição ]

1. Quem é o autor da cantiga Grândola, Vila Morena?

a. José Afonso

b. José Carlos Ary dos Santos

c. José Jorge Letria

2. No dia 25 de abril de 1974, o Presidente do Conselho deposto, Marcelo Caetano, entregou o poder

a. Ao major Otelo Saraiva de Carvalho

b. Ao general António Spínola

c. Ao capitão Salgueiro Maia

3. A operação “Fim do Regime” teve início

a. Na noite de 24 de abril

b. Na madrugada de 25 de abril

c. Na noite de 25 de abril

4. A democracia, como sistema político, teve origem

a. Em Portugal

b. Em Inglaterra

c. Na Grécia

5. Antes do 25 de abril de 1974

a. As mulheres não faziam parte das Forças Armadas

b. As mulheres desempenhavam papéis secundários nas Forças Armadas

c. Existia paridade de funções de mulheres e homens nas Forças Armadas

6. No início da década de 60, em Vila Real, um grupo de jovens interessados pela ação cultural e política dinamizou

a. O Movimento das Forças Armadas

b. O Movimento Setentrião

c. O grupo revolucionário do Nordeste

7. Sonhos do meu Anjo foi o primeiro livro de poemas do escritor

a. A.M. Pires Cabral

b. António Cabral

c. Otílio de Figueiredo

8 O Ministro da Ciência e Tecnologia em três governos diferentes, entre 1995 e 2011 foi

a. António Guterres

b. Álvaro Laborinho Lúcio

c. José Mariano Gago

9. Os versos “(…) Passados e presentes cidadãos: / Temos nas nossas mãos / O terrível poder de recusar! / E é essa flor que nunca desespera / No jardim da perpétua primavera.” pertencem ao poeta

a. Manuel Alegre

b. Miguel Torga

c. Jorge de Sena

10. A primeira automobilista de todo-o-terreno portuguesa foi

a. Renata Parente

b. Rita Graça

c. Joana Lemos

Uma coincidência feliz

Segundo nos conta Nuno Saraiva, na crónica Grandes Alfacinhas: A Celeste dos Cravos1, no dia em que os capitães do MFA entraram em Lisboa, na baixa da capital uma operação de marketing falhada — um grande fornecimento de cravos para oferecer a clientes no 1.º aniversário de um restaurante — pôs na rua dezenas dessas flores, distribuídas pelo dono do estabelecimento aos empregados, já que não abria ao público devido ao Golpe de Estado. Assim, pelo menos, não se estragavam! No regresso a casa, uma dessas empregadas, Celeste Caeiro, a quem um soldado numa Chaimite pediu um cigarro, ofereceu um cravo vermelho do seu ramo, em vez do cigarro que não tinha. O gesto replicou-se e muitos militares colocaram cravos nas suas espingardas, oferecidos por ela e por outros transeuntes, que entretanto acorreram às floristas. As ruas encheram-se destas flores alegres e primaveris: estava encontrado um símbolo e uma identidade para a Revolução!

assatempos & curiosidades
Q UIZ
P35
Encontreas15diferenças
1 Saraiva, Nuno. Grandes Alfacinhas: A Celeste dos Cravos. Disponível em https://amensagem.pt/2022/04/25/ grandes-alfacinhas-a-celeste-dos-cravos-cronica-nuno-saraiva/. Acedido em 15 de março de 2024 Soluções dos passatempos
introduzidas no cartoon original de Nuno Saraiva

INFORMAÇÕES

ESCOLA

SECUNDÁRIA MORGADO DE MATEUS (sede)

Morada: Agrupamento de Escolas Morgado de Mateus

Rua Dr. Sebastião Augusto Ribeiro, 5004-011 Vila Real

Telefone: 259 325 632

Fax: 259 325 939

Página Web: http://www.aemm.pt

Email: direcao@aemm.pt

Coordenadas de localização do Agrupamento:

Latitude: 41º 17’ 68’’ - Norte

Longitude: 7º 43’ 29’’ - Oeste

Horário dos Serviços Administrativos (escola sede):

Outras escolas do Agrupamento Morgado de Mateus

EB 2/3 Monsenhor Jerónimo Amaral (tel. 259 325 052)

EB Vila Real N.º7 (tel. 259 327 284)

EB Abade de Mouçós (tel. 259 356 547)

EB do Douro (tel. 259 321 441)

JI de Ponte (tel. 259 374 397)

JI de Mateus (tel. 259 325689)

JI de Torneiros (tel. 259 374691)

JI de Vila Meã (tel. 259 929 172)

De segunda-feira a quinta-feira, das 08h00 às 16h00. Sexta-feira, das 08h00 às 15h00.

FICHA TÉCNICA

Coordenação: Maria Manuel Carvalhais

Editoras: Teresa Capela, Manuela Leal e Maria Manuel Carvalhais Revisão e supervisão do design: José Armando Ferreira

Publicação financiada:

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Produzido por:

ISSN 2975-9021

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