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3.2 Carnaval em espaços privados A partir de meados da década de 40 os bailes carnavalescos vão ganhando cada vez mais espaço nas notícias dos jornais. Em contrapartida, vão diminuindo as notícias sobre os desfiles em locais públicos. De modo que em 1946, o jornal O Globo pública a seguinte notícia: [...] no Rio, houve pouca vibração nas ruas. Nos bailes porem, o entusiasmo carnavalesco atingiu o auge. [...] O aspecto das ruas era desanimador. Pouca luz, pouca gente, pouca animação. (POUCO, 06 mar. 1946, p.13)
Assim, em 1958, Eneida de Moraes, já descreve um movimento de desocupação do espaço público pelos festejos em seu livro sobre a história do carnaval carioca. É muito comum, hoje em dia, ouvirmos dizer que o carnaval de rua está morrendo, que só existe o carnaval interno, o dos salões, o dos bailes. Essa afirmativa é velhíssima. Sempre houve alguém que afirmasse a morte do nosso carnaval de rua, quando na realidade o que com ele acontece, sempre aconteceu, são fluxos e refluxos determinados por diversas ocorrência[sic] políticas ou econômicas. Nosso carnaval tem essa característica: ora é de rua, ora de salões, ora mistura salões e rua, volúvel, se bem que uma volubilidae marcada por acontecimentos estranhos à sua própria vida. (MORAES, 1987, p. 90)
É interessante notar que, ao descrever um movimento de esvaziamento do espaço público no carnaval de 1958, Eneida, apesar de perceber uma relação direta da festa com os campos político e econômico, entende que esta se trata de uma relação com elementos extrínsecos. Com “acontecimentos estranhos à sua própria vida” (ENEIDA, 1958, p.90). Desta forma, apesar de Eneida apontar um movimento importante de deslocamento nos tipos de espaço utilizados pelo carnaval carioca de sua época, é importante realizar algumas considerações sobre sua avaliação. Inicialmente, é importante problematizar a ideia de que os elementos políticos e econômicos são elementos extrínsecos ao carnaval, e destacar que a relação entre o carnaval e diferentes campos de produção, como o político ou o econômico, não se trata de uma relação de simples subordinação. A ocupação do espaço público pelo carnaval, além de condicionada por questões políticas e econômicas, também tem um papel ativo sobre elas. Um segundo ponto que deve ser ressaltado, é que estes processos de mudança no tipo de espaço ocupado pelo carnaval também não se dão de forma