Vilacondenses sem Mundo: Diana em Chicago

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Jornal

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

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VILACONDENSE

SOCIEDADE

VILACONDENSES SEM MUNDO

Diana Saleiro natural de Vila do Conde é investigadora em Chicago Tem 29 anos, é doutorada em Biologia e vive em Chicago. Partiu em 2007, regressou e voltou em 2009, para a cidade que a acolheu de braços abertos e onde se apaixonou. O destino pregou-lhe uma rasteira e trocou-lhe as voltas. Com avião de partida para San Diego, a sua rota foi transferida para Chicago em 2007. Diana tinha sido selecionada no âmbito do programa INOV Contacto para um estágio na área do cancro do cólon (intestino grosso) nos EUA. Desde 2007 até 2014 a vida de Diana foi uma verdadeira odisseia entre os Estados Unidos e Portugal. Quando soube da alteração do seu estágio, Diana não ficou muito agradada, mas recorda as palavras do seu supervisor: “Diana, nada acontece por acaso. Vais ver que no final vais ficar contente com esta mudança!” e, constata, “não é que ele estava certo?”. Durante o estágio apaixonou-se pelo Josh, o seu marido, e, após várias projetos profissionais e um regresso a Portugal, vivem juntos em Chicago. Os primeiros nove meses nos Estados Unidos foram “incrivelmente fantásticos”, afirma a jovem vilacondense, referindo-se à sua vida profissional, pessoal e social. O estágio fê-la apaixonar-se pela investigação científica. “Foi aí que decidi que era o que queria fazer no futuro. Aprendi e cresci imenso com diferentes pessoas de diversas culturas”, frisa.

Linha de comboio perto da casa de Diana com vista para o centro da cidade.

O desejo constante de regressar

No regresso a Portugal, Diana estava convicta que queria continuar a fazer investigação científica. Era o ano de 2008 e concorreu a duas bolsas de doutoramento na área da Biologia. Para espanto da jovem, as duas bolsas, da Comissão Fulbright e do Programa Graduado em Biologia Básica e Aplicada (GABBA) da Universidade do Porto, foram-lhe atribuídas. “Saiu-me a sorte grande, foi o que foi!”, exclama a doutorada. Nos primeiros nove meses de 2009 esteve em Portugal a desenvolver a vertente curricular do programa GABBA. Para Diana uma grande vantagem deste programa é permitir desenvolver “o ‘critical thinking’ em diversas áreas científicas, mas também nos deixa escolher um laboratório em qualquer parte do mundo para fazer uma parte da investigação científica que integra o doutoramento”. Como a Comissão

Diana e o marido com vista de Chicago.

Fulbright está intimamente ligada aos EUA, Diana resolveu desenvolver o seu doutoramento na área do cancro do cólon, novamente em Chicago. Desde aí, Diana não regressou definitivamente a Portugal. Atualmente está a terminar o primeiro ano de pós-doutoramento na Universidade de Northwestern numa área distinta da sua especialidade anterior: estuda os interferões que têm aplicabilidade em doenças como a leucemia, linfomas e hepatite. “Amo o meu novo ambiente

de trabalho. Na investigação científica aprende-se algo novo todos os dias e temos de resolver problemas quase todos os dias, é por isso que gosto tanto do que faço”, afirma Diana.

A paixão de Chicago

De Chicago gosta da amabilidade das pessoas e da variedade cultural que encontra ao caminhar na rua. “Cá toda a gente se cumprimenta imensas vezes ao dia, o que me ajuda a manter um sorriso mesmo naque-

les dias menos bons. É normal ser-se parado na rua por alguém a elogiar o que trazemos vestido naquele dia!”, explica entusiasticamente. Mas o que faz o coração de Diana bater mais forte em Chicago tem o nome de Josh. Conheceu-o na equipa de softball (uma variante do basebol, jogado com uma bola um pouco maior) do Instituto onde fez investigação em 2007. Conheceram-se poucos meses antes de Diana voltar, mas a sua amizade manteve-se até ao seu regresso em 2009. “O facto de ter o Josh ao meu lado durante o doutoramento tornou tudo mais fácil: a saudade da família, dos amigos, os dias maus no laboratório”, justifica. Casaram em 2012 e a festa prolongou-se por três dias e dois continentes. No dia 2 de junho casaram pelo civil em Chicago, em julho reuniram a família americana e festejaram a união dos dois e vieram a Portugal no quente mês de agosto para mais uma celebração. Diana brinca, dizendo que “se um casamento é o evento da vida de muita gente, imagine o que é viver este momento único por três vezes!”. Apesar de Chicago ter o grande Lago Michigan no qual não se vê o fim, Diana diz que nada substitui o mar de Vila do Conde. Sente muita falta de beber um fino e comer tremoços com vista para o mar, das caminhadas e dos jantares de verão. A família e os amigos são sempre o que deixa mais saudade e, no fundo, Diana gostaria de voltar a Portugal. O marido, Josh, deixou-se contagiar pela beleza lusitana e já vai conseguindo falar um pouco de português. O grande problema é que as oportunidades de trabalho em Portugal são quase inexistentes na carreira de investigação. “Portugal tem das melhores instituições de ensino do mundo e os portugueses são cientistas brilhantes, mas as oportunidades têm de ser criadas no nosso país para demonstrarmos esse valor”, explica. “No fundo do coração, um dia esperamos voltar a Portugal, queremos muito ter filhos que tenham uma educação portuguesa. É apenas preciso que Portugal dê a volta a esta crise e crie condições de trabalho para manter e ajudar a regressar as pessoas brilhantes que educa”, sustenta.

Mariana Catarino


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