“O maior carnaval do mundo”: discursos e repertórios no carnaval de rua do Rio de Janeiro

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de cada compasso, anunciado por uma tercina no último tempo do compasso anterior. A segunda parte do mesmo exemplo retoma tanto a sincopação quanto a acentuação rítmica típica, nos tempos pares, da marcha carnavalesca carioca. (ARAUJO, 2005, p.89)

A partir destes expedientes, os ranchos foram tomando cada vez mais espaço em um contexto em que, até então, o carnaval de rua tinha seu modelo principal no préstito dos grandes clubes. Apesar de muitos ranchos terem sua origem nas áreas mais pobres da cidade, como a Pequena África, estas agremiações congregavam em sua prática elementos de outros contextos musicais. Onde se destacam o choro, e as bandas marciais. Atualmente é possível perceber um movimento contrario de relação entre o carnaval e a formação de instrumentistas de sopro na cidade. Se, num primeiro momento, o carnaval absorveu os músicos das bandas marciais e teve sua própria estruturação moldada a partir da participação destes músicos, atualmente os blocos têm se mostrado um elemento gerador de interesse na pratica destes instrumentos57, um espaço de aprendizado e um campo de atuação. 2.1 A Marcha Carnavalesca É possível observar diversos gêneros musicais sendo acionados durante o carnaval de rua atual, mas existem dois gêneros que se destacam entre os outros por serem muito mais recorrentes. O Samba e a Marchinha. Definições de gêneros e subgêneros musicais nunca são precisas, e não interessa à discussão desta tese pormenorizar todas as diferenças entre cada subgênero de Marcha e Samba, entretanto, algumas considerações precisam ser feitas. São dois gêneros musicais que historicamente se desenvolveram em estreita relação com o carnaval, e os únicos que desenvolveram um campo de produção específico ligado a esta festa. Assim, existe o Samba Carnavalesco, e também a Marcha Carnavalesca. Que compõem um repertório cuja produção se deu em relação a uma situação social específica, o carnaval. Sendo possível destacar, ainda, que o termo “Carnavalesco” indica mais o contexto de produção do que propriamente uma secção de gênero. Estes dois gêneros figuram como os principais do carnaval carioca desde o começo do século XX, entretanto o desenvolvimento de cada um foi muito diferente. Tendo alcançado 57 O aumento no número de instrumentistas de sopro na cidade e da prática destes instrumentos em contexto popular é um elemento perceptivel, e que me foi salientado em um simposio sobre carnaval por um membro do bloco Carmelitas. Um ponto salientado por este integrante foi a atuação da Escola Portatil de Choro na formação destes músicos. Não houve, entretanto, um trabalho de pesquisa aprofundado sobre o tema. Ficando em aberto a possibilidade de estudo futuro sobre o assunto.


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