Vilacondenses sem Mundo: José na Alemanha

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Jornal

quarta-feira, 18 de junho de 2014

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VILACONDENSE

SOCIEDADE

VILACONDENSES SEM MUNDO José Silva é o exemplo de um português que escolheu abrir a porta de Portugal e procurar emprego na Europa. A namorada, enfermeira, havia partido para a Bélgica no ano anterior e hoje encontra-se com José a “apanhar uma overdose diária do curso de alemão”, conta, para conseguir trabalhar na Alemanha. Natural de Labruge, José Silva nunca havia pensado numa carreira internacional. Partiu sem voo de regresso, mas Portugal nunca deixou de ser o seu país e “vai chegar o momento de mostrar a minha gratidão”, afirma. Porquê a Alemanha? Defini um conjunto de requisitos relativamente ao país a escolher. Pretendia essencialmente um país em que fosse possível ser autónomo com a Língua Inglesa, um país que me oferecesse perspetivas de carreira assim como um país agradável e seguro. Queria naquele momento dar um passo, mas, como nunca tinha saído de Portugal antes, sabia que procurar um destino mais ousado, longínquo ou exótico poderia reduzir substancialmente a probabilidade de sucesso desta experiência, por isso descartei a ideia de sair da Europa. A Alemanha era um desses países, assim como a Inglaterra, a Dinamarca ou a Áustria, entre outros. O que a Alemanha te oferece que Portugal não consegue? Garantidamente a Alemanha possui uma estrutura financeira mais sólida e evidentemente que esse é um peso na balança mas de tudo o que encontrei na Alemanha, o fator que mais me fascinou foi a segurança. Sinto-me seguro e protegido pela justiça no meu dia-a-dia aqui. Como surgiu a oportunidade? Estava num jantar com amigos da faculdade quando disse que pretendia sair do país. Uma pessoa que trabalha no UPTEC, a quem eu estou extremamente grato, falou-me que conhecia uma empresa portuguesa que estava a recrutar para a Alemanha. Enviou-me o anúncio e eu candidatei-me. Foi curiosamente a minha primeira entrevista de emprego e tudo correu bastante bem. Assim que me foi comunicado que fui o escolhido, foi tudo muito rápido. Enviaram-me o bilhete de avião e num par de semanas estava na Alemanha. Onde trabalhas e o que fazes concretamente? Sou software developer na LatitudeN. PUB

José Silva: “Portugal é e será sempre uma opção” Engenheiro informático, formado pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, trabalha há mais de um ano em Darmstadt, uma cidade a 35km de Frankfurt.

José Silva é natural da freguesia de Labruge e vive na Alemanha

É uma empresa que nasce ao abrigo do programa de incubação de empresas da Agência Espacial Europeia. A LatitudeN desenvolve soluções inteligentes de software para mobilidade baseadas em geo-localização, especialmente para dispositivos móveis. Encontro-me a trabalhar em diversas atividades ligadas ao desenvolvimento de uma aplicação chamada Farol City Guides. Trata-se de um Guia Turístico Inteligente para Smartphones, capaz de sugerir rotas totalmente personalizadas, baseadas no perfil, preferências e tempo disponível dos seus utilizadores. O que gostas mais na Alemanha? Aprecio a forma, como as pessoas não julgam a cor do cabelo dos outros, a marca da roupa, a orientação religiosa ou sexual. Em Portugal, considero o indivíduo muito mais sensível e humano. Enquanto sociedade, considero a alemã, mais aberta e cívica. O que deixaste em Portugal? Quero acreditar que não deixei nada e que tenho tudo comigo a toda a hora, mas a verdade é que não. Em Portugal deixei pessoas que me inspiram, locais e

hábitos de que sinto falta e, claro, sons e cheiros. O som das buzinas que orientam os barcos de pesca em dias de nevoeiro e o cheiro da praia e do feno. É impressionante, mas o cheiro recupero-o assim que desço as escadas do avião no aeroporto Francisco Sá Carneiro. Do que sentes mais falta de Portugal? E de Vila do Conde? Se é verdade que muitas vezes coloco a mim mesmo a questão: “O que é que a Alemanha me oferece que Portugal não?”, Também é verdade que muitas vezes pergunto o contrário. E concluo que sinto saudade da proximidade e intimidade com que as pessoas que não conheço, me tratam no dia-a-dia. Aqui, as pessoas são muito transparentes e ninguém força um sorriso se não quiser sorrir, mesmo no trato com os clientes. Em Portugal isso é a essência. Isso é algo, que embora pareça cinismo, me faz falta. Vila do Conde é só o lugar onde nasci e fui criado, e por ser oriundo da margem sul do Ave, a imagem do Convento de Santa Clara ao passar a ponte é uma das mais belas imagens que anseio rever. Há quanto tempo estás na Alemanha?

Como foi lidar com um novo país e uma língua diferente? As primeiras semanas foram um pouco complicadas, pois fui-me apercebendo gradualmente, que a minha casa não estava ali ao pé e que estava por minha conta. Mas com o tempo isso foi desaparecendo e a verdade é que de forma inversa, a minha autoestima foi aumentando com o facto de trabalhar e ser capaz de resolver todos os problemas. Relativamente à língua, é possível sobreviver aqui sem falar alemão, no entanto, não é certo que se consiga trabalhar. Dependendo da profissão pode ser obrigatório falar a língua. Agora que me encontro a ter aulas, esse é o meu grande foco e julgo que até ao final do ano, vou ter o suficiente para ser autónomo. Os teus colegas de curso seguiram uma opção semelhante? Felizmente ainda existem oportunidades para engenheiros informáticos mesmo em Portugal, o que faz com que emigrar seja uma opção e não o único caminho. Tenho muitos colegas em Portugal, gente muito competente, assim como também conheço pessoas que estudaram comigo por esse mundo fora. Tenho a ideia que caso volte agora para Portugal, a forma com que vou trabalhar e lidar com os problemas será um pouco mais alemã, assim como a forma como lido com o dia-a-dia aqui é e sempre será bastante Portuguesa e isso é uma grande vantagem. Gostavas de voltar para Portugal? Seria uma opção num futuro próximo? Esta é uma pergunta bastante difícil de responder. Em primeiro lugar, Portugal é e será sempre uma opção. Confesso que tenho alguns planos de médio prazo em mente, planos que passam por Portugal, mas que ainda não tenho o que necessito para os realizar. Preciso de mais experiência e sabedoria. Portugal foi o local que o acaso escolheu para me fazer nascer. Penso, de resto ter sido uma excelente escolha, estou grato a esse país por tudo o que proporcionou. Vai chegar o momento de mostrar a minha gratidão. Mariana Catarino


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