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A partir desta abordagem, os autores propõem três dimensões da práxis cognitiva. A cosmológica, a técnica e a organizacional. A dimensão cosmológica se refere ao componente ideológico, que os autores chamam de mensagens utópicas que os movimentos sociais sustentam. A dimensão tecnológica se refere às técnicas de performance utilizadas pelos ativistas no papel de produtores culturais. E a dimensão organizacional se refere à ideia de que a música pode influenciar na participação de atores sociais, tanto nas performances como em sua criação. Assim, entende-se que os movimentos sociais, apesar de serem um produto específico das condições sociopolíticas próprias de determinado tempo e lugar, apresentam-se como um processo em formação, capaz de transcender as estruturas das quais provém, e criar novos contextos, espaços e significados. Como práxis cognitiva, a música contribuiria para a formação das próprias ideias sustentadas pelos movimentos sociais, e, desta forma o papel da música nos movimentos sociais seria bem mais amplo do que um uso simplesmente funcional, atuando como uma ação exemplar. Para os autores a noção de ação exemplar vincula de forma estreita os movimentos sociais e a cultura, e ressaltado que a ação exemplar além de ser simbólica em vários sentidos, também se refere a uma representação cultural real (como a música), sendo com isso artefatual e material. Neste sentido, se por um lado a abordagem de Eyerman e Jamison compreende a prática musical dentro de uma práxis cognitiva dos movimentos sociais, por outro lado, é possível pensar que, em um sentido contrário, uma determinada práxis sonora, mesmo que não se relacione diretamente com uma posição política ou movimento social, pode estabelecer um espaço público, e determinar a possibilidade de acionamento de uma série de performances que podem ser comuns a uma mobilização política ou cultural. Como marchar em espaço público, por exemplo. Sob esta perspectiva, é possível pensar que o fato do carnaval conceder uma estrutura pública à sua práxis sonora, onde é possível acionar elementos deliberadamente opostos à ordem vigente, possibilita certas práticas em espaços públicos, que podem criar novos sentidos, atores e formas de ação; novos repertórios. Deste modo, é possível retomar a perspectiva proposta por Tilly (2006a), e destacar que o acionamento de determinadas performances, que só seriam possíveis neste contexto production of new forms of knowledge. By focusing on the cognitive dimension, our more general aim was to make the content of social movement activity, rather than its form or organization, the central focus of analysis.”