Revista Novas Amizades (edição feminina)

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A amiga d a m oça m ode rna

Edição Nº 4 - ano I 23 de maio de 2008

01 2005 02 03 2008

R$ 7,50

ELAS CONQUISTARAM SEU ESPAÇO Nesta edição

A década de 50 já acabou

Mulheres no mercado de trabalho

Evolução do figurino em 50 anos

Entrevista com Laurinda Pinto


Carta à Leitora

Uma nova mulher

S

eria realmente necessário uma data de comemoração a favor das mulheres, sim o tal 8 de março que todos os anos é comemorado o dia internacional delas. Para nós esta data pode confirmar a discriminação que as mulheres ainda sofrem em todo o mundo. Acreditamos que a mulher não precisa de uma data específica para ser reconhecida ou lembrada, a não ser aquelas que de uma forma ou de outra estão sempre se

prevalecendo da data para continuar com a imagem de desprotegida. Porque mulher que é mulher, esta preocupada em ser reconhecida, valorizada e amada durante os 365 dias do ano e os 366 do ano bisexto. Proteção, esta é palavra ideal para classificar a mulher contemporânea, e não falamos apenas do espaço domestico, daquela mulher que está pronta para proteger os seus filhotes contra qualquer mal ou do lar contra as turbulências do diadia, mas sim daquela mulher que protege e

defende os seus direitos com um intelecto de dá inveja em certos machões que ainda insistem em dizer que o lugar delas é no comando da grande nave chamado casa. Nós entendemos apontamos que o símbolo máximo da mulher moderna esta na figura da Sra. Agelina Jolie, não queremos dizer que todas as mulheres devem ser iguais até porque isso seria impossível, mas que é um exemplo a ser seguido, isso nós concordamos.

Aconteceu

Contra o aborto

Brasil pode não atingir metas

M

esmo com os avanços do Pacto pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, criado em 2004, o Brasil só vai reduzir consideravelmente a mortalidade materna em 2015, como prevê a Organização das Nações Unidas (ONU) nos Objetivos do Milênio. A redução prevista pela organização tem como base a taxa de mortalidade materna nos países em 1990, que no caso do Brasil era de 64 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos. Atualmente, a taxa no país, levantada a partir de dados de 2005,

está em pouco mais de 53 óbitos. Para a secretária-executiva da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Télia Negrão, no entanto, o país só vai conseguir reverter esse problema quando alguns aspectos forem enfrentados. “Se não for adotada uma política muito séria de educação sexual, planejamento familiar, melhoria do atendimento durante a gestação, parto e pós-parto, e de legalização do aborto, não conseguiremos reduzir as mortes maternas no Brasil e atingir as Metas do Milênio”, avaliou.

A

Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara Federal de Deputados rejeitou, no último dia 7, a descriminalização do aborto, com o argumento de que a "Constituição dá prioridade expressa ao direito à vida e o coloca sobre a proteção da família, da sociedade e do Estado", segundo o que afirmou o relator José Tadeu Mudalen. Manifestantes acompanharam a reunião e, em alguns momentos, proferiram palavras de ordem como: " o estado é laico" e "não à hemorragia, contra o aborto". Edição nº 04 - 23 de maio de 2008

Opinião Pág. 03

Mulher: O sinônimo do trabalho

A Mulher Moderna Pág. 04

Entrevista: Laurinda Pinto Pág. 06

Pág. 05

Expediente

A Revista Novas Amizades é uma publicação da Gráfica e Editora Novas Amizades // Arte da Capa: Maurício Araya // Tiragem: 150.000 exemplares

Editor-Chefe PAULO JÚNIOR

JENIFER RODRIGUES JOSIMAR MELO

Chefe de Reportagem JACKSON DOUGLAS

Editor de Fotografia e de Capa MAURÍCIO ARAYA

Reportagens ALICE ALBUQUERQUE JACKSON QUEIROZ

Diagramação e Projeto Gráfico MAURÍCIO ARAYA

02 | 23 de maio de 2008 NOVAS AMIZADES

Diretora Responsável LI-CHANG SHUEN CRISTINA

© 2008 Gráfica e Editora Novas Amizades Todos os direitos reservados


Opinião

JENIFER RODRIGUES

Escolhas a ser feita

A

proximadamente vinte anos atrás a mulher não passava de um mero “fantoche” do homem, onde seu papel resumia apenas em viver subordinada ao seu marido, cuidar dos filhos além de cuidar dos afazeres da casa. Mais o tempo fez com que surgisse uma “nova” ideologia para as mulheres, que seria a luta pelos Direitos Iguais. A população marxista não aceita a liberdade social que a mulher conquistou e ainda conquista a cada dia. Tudo na vida possui o prol e o contra, quando uma pessoa possui

tantas atividades para realizar acaba não dando muita assistência para algum setor e geralmente quem paga é a família. A dedicação pelo lado profissional tem sido tanta que o índice de mulheres solteiras, mas bem sucedida, tem crescido bastante e às vezes tornando se as famosas mães solteiras. Existem casos de mulheres que tiveram filhos na adolescência, onde parte da suas vidas foi destinada ao crescimento dos filhos e maridos, mas atualmente é voltada totalmente a vida profissional. Funcionária Pública, Jane Moreira, teve sua primeira filha aos 18 anos de

idade fato este que fez com que sua vida virasse de “pernas para o ar”; foi dificuldade para terminar os estudos, preconceito da própria família entre tantos outros. Atualmente com seus 38 anos, formada em Administração Hospitalar, com dois empregos na área da saúde ambos por intermédio de concurso público, pelas prefeituras de São José de Ribamar e São Luís. Este caso só comprova que o tempo é o melhor remédio para grandes escolhas e que as mulheres podem sim ser mãe, esposa e uma excelente profissional.

Crônica

PAULO JÚNIOR

C

Intensidade acima de tudo

omo já diziam os antigos poetas, o tempo é a melhor forma de esquecer, de superar as decepções, as angústias e as tristezas que a vida proporciona. Mas é interessante notar, como este tempo, marcado por incertezas, se relaciona com a realidade, possuindo uma afinidade tão forte e tão marcante, que se torna de fundamental importância para a existência humana. Todos nós, sem exceção, passaremos por situações difíceis de contornar, e por isso, necessitaremos de um período para nos recompormos, levantarmos a cabeça e avançar com todas as forças em direção a algo essencial para a nossa sobrevivência, como é o caso de sentimentos puramente verdadeiros. O tempo não pára. Ele se t r a n s f o r m a . Tr a z v i v a c i d a d e , esperança e mantém os sonhos das pessoas com uma intensidade apaixonante. E por falar em sonhos, quem nunca aspirou atingir um

emprego melhor? Uma vida mais digna? Um amor quase impossível? Quem? Existe alguém? A vida é feita desta busca por algo material ou sentimental, não é mesmo? Pense. Reflita. Acredite nos seus sonhos, mesmo se eles forem difíceis de serem atingidos. A palavra impossível deveria ser banida do dicionário. Ela não deveria ter sido inventada. Ora, se os sonhos existem, é porque o “impossível” é possível. As idealizações chamadas de “impossíveis” por aqueles incrédulos, podem se tornar realidades, mesmo que demorem muito. Você deve achar que as palavras desde texto correspondem à loucura humana de uma sonhadora. No entanto, o ser humano é louco por natureza, não é? Será que não és idealizadora o bastante para querer ser reconhecida como uma mulher de fibra nos momentos difíceis? Você tem que acreditar em você mesma. Sonhe. Imagine. Busque. Vença. Não ligue

para os que os outros pensam. Seja você mesma, combinado? Se você está apaixonada, cuidado com seus sonhos. Ou ainda, preocupese com seus sentimentos. Palavras como amor, paixão, desejo, entre outras, na maioria das vezes, se confundem e se transformam em um aglomerado de incompreensões. Mas nem por isso, deixe de se apaixonar amiga. Não existe nada neste mundo mais valioso do que amar. Agora ame intensamente. Aproveite cada milésimo de segundo ao lado do seu namorado. Mas faça tudo com intensidade, senão não valerá à pena o tempo que passou ao lado dele. Não tenha medo do que vai encontrar em uma relação amorosa. Acredite, o amor realmente move montanhas. Espero, sinceramente, que quando o “bendito” AMOR bater à sua porta, você não o menospreze como uma amiga minha fez com um garoto que era muito afim dela. Mas essa história fica para a próxima. Beijos para você!!!

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Evolução

A Mulher Moderna Desde a década de 50, o mundo sofreu inúmeras mudanças e transformações, e com as mulheres não foi diferente Por JOSIMAR MELO

Leilane Fonseca ainda afirma que não aceitaria este modo de vida por mais que s revistas femininas entre 1947 e amasse seu companheiro, “A jovem de 1955, tinham um estilo um tanto hoje quer liberdade e a mulher de hoje q u a n t o d i f e r e n t e q u a n d o tem que ter liberdade”. comparado as revistas de hoje, As mulheres buscam ainda mais a aconselhavam e indicavam comportamentos para agradar e igualdade com os homens, mas a satisfazer o homem desejado, até aqui s o c i e d a d e a i n d a é m a c h i s t a , tudo bem, mas veja algumas das frases comportamentos e modos de vida hoje das revistas femininas das décadas de 50 depende da mente de cada um, é a chamada liberdade de expressão. A e 60. mulher que é vista com uma lata de - Não se deve irritar o homem com cerveja na mão tem uma imagem na ciúmes e duvidas.(Jornal das Moças, sociedade diferente do que ela possa ser, o caráter e a personalidade não podem 1957) ser julgados por imagens. - Se desconfiar da infilidelidade do As mulheres que são chamadas de marido, a esposa deve redobrar seu senhoras, buscam hoje quebrar as rédeas carinho e provas de afeto.(Revista do passado, se livrarem das correntes, Claudia,1962) buscam nas mais jovens dicas de moda e Quando mostramos e pedimos a comportamento, pois o que importa para opinião a respeito dessas frases para as elas é se sentirem bem, e estarem de mulheres de hoje, as frases e as reações acordo com a chamada moda jovem. foram unânimes. Como a de Leilane Alem do mais não gostam de serem Fonseca, 21 anos, uma total aversão as chamadas de senhoras. regras e demonstrando até um olhar Para as jovens senhoras as regras assustado a respeito da vida e opiniões colocadas nas revistas. As mulheres da machistas que eram ditadas pelos pais e década de 50 mantinham uma total maridos perderam espaço, elas se dão submissão e deixavam de lado suas cada vez mais valor, nesta sociedade que próprias vidas em detrimento da vida dos pode ser machista, mas para a mulher m a r i d o s e o s e u d i a a d i a e moderna e para as jovens senhoras, a comportamentos, também era ditados década de 50 já acabou a mais de 60 anos. pelos maridos.

A

"A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada". Maomé

Evolução do figurino

Anos 50 04 | 23 de maio de 2008 NOVAS AMIZADES

Anos 60

Anos 70


Mercado

Mulher: o sinônimo do trabalho Ao longo dos anos, a figura feminina superou as barreiras do mercado de trabalho

Por ALICE ALBUQUERQUE PAULO JÚNIOR

A mulher na atualidade Quando a consultora de vendas, Raimunda Albuquerque (foto), entrou no mercado de trabalho em 1983, estava com 16 anos. Naquela época, as dificuldades financeiras da sua família fizeram com que ela começasse a trabalhar. “Resolvi entrar no mercado de trabalho partindo de uma necessidade em ajudar dentro de casa”. Mas, além disso, Raimunda sempre seguiu o ideal do Movimento Feminista que alimentou os corações das mulheres nas lutas pelo verdadeiro profissionalismo: “sempre achei importante a mulher de auto-afirmar, se auto-sustentar e conseguir independência”, completa Raimunda.

Hoje, a mulher é um ser, que para ser reconhecida, deve conseguir conciliar atribuições domésticas com profissionais. Ela tem que ser mãe, dona-de-casa, estudante e trabalhadora exemplar fora do seu lar. Essa é a realidade de muitas mulheres. Um exemplo desta situação é dona Raimunda Albuquerque, que consegue trabalhar no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, cuidar da casa, do marido e dos filhos. Uma verdadeira mulher dos tempos modernos. Não é uma tarefa fácil, mas dona Raimunda já se acostumou: “não é nada fácil. É uma carga muito pesa de trabalho, conseguir conciliar casa, marido, profissão e filhos. A mulher hoje deve dar conta de todos esses itens com competência”. Assim, o que se pode notar durante as lutas femininas por um espaço no mercado de trabalho é que muita coisa mudou e continua se transformando. A mulher já conseguiu várias conquistas, apesar de ainda existir muita discriminação quanto a cargos e salários para as mulheres. Além deste aspecto, a sociedade ainda é preconceituosa com relação àquela mulher que não quer passar todos os dias da sua vida em frente ao fogão, cozinhando uma saborosa comida para a amada família. Este tempo passou. Aos poucos, as mulheres ingressam nos estudos além do ensino do médio, para, a cada dia, se profissionalizarem e competirem com igualdade de condições com os homens no mercado de trabalho.

Anos 90

Moda atual

H

á, aproximadamente, 150 anos, mulheres já lutavam por melhores condições de trabalho. Já exigiam melhores salários. Já se confrontavam com a classe patronal para terem seus direitos reconhecidos. Já eram guerreiras. De tanto l u t a r, m u i t a s a c a b a r a m m o r t a s . Assassinadas para ser mais preciso. O massacre virou um marco. Tornou-se o Dia da Mulher. A data, 8 de março, ainda é lembrada até os dias atuais. A liberdade tanto desejada pelas mulheres desde os tempos mais antigos, ainda não foi alcançada. Muita coisa mudou no decorrer da história. Barreiras, nunca antes quebradas, começam a ruir. A sociedade machista está mudando, mas na parece ser o suficiente. Por exemplo, após a primeira Guerra Mundial, a participação da mulher aumentou na esfera pública, devido ao avanço do Movimento Feminista, que começou a reivindicar oportunidades no mercado de trabalho para as mulheres. Além disso, novas profissões foram exigidas, uma vez que mulher, só trabalhava como professora, enfermeira, secretária, telefonista, etc. Faltava algo. E foi esse “algo mais” a busca por este feminismo.

Anos 80

NOVAS AMIZADES 23 de maio de 2008 | 05


“Não basta afirmar que Por JACKSON QUEIROZ

E

sentido de compreender o movimento histórico das mulheres. No entanto, é importante verificar o seguinte, quando se trata de ações afirmativas para as mulheres imediatamente surge a pergunta: Por quê só para as mulheres? Evidentemente que este entendimento social e cultural é dos agentes que estão no poder público. Nós somos resultados deste aprendizado na sociedade na sociedade, então há necessidade permanente de diálogo específico, no sentido de demonstrar igualdade e que as ações afirmativas em relação às mulheres não são antidemocráticas, muito pelo contrário, é formar um estado democrático. Esse entendimento faz com que mantenhamos um bom relacionamento com o poder público e consequentemente um saldo bastante positivo.

m entrevista concedida a revista NOVAS AMIZADES a presidente do Conselho Municipal da Condição Feminina, ligado a secretaria de educação. E membro da União Brasileira da Mulher (UBM), a Sra. Laurinda Pinto. fala das lutas, conquistas, a participação das mulheres na política, violência e muito mais. Novas Amizades: QUAIS AS PRINCIPAIS LUTAS E CONQUISTAS DA MULHER JUNTO AO CONSELLHO? Laurinda Pinto: A própria existência do conselho municipal da condição feminina é uma conquista das mulheres e dos movimentos sociais feministas, no sentido que são importantes as políticas públicas desenvolvidas pelo estado brasileiro garantam um recorte de gênero, que dêem conta de responder de forma contundente as desigualdades de gênero que foram construídas ao longo da história do Brasil. Essas desigualdades de gênero geraram desigualdades sociais e desde então esta passou ser a principal luta das mulheres ao longo das últimas décadas. Como não tínhamos na sociedade o espaço para o sujeito político feminino, claramente demonstrado quando não votávamos, aliado a um projeto social e cultural direcionado as mulheres para cumprir apenas o papel de mãe a frente do sujeito político masculino, o que gerou um processo e conjunto de desigualdades sociais, econômicas, e políticas. A nossa principal luta é fazer com que as políticas públicas por intermédio de ações afirmativas possam então dizer que é uma sociedade de direito e que as mulheres tem direitos e oportunidades iguais. Porque não basta afirmar que temos direitos iguais se as oportunidades nunca foram iguais historicamente, assim, é necessário que tenha um conselho num espaço de controle social, para dialogar com o estado e poder pontuar e colocar as políticas que precisam ser desenvolvidas, priorizando as especificidades históricas da mulher.

Laurinda Pinto é presidente

do Conselho Municipal da Condição Feminina e membro da União Brasileira da Mulher (UBM).

Laurinda Pinto: Desenvolvemos um papel de controle social, acompanhando e propondo políticas em nível do município. A preposição municipal se dá com varias formas de organizações. Realizamos conferências em que discutimos propostas nos diversos movimentos que abordam a luta dos direitos da mulher, mas os diversos movimentos sociais com representação de poder público. Enfim, apontamos um conjunto de preposições para que o estado e o governo municipal possam incrementar e sugerir debates permanentes sobre o tema.

Novas Amizades: A PARCERIA E A INTERAÇÃO COM O PODER PÚBLICO SÃO POSITIVOS? Novas Amizades: QUE TRABALHO É Laurinda Pinto: É porque ao longo desses D E S E N V O L V I D O P E L O anos conseguimos estruturar os espaços e CONSELHO? mantivemos o diálogo com o estado no 06 | 23 de maio de 2008 NOVAS AMIZADES

Novas Amizades: POR QUE O NÚMERO DE MULHERES NA POLÍTICA SEMPRE FOI INESPRESSIVO? Laurinda Pinto: Nós só fomos reconhecidas como sujeito político lá pela década de trinta, no governo de Getulio Vargas ainda como sujeito que vota e não como sujeito que é votada. Logo, a historia não se resolve em uma ou duas décadas e sim com uma mudança de cultura muito grande que pode durar séculos. Precisamos reconhecer o que é ter um espaço de poder importante. Tem um ditado que expressa a mais pura realidade do não reconhecimento deste espaço: “Por trás de um grande homem, sempre existe uma grande mulher”, confirmando que o espaço das mulheres em relação aos homens ainda é muito desonesto. A grande maioria das mulheres não se vêem no espaço de poder dominados por uma visão machista, talvez seja outro motivo para apresentarmos dificuldades quando temos a oportunidade de agirmos nesses espaço de poder que é extremamente organizado pelo coletivo e oratória que acabam criando um impacto muito grande. No entanto temos clareza que vamos contribuir muito ao adentrarmos nesse espaço e mudar essa cultura para que ela possa ser mais humanizada, pois o espaço


temos direitos iguais” do poder legislativo é rigorosamente desumanizado. Para nós mulheres este ordenamento que os homens chamam de objetivos torna-se muito difícil, isso se deve porque os nossos primeiros aprendizados são num espaço altamente subjetivos onde as coisas se dão pela empiria e, isso vai fazendo nós termos uma aproximidade maior, ou seja, ter uma forma diferente de sermos objetivos. A outra questão é: mesmo sendo a maioria do eleitorado, a sociedade não entende que é importante a presença da mulher no espaço político, com isso a nossa representatividade vai lá pra baixo, o que dificulta a humanização e organização dos partidos políticos, que é a instituição legal para chegarmos ao poder legislativo. O sistema de cotas é outra barreira que limita a presença da mulher nos partidos políticos, esse processo serve mais como cumprimento de uma formalidade de que um processo de construção de um partido. Vejo que são muitos os motivos pelos quais as mulheres não se fazem presentes em maior número na política, o fato da mulher não querer participar do processo é o resultado de uma política histórica presente até hoje no Brasil. Novas Amizades: A QUE SE DEVE O AUMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER? Laurinda Pinto: Passamos por uma crise na sociedade muito grande, uma crise de valores muito intensa, do papel que determinamos para cidadãos e sujeitos que representam o desenvolvimento de uma sociedade. Essa crise atingiu o espaço chamado família. Devemos nos perguntar que espaço é esse e como que ele é fundamental para pensarmos se a sociedade está avançando ou não. A família sempre foi algo muito privado, era um ente que a sociedade em si não poderia adentrar, depois dos debates com o contexto da família muito expresso pelo estatuto da criança e do adolescente, que foi o primeiro a dizer que a família tem essa responsabilidade. Não tem como, para falarmos da violência contra a mulher é inevitável não falar da família, pois é onde tudo começa. Não é de hoje que o fenômeno é noticiado todos os

dias pelos meios de comunicação, seja no espaço domestico ou não. É produto de uma relação política dentro de espaço familiar que veio a tona de forma explicita e com credibilidade, porque surgiu por meio do estatuto da criança e do adolescente a defesa desses personagens como sujeitos de direito. E quando a sociedade com responsabilidade de vigiar a violência contra as crianças e adolescentes ficou explicito a violência contra as mulheres, pois não há no espaço domestico uma violência contra a criança que a mulher adulta da família não seja vitimada. Novas Amizades: QUAL A SUA VISÃO SOBRE A FALTA DE REFERÊCIA DOS FILHOS, DEVIDO A BUSCA CONSTATNTE DA MULHER PELO ESPAÇO EXTERNO? Laurinda Pinto: Temos que entender que a responsabilidade de criação dos filhos pode e deve ser dividida entre mãe e pai, ou seja, homens e mulheres têm total responsabilidade para criação das crias. Muito se fala que ao colocarmos uma pessoa (secretaria) para trabalhar em nossa casa para cuidar dos nossos filhos vai ser o fim, temos que romper com essa história de que vai ser a mucama negra a responsável pela formação de personalidade de nossos filhos. Devemos ter a responsabilidade de saber o histórico de quem vamos contratar inclusive puxar a ficha corrida da pessoa, requerer todos os pré-requisitos necessários para admissão. É claro que riscos vão continuar existindo, mas não podemos ficar refém da maternidade, caso contrário vamos continuar com o velho raciocínio mecanicista de que a mulher deve passar o maior tempo possível em casa para servir de exemplo aos filhos. Se fosse assim, talvez eu não estivesse te recebendo na minha casa para esta entrevista. Novas Amizades: COMO UMA MULHER CONTEMPORÃNEA, O QUE VOCÊ MUDARIA NO C O N T E X TO D O E S PA Ç O DOMESTICO? Laurinda Pinto: Sem duvidas a divisão das responsabilidades quanto às tarefas entre Foto: Paulo Júnior

pai e mãe. Entendo que o homem já mais deveria abrir mão de suas responsabilidades domesticas. Outro dia fiquei muito emocionada quando ouvir de um amigo a seguinte frase: “Se a reunião não acabar dentro de 10 minutos vou me ausentar, pois preciso apanhar a minha filha na escola”, percebo que este entendimento por necessidade ou não, vem sendo disseminado. Novas Amizades: NA MÉDIA, PARA O HOMEM O CAPITALISMO É UM MAL, PARA AS MULHERES SERIA A DESGRAÇA? Laurinda Pinto: Olha... Silêncio... Suspiro... Como eu já falei muito vou ser objetiva nesta pergunta. Não chegaria a tanto, mas devido a nossa tripla jornada; o trabalho domestico, o trabalho externo (publico ou privado) e o fato de ser a companheira para todas as horas, faz com que este sistema nos devore. Novas Amizades: A EQUIPE A G R A D E C E A S U A DISPONIBILIDADE AO CONTRIBUIR COM O NOSSO TRABALHO E FIQUE A VONTADE PARA AS SUAS CONSIDERAÇÕES FINAIS. Laurinda Pinto: Gostaria de agradecer a oportunidade para de um tema tão delicado, dizer que é fundamental este debate porque a mídia fortalece estereótipos em relação à mulher, é importante este espaço para nós mulheres falarmos como percebemos tudo isso como os homens podem observar também todo esse desenvolvimento. Entendo que a comunicação tem uma responsabilidade muito grande pela forma como as mensagens chegam no momento do processo de formação específica sobre a mulher. Enfim. Vejo com fundamental importância o papel da academia no sentido de debater o tema por meio do curso de comunicação social que contribui para formação do sujeito e conseqüentemente faz com as diferenças entre homens e mulheres não seja transformadas em desigualdades sociais, econômicas e políticas, e poder assumir e dividir responsabilidades por iguais.

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