Textos de curadoria MayaPR, publicados na coluna Finanças em Foco, no Diário do Comércio, e podem ser acessados em diariodo.co/financasemfoco
Carol Velloso 08
Seu cérebro não gosta de dinheiro
Mariana Pinto 10
Receitas, despesas, necessidades e desejos: o óbvio precisa ser sempre
Jana Gomes 12
Mar de dívidas: aprendendo a mergulhar
Cristina Horst 22
Investimento para que sonhos não virem pesadelos
Proteção financeira: um abraço no futuro
A gaveta perdida do orçamento pessoal
Luciana Pimenta 16
Ariadne Sodré 26
O preço do silêncio: a relação entre dinheiro e autoestima nas mulheres
Carol Frigerio 28
Com 62 anos eu me aposento... Será?
Finanças, maternidade e home office: uma conta que parece nunca fechar
Amanda Dias 18
Ansiedade financeira e caminhos para a prosperidade
Beatriz Maluf 14 Planejamento financeiro e a chave para realizar grandes aquisições Dina Prates 20
Pollyana Diniz 30
Karina Valadares 24 O planejamento financeiro e o seu banco
Maria Helena Válio 32
Bolsa de valores para além do investimento inicial
Sigrid Guimarães 34
Quem precisa de um family office?
APRESENTAÇÃO
Bem-vinda ao eBook Melhor Contar, um projeto desenvolvido com o objetivo de ampliar o debate sobre finanças pessoais para mulheres. O título faz referência a duas importantes questões do universo feminino: uma contraposição ao “melhor não contar”, expressão tantas vezes ouvida por mulheres como forma de silenciamento e opressão, e a necessidade de nos apropriarmos da matemática e da gestão financeira, habilidades que, historicamente, nem sempre foram incentivadas entre nós.
Neste material, reunimos um grupo de pensadoras especializadas no tema para abordar diferentes aspectos da relação feminina com o dinheiro, desde os desafios do planejamento financeiro até a construção de um futuro seguro e próspero.
A organização deste eBook foi conduzida pela MayaPR Agência de Comunicação, em parceria com o jornal Diário do Comércio, um dos principais veículos de imprensa de Minas Gerais, com mais de 90 anos de história para contar. São 13 artigos publicados entre 2024 e 2025 nas edições impressas do DC, na coluna Finanças em Foco, que tem a curadoria Maya. Juntos, acreditamos que falar sobre dinheiro é um passo essencial para fortalecer a autonomia feminina e garantir
que mais mulheres possam tomar decisões financeiras conscientes, alinhadas com seus objetivos e sonhos. Nas próximas páginas, você encontrará textos inspiradores e práticos, escritos por especialistas que compartilham experiências e conhecimentos sobre temas fundamentais como planejamento financeiro, investimentos, organização do orçamento, endividamento, proteção financeira, relação entre dinheiro e autoestima, entre outros.
Cada capítulo é um convite para refletir sobre como lidamos com nossas finanças e como pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença no longo prazo. Nossa proposta é que este material sirva como um guia prático e motivador, ajudando mulheres a assumirem o protagonismo de suas trajetórias financeiras.
Esperamos que este eBook inspire você a olhar para suas finanças com mais clareza e confiança. Que cada reflexão aqui apresentada contribua para uma jornada de maior segurança financeira, liberdade e realização dos seus sonhos.
Boa leitura!
Paola Carvalho
Diretora criativa da MayaPR Agência de Comunicação
Organizadora do eBook
Somos uma agência de comunicação boutique, nosso trabalho é enxergar transformações, investigar contextos, escutar pessoas, traduzir conhecimentos, deixar emergir o novo, divulgar futuros.
Fazemos consultoria de comunicação, assessoria de imprensa, projetos de conteúdo e produtos editoriais
Somos nativas digitais, presente em todo o Brasil, integrante da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom).
estratégia de comunicação, assessoria de imprensa, produtos editoriais
fale com a gente: contato@mayapr.com.br mayapr.com.br @mayapr.br @mayapr
Seu cérebro não gosta de dinheiro
Por Carol Velloso*
Eu me dei conta que meu cérebro não gostava de cuidar de dinheiro aos 36 anos. Naquela época, com um marido desempregado e um filho de 5 meses, surgiu a necessidade de cuidar das finanças pela primeira vez na vida.
Até aquele momento, eu tinha 2 regras que regiam a minha vida: se tem dinheiro na conta: eu posso gastar e não posso me endividar.
A boa notícia é que nunca me endividei (pelo menos era o que eu achava, até descobrir que parcelas do cartão de crédito contam como dívidas). A má notícia é que aos 36 anos me vi passando por um revés da vida sem praticamente nenhuma reserva financeira.
Quando eu olho pra trás, eu vejo que eu tinha o contexto ideal para ter dinheiro sobrando na conta. Ganhávamos bem, não tínhamos filhos e nem dívidas. Era só poupar um pouco todos os meses nos 13 anos anteriores. Se era tão fácil, por que eu não estava organizada financeiramente aos 36 anos?
Quando passei a pesquisar sobre economia comportamental entendi que as nossas decisões são 95% emocionais e que o nosso cérebro está no piloto automático a maior parte do tempo.
A culpa disso é do excesso de decisões que precisamos tomar por dia: são 35.000 mil decisões. Para otimizar o uso de energia que ele gasta tomando essas decisões, o cérebro usa atalhos mentais e liga o piloto automático. Ele está sempre em busca de soluções simples para decidir mais rápido. Mas essa facilidade tem um preço: a qualidade das decisões.
Entenda: dormimos com o inimigo, o nosso cérebro. Ele busca recompensas imediatas a todo instante e não está disposto a esperar o amanhã (que dirá a aposentadoria). Para o cérebro é contra intuitivo poupar.
Para lidar bem com o dinheiro, é preciso criar o hábito de trocar uma parte do dinheiro do presente, para usá-lo no futuro com algo que também nos trará benefício (lembrando que não contaremos com apoio do cérebro rápido).
Além disso, é preciso alimentar nosso piloto automático com um bom repertório sobre decisões financeiras. Sem um novo repertório, ele vai continuar usando seus hábitos antigos ruins.
Mas como não podemos vencer um inimigo sem conhecê-lo, trago alguns atalhos mentais que usamos para decidir de forma rápida e fácil, mas que nos custam muitos sonhos (e às vezes a nossa saúde mental):
Quando decidimos comprar a casa própria, tomando um financiamento de forma irrefletida, essa decisão é muito mais movida pela norma social (atalho) do que pela razão.
Quando compramos só porque está na promoção, somos mais influenciados pelo nosso medo de perder uma oportunidade (atalho) do que pelo custo benefício da compra.
Quando somos mulheres e achamos que não somos boas com finanças (atalho), isso tem muito mais a ver com a ausência de modelos femininos que cuidam bem do dinheiro e agem de forma independente, do que falta de capacidade.
Quando você decide começar a investir e fica paralisada com tantas opções, é só uma reação automática do cérebro e não falta de inteligência.
Então comece pelo básico: dê pequenas provas para o cérebro sobre a sua nova identidade financeira e alimente seu piloto automático com boas regras sobre o dinheiro.
*Carol Velloso é advogada do BNDES, com experiência em políticas públicas de educação financeira, fundadora do Neuroeconomia Educação, especializada em Finanças Comportamentais.
Receitas, despesas, necessidades e desejos: o óbvio precisa ser sempre lembrado
Por Mariana Pinto*
Montar o orçamento familiar e fazer uma boa administração dos recursos da casa é um dos principais desafios para as famílias brasileiras — independentemente da classe social. O fato da educação financeira ainda não ser tão difundida no país é um dos fatores que contribui para o cenário.
Entretanto, o processo de organização financeira e gestão do dinheiro não precisa ser uma tarefa complexa. Ao compreender como ele funciona e como aplicar os conceitos no cotidiano, é possível aproveitar inúmeros benefícios para as finanças familiares no longo prazo.
A palavra receita pode ter vários sentidos: serve para descrever a forma de se fazer um bolo, dizer qual remédio se deve tomar e, no orçamento familiar, serve para descrever todas as rendas que compõem o dinheiro que você junta dentro de um mês. Para calcular suas receitas, você precisa somar todas as suas fontes de renda (pensão, vendas, comissões), ao seu salário, se você tiver.
Já a palavra despesa serve para explicar aquilo que você gasta. Para calcular todos os seus gastos, inclua as grandes despesas, como moradia,
alimentação, transporte, saúde e lazer, e os pequenos gastos do dia a dia, que muitas vezes são deixados de lado.
Tão importante quanto saber a diferença entre receita e despesa, é entender que finanças comportamentais tem papel relevante para o sucesso financeiro, principalmente identificando o que é necessidade e o que é desejo no momento de uma compra ou nova despesa. Necessidade e desejo são condições que dificilmente coincidem nas nossas escolhas de onde gastar dinheiro. Essas situações, inclusive, afetam as pessoas de diferentes maneiras. Enquanto muitos deixam de comprar uma roupa nova para sair, preocupadas com as contas da casa, outros são mais suscetíveis às tentações e não pensam duas vezes antes de passar o cartão.
O segredo é balancear a necessidade e o desejo. Acesso à água potável, ter um teto para morar e comida para se alimentar são
“O segredo é balancear a necessidade e o desejo.”
o mínimo do mínimo em termos de gastos financeiros básicos que permitem uma vida com dignidade. Fora o indispensável óbvio, todo o restante pode se enquadrar como desejo. Se o prato de arroz e feijão de todo dia é necessário, a pizza do domingo à noite entra na categoria do desejo. A casa que nos protege das intempéries do tempo é necessidade, mas uma mansão de luxo com dez quartos e piscina é um desejo.
Os desejos estão relacionados às preferências e aos anseios individuais, são diretamente influenciados por fatores como cultura, contexto social e emocional, publicidade… Os desejos relacionados às finanças são secundários no orçamento e só devem ser considerados depois que as necessidades primárias forem atendidas. Assim, há momentos da vida financeira em que os desejos precisam ser deixados de lado, justamente para serem alcançados em maior proporção em um momento posterior.
O primeiro passo para cuidar melhor da sua grana é gastar menos do que se ganha, fazer com que as receitas sejam maiores do que as despesas e não comparar a sua vida financeira com a de outra pessoa. É sobre gastar na hora certa!
*Mariana Pinto é educadora financeira, fundadora da Mariana da Grana Educação Financeira
Mar de dívidas: aprendendo a
mergulhar
Por Jana Gomes*
Era terça-feira de Carnaval em Salvador. Cansada do ritmo dos circuitos, sugeri ao meu amigo, o Fê, que fizéssemos algo diferente, aproveitar a praia. Entre bronze e sorvetes, surgiu um convite natural, típico do cenário: “Bora mergulhar?”
A água, seja do mar ou da piscina, sempre me causou receio. Cresci vendo meus primos aprenderem a nadar quando meu pai e meus tios nos levavam aos clubes, enquanto eu, nem mesmo na piscina infantil, conseguia adentrar. Já adulta, cheguei a fazer aulas de natação, mas sem grandes progressos.
Respondi ao convite com um “sim”, planejando ficar à beira-mar, esperando que meu amigo mergulhasse. Ele, porém, sugeriu que o acompanhasse. Naquele dia, o mar estava agitado, com ondas altas quebrando. Eu, tentando evitar a folia aquática, me esforçava para escapar delas, sem sucesso.
Foi então que Fê, percebendo minha luta, me explicou o básico: quando uma onda vem alta e prestes a quebrar sobre você, ela pode te arrastar e te fazer girar desorientada no mar. O ideal, então, é mergulhar por baixo dela. Quando você mergulha, não sente o impacto da quebra e consegue passar ilesa.
Confio nos meus amigos, então, mesmo com medo, mergulhei fundo. Queria uma câmera registrando aquele momento. A sensação de felicidade ao aprender a mergulhar foi tão intensa que voltei para casa em êxtase.
A maioria das pessoas, quando se vê no “mar” das dívidas, sente o mesmo medo que sentia diante das ondas e adota a pior estratégia possível: gastar todas as energias tentando pula-las, quando elas deveriam ser enfrentadas de outra forma — mergulhando por baixo.
Se essa é a sua situação, convido a enfrentála junto comigo. Antes de qualquer coisa, precisamos observar e entender o movimento das ondas — isto é, das dívidas. Qual é a natureza e urgência de cada uma delas?
Conforme paramos para respirar fundo antes de mergulhar, devemos primeiro olhar para nosso cenário com calma. Com papel e caneta na mão, liste seus credores, os valores de cada dívida, o número de parcelas, inclusive as já quitadas. Em seguida, os juros, o custo efetivo total e o saldo devedor atual.
Ao entender sua situação financeira, você conseguirá ajustar o “fôlego” necessário para cada onda. Saberá o momento certo para agir, seja “pulando” junto com ela ou mergulhando por baixo. No planejamento financeiro, isso significa escolher as melhores estratégias para lidar com as dívidas. Uma vez que as entendemos, podemos decidir quais priorizar, se é hora de buscar negociação com juros melhores, fazer portabilidade para opções mais favoráveis ou até explorar alternativas judiciais — como a Lei do Superendividamento.
Além disso, considere reunir suas dívidas em um único pagamento, o que pode reduzir o custo total e simplificar o controle. Também pode ser vantajoso obter um empréstimo com taxa de juros mais baixa para quitar débitos mais caros — o cartão de crédito, o cheque especial. Caso tenha dúvidas sobre qual caminho seguir, procure a orientação de um especialista.
Assim como no mergulho, no planejamento financeiro, quando tomamos coragem para enfrentar as dívidas com clareza e estratégia, o impacto de passar por elas e emergir do outro lado é muito menor.
*Jana Gomes é especialista em planejamento financeiro e finanças comportamentais
A gaveta perdida do orçamento pessoal
Por Beatriz Maluf*
Sempre gostei de escrever e aprendi cedo que o papel aceita tudo. Às vezes, escrevia para registrar boas notícias; outras, as palavras eram um refúgio para organizar pensamentos. Com o tempo, as planilhas substituíram a escrita, mas foram essenciais para traçar metas e entender, quase cientificamente, como gastava meu dinheiro. E, assim como o papel, percebi que as planilhas também aceitam tudo.
No planejamento financeiro, crio e apago abas, mas posso me enganar. Durante um tempo, minha planilha tinha uma zona cinza, onde escondia gastos não obrigatórios. Para organizar melhor, adotei um método simples: classificar as despesas em quatro categorias. No topo da pirâmide estão os gastos obrigatórios fixos, como aluguel e impostos. Depois, vêm os obrigatórios variáveis, como contas de consumo que, mesmo com valores alternantes, sempre retornam no início do mês. Os não obrigatórios se dividem em fixos, como cursos e academia, e variáveis, onde mora o descontrole financeiro.
Ninguém quer viver só para pagar contas, e somos constantemente tentadas por produtos e serviços. Compramos roupas fora de estação, usamos carros de aplicativo sem necessidade e recorremos ao delivery com frequência, sem perceber o impacto dessas pequenas escolhas na estabilidade financeira. Esses gastos, ainda que registrados, podem comprometer o orçamento se não forem corretamente identificados e ajustados conforme nossa realidade.
Autoconhecimento financeiro leva tempo. Precisamos entender se gastamos por impulso, insegurança ou hábito. Nomear cada gasto corretamente é essencial. Isso implica diretamente naquilo que, nas minhas andanças pelas finanças pessoais, interagindo com centenas de mulheres, defini na metodologia dos 4G´s e cujo segundo G, precisamente, trata sobre Gastar Melhor. Tudo parte do Sócia do meu Dinheiro, esse ecossistema que lidero e tem como objetivo tornar mulheres sócias, CEOs do próprio dinheiro e da própria vida.
Nada deve ser escondido de nós mesmas. Registrar e analisar cada gasto permite identificar padrões e adequar despesas à realidade financeira. Se ajustes forem necessários, avalie se há como reduzir desejos e tornar os gastos mais previsíveis. Pequenos cortes, quando bem planejados, fazem grande diferença. É importante lembrar que equilíbrio não significa privação, mas sim escolhas inteligentes e alinhadas com nossos objetivos de longo prazo. Cortes devem começar pela base da pirâmide, garantindo que os recursos sejam direcionados para aquilo que realmente importa.
Imprevistos acontecem, e a vida não segue a rigidez de uma planilha. Mas ambas são adaptáveis. Permitem ajustes, correções e recomeços. Só não aceitam que você boicote a si mesma. Afinal, a organização financeira não é um fim em si mesma, mas um meio para conquistar liberdade e tranquilidade.
do Meu Dinheiro, passou por instituições financeiras como Safra, Santander e HSBC.
*Beatriz Maluf é consultora de finanças pessoais, fundadora do ecossistema Sócia
Finanças, maternidade e home office: uma conta que parece nunca fechar
Por Luciana Pimenta*
Ser mãe já traz consigo inúmeros desafios. Imagine somar a isso a insegurança financeira. A conciliação entre trabalho e maternidade é um desafio para as mulheres, que se veem divididas em múltiplas funções. Em teoria, trabalhar de casa facilitaria esse processo, por trazer mais flexibilidade de horário e permitir que a mãe esteja mais presente com os filhos. Mas, na prática, nem sempre é assim.
Por aqui, mesmo no lugar de mulher branca, classe média, privilegiada — mas ainda assim com anseios — a volta ao trabalho sendo mãe autônoma em home office foi superlenta. Meu filho e meu puerpério já têm quase 2 anos e nada volta ao que era antes. A licença-maternidade de 4 meses te permite entender os desafios, aprender a maternar, fixar a amamentação e (talvez) te reconhecer de volta.
Depois disso, você não consegue produzir como antes. Para voltar a uma jornada de trabalho integral, ainda mais remoto, você precisa ter uma forte rede de apoio, contratar ajuda ou colocar a criança na creche. E, infelizmente, nada disso é exatamente viável para a maioria.
Nesse tempo, o mercado se esqueceu de você e o esforço para criar seu networking é maior. Sua renda já diminuiu, as contas chegam e a incerteza vira ansiedade. As horas de trabalho são reduzidas, você tem uma criança te chamando o dia todo e as responsabilidades se multiplicam. Fora as questões patriarcais, que refletem na ausência dos homens no dia a dia das funções paternas.
A economia do cuidado vem ganhando atenção, mas não tão cedo ganhará o patamar de valorização do mercado de trabalho. Um interessante relatório da Oxfam mostrou que
90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito pelas próprias famílias e, dentro desse recorte, a responsabilidade é das mulheres em 85% das vezes. Ou seja, a gente cuida sem ganhar nada; trabalha, afinal as contas continuam chegando; e precisa ser mais do que é para conquistar oportunidades justas.
Para empresas contratantes, dar preferência a mães com filhos pequenos pode ser fundamental para a saúde financeira e mental daquela mulher. Além disso, as mães se tornam profissionais mais dedicadas, tolerantes, organizadas e resilientes. Um estudo do Federal Reserve Bank of St Louis mostrou que funcionárias mães são mais produtivas. Afinal, não há espaço para procrastinação. Entretanto, ainda são extremamente negligenciadas pelos contratantes, pelo receio de absenteísmo.
Por outro lado — e aqui vai meu alento à mãe leitora — o puerpério passa, a amamentação exclusiva acaba, a introdução alimentar se assenta, a adaptação escolar acontece e o bebê se torna mais independente. Você vê uma luz no fim do túnel e seu potencial criativo retorna.
Dito isso, é, sim, possível conciliar o trabalho em casa com a maternidade, mas é preciso planejamento extra. Financeiramente, é crucial a formação de uma reserva de emergência com alta liquidez, em um valor que cubra seus gastos essenciais por alguns meses. Além disso, a precificação dos seus serviços deve ser compatível ao aumento das despesas — que com o primeiro filho deve subir cerca de 20% já nos primeiros meses — e com a instabilidade inerente à condição de empreendedora. Há esperança, mas deve haver planejamento.
*Luciana Pimenta é especialista em Marketing e fundadora da Salut!, agência de marketing de conteúdo digital e SEO.
Ansiedade financeira e caminhos para a prosperidade
Por Amanda Dias*
Você já perdeu o sono pensando nas contas que vencem no fim do mês?
Já se sentiu tão pressionado por uma dívida que parecia não ter saída? Essa sensação de sufocamento é chamada de ansiedade financeira e afeta milhares de brasileiros diariamente, principalmente aqueles que já enfrentaram ou ainda enfrentam momentos de escassez. A ansiedade financeira não é apenas uma preocupação com dinheiro; é uma resposta psicológica que afeta tanto o corpo quanto a mente. Para muitos, isso se torna um ciclo sem fim.
Quando vivemos na escassez, nossa mente entra em um “túnel” psicológico, focando apenas no problema imediato. Isso explica por que é tão difícil pensar em economizar quando o aluguel está atrasado ou quando falta comida em casa. O problema é que, ao tentar resolver o “aqui e agora”, acabamos tomando decisões que nos colocam em situações ainda mais difíceis no futuro — como pegar um empréstimo com juros altos ou parcelar compras desnecessárias.
Imagine uma família que recebe o salário e, antes do dia 10, já está com o limite do
cartão de crédito estourado. O foco está no curto prazo, e o longo prazo fica esquecido. Esse ciclo de urgência e escassez aumenta o estresse e, muitas vezes, a sensação de fracasso.
A boa notícia é que existe uma saída. Construir uma reserva de emergência pode ser o primeiro passo para sair desse túnel e reduzir os impactos psicológicos da escassez. Essa reserva funciona como um “colchão” que amortece os golpes dos imprevistos, dando a segurança necessária para lidar com problemas sem se afundar em dívidas.
Mesmo em um orçamento apertado, é possível poupar. Identifique pequenos vazamentos nas suas despesas diárias e avalie onde pode cortar. Por exemplo, aquele cafezinho diário fora de casa pode ser substituído por uma opção feita em casa. Parece pouco, mas pequenas mudanças somam. Estabeleça um valor inicial para começar, sem se preocupar em juntar
“(...) cada real poupado é um passo para sair do ciclo da escassez. ”
uma grande quantia de uma vez. Outra dica importante é automatizar o processo: configure uma transferência automática para uma conta separada assim que o salário cair. Isso evita que o dinheiro seja gasto antes de ser poupado. E, por último, evite tocar no dinheiro da reserva, deixando-o reservado apenas para emergências reais.
A reserva de emergência deve estar em um lugar seguro, mas também acessível e que permita algum rendimento. Algumas opções são a poupança, que é uma opção simples e sem custos, ideal para quem está começando, embora com rendimento baixo; contas digitais com rendimento automático, como as de bancos como Nubank ou PicPay, que oferecem rendimento diário maior que a poupança e permitem saques rápidos; e o Tesouro Selic, uma opção mais segura e com boa liquidez para quem já tem mais experiência.
Construir uma reserva financeira não acontece da noite para o dia, mas cada real poupado é um passo para sair do ciclo da escassez. Mais do que um alívio para o bolso, é um alívio para a mente e o coração.
*Amanda Dias é educadora financeira e fundadora do projeto @granapretaoficial
Planejamento financeiro: a chave para realizar grandes aquisições
*Por Dina Prates
Quando falamos sobre planejamento financeiro, muitos enfrentam desafios em visualizar seus objetivos a longo prazo. Esse cenário frequentemente dificulta o planejamento de grandes compras ou a concretização de sonhos que demandam mais organização e preparo financeiro. Segundo os dados da Pesquisa realizada pelo Datafolha a pedido da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), 58% dos brasileiros pensam em planejar seu futuro, porém na prática a maior não sabe por onde começar ou qual estratégia usar para comprometer-se com seus planos.
A falta de nitidez e disciplina na organização do orçamento familiar pode transformar a aquisição de um bem ou a realização de uma viagem em um processo desgastante. Porém, com algumas etapas bem estruturadas, é possível alcançar o objetivo, preservando a saúde financeira.
A primeira etapa no planejamento para grandes aquisições é compreender sua capacidade financeira atual. Antes de pensar no bem desejado, é essencial organizar as finanças cotidianas, identificando os limites e possibilidades do orçamento. Esse exercício permite ainda um diagnóstico se você está investindo os seus recursos financeiros em compras por impulso ou em gastos que não fazem sentido para a sua prioridade.
Na sequência, é preciso detalhar o que será necessário para concretizar o objetivo financeiro. Quatro pontos são fundamentais aqui: Primeiro, entender exatamente quanto custa o bem ou a experiência desejada. Segundo, identificar as possibilidades de pagamento: será necessário financiar? Existe
a possibilidade de pagar à vista ou utilizar o cartão de crédito? Ter nitidez sobre as opções de aquisição ajudará a escolher a estratégia mais adequada à realidade financeira. O terceiro ponto é estabelecer um prazo para atingir a meta. Planejar a compra daqui a um, dois ou cinco anos faz toda a diferença na forma como os recursos serão acumulados. E, por último, construir cenários alternativos. Esse exercício permite avaliar opções que podem atender à necessidade imediata sem comprometer o orçamento.
Por exemplo, ao planejar a compra de um imóvel, é interessante explorar as diferenças entre opções como um apartamento de um, dois ou três dormitórios. Será que o imóvel de menor valor atenderia às necessidades no momento, permitindo que a compra de um imóvel maior seja realizada em outra etapa da vida? Da mesma forma, ao adquirir um veículo, a escolha por um carro seminovo pode ser a solução temporária enquanto o sonho de um modelo novo, mais completo, é construído com planejamento e paciência. Construir cenários alternativos não significa abandonar os grandes objetivos, mas adaptálos ao momento financeiro tornando tudo mais sustentável.
A grande estratégia é construir um plano, entendendo os objetivos e desenhando o caminho para conquistá-lo evitando endividamento e compras impulsivas. Afinal, realizar um sonho não deve significar uma dor de cabeça. Pelo contrário, deve ser fruto de uma organização consciente que promove um bem estar financeiro. Como diria Elisa Lucinda e Emicida: “Digo que sou sonhador, mas sonhador na prática!
*Dina Prates é educadora e consultora financeira, founder e CEO da startups Ujamaatech e sócia-fundadora do Espaço IEP
Investimento para que sonhos não virem pesadelos
*Por Cristina Horst
“Eu era feliz quando não sabia o que era boleto”. Essa é uma frase comum quando o mundo adulto bate à porta. Deve ser por isso que a fezinha do brasileiro na mega sena acumulada está sempre garantida. Infelizmente, esta chance é para apenas uma pessoa em cada 50 milhões de apostas. Ou seja, contar com a sorte significa entregar a vida ao acaso e conformar-se em jamais concretizar nada.
Para quem não quer contar apenas com a sorte, o caminho é comprometer-se e investir para seus objetivos de forma consistente e intencional. Mas por onde começar?
Gosto de instruir meus clientes a listar todos os desejos, definir o prazo para concretizar cada item e estimar quanto vai custar cada um. Ao dividir o valor pela quantidade de meses, avalie: esta meta é possível? Caso negativo, o jeito é postergar, substituir ou baratear a conquista.
Bem sei que essas alternativas não são tão animadoras, mas lembre-se: você prefere esperar com a certeza de realizar ou relegar este assunto à mega sena e conviver com um desejo que nunca vai deixar de ser um sonho?
O planejamento não para aí. Para metas mais próximas, recomendo buscar investimentos de renda fixa com maior liquidez. Imagine precisar do dinheiro e ele não estar disponível ou ter diminuído de valor? Isso inviabilizaria tudo.
Nos planos com mais prazo, é possível tomar um pouco mais de risco. Buscar investimentos que garantam o rendimento real, ganhando da inflação, já é uma excelente escolha.
Aqui pode surgir a dúvida: “Como guardar dinheiro para os sonhos se minha vida parece um pronto-socorro com tanta emergência?”. Neste caso, provavelmente você está sendo super otimista e ignorando acontecimentos previsíveis. Se a desorganização aconteceu por esquecer do aniversário da sua mãe ou por pagar o IPVA, me desculpe, não está faltando dinheiro, está faltando planejamento. Isso acontece todo ano na mesma data. Aqui vai uma colher de chá: tem coisas que realmente são imprevisíveis. Queimar a geladeira ou bater o carro são bons exemplos. É para isso que existe a reserva financeira: para emergências.
Para evitar a busca de dinheiro em intuições financeiras com alto custo em juros, ou a empréstimos familiares com alto custo emocional, a melhor solução é que você seja o seu próprio socorro. Recomendo que o valor para esta reserva seja inserido no seu mês a mês como uma conta fixa, investindo religiosamente. Assim você estará comprando a sua tranquilidade futura.
Recapitulando: na hora de escolher seus investimentos, mais do que pensar no seu perfil de investidor, pense nas suas realizações. No quanto está disposto a esperar para atingir suas metas e qual o risco que deseja correr com esse dinheiro. Afinal, quem não planeja o sonho para se tornar realidade, pode se meter em um grande pesadelo.
Enquanto isso, proteja-se com a sua reserva de emergência. Ela é a segurança de receber ajuda quando precisar, porque só dependerá de você. Isso sim é curtir a liberdade da vida adulta e não a dependência de uma loteria.
economista com MBA em gestão de negócios, planejadora e consultora financeira.
*Cristina Horst é
Proteção financeira: um abraço no futuro
“Era fim de tarde, num dia de férias na praia. Entre risadas de crianças e aperitivos, perguntei ao Gustavo: você já pensou sobre o que vai acontecer com nossos sonhos quando não estivermos mais aqui? A pergunta parecia pesada, mas não era mórbida; transbordava cuidado, como quem quer manter a casa firme diante de tempestades.”
Esse relato é de uma cliente. Foi em uma conversa despretensiosa que ela e o marido perceberam: falar sobre proteção financeira não é sobre medo, é sobre amor. Eles são pais e profissionais que carregam sonhos. Querem que os filhos estudem onde desejarem. Querem que eles, enquanto casal, possam desacelerar o ritmo no futuro sem culpa. E almejam que, mesmo ausentes, deixem mais que lembranças, ou seja, um caminho tranquilo.
Conversamos sobre seguros. Muitas vezes negligenciado, o seguro de vida é um porto seguro em meio às incertezas: evita endividamento, protege patrimônio já acumulado em casos de doenças graves ou responsabilidade civil (essencial para ele, médico cirurgião) e garante que, na ausência de um deles, a família não precise enfrentar
Por Karina Valadares*
o luto somado a dificuldades financeiras. “É como um abraço financeiro para quem fica,” eu disse.
Falamos também de previdência. É essencial preparar o amanhã com recursos para manter uma vida digna. O INSS é obrigatório e importante, mas insuficiente.
A previdência privada é como plantar uma árvore: os frutos vêm com o tempo, mas só colhe quem planta cedo.
Além de construir segurança, a previdência privada oferece vantagens como dedução fiscal no PGBL (até 12% da renda bruta), o que é relevante para quem declara Imposto de Renda no modelo completo. Isso maximiza os recursos para projetos futuros.
Outro benefício é o diferimento fiscal, pagando imposto sobre os ganhos apenas no resgate, o que potencializa ganhos ao longo do tempo. Além disso, a previdência não entra em inventário, o que agiliza o
“Viva hoje, invista pensando no amanhã.”
processo para os herdeiros e reduz custos com impostos, como o ITCMD.
Foi uma conversa positiva sobre temas delicados. Todos eles relacionados a futuro, algo sobre o qual não temos controle. E, por fim, falamos sobre herança. Larissa hesitou: “Falar disso agora não é cedo demais?”. Respondi: “Você planeja os sonhos da sua família, por que não planejar o legado?”. Organizar a sucessão evita conflitos, preserva laços e deixa um mapa claro para o futuro.
A conversa terminou com o casal mais tranquilo. Eles entenderam que proteger financeiramente a família não é temer o pior, mas assegurar que o amor tenha continuidade. É como escrever uma carta endereçada ao futuro, onde cada decisão ressoa como um “eu me importo”.
Ao final, refleti: planejar-se para reduzir riscos é cuidar hoje para que nós e aqueles que amamos tenham, no futuro, mais que lembranças – tenham segurança. Se pudesse dar um conselho, diria: “Viva hoje, invista pensando no amanhã. E nunca subestime o poder de um plano bem feito.”.
*Karina Valadares é graduada em administração, MBA Finanças pelo IBMEC, especialista em planejamento financeiro humanizado e acolhimento socioeconômico.
O preço do silêncio: a relação entre dinheiro e autoestima nas mulheres 40+
Por Ariadne Sodré*
Para muitas mulheres acima dos 40 anos, a relação com o dinheiro é marcada por um paradoxo: ao mesmo tempo que têm uma certa independência financeira e carreiras consolidadas, enfrentam desafios emocionais profundos que dificultam uma gestão saudável das finanças. Essa dificuldade não é apenas prática; está intrinsecamente ligada à autoestima e ao silêncio que muitas delas mantêm em torno do tema.
Crescemos em uma sociedade que por séculos reforçou a ideia de que dinheiro é um assunto masculino. Mulheres foram ensinadas a não falar sobre isso – seja por medo de serem vistas como interesseiras, seja porque a administração financeira sempre foi delegada ao “chefe da casa”. Embora esse cenário tenha mudado consideravelmente, os resquícios desse silêncio ainda pairam sobre muitas mulheres, especialmente após os 40 anos, quando começam a revisar suas escolhas e relações.
Nesse contexto, o dinheiro muitas vezes se torna uma moeda de troca emocional, não apenas uma ferramenta prática. Quantas vezes ouvimos histórias de mulheres que sustentam financeiramente parceiros, filhos ou familiares em detrimento de suas próprias
*Ariadne
necessidades? Esse padrão, mais comum do que parece, está ligado à autoestima. Quando uma mulher acredita que seu valor está no quanto ela dá – e não no quanto ela se permite receber –, suas finanças se tornam um reflexo direto desse desequilíbrio.
O problema é que isso tem um preço. Manter o silêncio sobre suas necessidades financeiras ou evitar confrontar a realidade pode levar a um ciclo de endividamento, ansiedade e perda de controle. E quanto mais o dinheiro escapa, mais a autoestima é corroída, criando um círculo vicioso difícil de romper.
Aos 40 anos, muitas mulheres já passaram por transições significativas: divórcios, mudanças de carreira, filhos saindo de casa.
Essas fases são um convite à reflexão, mas também podem trazer insegurança. Como recomeçar? Como se posicionar financeiramente quando boa parte da vida foi dedicada a cuidar dos outros?
A saída para esse dilema começa com a quebra do silêncio. Falar sobre dinheiro – com amigas, parceiros ou até com profissionais – é o primeiro passo para ressignificar a relação com ele. É importante lembrar que o dinheiro não é apenas um recurso; ele é também um reflexo do quanto você valoriza a si mesma.
Além disso, é preciso transformar a culpa em ação. Muitas mulheres evitam olhar para suas finanças por vergonha de terem “errado” em algum momento. Mas cada decisão financeira, mesmo as impulsivas ou equivocadas, trazem lições valiosas. A prática de revisar seus gastos e entender os padrões emocionais por trás deles pode ser libertadora.
Por exemplo, comece estabelecendo pequenas metas financeiras. Não precisa ser algo grandioso, como quitar todas as dívidas ou comprar uma casa. Pode ser tão simples quanto criar um fundo pessoal para algo que você deseja há tempos: uma viagem, um curso, um hobby. Quando você começa a priorizar seus desejos, a autoestima é reforçada, e o dinheiro deixa de ser apenas uma preocupação para se tornar uma ferramenta de realização.
Outra prática poderosa é aprender a dizer “não” sem culpa. Muitas vezes, mulheres acima dos 40 se sentem responsáveis por resolver os problemas financeiros dos outros, mesmo que isso comprometa seu próprio equilíbrio. Lembre-se: ajudar é importante, mas nunca deve vir à custa da sua estabilidade. Por fim, invista em conhecimento. Aos 40+, a vida oferece a chance de reescrever narrativas.
é
Sodré
educadora financeira e fundadora do Clube das Rycas
Com 62 anos eu me aposento... Será?
Por Carolina Frigerio*
Dia desses, estava conversando com uma amiga quando ela soltou a fatídica frase: “Ah! Com 62 anos eu me aposento, até lá vou levando...!”. Hoje, ela tem 41.
Seria um misto de inocência e desconhecimento que nos levam a achar que a idade atual será mantida?
Estudo recente do Banco Mundial aponta que, se nada for feito com relação às regras de concessão de aposentadorias, será necessária uma idade mínima de 72 anos em 2040 e 78 anos em 2060 para manter a razão de dependência dos idosos no mesmo patamar apresentado em 2020. Não, a Reforma da Previdência realizada em 2019 não foi suficiente.
De um lado, temos o número de aposentados e os gastos com aposentadoria crescendo. Do outro, temos menos pessoas nascendo e, por sua vez, menos contribuintes. De acordo com o IBGE, de 2000 a 2023, taxa de fecundidade do país recuou de 2,32 para 1,57 filho por mulher. Nesse mesmo período, a proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. Em 2070, cerca de 37,8% dos habitantes do país serão idosos.
Em 2040, minha amiga terá 57 anos. Mas se ela insistir em contar com a data da aposentadoria, segundo o Banco Mundial, ainda faltarão 15 anos para “chegar lá”. E se já não bastasse ter que esperar pela idade mínima, será que esse “lá” vai ser suficiente em termos da renda que ela precisa para viver?
Para responder, lanço uma nova pergunta: “quanto custa ser você?”. Aqui, nem falo (ainda) de quanto você custará no futuro. Faço a pergunta no tempo presente para que o mínimo de luz possa ser colocado na questão e facilitar sua resposta.
Já é provado que temos dificuldade de nos projetarmos no futuro. Estudos por ressonância magnética (FMRI) indicam que é como se estivéssemos pensando em uma outra pessoa completamente diferente. Contudo, ainda que seja difícil, é crucial encontrarmos meios de protegermos nosso “eu do futuro”.
De maneira prática, tudo começa com o nosso custo de vida. Nenhum patrimônio acumulado será suficiente se você não tiver clareza do quanto precisa para viver na aposentadoria. Esse número é individual, claro. Mas a afirmação é comum a todos: quanto menor o custo de vida, menor o patrimônio necessário. Em outras palavras, menor a montanha que você precisará escalar.
Temos a tendência equivocada de achar que no futuro conseguiremos gastar menos, ganhar mais e poupar mais. Percebe aqui a pegadinha de jogar a batata quente para o seu “eu do futuro” como se tudo fosse se resolver com um passe de mágica?
A questão é que deixar para amanhã tem um preço. Literalmente. Vamos a um exemplo com números: se a minha amiga investisse R$ 1.000,00 por mês dos seus 25 aos 62 anos ela teria um patrimônio acumulado de R$ 4,1 milhões aos 62 anos, considerando uma rentabilidade nominal de 10% a.a. (aquela que não desconta a inflação).
Já se quisermos simular o quanto ela teria de patrimônio com o mesmo poder de compra de hoje, adotamos uma rentabilidade real de 4% a.a. (aquela que já desconta a inflação) e teríamos um patrimônio acumulado de R$ 1 milhão. Na prática, esse valor poderia gerar uma renda passiva de R$ 5 mil dos seus 62 anos até os 90 anos de idade, com o mesmo poder de compra de hoje.
Agora, e se minha amiga resolvesse começar a poupar só aos 50 anos com um esforço 2x maior? Bem, se ela investir R$ 2.000/mês dos seus 50 aos 62 anos, o patrimônio acumulado, será de R$ 367 mil (rentabilidade real de 4% a.a.). Ou seja, ela vai ter um esforço mensal 2x maior para alcançar um patrimônio de 1/3 do valor.
Quando estamos falando de aposentadoria, o tempo é o nosso melhor amigo. Essa é a única variável que tem poder exponencial, no sentido literal, de reduzir o esforço necessário.
Precisamos parar de tratar a aposentadoria como uma idade e encará-la como o valor de patrimônio necessário para que tenhamos, ao menos, o poder de escolha de desacelerar o ritmo no futuro. Esse é o ato de autocuidado que nosso “eu do futuro” e “eu do presente” merecem.
*Carolina Frigerio é planejadora financeira e consultora de investimentos CVM. co-host do podcast Talvez Você Deva Falar Sobre Dinheiro. Graduou-se Administradora pela PUC-Rio e Mestre em Gestão Empresarial pela FGV. Mãe, esposa, apaixonada por natureza, corrida, falar de dinheiro e ajudar pessoas a protegerem seu futuro, sem deixar de viver o presente.
O planejamento financeiro e o seu banco
Quais as vantagens de fazer um plano e porque o gerente bancário pode não ser o seu principal aliado
Por Pollyana Diniz*
Dificilmente o gerente da sua conta bancária saberá o que você pretende com o seu dinheiro. Essa é a maior diferença entre um assessor e planejador financeiro e o gerente da sua conta.
Um planejador financeiro terá acesso a todas as suas informações financeiras, como receitas, despesas, dívidas, o quanto possui de patrimônio investido e patrimônio imobilizado. Mapeando esses dados, um diagnóstico lhe será dado.
Mais importante, saberá quais são os seus objetivos e sonhos de vida. Só então, em posse de todas essas informações, irá traçar um plano para te auxiliar a alcançar esses objetivos no prazo estipulado, ou antes dele.
Para que seja possível uma assessoria de investimentos livre de conflitos de interesse, em conjunto com o planejamento financeiro, algo importante é o modelo de remuneração do assessor. Nesse caso, o modelo mais justo é o modelo fiduciário ou fee based. Portanto, busque saber se a remuneração é fixa ou de que forma ela pode variar.
Hoje, grande parte dos bancos comerciais, e na maioria das
assessorias de investimentos, o que se aplica é o modelo que chamamos de “alocação por produto”. Cada produto de investimento alocado em sua carteira gera uma receita ao assessor. O problema, na maioria das vezes, é que o olhar do assessor não está voltado necessariamente para os interesses do cliente, mas tão somente à receita que aquele produto vai proporcionar a ele.
No modelo fiduciário, que defendo como o modelo mais correto, a remuneração do assessor é paga pelo cliente de forma alinhada e transparente. Geralmente, é um percentual sobre o montante de investimentos que o cliente possui sob a gestão do assessor. Em contrapartida, toda receita que o assessor receberia dos produtos é devolvida ao cliente. Desta forma, o olhar do assessor estará sempre nos melhores produtos de investimentos, alinhado aos objetivos do cliente, independente da receita gerada por esses produtos.
Há pouco tempo, no Brasil, quem possuía acesso ao modelo fiduciário eram somente clientes possuidores de grandes fortunas, normalmente geridas pelos chamados family offices. Agora, é cada vez mais possível
usufruir deste modelo sem precisar, necessariamente, possuir milhões em investimentos.
Em novembro de 2024, passou a valer a Resolução CVM 179, conhecida como a “resolução da transparência”. A norma trouxe mudanças importantes para o mercado de investimentos, visando ampliar a clareza sobre as remunerações no setor, especialmente para o investidor pessoa física. Com a nova regulamentação, a Comissão de Valores Mobiliários busca tornar mais transparentes as práticas de remuneração dos intermediários financeiros no Brasil. Desde então, todas as assessorias de investimento são obrigadas a informar detalhadamente como são remuneradas, oferecendo ao investidor uma visão mais completa e clara sobre as comissões envolvidas. Investidores podem acessar, de forma mais descomplicada, relatórios trimestrais com informações detalhadas sobre as comissões, por exemplo.
Fique atento ao escolher quem fará a gestão dos seus investimentos e saiba: um planejamento financeiro pode mudar sua vida, a relação com o seu dinheiro e ajudálo a conquistar seus objetivos muito mais rápido.
*Pollyana Diniz é economista pela UFSJ, planejadora financeira certificada (CFP) e sócia da assessoria de investimentos Invés
Bolsa de valores para além do investimento inicial
Análise ajuda a identificar empresas com fundamentos sólidos e potencial de crescimento, que podem trazer retornos consistentes no longo prazo
Por Maria
Investir na bolsa de valores é uma das formas mais populares de buscar a valorização do patrimônio ao longo do tempo. Da mesma forma, sabemos que a diversificação de uma carteira de investimentos, ou seja, a conhecida máxima de que “não devemos colocar todos os ovos numa mesma cesta” é um dos princípios fundamentais para mitigar riscos e otimizar o retorno esperado. Por isso, quando se fala em investir em ações, é essencial compreender que essa classe de ativos é apenas uma parte de um portfólio bem balanceado e que o sucesso depende, em grande parte, de uma análise criteriosa das empresas e do acompanhamento constante de seus desempenhos.
Ao decidir investir em renda variável, o primeiro passo é entender que cada empresa negociada na bolsa representa um conjunto único de fatores de risco e retorno. Por isso, realizar uma análise detalhada é indispensável. Isso inclui estudar o histórico financeiro da empresa, avaliar seus lucros, receitas e margens, bem como entender o setor em que está inserida, suas perspectivas de crescimento e os desafios que enfrenta. Além disso, é importante analisar os indicadores financeiros, como o preço/ lucro (P/L), a relação dívida/patrimônio líquido, dividend yield e outros elementos que ajudem a compreender se o preço atual da ação reflete seu valor real. Esse processo de análise ajuda a identificar empresas com fundamentos sólidos e potencial de crescimento, que podem trazer retornos consistentes no longo prazo.
No entanto, mesmo as ações de empresas bem avaliadas estão sujeitas à volatilidade do mercado. Eventos macroeconômicos, geopolíticos, mudanças na política monetária, flutuações cambiais e crises globais são fatores que podem impactar os preços das ações de maneira significativa, muitas vezes de forma imprevisível. É nesse contexto que a diversificação assume um papel crucial. Ao distribuir os recursos entre diferentes classes de ativos – como renda fixa, fundos multimercado, fundos imobiliários e, claro, ações –, a investidora reduz a exposição a riscos específicos de cada setor ou empresa. Dentro do universo da renda variável, a diversificação pode incluir empresas de
diferentes setores econômicos, tamanhos e regiões geográficas, o que ajuda a equilibrar o portfólio diante das esperadas oscilações de mercado.
Outro aspecto extremamente relevante é a possibilidade de investir em ações fora do Brasil. Com a globalização e o avanço das plataformas digitais, nós, investidoras, temos cada vez mais acesso a bolsas internacionais, como as dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Essa estratégia permite acessar outras moedas e empresas líderes globais em setores como tecnologia, saúde e energia, além de diluir os riscos associados à economia de um único país. Por exemplo, enquanto o Brasil é altamente influenciado pelas commodities e por fatores políticos locais, mercados como o norte-americano oferecem maior estabilidade regulatória, institucional e uma vasta gama de opções de investimento. Isso amplia as oportunidades e favorece a construção de uma carteira ainda mais diversificada e resiliente.
Contudo, é fundamental lembrar que a diversificação não elimina os riscos, mas os dilui. A escolha dos ativos e seu respectivo balanceamento devem ser feitos com base nos objetivos financeiros, perfil de risco e no horizonte de investimento de cada pessoa. Além disso, é imprescindível monitorar continuamente os investimentos. Isso significa acompanhar não apenas o desempenho das ações e demais ativos, mas também as mudanças nos cenários econômico e político que possam impactá-los. Investir na bolsa exige disciplina e uma visão de longo prazo, evitando decisões impulsivas em momentos de alta volatilidade.
Portanto, o investimento em renda variável pode ser uma forma eficiente de aumentar o patrimônio ao longo do tempo, mas deve ser visto como parte de uma estratégia mais ampla, que inclui diversificação e gestão de risco. Assim, o sucesso nos investimentos dependerá não apenas de escolhas acertadas, mas também de uma gestão consistente e de uma visão estratégica que priorize o equilíbrio entre risco e retorno.
*Maria Helena Válio é uma profissional de destaque no mercado financeiro, com experiência internacional em Londres e Nova Iorque. No Brasil atuou em instituições como Indosuez, BMG e ABN AMRO. De 2003 a 2007, foi Managing Director do Grupo Superfund na América Latina, sendo a única mulher no comitê executivo global da empresa. Em 2019, fundou o Women Invest, iniciativa que promove a capacitação de mulheres em investimentos. Formada pela FGV, é gestora credenciada pela CVM e referência na promoção da inclusão feminina no mundo dos investimentos.
Helena Válio*
Quem precisa de um family office?
Em meio à multiplicidade de serviços ofertados a investidores (private banking, asset management, wealth management, plataformas de investimento), alguém vem falar em family offices. Nesse contexto, parece natural supor que se trate apenas de mais um competidor na corrida para captar recursos, oferecendo como diferencial conveniência e serviços acessórios, porém nenhuma resposta nova à velha necessidade de gerir um patrimônio. Se essa é a sua suposição, devo dizer que você está enganado, e essa é uma boa notícia.
A solução designada como family office começou a ser desenhada nos anos finais do século XIX, quando magnatas como Mellon, Morgan e Rotschield criaram escritórios com regras próprias para gerir e perpetuar suas fortunas. Por um século, o modelo se manteve restrito a proprietários de patrimônios suficientemente extraordinários para que a eficiência da gestão compensasse o custo de uma estrutura exclusiva.
A grande inovação veio na década de 1980, quando novas tecnologias enriqueceram muitas famílias, multiplicaram instrumentos de investimento
Por Sigrid Guimarães*
e simplificaram processos, viabilizando os primeiros multi family offices (MFO) nos EUA. Atuando como prestadores de serviço e orientando vários clientes, com parâmetros específicos para cada qual, eles proliferaram e prosperaram no exterior por uns bons 20 anos antes de chegarem por aqui.
Só após a estabilização da moeda, finalmente surgiram os primeiros MFOs brasileiros. Em 2003, quando nosso escritório foi fundado, éramos dois ou três no segmento. Hoje, estimativas apontam que, em 2023, já seriam mais de 140 gestores patrimoniais independentes.
Não é improvável, contudo, que esse número inclua negócios que não correspondem exatamente ao modelo dos family offices.
Um autêntico family office serve apenas às famílias clientes e é remunerado exclusivamente por elas, evitando conflitos de interesses. Não é instituição financeira, não tem operações próprias nem vende produtos.
Seu papel é proteger e valorizar o patrimônio do cliente a longo prazo, prolongando sua capacidade de gerar os recursos necessários à manutenção da família.
Investimentos são apenas uma parte disso, precedida por análise da situação econômico-financeira, planejamento e definição de política de investimento adequada. Nesse processo, observam-se pressupostos para a harmonia familiar, antecipam-se ameaças, indicam-se soluções econômicas e deduzem-se objetivos financeiros, para, só então, executar o plano de investimento, acompanhando de perto as condições da família e a evolução do patrimônio.
Beneficiar-se desse serviço depende menos do volume patrimonial do que da relação entre patrimônio líquido e necessidade de liquidez. Como o sucesso de quem ainda não dispõe de reserva para o médio prazo tem mais a ver com poupança do que com investimentos, pagar pelo serviço continuado de um MFO tende a ser um contrassenso.
Em compensação, contar com ele acelera a acumulação de quem dispõe de reserva para alguns anos, incrementa o legado dos que já conta com o suficiente para si mesmo e, mais importante, protege de armadilhas que podem destruir o que você já conquistou.
*Sigrid Guimarães é sócia-fundadora e CEO da Alocc. Executiva da holding do Grupo Globo por 13 anos, em 2006 fundou, com Mariana Brandileone, a Íntegra Consultoria Financeira. Associada ao projeto da Alocc® desde sua fundação, contribuiu decisivamente para a construção da empresa. É bacharel em Administração pela PUC-Rio e pós-graduada pelo MBA de Finanças Corporativas do IBMEC-RJ.