Revista Mercadizar | 5ª Edição

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Para exemplificar essa negligência, podemos citar a ausência de intérpretes de Libras em diversas repartições de atendimento público, como hospitais ou Unidade Básica de Saúde (UBS) para exames rotineiros ou cirurgias mais emergentes, onde muitas garotas acabam necessitando da presença da mãe ou outros familiares para explicar o ocorrido. Tal situação tira delas uma independência necessária ou ainda pior, camufla possíveis abusos. Outro exemplo são as delegacias e a dificuldade de atender vítimas de violência sexual e doméstica, visto que raramente há interpretes. “Mães surdas com filhos ouvintes em escolas regulares também possuem o desafio de frequentar reuniões escolares sem professores habilitados em Libras ou intérpretes, gerando, para alguns, o pensamento de que não conseguem captar as observações propostas aos filhos ou acompanhar o ritmo de estudo deles”. Tais pontos acabam por tornar a mulher surda excluída de seus direitos sobre o corpo da saúde da família.

Políticas públicas para mulheres surdas Para que essa situação seja resolvida, é necessária uma série de medidas nos âmbitos educacionais, econômicos e políticos. Foi pensando nessas questões que, durante a Consulta Nacional das Mulheres com Deficiência, realizada em 2016 em Brasília, educadoras surdas se manifestaram com a realização de um documento para o enriquecimento da vivência surda. Mesmo produzido e exibido quase cinco anos atrás, o documento representado pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) é intitulado de “Mulher Surda: política linguística nas políticas sociais” e traz propostas citando os pontos principais que necessitavam e ainda necessitam de melhorias para efetivação da qualidade de vida dessa parte importante da população.

No documento é possível observar não só a problemática, mas também as soluções por parte das representantes. Entre algumas propostas, há a criação de creches e escolas de educação bilíngue, assim como formação acadêmica que inclua a disciplina de língua de sinais, principalmente para cursos que envolvam a área da educação, além da obrigatoriedade da tradução para língua de sinais dos livros e documentos legais, tais como a lei Maria da Penha e o Código Civil. Para as escolas de ensino fundamental e médio, é proposta a apresentação, durante aulas, de vídeos com intérpretes para o reconhecimento e orientação dos cuidados com a sexualidade, saúde e planejamento familiar, sempre demonstrando a independência de pessoas surdas e ouvintes. Outro ponto importante já citado é a obrigatoriedade do uso da língua de sinais por parte dos atendentes em serviços públicos e particulares, médicos e policiais que falam diretamente com a população, assim como os modernos atendimentos via internet que devem possuir a opção para o uso de atendimento com Libras. 63


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