Legibilidade

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Legibilidade Há por certo várias ordens de leitura do urbano e, em particular, do ambiente citadino instituído pela modernidade. A Primeira Guerra Mundial compreendeu a cidade em suas enervações e fluxos, muito antes que os circuitos impressos reproduzissem essa alma eletrônica em micro escalas. Ruas, avenidas, praças e entroncamentos; todos têm uma existência enquanto tal, mas são igualmente locais de passagem, de trânsito que evidenciam as conexões que estabelece o vivente. Somos capazes de pensar esses logradouros como individuações às quais, naturalmente atribuímos nomes e, por meio deles, os identificamos. Não conhecemos, contudo, um homem ou uma mulher, porque eles nos dizem como se chamam. O nome é uma porta por trás da qual existem, ao mesmo tempo, infinitas e nenhuma saída. O conhecimento de um ser, portanto, requer fazer com ele os milhares de trajetos em uma qualidade específica de espaço – o da afeição –, que não se sujeita ao tempo. Nesse sentido, a cidade nos convida a realizar uma arqueologia de superfície, em que emergem como possíveis categorias o fluxo, a fuga e o traditar. O fluxo refere-se ao trajeto enquanto tal e é um processo semelhante ao da impressão, uma

vez que grava algo sobre uma determinada superfície. A fuga corresponde a uma conexão instantânea, como se não houvesse trajeto. É um curto-circuito, como aquele que estabelece a pulsão. O traditar é da ordem da deposição, no sentido de que se entrega algo a alguém. Por meio da tradição se altera a fisionomia da cidade, simplesmente porque hábitos sedimentos mudam de posição, conferindo-lhe novas feições. Nessa arqueologia de superfície, na geografia bizarra que funda, todo o móvel está vinculado a fluxos, fugas e tradição, sem que esse conjunto de categorias seja exaustivo. Dessa forma, os traçados que desenham, enquanto se deslocam, podem ser lidos. Trata-se de uma leitura macroscópica, aérea, que se soma às possibilidades de escuta da cidade, que oferecem os outdoors, os cartazes publicitários, os sinais e trânsito e as indicações de todas ordens e espécie, por meio das quais somos postos a transitar entre o automatismo e o mergulho no onírico. Essa legibilidade diz de nossa condição, muito mais do que gostaríamos de aceitar: habitamos livros, para os quais a única realidade que existe são as regras de sua própria composição. Em meio às vias da cidade, portanto, o virtual e o atual dessa composição tecem as vidas, que são nossas em um sentido muito limitado.


Algoritmo é capaz de prever onde você estará nas próximas 24 horas Uma equipe de pesquisadores britânicos desenvolveu um algoritmo que usa os dados de rastreamento nos telefones das pessoas para prever onde elas estarão em 24 horas. O mais impressionante é que a margem de erro é de apenas 20 metros. Estudos anteriores já foram capazes de prever os movimentos futuros das pessoas, mas não com precisão e sucesso tão grandes. O que acontece é que a maioria dos humanos segue padrões consistentes, mas a maioria dos algoritmos não consegue se ajustar às quebras na rotina. Os pesquisadores Mirco Musolesi, Manlio Domenico e Antonio Lima, da Universidade de Birmingham, Inglaterra, resolveram esse problema com a combinação de dados provenientes do rastreamento do telefone de um participante com o rastreamento de dados de seus amigos, ou seja, de outras pessoas que

façam parte dos contatos da agenda de seu dispositivo móvel, conforme explica o site Slate. Ao analisar a maneira como os movimentos de um indivíduo se correlacionam com os de outra pessoa que eles conhecem, o novo algoritmo é capaz de adivinhar quando ela está indo para o centro da cidade assistir a um show em uma tarde de domingo em vez de cumprir sua rotina e ficar no bairro onde trabalha para almoçar, por exemplo. O estudo rendeu à equipe da Universidade inglesa o primeiro lugar no "Nokia Mobile Data Challenge", concurso que premia pesquisadores que apresentam estudos relacionados a dados móveis que são avaliados por um comitê com base nos critérios como novidade, qualidade de contribuição, entre outros. Por enquanto, o algoritmo foi utilizado apenas em dispositivos móveis dedicados a testes, mas será que ele funcionaria na vida real?


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