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3.1 O Carnaval oficial do Rio de Janeiro
Como é possível observar em notícia publicada no jornal O Globo de 25/02/1927,
sobre as instruções do chefe de policia para os delegados distritais. Onde é possível destacar a
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seguinte norma: “ 5- Não permittir[sic] a venda nem uso de mascaras allusivas[sic] a pessoas
conhecidas, nem permittir[sic] que indivíduos, fantasiados ou não, offendam[sic] a moral
publica e provoquem os transeuntes”(O CHEFE, 25 fev. 1927, p.2)
Assim, o carnaval foi se tornando um evento cada vez mais organizado, e com maior
interferência de um vetor discursivo e econômico, na relação com a imprensa e os concursos,
e de um vetor político e econômico com a interferência do Estado na organização das festas e
subsidio dos desfiles.
3.1 O Carnaval oficial do Rio de Janeiro
Em 1932, a partir de uma iniciativa de Octavio Guinle, então presidente do Touring
Club, passa a haver na cidade uma temporada oficial de turismo. Com isso, o carnaval passa a
ser organizado pelo serviço de turismo da cidade, e fazer parte da temporada oficial de
turismo, que se iniciara naquele ano. Desta forma, pela primeira vez surge nos jornais o termo
“carnaval oficial”.
Figura 11 – Anúncio no JB
(Fonte: JORNAL DO BRASIL, 14 jan. 1932, p.13)
1932 também é o ano do primeiro campeonato das Escolas de Samba. Neste momento,
as Escolas de Samba ainda não figuravam como um modelo de destaque no carnaval carioca,
e não possuiam uma seção específica para seus anúncios, sendo incluídas na seção Grupos e
Blocos. Entretanto, é possível observar um interesse imediato nestes grupos.
Figura 12 – Anúncio do desfile da Estação Primeira de Mangueira

(Fonte: JORNAL DO BRASIL, 12 jan.1932, p.18)
Figura 13 – Anúncio do desfile das escolas de samba
(Fonte: O GLOBO, 06 fev. 1932, p.7)

Figura 14 – Anúncio do desfile das escolas de samba depois do carnaval
(Fonte: O GLOBO, 19 fev.1932, p.05)

Como é possível observar nestas notícias, apesar de as escolas de samba ainda não
figurarem entre os modelos estabelecidos no discurso sobre o carnaval carioca naquele
momento, o interesse público nestas agremiações já era perceptível. O samba já se destacava
no contexto musical da cidade de uma forma geral. E no contexto carnavalesco, junto com a
marcha, como um dos gêneros próprios do Carnaval. Como os gêneros musicais oficiais do
carnaval carioca. Os únicos que poderiam, por exemplo, participar de um concurso de
musicas para o carnaval.
Assim é possível observar uma intervenção do poder público crescente no carnaval de
rua da cidade. O próprio município cria um concurso de músicas para o carnaval, no qual há
uma regra que impede alusões políticas nas músicas. Passa a também subsidiar os desfiles dos
ranchos. E a partir de 1933 passa a designar a comissão julgadora dos cortejos das grandes
sociedades
Figura 15 – Julgamento dos desfiles passa a ser organizado pela prefeitura
(Fonte: JORNAL DO BRASIL, 11 dez. 1932, p.12)

Cada vez mais o carnaval se torna um evento turístico da cidade, e se estrutura sob os
interesses da administração pública. Relação esta, que é explícita na seguinte manchete:
Figura 16 – Carnaval e a administração pública
(Fonte: JORNAL DO BRASIL, 23 nov. 1933 p. 25)

A primeira festa do carnaval oficial de 1934 seria em honra ao prefeito, em
homenagem aos proponentes da temporada de turismo, e assim da própria oficialização do
carnaval, e ainda começaria em dezembro.
Neste momento, a ideia de que o carnaval do Rio de Janeiro seria o maior do mundo
ganha força nos jornais, e, em 1934 aparecem pela primeira vez no jornal O Globo, e no
Jornal do Brasil.
As estatisticas impressionam mais do que os adjectivos hyperbolicos. Os americanos do norte nunca dizem o “maior do mundo”, sem abysmar a gente com a eloquencia das cifras descommunaes. A humanidade insincera perverteu o adjectivo, mas os numeros vingam as palavras redobrando seu tremendo poder de convicção. Devemos fazer a propaganda do nosso Carnaval no estrangeiro, empregando estatisticas. [...] Suggestão para um recleame com estatistica: “Rio de Janeiro. O maior Carnaval do mundo. Dous milhões de pessoas dansando nas ruas, nos hoteis e nos clubs.[...]
[...] De onde brotam tantas orchestras? Outra estatistica: “Cem mil musicos: a maior orchestra do mundo” (O MAIOR, 08 fev. 1934, p.4)
O primeiro grito é dado pelo rancho campeão da cidade, Recreio das Flores. As hostes carnavalescas preparam-se. E embora faltem cinco meses para a realização do maior carnaval do mundo, os responsáveis por essa magnífica festa já se preparam valentemente. (CARNAVAL, 22 set. 1934, p.25)
Nos anos seguintes as Escolas de Samba ganhariam cada vez mais destaque no
contexto do carnaval oficial da cidade, em detrimento dos outros grupos.
Com isso, é possível destacar uma mudança nos discursos sobre a forma como o
carnaval carioca se relaciona com o espaço público em um contexto que tende a uma
oficialização da festa.
Ao mesmo tempo o poder público passa a tratar o carnaval como um evento turístico e
atuar na transformação da festa em um evento, cada vez mais, rentável.
Ainda sobre a atuação do poder público sobre o carnaval de rua, é possível destacar a
ação da censura sobre os desfiles. Que atuava conforme é descrito na seguinte notícia:
Esclarecimentos necessários aos seus organisadores – Uma communicação da Directoria Geral de Communicações e Estatistica A realização de bailes públicos, batalhas de confettis, banohs de mar a fantasia, prorrogação de bailes depois da hora regulamentar, ensaios e passeatas de préstitos, ranchos, blocos, cordões e outros agrupamentos carnavalescos, e tudo que diga respeito a festejos carnavalescos depende de licença prévia da directoria Geral de Communicações e Estatistica [...] Os organisadores das diversões acima mencionaddas devem requerer [...] a respectiva licença com antecedência de oito dias. Esse requerimento deve ser estampilhado com dous mil rés e duzentos réis de estampilha federal e trazer firma do requerente devidamente reconhecida.[...] Para a realização de passeatas de préstitos, ranchos, blocos, cordões e outros agrupamentos carnavalescos torna-se imprescindível que os requerentes submettam à Secção de Censura Theatral e Diversões Públicas da Policia afim de serem censurados os vehiculos, estandartes, etc. ou os croquis destes, pagando os respectivos emolumentos. Nos bailes públicos, etc., onde se faça mister a execução de musicas, dependerá a licença da approvação do programma pela Secção de Censura Theatral e Diversõews Publicas, pagos os devidos emolumentos em moeda corrente pelos interessados na Thesouraria da Policia, mediante guia fonecida pela respectiva Secção,daccordo com a tabela que se seuge: Censura de préstitos de clubs carnavalescos.............100$000 Censura de préstitos de blocos, corões, ranchos e outros agrupamentos carnavalescos....50$000 Approvação de programma em geral, dentro da semana.....5$000 As portarias de licença pagarão, por vez, em estampilha federal, a importância de 20$000. (OS FESTEJOS, 24 jan. 1935, p.6)