Vilacondenses sem Mundo: Adriana em Inglaterra

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Jornal

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quarta-feira, 23 de abril de 2014

VILACONDENSE

SOCIEDADE

VILACONDENSES SEM MUNDO Partiu para Inglaterra a 31 de Outubro de 2013. Para trás deixou o namorado, “a minha família e os meus amigos. Deixei o cheiro a maresia, os dias quentes de sol, as corridas na marginal...”, relembra. Natural da Junqueira, Adriana Fonseca sempre teve vontade de procurar novos mundos, de partir à descoberta de novas culturas, de alargar os seus horizontes profissionais para além deste país à beira mar plantado. Escolheu a enfermagem como actividade profissional. “O melhor desta profissão é ver a evolução que uma pessoa pode ter, principalmente se tiver tido um AVC. A enfermagem é a arte de cuidar, a arte de humanizar, a arte de estar em contacto com a pessoa 24 horas por dia”, esclarece a jovem vilacondense. No seu país natal não via boas perspectivas para os primeiros anos do seu percurso profissional. “Desde o início do curso vi essa perspectiva cair. Para arranjar trabalho, ou sujeitas-te às condições que te dão que são más na maioria dos casos ou pedem-te experiência e se não tens trabalho não podes ter experiência”, Adriana classifica o desemprego jovem na sua área como “um ciclo

Adriana Fonseca em Inglaterra:

“Aqui tenho a oportunidade de crescer e aprender” Adriana, 22 anos, sente saudades das francesinhas, da praia, do mar, do Mosteiro de Santa Clara “da bela da Ribeira do Porto, do cheiro a Portugal”. vicioso”. Como Adriana, milhares de jovens enfermeiros portugueses já partiram para Inglaterra em busca de um futuro mais risonho e de uma melhor compensação pelos anos que dedicaram à vida académica. Convive diariamente com vários colegas portugueses que partilham as saudades de Portugal. “Neste momento, os enfermeiros que

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Adriana Fonseca: “Aqui todos os dias são um desafio”

foram comigo sentem muitas saudades de Portugal e querem voltar um dia porque não é um mar de rosas, como se julga. É preciso ter coragem para “abandonar” o nosso lar para construir uma vida sem apoio familiar”, frisa. Vive em King’s Lynn, uma cidade portuária localizada em Norfolk, em Inglaterra. Para Adriana, o país de sua majestade oferece-lhe uma oportunidade de evoluir profissionalmente. Em Inglaterra, aprendeu “que pessoas doentes são iguais aqui e em Portugal.” Em 2007, através do programa da Comissão Europeia, Comenius, viveu durante uma semana na Eslovénia, em casa de uma família nativa. “Desde então, o bichinho de ir viver para o estrangeiro nasceu. Aproveitei o facto de infelizmente não ter trabalho em Portugal para poder dar largas a esse meu desejo”, afirma. Quando questionada acerca de arrependimentos, Adriana é muito sintética: “Se estou arrependida por ter abandonado o país? Não. Afinal aqui tenho a oportunidade de crescer e de aprender. Todos os dias são um desafio.

Em Inglaterra sente-se valorizada profissionalmente. Gosta dos espaços verdes, “das casas, da calma que uma simples paisagem que vês quando vais no comboio transmite. Também gosto do preço dos livros que são bastante baratos!”, ressalva Adriana, uma amante da leitura.

“Voltar? Um dia, quem sabe”

Como José Régio dizia, “Vila do Conde, espraiada /Entre pinhais, rio e mar!/ - Lembra-me Vila do Conde,/ Já me ponho a suspirar.” Adriana ainda suspira por Portugal. Quando voltou a primeira vez a Portugal, um mês e meio depois, sentiu que não pertencia a este país “talvez por não me dar a oportunidade que sempre julguei que tivesse”. A pergunta mais difícil chega: “Pretendes voltar?”. Com o coração em Portugal, mas a oportunidade de exercer a profissão que sempre sonhou, a jovem vilacondense não consegue responder. “Um dia, quem sabe. Tenho estado em Portugal quase todos os meses, o que é muito bom. Sinto que cada vez mais me custar deixar quem gosto aí porque, de certa forma, estou sozinha aqui”, sustenta. Mariana Catarino


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