Profissões da nossa Terra: Professora

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Jornal

Quinta-Feira, 5 de Julho de 2012

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VILACONDENSE

Sociedade A caminho dos 94 anos, Isaura Gonçalves Ramos ainda é carinhosamente apelidada de professora. Na altura contavam-se pelos dedos as professoras de Vila do Conde. Eram tempos de miséria, de asfixia económica e só uma reduzia facção da população conseguia seguir os estudos para além da quarta classe. Em todo o concelho era conhecida como a professora de Labruge porque, efectivamente, foi a primeira da freguesia e das redondezas. Leccionou durante 43 anos, formou duas gerações de pais e filhos que hoje seguem as suas vidas em diversas áreas, como a Medicina, Economia, Engenharia e Direito. Sempre foi boa aluna e tinha gosto por ensinar os outros. Menina da aldeia, mostrou alguma resiliência quanto à obrigatoriedade de se deslocar para a cidade para estudar, mas o sonho de ser professora assim o ditou. Terminou o sétimo ano na Escola Carolina Micaelis, no Porto, após ter sido submetida a quatro dias intensos de exames de cultura específica, trabalho prático e exame de Estado. Ainda se relembra da qualificação final “passei com 14 valores, o que na altura era uma nota muito boa”. A professora Isaura recorda ainda com alguma facilidade os tempos em que leccionava. Começou o seu percurso lectivo como professora agregada em Malta durante um ano e, no seguinte, em Amarante. Em Modivas leccionou durante dois anos, exercendo ainda o cargo de professora agregada no primeiro. Viveu durante 15 anos em Felgueiras, onde deu aulas no Mosteiro de Pombeiro durante 12 anos e três anos numa escola do concelho. Quando concorreu para ser professora em Labruge já tinha quase 20 anos de profissão. A escola de Labruge era feminina e Isaura viu a seu cargo uma extensa turma de meninas. “Eram 44 alu-

“Profissões da nossa terra”

A Professora Isaura Ensinou gerações, formou centenas de crianças e ainda hoje é muito querida entre os alunos. A professora Isaura leccionou em diferentes regimes, lidou com alterações de políticas educativas e recorda com saudades os dias que passava na escola.

Professora Isaura Ramos com a última turma de alunos em 1984, na Escola Primária de Labruge

nas, da primeira e segunda classe”, declara. Apesar de ser filha da terra, Isaura não estudou na Escola Primária de Labruge porque, no seu tempo, estava em ruínas. No primeiro ano, ia com alguns jovens da freguesia aprender a ler, escrever e contar na Escola de Vilar do Pinheiro. O ensino primário de há 40 anos atrás não segue as mesmas directrizes que hoje conhecemos. “Era um ensino muito exigente, as crianças tinham que saber os montes, os comboios, os

cabos, as ilhas, as cidades, os mares, a histórias de Portugal e das províncias”, relembra a professora. Os alunos definem-na como uma boa professora, muito exigente e rígida. Isaura não se limitava aos horários estipulados para leccionar. Quando os exames da quarta classe se aproximavam, não tinha fins de semana livres. Passava-os a testar os alunos, a tirar dúvidas e a dar-lhes confiança para se apresentarem diante de um examinador. Era conhecida como a “professora eléctrica”, afirma com

um sorriso nos lábios. Durante as mais de quatro décadas de ensino, apenas reprovou um aluno. “Era um menino com muitas dificuldades e ainda hoje me lembro bem desse dia”, sempre que um aluno demonstrava algumas debilidades de aprendizagem, a professora intensificava o trabalho com a criança. O rácio de pobreza era bastante elevado na freguesia. Sensível a esta triste realidade, Isaura “encapava os livros aos meninos pobres e comprava-lhes cadernos bons para que não se sentis-

sem diferentes dos outros”, recorda. No primeiro ano, o mais essencial para as crianças aprenderem o Português e a Matemática convenientemente, Isaura colocava vários desafios aos alunos. “Em cada aula sentava-me ao lado das minhas alunas e ensinava-lhes a escrever como eu escrevo”, e a caligrafia das alunas ficava muito semelhante à da professora. A profissão foi o amor da sua vida. Sente um enorme orgulho e felicidade sempre que uma aluna a vem visitar. A professora de Labruge terminou o seu percurso em 1984 mas, apesar de amar o que fazia, Isaura reconhece que saiu na altura certa. “Estava cansada, trabalhávamos muitas horas e eu já tinha feito o meu papel”, afirma. A 8 de Julho desse mesmo ano teve a surpresa da sua vida. Foi levada de casa, com o argumento de que iria para a missa, mas, na verdade, tinha uma multidão à sua espera. Alunos, pais de alunos, amigos e familiares esperavam a professora Isaura, junto à igreja de Labruge para lhe prestarem uma homenagem. Esta professora muito querida entre todos ainda hoje se sente muito grata pela dedicatória que recebeu. “Vieram, até, os meus alunos de Felgueiras, os meus alunos de Labruge. A minha festa de despedida foi um dia muito feliz para mim”, afirma com os olhos a brilhar. A professora que enfeitava a sala de aula com papoilas e desenhava mapas com os alunos continua a ser muito acarinhada pelos seus eternos pequenos alunos. Recebe várias visitas que lhe enchem o dia de alegria, que a fazem puxar pela memória, que a fazem querer regressar aos tempos livros, das letras, dos números, da Geografia, da História. Aos dias em que trabalhava em prol de um melhor futuro para a sociedade. Mariana Catarino PUB

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