Manual de narrativas atípicas | Pessoas autistas e neurodivergentes

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SUMÁRIO

Introdução

#1 Neurodiversidade, afinal o que é?

#2 Uma pessoa neurodivergente pode ser classificada como alguém com deficiência?

#3 Você sabe qual é o símbolo mundial do TEA?

#4 Autismo na mídia - Um guia para jornalistas e produtores de conteúdo

Como entrevistar pessoas autistas

Atenção com as imagens

#5 Dados relevantes

#6 Pesquisa inédita

#7 Onde saber mais sobre o autismo? Fontes confiáveis

#8 Glossário de Termos sobre Autismo

#9 Dicas para conviver melhor com pessoas autistas

INTRODUÇÃO

Você já leu sobre neurodiversidade e autismo? E já precisou escrever a respeito? Será que o que foi dito e repetido contribuiu para a inclusão ou fomentou o preconceito? Jornalistas e produtores de conteúdo são capazes de promover relevantes debates e transformações na sociedade e, para isso, é essencial se cercar de boas fontes, estudos e informações confiáveis, principalmente quando falamos de minorias.

Segundo números da década passada, ainda sem atualização, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o Brasil tenha cerca de 2 milhões de pessoas com o Transtorno do Espectro Autismo (TEA). Um estudo de 2023 do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos EUA), porém, aponta uma prevalência de 1 em 36, ou seja, 2,78% da população. A Revista Autismo, num artigo, calculou esse número para a realidade brasileira e chegou a uma estimativa de pelo menos 6 milhões de autistas no país, entre crianças, jovens, adultos e idosos. Mas o Brasil ainda não tem número oficiais de prevalência.

E, ainda, conforme o Programa Neurodiversidade no Trabalho, desenvolvido na Universidade Stanford (EUA), entre 16% e 20% da população mundial é neurodivergente — índice que vem sendo adotado por diversas nações.

Os dados podem ser considerados incipientes, mas já revelam a importância de reconhecer e abraçar a neurodiversidade, em diferentes contextos sociais, como ambientes de trabalho, estudos e lazer, sejam públicos ou privados. É um tema que vem ganhando algum espaço nas rodas de conversa e na imprensa. E esperamos que ocupe cada vez mais espaços!

Por isso, esse material, criado pela Consultoria Maya, Redes Cordiais, Órbi Conecta e Tismoo.mee, vem auxiliar jornalistas, produtores de conteúdo,influencers e demais interessados em como, nesse momento, abordar o tema da melhor forma possível.

Sinalizamos “nesse momento” porque entendemos que podemos evoluir o discurso cada vez mais, esse é um material que sempre estará aberto a atualizações.

Boa leitura!

NEURODIVERSIDADE AFINAL, O QUE É ISSO? #1

O termo é relativamente novo. Inclusive, se você escrever a palavra “Neurodiversidade” em ferramentas populares como Word e Google Docs, ela será considerada um erro gramatical. Não acredita? Faça o teste!

Ainda assim, a expressão surgiu há quase três décadas: em 1998. Na ocasião, a pesquisadora e socióloga australiana Judy Singer acabou por ser a pessoa mais conhecida a trazer essa nomenclatura utilizou a nomenclatura para explicar o funcionamento do cérebro, trazendo para o debate que não há apenas uma maneira certa de aprender, pensar e se comportar. Ela se descobriu autista na vida adulta, após perceber os seus traços neurológicos semelhantes ao de sua filha diagnosticada com Síndrome de Asperger, que atualmente foi incorporado pelo Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-V) como autismo nível de suporte 1.

No caso, a palavra é uma fusão de “neuro” (relacionado ao sistema nervoso) e “diversidade” (variedade, pluralidade). Os estudos, embora já tenham avançado, ainda estão em constante progresso e novas expressões podem surgir. Mas, no momento da criação deste guia, ela ainda é a mais acolhedora, sensível e uma ótima forma de explicar as muitas diferenças.

É importante ressaltar que essas pessoas não são portadoras de patologias ou doenças, mas sim contribuem com uma rica diversidade de experiências e habilidades na sociedade. O respeito por essas diferenças neurocognitivas é crucial para a construção de uma sociedade inclusiva, onde todas as pessoas sejam valorizadas e respeitadas em suas singularidades.

PARA FICAR ATENTO:

AUTISTA, TEA OU PESSOA AUTISTA?

Do ponto de vista legal, a Lei no 12.764/2012 (Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista;) se refere a autistas como “Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)”.

A Classificação Internacional de Doenças (CID) é uma ferramenta muito importante para a medicina, já que auxilia na padronização e categorização de diversas condições, inclusive o autismo. Sua última versão, a CID-11, trouxe mudanças significativas para o diagnóstico do espectro: foram reunidos em um único diagnóstico todos os transtornos que fazem parte do espectro do autismo, o transtorno desintegrativo da infância e o transtorno com hipercinesia, por exemplo. São prescritos pelo código 6A02 e as subcategorias são relacionadas a algum prejuízo da linguagem funcional ou deficiência intelectual.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a intenção por trás dessa alteração é a de facilitar o diagnóstico, evitar erros e simplificar a codificação, promovendo melhor acesso aos serviços de saúde.

Da perspectiva do movimento da neurodiversidade, se opta pelo uso das terminologias afirmativas: “autista”, “pessoa autista” e “pessoa com autismo”, porém, a orientação é perguntar para a pessoa e /ou responsável qual termo ela gostaria de usar para se identificar.

#2 UMA PESSOA

NEURODIVERGENTE

PODE SER

CLASSIFICADA COMO ALGUÉM COM DEFICIÊNCIA?

No país, o termo neurodivergência e “deficiência” são diferentes, mas não excludentes. Foram criadas leis para promover e aumentar a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho, e também potencializar o acesso ao lazer, tratamentos médicos e outros direitos básicos da sociedade. Ainda é necessário avançar, mas sempre há um ponto de partida, não é mesmo?

Oficialmente, pessoas autistas, com síndrome de Down, deficiência intelectual e esquizofrenia são tidas como pessoas com deficiência, segundo a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146/2015), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Contudo, até o momento, condições como borderline, discalculia, dislexia, dispraxia, tourette, bipolaridade, altas habilidades, gagueira, sinestesia, TDAH, TDI, TPA, dentre outras, permanecem sem classificação oficial.

De acordo com o Estatuto, considera-se pessoa com deficiência aquela que possui impedimentos de longo prazo de naturezas física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, interagindo com diversas barreiras, podem dificultar sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. O estatuto reconhece a deficiência como uma questão de direitos humanos e estabelece medidas para garantir a inclusão, a acessibilidade e a igualdade de oportunidades.

“GRAVIDADE”?

O DSM 5 - sigla em inglês para Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) - é uma lista de diagnósticos em saúde mental que serve como referência para profissionais da área, publicada pela Associação Americana de Psiquiatria (APA).

O Manual define o autismo em 3 níveis de suporte que vão de 1 (menos suporte) a 3 (mais suporte):

NÍVEL 1 DE SUPORTE:

Identificado como síndrome de Asperger até 2013 (termo atualmente em desuso) é alvo de discussões na comunidade autista sobre a adequação do termo “leve”. Mesmo sendo necessário menos suporte, o autismo desencadeia desafios significativos, como a exclusão social, e pode resultar em crises ou dificuldades intensas quando associado a outras características, como TDAH, questões sensoriais e seletividade alimentar.

De acordo com o DSM-5, os indivíduos autistas no Nível 1 necessitam de suporte. Sem esse auxílio, podem enfrentar dificuldades em iniciar interações sociais, apresentar respostas atípicas e ter problemas para entender pistas sociais. Além disso, podem manifestar inflexibilidade comportamental, prejudicando seu desempenho em diversas situações. Também enfrentam desafios na troca de atividades, organização e planejamento, o que pode afetar sua independência.

NÍVEL 2 DE SUPORTE:

Antigamente, referidos como “autismo moderado”, embora ainda acarretem desafios significativos, exigem apoio substancial, de acordo com o DSM-5. No nível 2, os déficits na comunicação social, oralizada ou não, são significativos. Mesmo com apoio, suas dificuldades em iniciar e responder a interações sociais são evidentes.

Além disso, os autistas de nível 2 podem demonstrar inflexibilidade comportamental e dificuldade em lidar com mudanças dada a rigidez cognitiva que pode ser apresentada ou não como característica. Com frequência, adotam comportamentos restritos ou repetitivos, o que pode causar prejuízo em sua adaptação a diferentes ambientes sem o devido suporte.

NÍVEL 3 DE SUPORTE:

Anteriormente chamado de “autismo severo”, pessoas com nível 3 de suporte necessitam de um apoio muito substancial, como delineado pelo DSM-5. De acordo com o manual, são descritos como indivíduos com comunicação limitada, iniciando raramente interações e, quando o fazem, de maneiras pouco convencionais, muitas vezes apenas para atender a suas próprias necessidades, reagindo principalmente a abordagens sociais muito diretas.

Além disso, autistas nível 3 de suporte podem demonstrar rigidez comportamental e encontram mais dificuldade em lidar com mudanças ou em desviar o foco de suas ações. Também tem tendência a exibir mais comportamentos restritos e repetitivos de forma acentuada.

#3 SÍMBOLOS DO TEA

Nos aspectos da Lei 12.764/2012, também conhecida como Lei Berenice Piana, é estabelecido que a fita de quebra-cabeça, símbolo mundial da conscientização do transtorno do espectro autista, deve identificar a prioridade devida às pessoas com autismo em estabelecimentos públicos e privados.

Há autistas que apoiam o uso da fita de quebra-cabeça. Por outro lado, uma parte da comunidade de ativistas autistas sugere e vitar o uso da peça de quebra-cabeça para representar o espectro autista. Isso se deve pois o símbolo de quebra-cabeças foi criado fora da comunidade autista, com um conotação de “complexidade ou peça faltando”, algo que a comunidade autista, não toma como identidade. Por este motivo, a comunidade autista junto a demais comunidade neurodivergente criou o símbolo do infinito em espectro de cores para representar a neurodiversidade.

Já o cordão de girassol foi oficializado pela Lei n° 14.624/23 (Lei do Cordão de Girassol), que modificou a Lei n° 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), designando-o como símbolo de identificação das pessoas com deficiência oculta, como é o caso do autismo, que pode não ser visível externamente. Conforme estabelecido por esse Estatuto, toda pessoa com deficiência, independentemente de usar o cordão de girassol ou não, possui direito ao atendimento preferencial. Além disso, a pessoa atendente tem o direito de solicitar um documento que comprove a deficiência no momento do atendimento. Esse cordão foi criado originalmente para um aeroporto da Inglaterra e viralizou mundo afora.

A CIPTEA (Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista) é um documento governamental utilizado para a identificação de autistas, conforme previsto no artigo 3° da Lei n° 12.764/12, lei também conhecida como “Lei Romeo Mion”. Mas, o próprio RG, pode trazer o CID e o símbolo da pessoa autista.

#4 AUTISMO NA MÍDIA UM GUIA PARA JORNALISTAS E PRODUTORES DE CONTEÚDO

A representação midiática do Autismo nem sempre reflete a realidade. A mídia, com seu poder de moldar atitudes, crenças e políticas, desempenha um papel fundamental na formação da percepção pública sobre o Transtorno do Espectro do Autismo. É crucial, portanto, que essa representação seja precisa, respeitosa e inclusiva. É comum encontrarmos narrativas simplificadas e clichês prontos ao retratar o autismo na mídia, como evidenciado em séries como “The Good Doctor”, “Uma Advogada Extraordinária” e “Atypical”. No entanto, para promover uma representação mais fiel e enriquecedora, é fundamental dar visibilidade/ protagonismo às próprias pessoas autistas.

A participação de personagens autistas não apenas no setor cênico (como o teatro e na televisão), mas também no jornalismo, pode trazer uma autenticidade e uma quebra de estereótipos que são essenciais para uma representação genuína. Uma abordagem informada e respeitosa pode contribuir para uma representação mais inclusiva e empática do autismo na mídia, promovendo uma sociedade mais acolhedora e compreensiva para todos.

COMO ENTREVISTAR PESSOAS AUTISTAS

Deixe-a à vontade

Repasse o briefing #1 #2

dependendo de qual seja o seu veículo/mídia, você pode pedir para que a pessoa escolha se prefere fazer por videoconferência, ligação ou responder às perguntas por e-mail ou aplicativo de mensagens (seja por escrito, ou por áudio). É importante deixar claro qual é objetivo da pauta, quais são suas as dúvidas sobre o tema e enviar com antecedência.

Se a entrevista for presencial Não se atrase

evite lugares com muito barulho, marque em lugares sem muita gente, com som ambiente para evitar desconforto. não diga que ligará em 5 minutos, se quiser dizer 15. Se você disser que uma entrevista vai acontecer, não a cancele de última hora.

no início da entrevista repasse os detalhes do que vai acontecer. Vale até passar perguntas norteadoras anteriormente para que o entrevistado possa se sentir mais seguro e confiante para responder.

Peça para que conte a sua própria história

peça para que a pessoa se descreva, fale da sua rotina, o que gosta de fazer, quem admira. Quando entrar no assunto da pauta em si, caso não tenha entrado, pergunte como se sente em relação ao tema.

Faça perguntas diretas Não use linguagem figurativa

em vez de perguntas grandes ou abertas.

Seja paciente e compreensivo

#5 #6 #7 #8 #9

Não se preocupe se não houver contato visual ou físico

pessoas autistas podem ter maior probabilidade de fazer interpretações literais, portanto, evite o uso de figura de linguagem, como ironia, duplo sentido e metáforas.

as pessoas podem demorar mais para processar o significado das frases. Dê um pouco mais de tempo se precisar.

aperto de mãos, abraço, olho no olho, são difíceis para alguns autistas, eles não estão sendo rudes ou grosseiros. Pergunte antes se pode fazer qualquer contato físico, mesmo que seja só para cumprimentar o entrevistado.

Converse com o acompanhante

Não use termos pejorativos como

Saiba a hora de parar

Evite a edição de respostas #10 #11 #12 #13

em alguns casos, é comum que a entrevista seja acompanhada por alguma pessoa, sempre que possível também a faça perguntas sobre a rotina e o tema específico em questão.

doente mental, pessoa excepcional, especial. Não use o termo autista fora do contexto, como referência a alienação. Use os termos: pessoa com deficiência, autista e/ou pessoa com autismo.

em alguns momentos, fazer muitas perguntas pode cansar ou estressar autistas, por isso se o sentir desconfortável em alguma pergunta ou situação, pare imediatamente.

mesmo que essa prática ocorra na intenção de trazer mais clareza, acaba sendo um desrespeito e falta de ética para o entrevistado, que pode não se identificar com a resposta publicada.

COMO FALAR?

Use esta forma

Pessoa autista

Em vez de

Pessoa com autismo

Pessoa no espectro do autismo

No espectro

É um [inserir cargo ou como gostaria de ser chamado]

É um herói

É um guerreiro

É uma inspiração

Consideração

Mostra uma preferência pela linguagem que prioriza a identidade, ou seja,‘autista’, pois coloca o autismo como intrínseco à identidade de uma pessoa.

Sempre pergunte à pessoa autista o que ela prefere.

Enquadrar a identidade de uma pessoa autista como inspirador sugere que é surpreendente que as pessoas autistas podem alcançar grandes sucesso e lhes impõe um “fardo”.

É autista

Apoiado por seus familiares

Superou as probabilidades/ adversidades para alcançar

É um fardo para sua família

Crianças neuroatípicas

Crianças anormais

*TabelatraduzidaeadaptadadoGuia“Talkingaboutautism” Guidelinesforrespectfulandaccuratereportingonautism andautisticpeople

Isso implica que as pessoas são limitadas por autismo ou improváveis que obtenham sucesso.

O termo “fardo” invalida a pontos fortes e independência do pessoa autista e implica que a sua família se sente sobrecarregada em fornecer apoio.

Crianças autistas podem apresentar diferentes padrões de desenvolvimento, mas elas não são anormais.

ATENÇÃO COM AS IMAGENS:

A maneira como as pessoas autistas são retratadas em filmes e fotografias é tão importante quanto a linguagem utilizada para descrevê-las.

Aqui estão algumas dicas para representar visualmente este tema:

Opte por fotos que retratem a pessoa autista de forma positiva e respeitosa, evitando retratá-las como vítimas;

Evite fotografar ou filmar a pessoa isoladamente, a menos que seja essencial para a narrativa; destaque-a como parte de uma comunidade;

Procure captar a singularidade da pessoa autista, sua personalidade e interesses, da mesma forma que faria com qualquer outro entrevistado;

Evite o uso de imagens que reforcem estereótipos negativos ou misteriosos sobre o autismo, como peças de quebra-cabeça ou representações de pessoas escondidas, desfocadas ou em ambientes escuros;

Considere utilizar o símbolo da neurodiversidade, a lemniscata, para tornar a conotação mais abrangente.

EVITE EM SUAS

REPORTAGENS E

CONTEÚDOS:

Criar definições ou não usar as nomenclaturas corretas

vale sempre consultar o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Dizer que o autismo é uma doença

refira-se como transtorno ou condição.

Divulgar informações sem base científica

estudos inconclusivos podem propagar informações erradas e contribuir para a desinformação.

Abordar um nível de suporte do espectro como se representasse todos os autistas:

prefira mostrar a amplitude do espectro autista, com personagens que mostrem variadas condições, dos menos aos mais impactados, para que o leitor não fique com ideia estereotipada.

Falar sobre cura do autismo

Autismo ou outras Neurodivergências são transtornos do neurodesenvolvimento, e portanto, cura não é algo que está em pauta de discussão, já que é algo ao qual o indivíduo nasce sendo. O que existe atualmente são tratamentos para proporcionar qualidade de vida, que pode vir através de terapia, remédios, boa alimentação, entre outras estratégias.

#5 DADOS RELEVANTES

Confira alguns dados que podem contribuir para suas matérias:

Uma pesquisa realizada pela Play Pesquisa e Conhecimento, com apoio da Nestlé, mostra que para cerca de 60% das famílias entrevistadas, a capacitação de funcionários em locais públicos pode ajudar na inclusão, e metade considera que as empresas devem oferecer ferramentas que eduquem sobre as diferenças e como lidar com elas.

Outra pesquisa, dessa vez da McKinsey & Company, apontou que empresas com quadros diversos de colaboradores são capazes de lucrar até 33% mais do que seus pares menos preocupados com esse aspecto de suas operações.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta uma parcela significativa da população mundial e, com o passar dos anos, o diagnóstico de autismo em adultos é cada vez mais comum. Quando se trata do autismo na fase adulta, informações divulgadas pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC) em 2023 revelam que a incidência dessa condição é de cerca de 2,78% (1 a cada 36) da população mundial. Esses dados, transpostos para a realidade brasileira, apontam para uma estimativa de 6 milhões de autistas no Brasil.

O estudo “Retratos do Autismo no Brasil em 2023”, realizado em 2023 pela startup Genial Care, em parceria com a Tismoo.me, e divulgada pelo Canal do Autismo em 2023, pontuou que o país pode ter mais de 6 milhões de pessoas autistas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma a cada 100 crianças são diagnosticadas com autismo.

O programa Neurodiversidade no Trabalho, da Universidade Stanford, aponta que entre 15% e 20% da população mundial é considerada neurodivergente.

#6 PESQUISA INÉDITA NEURODIVERSIDADE NO MERCADO DE TRABALHO

A pesquisa “Neurodiversidade no Mercado de Trabalho”, realizada pela Consultoria Maya, em parceria com a Universidade Corporativa Korú, e apoio da startup Tismoo.me e do Órbi

Conecta, aponta a falta de conhecimento circulante acerca da neurodiversidade.

O estudo, feito a partir de uma base de 12 mil estudantes e profissionais ligados à Korú, foi divulgado em 2 de abril de 2024, estabelecido desde 2007 pela ONU como o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo.

Os resultados da pesquisa mostraram:

75% dos entrevistados estão familiarizados com o termo “neurodiversidade”, o que inclui TEA e outras condições, sendo 48,6% com conhecimento limitado. Outros 25% nunca haviam tido contato com a expressão.

O levantamento revelou que 86,4% nunca participaram de treinamentos ou programas relacionados ao tema no ambiente corporativo.

Além disso, no ambiente de trabalho, quase a metade dos entrevistados nunca trabalhou diretamente com pessoas neurodivergentes, 21,4% tiveram experiências desafiadoras e apenas 30% considerou ter experiências positivas.

Outro ponto importante: 40% dos entrevistados acreditam que a criação de programas de sensibilização e treinamentos para colaboradores seria a melhor estratégia para promover a inclusão de pessoas neurodivergentes no local de trabalho. Outras soluções seriam: oferecer ajustes razoáveis como ambientes de trabalho flexíveis e tecnologias assistivas (29,3%), estabelecer programas de mentoria ou apoio para colaboradores neurodivergentes (16,4%) e a criação de um comitê de neurodiversidade (7,1% ).

A maioria dos entrevistados apontou que a neurodiversidade traz benefícios para o ambiente de trabalho, como promover um espaço com mais criatividade e inovação, fortalecer a cultura de equipe, fomentar um ambiente de aprendizado, aumentar a satisfação e o engajamento dos colaboradores.

AUTISMO E NEURODIVERSIDADE: AINDA HÁ INVISIBILIDADE

A pesquisa citada anteriormente mostrou que quase metade dos profissionais acredita que nunca trabalhou com neurodivergentes. Ao fazer uma análise aprofundada, é possível considerar que ainda há muita invisibilidade sobre o tema, incluindo pessoas que não foram diagnosticadas ou que preferem não compartilhar seus diagnósticos por medo da reação daqueles com quem convive e da empresa onde trabalha.

Vale ressaltar que, em alguns casos, os sinais podem não ser imediatamente reconhecidos, especialmente em pessoas autistas com habilidades de camuflagem, em níveis mais leves do espectro autista ou outras condições neurodivergentes.

No entanto, esses sinais são apenas indicativos e não necessariamente confirmam o diagnóstico de autismo. O diagnóstico deve ser feito apenas por um especialista, não force a barra nem faça suposições precipitadas.

Respeito, empatia e compreensão são sempre o mais indicado. Não só com neurodivergentes, concorda? ;)

E já que estamos falando de mercado de trabalho, conheça alguns direitos trabalhistas para autistas:

Inserção no Mercado de Trabalho

a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Lei 12.764/2012) estimula a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, inclusive como aprendizes.

Cotas de

Trabalho

Ambiente Adaptado

empresas com 100 ou mais colaboradores devem reservar de 2% a 5% de seus postos de trabalho para Pessoas com Deficiência (PCDs), incluindo autistas. os empregadores são responsáveis por promover um ambiente de trabalho saudável e adaptado às necessidades dos autistas.

Garantir os direitos trabalhistas dos autistas é essencial para promover uma inclusão verdadeira e respeitosa no ambiente de trabalho.

#7 ONDE SABER MAIS SOBRE O AUTISMO? FONTES CONFIÁVEIS

Em um mundo onde as fakes news são cada vez mais frequentes, a apuração de assuntos tão importantes como autismo e neurodiversidade em geral deve ser ainda mais cuidadosa. Dessa forma, evitamos a desinformação e praticamos um jornalismo consciente e ativo na formação de uma sociedade sem preconceitos.

Confira algumas fontes de informação sobre o assunto:

Canal Autismo

Revista Autismo

Tismoo.me

Organização Mundial da Saúde (OMS)

Organização Pan-Americana da Saúde

Diversa

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

Autismo e Realidade

Stardust Zone

Specialisterne Brasil

#8 GLOSSÁRIO DE TERMOS

SOBRE AUTISMO:

Ao ler e escrever sobre autismo, há diferentes termos relevantes para a compreensão desse universo. Confira alguns deles:

Autocuidado

práticas como sono adequado, alimentação saudável e exercícios físicos, potencializando o bem-estar.

Capacitismo

julgamento que indica que a pessoa não é capaz, diminuindo sua capacidade e habilidades. É uma forma de discriminação que afeta pessoas com deficiência e limita sua participação plena na sociedade.

Comunicação Não Verbal

formas de comunicação que não envolvem o uso da fala. Cada indivíduo pode manifestar de uma maneira, seja como linguagem corporal, expressões faciais, comunicação gestual, dentre outros.

Desorganização mental

ocorre devido à dificuldade em processar o que está acontecendo, provocando alterações em formular, organizar e expressar os pensamentos e emoções.

Ecolalia

refere-se à repetição não voluntária da fala. (pode ser desde uma palavra repetida a parágrafos ou diálogos inteiros).

Espectro

referente a como o autismo é experimentado. O autismo é considerado um espectro porque é diferente para cada pessoa autista, com uma grande variedade de formas de como a condição impacta cada indivíduo.

Estereotipias

os comportamentos repetitivos em pessoas autistas são chamados dessa forma — alguns autistas preferem o termo em inglês: “stims”. Cada pessoa pode ter expressões diferentes, seja balançar as mãos, bater a cabeça ou fazer movimentos corporais.

Hiperfoco

concentração intensa em um interesse específico em determinado tópico ou assunto, que pode durar por curto ou muito longo tempo.

igualdade de oportunidades e acesso a recursos para todas as pessoas, independentemente de suas diferenças, incluindo pessoas neurodivergente.

Meltdown

Inclusão é um colapso emocional, mais duradouro e mais difícil de administrar.

Neurodivergência

termo que pode ser usado para descrever diferenças neurológicas, incluindo o autismo, TDAH, dislexia, entre outras.

Neurodivergente

é um termo que descreve pessoas cujos cérebros se desenvolvem ou funcionam de maneira diferente do padrão típico.

Neurodiversidade

ideia de que a diversidade neurológica é uma parte natural e valiosa da condição humana, defendendo o respeito e a valorização das diferenças neurológicas.

Neurodiverso

são todas as composições neurológicas humanas. A neurodiversidade incui neurotípicos e neuroatípicos. A sociedade é neurodiversa (trata-se do conjunto, assim como a Amazônia é biodiversa). A pessoa (autistas, por exemplo) é neurodivergente, ou tem uma neurodivergência.

Neurotipicidade

estado de ter um funcionamento neurológico considerado dentro da norma, do padrão ou típico.

Pessoa típica

são aquelas pessoas que têm um desenvolvimento neurológico sem distúrbios ou transtornos.

Pessoa atípica

são pessoas que lidam com transtornos mentais, como os autistas ou pessoas com outros diagnósticos, como bipolaridade, TDAH, transtorno de ansiedade, esquizofrenia, entre outros. Essas pessoas, assim como as típicas ou neurotípicas, compõem a neurodiversidade humana.

Sensibilidade Sensorial

sensibilidade aumentada ou diminuída a estímulos como luz, som, textura, cheiro e sabor.

Shutdown

um desligamento no autismo é quando o cérebro de uma pessoa fica tão sobrecarregado que não consegue controlar as reações ou fica totalmente sobrecarregado por estímulos sensoriais.

Síndrome de Asperger

já foi considerada como um nível “leve” de autismo, hoje está no nível 1 de suporte (caracterizado comumente por dificuldades na interação social e padrões de comportamento repetitivos com interesses restritos). O termo está em desuso no DSM5 (desde 2013) e na CID-11 (em vigor mundialmente desde janeiro de 2022), porém, somente entra em vigor no Brasil em 01/01/2025. Descobriu-se que o Dr. Asperger, que deu nome à síndrome, contribuiu com o nazismo e o nome parou de ser utilizado para a, então, síndrome.

Sobrecarga Sensorial

é a sensação de estar sobrecarregado por estímulos sensoriais. Pode resultar em desconforto, ansiedade, e estresse e crise.

Stim

descreve comportamentos autoestimulatórios que envolvem movimentos ou sons repetitivos. Geralmente se refere a comportamentos exibidos por pessoas com transtorno do espectro do autismo, como bater os braços ou balançar para frente e para trás. É o termo em inglês para os movimentos repetitivos estereotipados.

Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)

termo médico utilizado para descrever a condição de autismo, variando em diversos níveis de suporte e as mais diversas formas do comportamento dos indivíduos.

#9 COMO CONVIVER MELHOR COM PESSOAS AUTISTAS

Agora que você já sabe mais sobre o autismo e como abordar o tema nas mídias, é importante trazer esse conhecimento para o dia a dia e melhorar seu convívio social com neurodivergentes.

Aqui vão alguns pontos para considerar:

ENTENDER PARA ACOLHER

clara e direta #01

Comunicação

use linguagem simples e objetiva. Evite metáforas ou figuras de linguagem que possam ser interpretadas literalmente.

sensoriais #02

Respeite as sensibilidades

algumas pessoas autistas podem ser sensíveis a estímulos como luzes brilhantes, sons altos ou texturas.

Ofereça opções, mas não insista #03

Esteja sempre atento #04

Acolha as Diferenças #05

Traga esse universo para sua rotina #06

considere o tempo da pessoa autista.

tente identificar gatilhos e respeite as necessidades específicas.

reconheça as habilidades únicas de cada pessoa autista e celebre a diversidade.

pesquise, assista filmes e séries com personagens autistas, siga porta-vozes nas redes sociais!

FICHA TÉCNICA

Pesquisa

Agência e Consultoria Maya

Redação

Anne Morais e Fernanda Brabo

Revisão

Anne Morais, Júlia Pelinson e Francisco Paiva Junior.

Colaboração

Mariana Celle, Adriana Linhares, Natália

Diogo, Milka Veríssimo e Francisco Paiva Junior

Direção Criativa

Paola Carvalho

Design e editoração

Sophia Lapertosa

Realização

Apoio

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Manual de narrativas atípicas | Pessoas autistas e neurodivergentes by Maya PR - Issuu