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8 - GERAL

Como a ponte pode cair

Jornal de Barreiros JDB - Maio 2014

São cinco os pontos mais frágeis da ponte Hercílio Luz. As estruturas que vêm sendo construídas vão garantir que o pior não venha a acontecer

Há cinco hipóteses mais prováveis para um colapso. A primeira, seria a quebra de mais uma barra de olhal, do mesmo lado daquela que se rompeu, visto que ali a tensão aumentou. Se acontecer, a ponte cai. A ponte também pode tombar se os pendurais que sustentam o vão central, de 340 metros, rebentarem. “Os pendurais que seguram as treliças são ocos por dentro, forrados de cânhamo – uma espécie de estopa – que era justamente para permitir que fossem continuamente lubrificados. Como nunca foram, pode ter havido corrosão interna e não sabemos até quando vão suportar o peso do vão central”, explica o engenheiro. O terceiro perigo é o próprio peso do vão central, de cerca de 2 mil toneladas, que pode ruir. A quarta hipótese é a ruptura das bases das torres. Mergulhadores já encontraram enormes buracos na estrutura. “Dá para abrigar um Mero (peixe) de 100 quilos”, compara Tomelin. Se alguma embarcação de maior porte vier a colidir contra essas bases, por exemplo, pode ser fatal. O quinto problema grave que pode precipitar a queda são as rótulas, grandes peças de metal que fazem a mesma função de um joelho, permitindo flexibilidade à ponte. Hoje essas peças estão totalmente enrijecidas, o que compromete a

oa/jdb

Roberto de Oliveira e Honorato Tomelin: obras de recuperação da ponte vão exigir uma operação delicadíssima e toda a área no entorno terá que ser interditada

estabilidade. “Não se trata de assustar as pessoas”, explica Tomelin, mas simplesmente esclarecer sobre a atual situação da ponte. A “enfermidade” da Hercílio Luz, afirma o engenheiro, pode ser comparada a “aneurismas”. Ou seja, requer muitos cuidados para que o pior não venha a acontecer.

O jornalista Maurício Oliveira, autor do livro “Ponte Hercílio Luz, tragédia anunciada” (editora Insular), diz que, “considerando-se todo o descuido com ela ao longo de todos esses anos, o mais surpreendente é que ela ainda esteja de pé, majestosa, com um pé na ilha e outro no continente”. E conclui: “É quase um milagre”.

O que falta para evitar a queda da ponte É uma corrida contra o tempo, pois cada dia que passa, cada mês, ano após ano, maior é o desgaste pela ação do vento, da umidade e da maresia, principalmente. Depois de vários estudos, optou-se pela colocação de 16 estacas de até 70 metros, que foram fincadas sete a oito metros dentro da rocha, em toda a extensão do canal, que possui cerca de 60 a 70 metros em sua parte mais funda. Quatro torres de andaimes tubulares vão “segurar” a ponte para, posteriormente, serem acionados 54 macacos hidráulicos para levantar o vão central – cerca de 80 centímetros no meio e um centímetro nas pontas, formando uma espécie de parábola de diminuição da tensão.

Quatro cabos de aço também farão o estaiamento das torres, ajudando a segurá-las. Mesmo com todos esses cuidados, pode haver surpresas. “É uma operação delicadíssima e sempre pode aparecer um problema não detectado”, avalia o engenheiro Honorato Tomelin. Quando tudo isso estiver montado, serão instalados sensores de tensão em várias partes da ponte. À medida que o vão central for sendo erguido, para eliminar a pressão nas treliças e nas barras, computadores vão analisar, passo a passo, o grau de tensionamento em cada parte monitorada. “Toda a estrutura será calibrada, lentamente, para que os esforços permaneçam em equilíbrio”, diz

Tomelin, que se considera um engenheiro da cidade. Terão que ser substituídas 360 barras de 16 a 18 metros cada, que serão fundidas pela Usiminas – outra tarefa de grande porte. Nenhuma peça que tenha 10% ou mais de corrosão deixará de ser substituída. “Pelos meus cálculos, cerca de 80% da ponte terá que ser refeita, ou seja, teremos uma ponte quase nova”, concluiu Tomelin. As obras são executadas pela Construtora Espaço Aberto, que detém a maior parte do capital do Consórcio Florianópolis Monumento, responsável pela restauração da ponte, sob a coordenação do Deinfra – Departamento Estadual de Infraestrutura.

O momento mais crítico O momento mais crítico da recuperação da ponte Hercílio Luz será justamente quando haverá a suspensão do vão central por 54 macacos hidráulicos, montados sobre as quatro estruturas que vêm sendo construídas no meio do canal que separa ilha e continente. Nessa etapa, afirma o engenheiro Roberto de Oliveira, “toda a vizinhança da ponte, numa extensão ainda a ser definida, deverá ser interditada e somente pessoas autorizadas poderão circular na área, com a ciência que correm risco de acidente”. Isto vai acontecer devido a inversão dos esforços planejados em projeto de tração para compressão. O professor, que já lecionou estruturas metálicas na Engenharia Civil da UFSC, explica que qualquer estrutura metálica é orientada para ter suas peças tracionadas e as partes comprimidas são evitadas. “Se erguer-se sim-

plesmente o tabuleiro central as barras antes tracionadas serão comprimidas e flambarão, entortando-se (dano permanente) e se não pararem o erguimento, essas treliças poderão se romper”. Tudo terá que ser feito com muito cuidado, pois apesar de todos os cálculos, há variáveis imprevisíveis. “Até onde sei, nunca se fez nada semelhante em todo o mundo”, afirma Oliveira. Serão cinco operações: estaqueamento do vão central, estaqueamento das torres principais, transferência de carga, troca das rótulas e desmontagem e troca das barras de olhal. Por ser uma obra de características únicas, não há nenhuma certeza de como a ponte vai se comportar quando submetida a essa inversão de esforços. “Será uma operação complicadíssima”, afirma o engenheiro mecânico Honorato Tomelin.


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