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Outro ponto a ser destacado é que posteriormente o “abre alas” também é incorporado como um elemento físico dos préstitos, o “carro abre alas”. Fato que já pode ser observado em anúncio publicado em 1929 (TENENTES, 30 mar. 1929, p.19)66. O carro Abre-alas é um elemento que também foi adotado pelas escolas de samba, e que perdura até os dias atuais. Assim, é possível afirmar que “Ó, Abre Alas”, tem realmente um papel de destaque na formação, não só da música como do próprio carnaval. Participando da práxis sonora carnavalesca tanto como prática, quanto como discurso. Como repertório musical e como repertório de ocupação do espaço público. Soma-se a isto, o fato de que o gênero musical que “Ó, Abre Alas” teoricamente inaugura, a marcha carnavalesca, torna-se um dos gêneros predominantes no carnaval carioca, junto com o samba. E como dito anteriormente, a própria composição é até hoje uma das músicas mais executadas no carnaval de rua. 2.3 Primeiros discursos sobre a música popular Não importa a real origem, a importância de “Ó Abre Alas” é inegável, e a questão que fica pendente, não é sequer sobre as razões que levaram à invenção de um mito fundador tão detalhado, mas as razões que levaram este mito a se estabelecer desta forma em 1939. Pensemos então na descrição de Lira de forma um pouco mais esquemática: 1-Um cordão desesperava a vizinhança com os ensaios dos cânticos e danças, em barulheira infernal. 2-Vendo os negros caminharem aos arrancos, em negaças, requebros e contorsões incríveis, em ritmo estranho. 3-Inspirando-se no ritmo estranho dos negros, nos seus passos coreográficos originais, na alegria ruidosa, Chiquinha pôde compor o famoso: 4-Ê tal a propriedade da letra e a expressiva cadência da música, que essa cantiga, que se vai tornando patrimônio popular, é um legítimo toque de alarme carnavalesco. (p.65) A partir de uma rápida análise deste recorte é possível perceber um discurso por traz desta descrição, a partir do qual é possível afirmar que: 1234-
Os negros não faziam música, mas uma barulheira. Os negros não dançavam, se contorciam. A marchinha seria inspirada nos negros, mas composta pela maestrina. A música de carnaval seria um patrimônio popular, e não a produção de grupos específicos.
66 ANEXO M.