Liderança no Feminino - Setembro 2021

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Liderança no Feminino é uma publicação da responsabilidade editorial e comercial de Sandra Arouca | Periodicidade mensal | Venda por assinatura 8€

A EQUIDADE DE GÉNERO NAS EMPRESAS PORTUGUESAS: #39 SETEMBRO 2021

JAYME DA COSTA MCOUTINHO GRUPOCONCEPT

RITA REDSHOES

O LADO BOM


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LIDERANÇA NO FEMININO | setembro de 2021

ÍNDICE

05 | Editorial 06 | O lado bom Rita Redshoes 12 | A Equidade de Género nas Empresas Portuguesas: A Liderança Feminina do Grupoconcept 22 | Os segredos da natureza para cuidar do rosto Lia Cardoso, CEO da Nature Secrets

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26 | A Equidade de Género nas Empresas Portuguesas: Jayme da Costa e a Liderança no feminino 36 | Mulheres no mercado automóvel Susana Teixeira, Diretora Geral da MCoutinho 40 | A Liderança Positiva como chave para a felicidade no trabalho Marta Bento, Especialista em Liderança Positiva e Felicidade no Trabalho 44 | A luta pela igualdade de oportunidades no futebol feminino Raquel Sampaio

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EDITORIAL

Rita Redshoes é o destaque da nossa edição, prepara-se para lançar o seu quinto álbum no final do mês de setembro - O Lado Bom. O novo álbum, o mais pessoal até agora, espelha a sua jornada pela maternidade e pós-parto. Divulgamos as empresas portuguesas que promovem a equidade de género destacando - Jayme da Costa, GrupoConcept e MCoutinho. Fomos conhecer Lia Cardoso, que encontrou refúgio na maquilhagem e decidiu seguir carreira na área de estética e beleza. Em 2020, lançou a sua própria marca de cuidados de rosto, a Nature Secrets, vegan, cruelty-free e eco-friendly.

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Marta Bento, enquanto líder de equipa, dedica-se a manter os colaboradores felizes, contribuindo para a sua própria felicidade. Após anos de formação e experiência na área, vai transmitir o seu conhecimento numa nova pós-graduação sobre liderança positiva. Raquel Sampaio e a sua luta de oportunidades no futebol feminino fundou a Teammate Football Management, no início do mês de agosto.

Boas leituras! Sandra Arouca

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Rita Redshoes dispensa apresentações. Conhecida do público, com quatro discos editados, prepara-se para lançar o seu quinto no final do mês de setembro. O novo álbum, o mais pessoal até agora, espelha a sua jornada pela maternidade e pós-parto. Em conversa, conta-nos a realidade ainda masculina da indústria musical e como superou o período do confinamento.

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© Vitorino Coragem

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O seu percurso musical começou cedo - ainda era Rita Pereira quando se tornou baterista no grupo de teatro da sua escola secundária. Mais tarde, fez parte de vários projetos musicais como autora e intérprete e colaborou em inúmeras bandas sonoras premiadas para teatro e cinema. Os discos de Atomic Bees, Rebel Red Dog, David Fonseca e The Legendary Tigerman contaram com o toque de Rita Redshoes. O nome artístico surgiu em 2007, inspirado n’ O Feiticeiro de Oz e o clássico Let’s Dance de David Bowie. No ano seguinte apresentou o seu primeiro álbum, com 12 músicas exclusivamente cantadas em inglês. Vários anos e 3 álbuns depois, irá apresentar agora o seu Lado Bom, nome do novo álbum que tem data marcada para 24 de setembro. O projeto foi escrito e gravado entre 2018 e 2019 e já tinha sido anunciado em 2020, mas a pandemia obrigou a adiar o lançamento. Apesar das pessoas estarem fechadas em casa, com disponibilidade acrescida para ouvirem música, faltava a componente dos concertos, que são “a parte essencial do processo de partilha”, segundo a cantora. Rita apresenta o Lado Bom como o seu disco mais pessoal, um álbum que saiu das suas entranhas e que acompanhou todo o seu processo de gravidez e pós-parto. “Senti-me a renascer, embevecida com o milagre de gerar um ser humano e um medo tremendo de lhe falhar”, partilha. “A minha vida mudou, eu mudei e senti-me muitas vezes perdida nesse processo.” É um disco onde explora emoções desconhecidas, medos e dúvidas. É, acima de tudo, um álbum “muito honesto”, onde se questiona sobre o papel da mulher na sociedade, a capacidade de amar e ser amada, “cheio de luz e sombra”, um mergulho aos seus pensamentos mais profundos. Foi durante o período de pós-parto que Rita descobriu que o seu organismo não produzia quantidades suficientes de serotonina, o que interfere diretamente com o humor. Desde jovem que lida com a depressão, chegou até a tirar a licenciatura em Psicologia Clínica, mas só aos 37 anos é que descobriu que existia também um motivo biológico para isso. Para além da terapia, psicanalise e medicação que tentou ao longo dos anos, a música surgiu como uma tábua de salvação na sua vida. “Tocar, compor e escrever tornaram-se numa terapia sem que eu tivesse consciência disso”, desvenda. Os instrumentos permitiram-lhe expressar-se, construir uma melhor autoestima e autoconfiança e encontrar o seu lugar no mundo. O Lado Bom será o seu primeiro álbum totalmente em português. Era um desejo que já tinha há algum tempo e uma ideia que foi explorando no disco anterior, Her, com 3 músicas em português. “Quando comecei a compor este disco tudo o que me aparecia era em português”, explica, “não contrariei, deixei fluir. Tinha chegado o momento”. Deixar fluir é um passo importante no seu processo criativo que classifica como desorganizado e periódico. “Não estou sempre a compor. Passo muitos dias sem tocar ou cantar”, revela. Nesses dias aproveita para ver, ouvir e absorver o mundo à sua volta, que aponta

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como a sua maior inspiração. Mais do que as suas referências musicais, como PJ Harvey, Maria Callas e Nina Simone, que “pairam sempre como uma espécie de pontos cardeais”, Rita encontra inspiração na vida – nas pessoas que a rodeiam, as suas histórias e experiências de vida e o impacto que têm em si. Assim, a inspiração pode surgir a qualquer momento e de qualquer lado. Quando, em 2016, lançou o Her, tinha 35 anos e muitas dúvidas, uma delas era se queria ser mãe ou não. Teve a sua primeira filha em 2018 e foi “a coisa mais maravilhosa” que lhe aconteceu. “Sinto-me muito mais inspirada, competente, autoconfiante e descomplicada”, confessa. “Ter sido mãe tornou-me uma melhor versão de mim mesma.” Desta forma, o Lado Bom é quase uma revolução do Her, retratando o crescimento de Rita a nível pessoal, espelhando a sua jornada de dúvidas até à maternidade. É também uma evolução no sentido em que reanima questões que já tinham sido retratadas no álbum ante-

Rita apresenta o Lado Bom como o seu disco mais pessoal, um álbum que saiu das suas entranhas e que acompanhou todo o seu processo de gravidez e pós-parto. “Senti-me a renascer, embevecida com o milagre de gerar um ser humano e um medo tremendo de lhe falhar.”


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rior relativas a temáticas das mulheres e do universo feminino, porque Rita adora ser mulher. “Aqui entre nós, ser mulher é bem mais fascinante do que ser homem”, brinca. “Tivemos sempre muito mais desafios ao longo da história e continuamos a ter ao longo da vida”, explica. A versatilidade, a força, a capacidade de cuidar, de lutar e de ceder são características que encontra nas mulheres com quem se cruza e que considera extremamente inspiradoras. Ser mulher sempre representou dificuldades acrescidas a vários níveis. Também na indústria musical se sente, ainda hoje, algumas diferenças de tratamento entre os géneros. Para além de cantar e escrever as suas próprias músicas, Rita também toca instrumentos, como bateria, guitarra e piano, e tem conhecimentos de música a nível técnico. Mesmo tendo experiência em todo o processo de produção musical, foram várias a vezes que se sentiu discriminada ou tratada de forma diferente, por pessoas que não trabalhavam diretamente consigo. Em reuniões, ensaios de som ou qualquer outra situação em que o ambiente fosse masculino, sentia-se muitas vezes “posta de lado”. Apesar de existirem muitas mulheres com carreiras musicais de sucesso em Portugal, e da tendência ser aumentar, atrás do palco e das cortinas ainda é escassa a presença feminina o que propicia a discriminação. “Nos bastidores ainda há algum trabalho a fazer no que toca ao respeito e reconhecimento de competências”, realça. Com o surgimento da pandemia, o setor cultural foi um dos mais afetados, tendo de parar quase por completo a atividade. Muitos artistas tiveram de procurar outros meios de subsistência ou apenas formas de superar a pandemia sem baixar a cabeça. Rita Redshoes tentou ao máximo não parar de produzir e criar. “Inventei tudo o que consegui para contrariar a ideia de estar fechada em casa sem poder exercer a minha profissão”, conta. Deu concertos para os vizinhos no quintal, criou um programa de atividades para crianças e até um podcast na rádio comercial, o Sonhos de Pessoas Quase Normais. Este podcast surge quase como um seguimento do livro que lançou em 2015, Sonhos de uma Rapariga Quase Normal. No podcast, narrado e sonorizado por Rita, ilustra os seus sonhos e dos ouvintes. O sonho é uma parte importante dos seus dias, influenciando o seu humor e servindo também como fonte de conteúdo criativo, já que não existem limites no subconsciente. “É como se tivesse uma vida paralela onde acontecem coisas extraordinárias, umas vezes inquietantes, outras absolutamente cómicas”, diz Rita, que se lembra diariamente e de forma detalhada do que sonha durante a noite. Aproveitou também este período para estudar e aprender coisas novas. “Propus-me a contraria a realidade”, afirma. Com o levantamento das restrições e o plano de vacinação a funcionar dentro do previsto, o futuro tem de ser visto com esperança. “Teremos de aprender a viver com estas novas circunstâncias, não temos outra opção”, alerta. Com consciência e civismo é possível prosseguir, porque “a vida está aí – aqui e agora” e precisa de ser vivida.

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A EQUIDADE DE GÉNERO NAS EMPRESAS PORTUGUESAS

A LIDERANÇA FEMININA DO GRUPOCONCEPT

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1. SANDRA CASTANHEIRA ADMINISTRADORA E COFUNDADORA DO GRUPOCONCEPT

2. SUSANA MARTINS ADMINISTRADORA E COFUNDADORA DO GRUPOCONCEPT

3. CARLA NUNES

DIRETORA DE DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIO DO GRUPOCONCEPT

4. CLÁUDIA OLIVEIRA DIRETORA OPERACIONAL DO GRUPOCONCEPT

5. SANDRA DOMINGUES DIRETORA DE MARKETING DO GRUPOCONCEPT

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SANDRA CASTANHEIRA

ADMINISTRADORA E COFUNDADORA DO GRUPOCONCEPT

PERCURSO ACADÉMICO E PROFISSIONAL Sempre fui uma pessoa extremamente curiosa, com um grande fascínio por tudo o que é diferente e inusitado. Essa curiosidade levou-me a escolher o curso de Psicologia Clínica, pois sempre me questionei sobre o que levava as pessoas a terem olhares tão diferentes sobre um mesmo assunto. Foi também essa curiosidade que me levou à minha primeira experiência profissional foi como consultora comercial. Apesar de não ter qualquer experiência em vendas, nem a minha formação académica encaminhar para essa área, a perspetiva de uma profissão ativa, com bastante contacto humano, elevado potencial financeiro e progressão de carreira, levou-me a experimentar a função. Após essa experiência, todo o meu percurso profissional seguiu esse caminho, primeiro no departamento operacional e depois no marketing, departamento este onde os meus conhecimentos na área da psicologia e do comportamento se revelaram fundamentais. Tive a oportunidade de trabalhar nestes departamentos tanto a nível nacional como internacional, sempre na área do franchising. Em conjunto com a Susana [Martins] e o Alexandre [Lourenço] criámos a empresa BodyConcept que visava o desenvolvimento, em primeiro lugar da rede de Clínicas de Estética BodyConcept, seguidamente, da rede de Depilação Permanente DepilConcept e, mais recentemente, da linha de Cosméticos Concept+. No GrupoConcept, empresa que agrega as marcas referidas acima, tenho a função de Administradora Executiva onde, além das funções inerentes a gestão geral da empresa, o meu foco recai sobre o Departamento Operacional e o Marketing das redes em Portugal e no Brasil, assim como no desenvolvimento e comercialização da Cosmética Concept+. PORQUÊ A ÁREA DO MARKETING E OPERACIONAL? Apesar da minha formação ser em Psicologia o gosto pelo Marketing foi algo que sempre existiu. Aliás, essa era a minha segunda opção ao nível da escolha do meu curso superior. A minha responsabilidade sobre o Departamento Operacional, surge da experiência adquirida em funções anteriores na área, e do gosto que tenho em construir estruturas que possam ser funcionais e eficientes durante o maior tempo possível, replicáveis no maior número de mercados e executadas pelo maior número de pessoas. SE O FACTO DE SER ADMINISTRADORA MULHER LEVOU A TER TAMBÉM MAIS

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DIRETORAS MULHERES NA EMPRESA OU FOI UMA COISA ESPONTÂNEA Gosto de trabalhar com mulheres. São dedicadas, envolvidas, detalhistas, exigentes consigo e com os outros e têm uma capacidade que dificilmente reconheço nos elementos masculinos da equipa, que é a de se preocuparem com todo o processo necessário para atingir resultados e de terem a capacidade de envolver toda a equipa nesse processo, o que a meu ver traz resultados superiores. Os homens têm a tendência de se focarem mais numa porção do processo e por vezes isso traz dificuldades na relação interdepartamental e consequentemente na finalização dos processos. Posso dizer que foi inconsciente, mas tendo em conta que tenho essa opinião sobre a forma de trabalhar das mulheres, tenha a tendência para selecionar mais mulheres do que homens para trabalhar no GrupoConcept. DESAFIOS PROFISSIONAIS POR ESTAR EM CARGO DE TOPO Como empresária, acredito que o maior desafio profissional é o de encontrar pessoas que sejam não só competentes, mas também comprometidas com os objetivos da empresa. Felizmente temos nas nossas equipas elementos que correspondem a essas necessidades e acredito que esse é um fator que leva a que mesmo em épocas de mais dificuldade, as nossas marcas tenham continuado a crescer.

“Como empresária, acredito que o maior desafio profissional é o de encontrar pessoas que sejam não só competentes, mas também comprometidas com os objetivos da empresa."


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SUSANA MARTINS

ADMINISTRADORA E COFUNDADORA DO GRUPOCONCEPT

PERCURSO ACADÉMICO E PROFISSIONAL Formei-me em Gestão de Empresas no ISCTE. No último ano de faculdade iniciei a minha carreira profissional na área comercial, tal como pretendia, por entender que todos somos vendedores de nós próprios, dos nossos projetos, e também se gostarmos de produtos e/ou serviços. Esta experiência deu-me oportunidade de trabalhar em Miami e no Brasil e permitiu-me alcançar o meu sonho de poder ter um negócio próprio. A nível profissional trabalhei em algumas empresas Master franchisadas Americanas e Espanholas, de conceitos de serviços e produtos, onde aprendi as melhores práticas para termos empresas Franchisadoras. Apaixonei-me pelo Franchising, pelas suas metodologias e formas de organização e daí nasceu a vontade de criar marcas nacionais, cuja expansão seja organizada neste modelo de negócio.

“A desigualdade de géneros é efetivamente uma realidade no país. No GrupoConcept a situação de desigualdade salarial não existe e também não existe trabalho precário. Todos os colaboradores têm contrato de trabalho e é nosso objetivo o crescimento dos mesmos e a sua efetividade na empresa. "

PORQUÊ A ÁREA DE EXPANSÃO E FRANCHISING? Somos 3 sócios coproprietários das empresas BodyConcept, DepilConcept e ConceptPlus e trabalhamos nas mesmas como administradores executivos. Ao longo de mais de 15 anos já ficámos responsáveis pelas empresas de várias formas. Já dividimos responsabilidades por empresas e também já trocámos as responsabilidades de vários departamentos por motivos estratégicos ou pessoais. Atualmente, estou responsável pela expansão da rede e pelas clínicas próprias, nas várias áreas de gestão, seja ela de RH, Marketing, Comercial ou Financeira. DICAS DE LIDERANÇA (O QUE É QUE APRENDERAM E QUE RESULTA) Várias dicas de liderança sempre as utilizei, como ouvir a equipa na tomada de decisões, estabelecer metas alcançáveis, estar atento ao impacto das decisões que são tomadas por mim, pelos diretores, pelos franchisados para antever as consequências das mesmas e poder tomar medidas, ser emocionalmente equilibrada, ser honesta, ser otimista e motivadora. No entanto algumas dicas que aprendi e aperfeiçoei foram: é importante conhecermos os nossos pontos fortes e fracos, pode ser benéfico o tempo de adiar algumas respostas ou tomada de decisões, saber delegar permite um trabalho com uma qualidade superior e reduz o stress profissional, fazer uma boa gestão do tempo reflete-se na quantidade e qualidade do trabalho desenvolvido. SOBRE UM ESTUDO DA CGTP DO INÍCIO DO ANO QUE REVELAVA QUE “AS MULHERES CONTINUAM A GANHAR MENOS DO QUE OS HOMENS, SENDO A DIFERENÇA DE 14%, NA GENERALIDADE, E DE 26,1% ENTRE OS QUADROS SUPERIORES” A desigualdade de géneros é efetivamente uma realidade no país. No GrupoConcept a situação de desigualdade salarial não existe e também não existe trabalho precário. Todos os colaboradores têm contrato de trabalho e é nosso objetivo o crescimento dos mesmos e a sua efetividade na empresa. A média salarial praticada é superior ao salário mínimo nacional em todas as funções e valorizamos o reconhecimento com premiações mensais, uma vez que a maioria das funções trabalha por objetivos. Esperamos desta forma dar o nosso contributo, embora saibamos que o caminho é longo e que há ainda muitas coisas por fazer.

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CARLA NUNES

DIRETORA DE DESENVOLVIMENTO DE NEGÓCIO DO GRUPOCONCEPT

PERCURSO ACADÉMICO E PROFISSIONAL O meu percurso pode dizer-se que é bastante peculiar e longo, pois iniciei-o com apenas 15 anos. No entanto, faço questão de mencionar e retratar aqui também esse percurso enquanto menina-mulher e trabalhadora-estudante, pois teve e ainda hoje tem um impacto muito grande na minha personalidade enquanto ser humano e enquanto profissional, levando-me a acreditar sempre que não há impossíveis nem insubstituíveis, quando se quer algo, é preciso arregaçar as mangas e nunca desistir. Descrevendo então o meu percurso formativo e profissional: 1. Entre os 15 e os 22 anos trabalhei e estudei sempre em simultâneo (fins de semana, feriados e férias dedicava-me ao trabalho, os dias úteis eram dedicados à formação/estudo). Nesses 7 anos, passei por diversas experiências profissionais nas áreas da hotelaria, agricultura, assistente de loja e estagiária nas áreas financeira e compras em 2 instituições públicas. 2. Após esses 7 anos, quando terminei o curso superior (Licenciatura bietápica em Gestão e Administração Publica), iniciei o meu percurso profissional, numa empresa de consultoria e desenvolvimento de aplicações informáticas, como estagiária de assessoria à Administração da empresa. Após o término do estágio, assumi a função de consultora comercial onde me mantive 2 anos. Em 2009 (com apenas 25 anos), fui convidada a assumir a responsabilidade da Direção Comercial da empresa e Gestora de Grandes Projetos. Desafio esse que aceitei e no qual me mantive até 2012. Nesse ano, além das funções que já tinha, embarquei no projeto internacional da empresa e assumi também a responsabilidade de Direção Comercial em Angola e Cabo Verde. 3. Em 2013 tirei uma Pós-Graduação em Management and Business Consulting no ISEG. 4. Em outubro de 2014, decidi que era hora de conhecer novas áreas de negócio e mudar o sentido da minha carreira profissional. Foi nesse momento que abracei o desafio no GrupoConcept como Diretora Operacional das clínicas do Franchisador. 5. Em outubro de 2015 embarco noutro desafio que me foi colocado, o lançamento do projeto BodyConcept no Brasil. A partir desse momento, acumulei as duas funções, Diretora Operacional das clínicas do Franchisador e Diretora Operacional das marcas BodyConcept e DepilConcept no Brasil. 6. Em 2017 foi-me lançado o desafio de assumir a Direção do Departamento de Expansão das marcas BodyConcept e DepilConcept em Portugal, o qual aceitei. A partir desse momento, mantive-me com as

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funções da Direção Operacional das marcas no Brasil e a Direção de Expansão das Marcas em Portugal. 7. No início da pandemia no ano passado, abracei mais um desafio lançado pelo GrupoConcept, assumindo a responsabilidade da gestão da operação em todos os mercados internacionais (com a exceção de Cabo Verde) e a expansão internacional das duas marcas. Ou seja, neste momento, sou responsável pela área internacional do GrupoConcept, tanto operacional como a expansão, bem como a expansão das marcas em Portugal. 8. Além da licenciatura e da Pós-Graduação, tenho curso de formação de formadores, tenho a certificação pessoal e profissional em Coaching e tenho feito ao longo dos anos várias formações em Gestão e Liderança de equipas, PNL, Gestão de Vendas, entre outros. HÁ QUANTO TEMPO ESTÃO NO GRUPO Estou no GrupoConcept há 7 anos. DICAS DE LIDERANÇA (O QUE É QUE APRENDERAM E QUE RESULTA) Acredito muito na liderança pelo exemplo e essa é a minha máxima. Sempre que peço algo pela primeira vez a um colaborador da minha equipa, primeiro explico como o fazer e o que é pretendido com aquela ação. Além disso, também tenho como uma máxima da gestão: “primeiro formar (ensinar como e porque fazer daquela forma) e depois exigir”. E acho que estas duas regras fazem com que as pessoas saibam sempre o que esperar delas e o porquê dessa expetativa. DESAFIOS PROFISSIONAIS E PESSOAIS POR ESTAR EM CARGO DE LIDERANÇA O primeiro grande desafio de qualquer bom profissional, na minha opinião, é a conciliação entre a vida pessoal e a profissional sem defraudar expetativas numa e na outra. Claro que estando em cargos de liderança, esta simbiose torna-se muito mais exigente e difícil e é um desafio diário constante. Outro grande desafio, na minha opinião é entender a equipa que temos, as suas mais valias e as suas limitações e tomar decisões certas ou que satisfazem as necessidades da equipa por um lado e por outro as da empresa, sempre com sentimento de justiça para com as duas partes.


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CLÁUDIA OLIVEIRA

DIRETORA OPERACIONAL DO GRUPOCONCEPT

PERCURSO ACADÉMICO E PROFISSIONAL Em 1997 descobri o meu gosto pela gestão, na experiência que tive na Pull&Bear. Foi uma grande aprendizagem em termos de organização e liderança, características da pessoa responsável pela loja, com quem aprendi muito. Em 1999 tive um convite para trabalhar na Massimo Dutti, como subgerente, e foi das minhas maiores experiências no atendimento ao cliente. Era uma empresa focada na personalização e no atendimento de excelência ao cliente. Em 2001 tive um problema pessoal, que me limitava na disponibilidade de horário, e decidi fazer um curso de estética, que foi uma área que sempre gostei muito. Em 2003 terminei a minha formação e ingressei no mercado de trabalho nesta área, por conta própria. Nesta experiência aprendi a gerir os custos e a carteira de clientes, ou seja, a gerir o meu próprio negócio. Em 2005 tive a oportunidade de trabalhar numa clínica “Persona”, marca de franchising na área da estética, e durante 2 anos contribuí na gestão da unidade franchisada. Esta foi a minha primeira experiência numa marca de franchising, que facilitou muito a minha entrada no GrupoConcept. Em 2007, ainda a trabalhar na Persona tive uma pro-

“O maior desafio profissional é ser tolerante e aceitar as pessoas como elas são, e ainda, conseguirmo-nos auto motivar todos os dias. Tem que ser uma rotina diária, como lavar os dentes!."

posta para fazer parte de um projeto novo em Portugal, para uma multinacional sediada em Espanha – Madrid, de uma fusão entre o Carrefour e a BCBG (marca de roupa de alta costura), onde criaram uma insígnia “BCBC By Maxzaria” de roupa de senhora para dinamizar as vendas no Carrefour na secção do têxtil de senhora. Este foi um projeto muito importante na minha carreira, pois tinha como responsabilidade definir estratégias para dinamizar as vendas da secção do Têxtil de senhora de todos os Carrefour a nível Nacional, para que a marca crescesse no mercado nacional. Infelizmente, após 6 meses de estar envolvida neste projeto, o Carrefour fechou em Portugal, por motivos alheios à empresa com quem trabalhava. Propuseram-me da continuidade ao projeto em Espanha, mas por motivos pessoais não aceitei. Em 2008 iniciei a pesquisa de outras oportunidades de emprego e enviei o meu currículo para a BodyConcept, onde fui selecionada para Supervisora Operacional BodyConcept Nacional. Em 2011 passei a Diretora Operacional BodyConcept Nacional, e em 2017 abracei o projeto também da DepilConcept, ou seja, fiquei como Diretora Operacional BodyConcept e DepilConcept Nacional. Atualmente assumo a mesma função, e trabalho todos os dias para o crescimento do GrupoConcept. HÁ QUANTO TEMPO ESTÃO NO GRUPO Faço parte da equipa do GrupoConcept desde 2008, ou seja, há 13 anos. DICAS DE LIDERANÇA (O QUE É QUE APRENDERAM E QUE RESULTA), Ter perfil de liderança ajuda muito, e eu modéstia à parte já nasci com esse “dom” (sorrisos). Na minha opinião, liderar pelo exemplo é sem dúvida uma das características de sucesso. A humildade, compreender e colocarmo-nos no lugar do outro, é fundamental. A exigência, orientação e acompanhamento, são palavras-chave na liderança. DESAFIOS PROFISSIONAIS E PESSOAIS POR ESTAR EM CARGO DE LIDERANÇA O maior desafio profissional é ser tolerante e aceitar as pessoas como elas são, e ainda, conseguirmo-nos auto motivar todos os dias. Tem que ser uma rotina diária, como lavar os dentes! (Sorrisos) A nível pessoal, é conseguir desligar o “chip” quando se vai para casa. Temos que ser muito racionais, para não levarmos os problemas para casa, não influenciar no nosso bem-estar físico, e assim, conseguirmos estar bem em contexto pessoal.

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SANDRA DOMINGUES

DIRETORA DE MARKETING DO GRUPOCONCEPT

PERCURSO ACADÉMICO E PROFISSIONAL Sempre gostei de áreas dinâmicas que me permitissem ter todos os dias desafios e projetos diferentes motivo pelo qual fui querendo ser diferentes coisas ao longo da vida, mas foi só no final do secundário que decidi especificamente que área queria seguir. Desta forma escolhi a licenciatura em Comunicação Empresarial e Relações Públicas na Escola Superior de Comunicação Social e felizmente tive sempre oportunidade de trabalhar na área que escolhi. Foi com o evoluir da minha carreira profissional que fui decidindo que áreas complementares de estudo queria escolher e em julho de 2014 conclui no Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM) a Pós-Graduação - Marketing Management que complementei em 2017 com um Programa de Gestão em Marketing Digital - Formação de Executivos na Universidade Católica de Lisboa. Complementarmente fui desenvolvendo outras formações em áreas como liderança, PNL, entre outras, que foram trazendo ferramentas adicionais ao meu trabalho diário de gestão de projetos e também de pessoas. PERCURSO PROFISSIONAL Sempre fui muito dinâmica e desde a adolescência que aproveitava os verões para trabalhar e ganhar experiência profissional, ao mesmo tempo que ajudava o meu pai no negócio de família. Por este motivo assim que terminei a Licenciatura aproveitei as oportunidades de estágio que surgiram (muito comuns na área da Comunicação) e estagiei em algumas agências de comunicação e relações públicas, que me permitiram trabalhar uma grande variedade de marcas desde tecnologia, ao grande consumo, área alimentar, setor de luxo, entre outras e assim aprender de forma prática a gerir projetos, clientes e planos e budgets de comunicação. Terminados os estágios integrei uma agência de comunicação especializada em tecnologia, tendo sido escolhida especificamente para estar num cliente a tempo inteiro como account de comunicação, numa empresa líder mundial na área da impressão, gestão documental e inovação, onde fiquei cerca de 2 anos, inicialmente a responder à Communications Manager e depois ao Diretor de Marketing. É nesta altura que surge a oportunidade de integrar o GrupoConcept, inicialmente como responsável de comunicação. Isto foi a há 11 anos atrás. O Grupo era ainda pequeno, face à sua dimensão atual, no que refere à Comunicação e ao Marketing havia ainda um caminho grande a traçar e foi nesse caminho que fui evoluindo e crescendo com as marcas. Cerca de 2 anos depois de ter começado a implementar de forma mais estratégica a

área da comunicação surgiu o convite para assumir também o Marketing, gerindo o Departamento de Marketing e Comunicação, e têm sido muitos os projetos que têm sido implementados. Desde a estruturação de uma equipa de Marketing mais completa e abrangente, ao lançamento de produtos e serviços, o rebranding total da marca DepilConcept, a conquista de diferentes prémios e de lugar top of mind na estética (BodyConcept), o GrupoConcept tem crescido exponencialmente aquém e além-fronteiras, sendo um grande orgulho profissional e pessoal poder ser parte ativa deste crescimento e sucesso de uma empresa portuguesa. DICAS DE LIDERANÇA (O QUE É QUE APRENDERAM E QUE RESULTA) Nunca me vi como uma líder ou imaginei a liderar equipas, pelo que quando aceitei liderar uma equipa tomei por exemplo um formato de liderança que enquanto membro de equipas me parecia mostrar melhores resultados. Aprendi desde cedo que a liderança por exemplo leva a um maior envolvimento das equipas e que as tomadas de decisão são tão mais eficazes quanto mais estamos dispostos a ouvir diferentes pontos de vista e opiniões, e até hoje tento implementar esta visão na minha equipa pedindo sempre opiniões e sugestões e tendo em conta as mesmas na decisão final. Sinto que com isto conseguimos um melhor trabalho de equipa e maior coesão e envolvimento de todos e que cada elemento da equipa vive os projetos de forma mais intensa ao sentir que efetivamente a sua contribuição é essencial para a empresa. DESAFIOS PROFISSIONAIS E PESSOAIS POR ESTAR EM CARGO DE LIDERANÇA Se tiver de eleger penso que são 2 os principais desafios: A nível pessoal, senti sobretudo depois de ser mãe e pelo perfil de exigência pessoal que me é intrínseco, que conciliação de todos os papeis é verdadeiramente difícil existindo sempre a sensação de que poderíamos ou deveríamos estar a fazer mais e melhor em todas as "frentes", sendo necessária uma grande capacidade de organização e gestão do stress para colmatar esta exigência. Os desafios profissionais prendem-se principalmente com a gestão de pessoas e com a necessidade de perceber qual a melhor forma de trabalhar com cada elemento da equipa para que este se sinta compreendido ao mesmo tempo compreenda o seu papel e o que se espera em cada momento do seu trabalho. Esta necessidade pode ser um verdadeiro desafio, mas ao mesmo tempo permite-nos sempre aprender mais sobre as pessoas e as relações humanas, dando-nos ferramentas para melhorar o processo de liderança e gestão de equipas.

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LIA CARDOSO

OS SEGREDOS DA NATUREZA PARA CUIDAR DO ROSTO Numa fase delicada da sua vida, Lia encontrou refúgio na maquilhagem e decidiu seguir carreira na área de estética e beleza. Em 2020, lançou a sua própria marca de cuidados de rosto, a Nature Secrets, vegan, cruelty-free e eco-friendly que promete tratar da pele e relaxar.

O interesse por maquilhagem cresceu numa das fases mais negras da vida de Lia: perdeu o seu segundo filho de apenas 3 meses. Na altura, começou a maquilhar-se frequentemente para esconder os efeitos físicos das suas emoções. “Recordo-me dos momentos em que passava o dia a chorar fechada em casa e ao final do dia, para não mostrar o sofrimento, maquilhava-me para que ninguém em casa tivesse a real noção do fosso em que me encontrava”, relembra Lia. Sem dinheiro para investir em formação e em materiais de qualidade, aprendeu sozinha com vídeos do Youtube e treinou imenso. No início da carreira, começou por fazer eventos pro bono e sessões fotográficas gratuitas até conseguir estabilidade para dar um salto maior. Em apenas alguns anos, começou a dar formação profissional e a transmitir os seus conhecimentos a outros aspirantes a maquilhadores. Foi um caminho com um início doloroso mas de que Lia se orgulha. A maquilhagem é a sua paixão e esforça-se para que a área seja reconhecida em Portugal. Nesse sentido, submeteu em janeiro uma petição junto do parlamento para que maquilhador seja aprovado como profissão. “Quero que as gerações futuras de maquilhadores tenham menos dificuldades e que sejam valorizadas pelos seus trabalhos”, afirma. “Não se trata apenas de colorir um rosto mas sim trabalhar a auto-estima de uma cliente, potenciar a sua beleza natural e sobretudo empoderá-la”, explica. Licenciada em Direito, a sua paixão desde nova, mas nunca chegou a exercer. “Desde os meus quinze anos que adorava ler livros de códigos principalmente o código penal, talvez pela influência do meu pai que sempre desejou que eu fosse advogada”, conta. Ainda hoje são os seus livros de mesa de cabeceira e considera que Direito deveria ser uma disciplina incluída nas escolas desde o ensino básico. Em 2018 foi a Madrid fazer uma formação de dermocosmética. Mais interessada na viagem e na cidade do que no curso, estava pouco motivada. Contudo, acabou por gostar tanto ao ponto de querer trabalhar na área. Depois de algumas formações intensivas, ingressou no mestrado de Medicina estética na Universidade de Madrid, onde tem aprendido imenso e anseia poder exercer. A maquilhadora sempre teve o desejo de deixar a

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sua pegada no mundo. Aliando o seu background de direito, que ajudou na criação do negócio, e o seu conhecimento de maquilhagem e de dermocosmética criou a Nature Secrets. Em março de 2020, em pleno confinamento, ganhou a coragem e o tempo necessário para concretizar o sonho. “Queria uma linha de cuidados de rosto que nos lembrasse de quem nós realmente somos, de onde viemos e qual o nosso propósito na terra”, revela. Não pretende que a Nature Secrets seja apenas uma marca, mas sim uma experiência. “O nosso cliente é alguém que está farto de usar cosméticos que não resultam, estão fartos de serem bombardeados diariamente com falsas promessas de pele perfeita, de soluções milagrosas”, elabora. O objetivo é o cuidado personalizado, que cuida não só da pele mas também da mente - todos os cosméticos são

“Queria uma linha de cuidados de rosto que nos lembrasse de quem nós realmente somos, de onde viemos e qual o nosso propósito na terra, revela. Não pretende que a Nature Secrets seja apenas uma marca, mas sim uma experiência."


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Lia Cardoso, CEO da Nature Secrets

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Lia Cardoso, CEO da Nature Secrets

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feitos a partir de aromaterapia que ajudam a relaxar. “Obriga o cliente a parar para ter o seu tempo e desfrutar dele”, diz Lia. O lançamento da Nature Secrets não foi pensado com metas muito ambiciosas em mente, mas a marca já está presente em Espanha, Inglaterra e Estados Unidos e Lia acredita que irá crescer muito mais a nível internacional. Qualquer pessoa com acesso à internet consegue encontrar um número quase infinito de conteúdo sobre skincare e rotinas, muitas delas acabam até por se contradizer. O segredo para uma boa rotina de skincare é conhecer muito bem a nossa pele e escolher os cosméticos adequados para ela. “Não é apenas ter os cosméticos corretos ou a sua ordem, devemos também olhar para o nosso organismo e para a nossa saúde e cuidar destes”, avisa Lia Cardoso. Exagerar na quantidade de produtos é um erro comum que pode impedir de obter os resultados prometidos. Ter uma alimentação saudável, rica em proteínas e vitaminas, manter-se hidratado e fazer exercício físico são tudo elementos que ajudam a ter uma boa pele. “Quando cuidamos do nosso corpo como um templo sagrado muitas vezes uma rotina minimalista com um bom leite de limpeza, tônico, sérum, creme e protetor solar são os passos perfeitos para uma skincare realmente boa”, assegura. Os produtos da Nature Secrets são todos vegan,

cruelty-free e eco-friendly. Atualmente, a sustentabilidade é uma temática cada vez mais abordada e os consumidores estão a alterar os seus padrões de compra, alinhando-os com os seus valores, fazendo com que as marcas se adaptem também. Para Lia, não é suficiente preferir produtos naturais - deve existir um consumo responsável, sem comprar em demasia. É importante também optar por embalagens de vidro e diminuir o consumo de plástico, bem como nos informarmos sobre as substâncias prejudiciais para a saúde e para o meio ambiente. No que diz respeito à testagem em animais, existem muitos países que já a proibiram, mas para Lia a legislação já chegou tarde. Apesar de muitos consumidores já terem consciência sobre o assunto, há ainda uma grande parte que “não liga desde que o cosmético seja eficaz”. Por isso mesmo, acredita que as organizações e entidades reguladoras do setor deveriam tomar medidas mais concretas e até proibitivas - “afinal havendo uma imposição a nível de regulamentação, as marcas devem obedecer para continuarem a faturar.” Lia aconselha a questionarmo-nos se os cosméticos que compramos valem a tortura de um animal ou até a sua morte. “Arrepia-me o pensamento que o ser humano ficou tão egoísta ao ponto de não se importar, em prol de usar um batom ou outro cosmético que se continue a torturar animais só para embelezar um rosto”, admite a maquilhadora.

“Não é apenas ter os cosméticos corretos ou a sua ordem, devemos também olhar para o nosso organismo e para a nossa saúde e cuidar destes.”

Lia Cardoso, CEO da Nature Secrets

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A EQUIDADE DE GÉNERO NAS EMPRESAS PORTUGUESAS

Apesar de todos os avanços e processos em direção à igualdade de género, no mundo empresarial ainda continuam a existir disparidades, desde o salário às promoções. É urgente que as empresas se preocupem e adotem medidas para reprimir essas desigualdades. Em Portugal, há várias empresas que já se comprometeram a fazê-lo e a Jayme da Costa é um dos exemplos, com uma grande representatividade de mulheres em cargos de liderança.

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A Europa é considerada como uma das regiões globais mais avançadas no que concerne a igualdade de género. Nos últimos 100 anos, as mulheres ganharam o direito ao voto e ao trabalho, no entanto, de acordo com análises recentes da comissão europeia a diferença salarial média na União Europeia é de 16%. De acordo com a pesquisa da EIGE’s de 2020, a percentagem de mulheres desempregadas ainda continua a ser significativamente maior que a dos homens. O mercado de trabalho ainda continua fortemente segregado por género, encontrando mulheres com mais frequência em trabalhos temporários, de part-time ou trabalho precário. Estes dados não são muito diferentes no caso de Portugal. Não é segredo que o mundo empresarial ainda continua a ser dominado maioritariamente por homens, principalmente os cargos mais elevados, e há estudos que o corroboram. Apesar disso, tem existido, de forma lenta, uma intervenção e reforço do papel da mulher. Segundo o estudo da Consultora Mercer When Women Thrive 2020, que abrangeu mais de 1.150 empresas em 54 país, incluindo mais de sete milhões de

A representação feminina em cargos de liderança tem aumentado, mas os números diminuem à medida que os níveis na carreira vão progredindo. trabalhadores, 81% das empresas afirmam estar mais preocupadas com questões de diversidade e inclusão dentro das suas organizações. Contudo, apenas 42% dessas empresas implementa estratégias para promover a igualdade de género. A representação feminina em cargos de liderança tem aumentado, mas os números diminuem à medida que os níveis na carreira vão progredindo. Segundo a Mercer, apenas 29% das mulheres ocupa cargos de reporte direto à administração e 23% cargos executivos. As mulheres representam 47% dos profissionais em funções de suporte nas empresas e 42% em funções de níveis superiores. Numa nota mais positiva, as taxas de recrutamento, promoção e retenção de mulheres já se comparam com as taxas masculinas. No entanto, apenas 64% das empresas acompanham a representação de género. Em Portugal, com a implementação da lei de quotas, em 2017, a presença feminina nos órgãos de administração cresceu de 18%, em 2018, para quase 30% em 2021. Já existem várias empresas portuguesas comprometidas com a promoção da igualdade de género no mercado de trabalho. A Caixa Geral de Depósitos, por exemplo, tem um staff composto por mais de 50% de mulheres e nos cargos de gestão de topo representam 28%.

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Em 2018, 68 empresas, incluindo o Ikea e a Coca Cola, assinaram o acordo anual do Fórum Organizações para a Igualdade, onde se comprometem a defender os princípios de igualdade de género no trabalho, na conciliação entre a vida profissional e pessoal e na parentalidade. Já faziam parte deste acordo empresas como a Galp, a Nestlé e a EDP. São assim várias as empresas portuguesas que estão a tentar contrariar os números e as estatísticas e proporcionar um ambiente de prosperidade para as mulheres no mundo empresarial. Outro exemplo é a empresa Jayme da Costa. PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE GÉNERO NA JAYME DA COSTA A Jayme da Costa, fundada em 1916, conta com mais de 100 anos de atividade. Começou por fabricar e comercializar equipamento elétrico de baixa e média tensão, motores e outros equipamentos industriais. Atualmente, foca-se no desenvolvimento tecnológico de produtos e soluções inovadores na área da Energia. A JdC chegou a ser um dos principais fornecedores na eletrificação do país e alguns dos manuais de instalação, operação e manutenção de equipamentos e motores elétricos, desenvolvidos internamente, são, ainda hoje, utilizados na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Possui uma vasta experiência no desenvolvimento de equipamento elétricos e sistemas eletromecânicos, sendo uma empresa relevante na área de produção de energias renováveis e de distribuição de energia em Portugal. No portefólio contam com vários projetos reconhecidos a nível nacional e internacional e com parcerias com marcas de prestígio no setor da energia e transportes – setor que a JdC ambiciona expandir a sua atividade, já com um projeto de infraestruturas de transportes planeado. A empresa aponta como fator de diferenciação a “união entre a capacidade dos seus quadros altamente qualificados, experientes nas diversas disciplinas da engenharia, e uma equipa dinâmica e determinada em aprender, inovar e a fazer a diferença no sector.” Rege-se por 4 valores: ambição, inovação, compromisso e cooperação. Apesar de ser uma empresa de uma indústria caracterizada por ser maioritariamente masculina, a Jayme da Costa tenta combater os estigmas - 21% do staff são mulheres, nas diversas equipas de trabalho, o que pode ser considerado positivo numa área de tecnologia. Mas a grande diferença está na clara representatividade feminina em funções de liderança e gestão de equipas.

VERA SARAIVA Licenciada em Psicologia, possuiu várias especializações em áreas de Gestão de Pessoas. Sempre gostou de trabalhar com pessoas e desde cedo percebeu que o seu caminho passava pelas organizações, “quer pela dinâmica que estas envolvem, quer pelo impacto que as pessoas têm no desenvolvimento do negócio.”


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Vera Oliveira Saraiva, Diretora Recursos Humanos

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Ana Claudia Alves Sousa, Diretora Contabilidade e Finanças

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A Jayme da Costa acredita que a diversidade e a inclusão contribuem para o crescimento de um negócio sustentável. Nesse sentido, desenvolvem ativamente políticas de promoção de igualdade, principalmente na igualdade de oportunidade no acesso ao emprego, crescimento profissional e conciliação entre a vida profissional e pessoal. Trabalha como consultora desde 2011, tendo experiência em várias empresas da área da Engenharia. No início de 2020, aceitou um novo desafio como coordenadora do Departamento de Recursos Humanos da Jayme da Costa. No que diz respeito à igualdade de género nas empresas, Vera reconhece que o papel dos recursos humanos é essencial. No entanto, o tema deve ser abordado com maior amplitude. Não basta desenvolver processos de implementação de medidas com vista à igualdade de oportunidades, “é necessário criar uma cultura de igualdade e não discriminação que permita abolir atitudes e preconceitos demasiado enraizados ao longo dos anos”, afirma Vera. A Jayme da Costa acredita que a diversidade e a inclusão contribuem para o crescimento de um negócio sustentável. Nesse sentido, desenvolvem ativamente políticas de promoção de igualdade, principalmente na igualdade de oportunidade no acesso ao emprego, crescimento profissional e conciliação entre a vida profissional e pessoal. Esse esforço é visível nos processos de recrutamento e seleção, com a preocupação de “manter um equilíbrio saudável nas equipas de trabalho; políticas de compensação e benefícios alinhadas com tendências de mercado sem fatores discriminatórios; desenvolvimento de carreira suportado em oportunidades de formação e crescimento profissional equitativo”, entre outras. Recentemente, implementaram também mecanismos de flexibilidade de horário e gestão de tempo que permite, em conjunto com a opção de trabalho remoto, melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. O mercado de trabalho na área da tecnologia é competitivo e as competências técnicas associadas aos perfis de engenharia são essenciais para o sucesso. Vera considera que a JdC tem uma equipa “experiente

e preparada para integrar e formar” os que se juntam à empresa. Apesar disso, o fator diferenciador são os comportamentos – “é importante que os Colaboradores se identifiquem com o propósito da empresa e com os seus Valores e que, por sua vez, a empresa consiga promover e gerir o tema da diversidade”, explica. Num mundo em transformação constante, é necessário saber acompanhar as mudanças tecnológicas. Para além de capacidades importantes para o setor, como criatividade, iniciativa, flexibilidade e capacidade, a JDC valoriza bastante a cooperação e o ambiente de partilha, bem como o compromisso com todos os projetos. Para as jovens que estão a iniciar a sua carreira nesta área, tão dominada por homens, Vera Saraiva aconselha a procurarem empresas com que se identifiquem, procurar sempre inovar e deixar uma marca pessoal em tudo o que fazem. “É importante valorizar o know-how dos mais experientes e, em simultâneo, partilhar com estes conceitos mais “frescos” que trazem das Universidades”, recomenda.

ANA CLÁUDIA SOUSA Ana trabalha na Jayme da Costa desde 2006. Em quinze anos, já desempenhou várias funções na área da Tesouraria, assumindo hoje a função de Direção de Contabilidade e Finanças. Foi nesta empresa que cresceu a nível profissional e pessoal. Ao longo da sua carreira nunca se sentiu desvalorizada por ser uma mulher num cargo de liderança, porque a JdC “foca-se nas competências pessoais e profissionais e não no género”, assegura. Confessa, no entanto, que “existe ainda o sentimento de prestar provas para justificar uma posição que seria "naturalmente" preenchida por um homem em outras empresas.” Para Ana, existe ainda um estigma do papel social da mulher, principalmente no seio familiar, que a impede de desenvolver a carreira profissional da mesma forma que o homem. Esta questão cultural só poderá ser ultrapassada “com a implementação de políticas de base que fomentem uma igualdade concretizada e não apenas um ideal”, garante. No seu ponto de vista, a liderança feminina pauta-se por ser mais colaborativa e se focar na gestão de pessoas e no relacionamento interpessoal, enquanto a masculina tende a ser mais competitiva. “Existe também uma sensibilidade adicional para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, que considero ser um ponto-chave para o mercado de trabalho atual”, acrescenta.

Para Ana, existe ainda um estigma do papel social da mulher, principalmente no seio familiar, que a impede de desenvolver a carreira profissional da mesma forma que o homem. 31


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ISABEL MONTEIRO PITO Licenciada em Engenharia do Ambiente, trabalhou durante 12 anos na EFACEC como Técnica de Ambiente e Segurança. Em 2020, encontrou na JdC a oportunidade de Coordenar o Departamento de Qualidade, Ambiente e Segurança. “Para mim é essencial continuar a sentir-me estimulada, desafiada e ver que há um caminho para crescer profissionalmente”, explica Isabel. Reviu-se no projeto apresentado pela JdC e abraçou de imediato o desafio. Pouco mais de um ano depois, sente que está em família. Trabalhar numa empresa com tantas mulheres em cargos de liderança tem sido “fantástico”. No entanto, um bom líder “é alguém que inspira as pessoas com quem trabalha, que dá o exemplo, que reconhece o bom desempenho dos seus colaboradores e que assume responsabilidades”, independentemente do género. Isabel olha para o futuro com esperança, reconhece que ainda existe muito caminho a percorrer quanto à igualdade de género, mas afirma que desde que começou a trabalhar na área que já verificou uma grande evolução. Nunca teve problemas por ser mulher na área, contudo não nega que o mundo da engenharia é predominantemente masculino. “Quando estou numa reunião

Trabalhar numa empresa com tantas mulheres em cargos de liderança tem sido “fantástico”. No entanto, um bom líder “é alguém que inspira as pessoas com quem trabalha, que dá o exemplo, que reconhece o bom desempenho dos seus colaboradores e que assume responsabilidades”, independentemente do género.

Isabel Maria Monteiro Pito, Coordenadora Qas

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de obra com Clientes mais de 90% são homens, e as mulheres que estão presentes estão em cargos relacionados com Segurança e Ambiente”, conta. O paradigma está a mudar e é preciso que todos contribuam para a mudança, mas ainda existem dificuldades acrescidas para as mulheres. Para Isabel, ser mãe foi o maior desafio da sua carreira – conseguir conciliar a maternidade e a vida profissional. “Apesar de não ter sido o meu caso, pois tive grande apoio familiar, a nível nacional não há muitos apoios para mães que tem uma vida profissional ativa e com cargos de responsabilidade que exigem mais disponibilidade”, alerta. Quando teve o seu primeiro filho, viajava de norte a sul do país em trabalho e admite que sem o apoio familiar teria sido muito complicado conciliar a carreira com a maternidade e que talvez tivesse de deixar ficar uma para trás.

ANA RITA SILVA Com formação em Engenharia Eletrotécnica e experiência no setor da energia, Ana juntou-se à JdC em 2019 para um projeto temporário. Graças à sua determinação e ao crescimento do negócio acabou por ficar como Gestora de Projetos ligados ao solar fotovoltaico, coordenando equipas técnicas experientes. Para Ana, trabalhar na Jayme da Costa é sinónimo de respeito, competência, profissionalismo e companheirismo. É com orgulho que reconhece que “não existem grande clivagens de género em cargos de liderança” – “a competência, base de conhecimento, o respeito, e o profissionalismo não dependem do género”, afirma. Ao longo do seu percurso profissional nunca se sentiu discriminada, mas assume que a presença feminina no mercado da tecnologia e engenharia ainda é uma minoria. Segundo Ana, a maior barreira é o desenvolvimento de habilitações académicas e competência técnica. “Quando me candidatei ao Instituto Superior de Engenharia do Porto há 20 anos atrás, eramos 6 mulheres em 120 alunos”, relembra. O aumento do número de mulheres a escolher cursos de ciências exatas ou engenharia é um grande passo no caminho para o equilíbrio de géneros no mercado tecnológico. Para além disso, “cada vez mais estereótipos estão

“Cada vez mais estereótipos estão a dissipar, permitindo assim observar a participação crescente e gradual de nós, mulheres, nos tradicionais sectores da sociedade ainda rotulados de masculinos”, acrescenta.

Ana Rita Silva, Gestora De Projeto

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Carolina Ramos Cabral, Gestora de Projeto

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a dissipar, permitindo assim observar a participação crescente e gradual de nós, mulheres, nos tradicionais sectores da sociedade ainda rotulados de masculinos”, acrescenta.

CAROLINA RAMOS CABRAL Há menos de meio ano na Jayme da Costa, Carolina é gestora de projetos de grande dimensão ligados ao Solar Fotovoltaico e fala do ambiente inspirador e motivante que é trabalhar numa organização que tem um papel ativo na promoção da igualdade de género. “A representatividade feminina nos quadros da empresa está patente não só na presença significativa de mulheres em cargos de liderança, mas também no talento mais jovem e recém-formado”, revela. Segundo Carolina, a presença de liderança feminina estimula o debate e promove a partilha de conhecimento, de experiências e de boas práticas, funda-

Segundo Carolina, a presença de liderança feminina estimula o debate e promove a partilha de conhecimento, de experiências e de boas práticas, fundamentais não só ao desempenho diário da organização como à mentoria de novos talentos. mentais não só ao desempenho diário da organização como à mentoria de novos talentos. Formada em Engenharia Eletrotécnica e Computadores conhece por experiência própria a realidade do mercado predominantemente masculino. Na última década, e particularmente nos últimos anos, têm-se verificado um crescimento gradual da presença feminina nas áreas, mas para Carolina ainda é insuficiente para equilibrar a balança de género. “Neste campo, a academia tem desempenhado um papel fulcral na desmistificação da profissão e na captação de talento feminino, mas ainda faltam referências femininas”, reitera. Sugere como solução, enquanto sociedade e, principalmente, setor empresarial “desafiar a participação feminina, impulsionar o seu crescimento profissional e promover a igualdade de género.”

CARLA SILVA Carla Silva foi evoluindo na Jayme da Costa ao longo dos anos até abraçar o desafio de Direção de Tesouraria. Ao longo do seu percurso sempre se esforçou ao máximo por desempenhar as suas funções da melhor

Carla Alexandra Ferreira da Silva, Diretora Tesouraria

maneira e sempre se sentiu reconhecida pelos superiores hierárquicos. Carla considera que essa valorização das mulheres pelas suas capacidades profissionais é muito importante para aumentar a equidade de género no mundo empresarial. É também essencial promover salários mais igualitários, visto que “ainda se verifica nos dias de hoje em algumas empresas a presença de desigualdades salariais entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo.” Por fim, é igualmente essencial promover iniciativas com vista à igualdade de género dentro das próprias organizações e “voltadas para a comunidade”.

É essencial promover salários mais igualitários, visto que “ainda se verifica nos dias de hoje em algumas empresas a presença de desigualdades salariais entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo.” 35


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SUSANA TEIXEIRA

MULHERES NO MERCADO AUTOMÓVEL Susana trabalha no setor automóvel há quase duas décadas e é com esperança que vê a representatividade feminina na indústria a aumentar. Assumiu o cargo de diretora geral de uma das empresas da MCoutinho em plena pandemia e conta-nos sobre as dificuldades vividas neste período bem como as preocupações ambientais da empresa.

O setor automóvel surgiu na vida de Susana Teixeira quase por acaso. Depois de alguns trabalhos de verão em empresas, contactando com áreas da gestão, contabilidade e finanças, Susana abandou o sonho de criança de ser enfermeira e decidiu licenciar-se em contabilidade e auditoria. Durante o curso, teve de realizar um estágio curricular e optou por fazê-lo numa concessão automóvel na sua cidade natal. Durante 4 meses, contactou com vários departamentos, que a permitiu ficar com uma noção básica do setor automóvel, da organização, dos processos e das relações comerciais. Alguns meses após terminar o estágio, surgiu uma vaga para backoffice comercial nessa mesma concecionária. A sua primeira reação foi rejeitar a proposta – ainda estava a terminar a licenciatura e não era a área onde idealizava trabalhar. “No entanto, na nossa vida, às vezes aparece a pessoa certa no momento certo”, relembra. O responsável do departamento, um verdadeiro apaixonado pelo mundo automóvel, convenceu-a de que seria uma excelente oportunidade, um bom lugar para começar a sua carreira profissional, um alicerce mesmo que numa área diferente. Susana aceitou o desafio e terminou a licenciatura como trabalhadora-estudante. A partir daí, a sua carreira foi dedicada ao setor automóvel. Depois de 2 anos na empresa, esta foi adquirida pelo Grupo MCoutinho, o que despertou ainda mais o seu interesse pelo setor, estimulada “pelas diferentes exigências das marcas, os diferentes standards a cumprir, uma diferente organização e metodologia de trabalho e a relação comercial com os importadores das marcas”, explica. Avançando quase duas décadas no tempo, Susana é agora diretora geral de uma empresa do Grupo MCoutinho. Passou por vários cargos e funções até chegar ao topo e viu de perto a falta de representatividade de mulheres na indústria. O mundo automóvel é estereotipicamente masculino e dominado por homens nas áreas mais práticas, como mecânica, peças, logística e gestão estratégicas – áreas onde são necessários mais recursos humanos – ocupando as mulheres maioritariamente funções administrativas. Segundo a diretora, esta falta de representatividade prende-se com a falta de interesse profissional e pessoal das mulheres com estas áreas. “Talvez esta falta de interesse esteja associada a questões de alguma falta de

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oportunidade e até a um processo cultural”, elabora. No entanto, longa é a história de luta das mulheres por áreas consideradas masculinas. “Estou convicta que as mulheres conseguem fazer carreira em qualquer área do sector automóvel, se a isso se propuserem”, afirma Susana. A verdade é que, nos últimos anos, as mulheres têm conseguido, de forma natural, ganhar espaço no setor. Susana realça também o crescimento do número de mulheres em cargos de topo nas grandes marcas automóveis e nos diversos ramos do sector. “O crescimento feminino na gestão estratégica terá influenciado de alguma forma a integração das mulheres nas outras áreas?”, questiona. “Também e não só…” A diretora acredita que será cada vez mais fácil para as mulheres fazerem uma carreira no setor automóvel. “A porta está mais aberta do que nunca e a prova disso é existência de mulheres na liderança das marcas, mulheres mecânicas já integradas nas oficinas, mulheres na área do produto e desenvolvimento de rede dos concessionários”, exemplifica. Embora sejam ainda uma minoria, as mulheres vão marcar cada vez mais presença neste setor masculino, que se vai ajustando às mudanças. É exemplo o consu-

A diretora acredita que será cada vez mais fácil para as mulheres fazerem uma carreira no setor automóvel. “A porta está mais aberta do que nunca e a prova disso é existência de mulheres na liderança das marcas, mulheres mecânicas já integradas nas oficinas, mulheres na área do produto e desenvolvimento de rede dos concessionários.”


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Susana Teixeira, Diretora Geral da MCoutinho

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mo automóvel – “há alguns anos, a maioria das mulheres não tinha carta de condução. Atualmente as mulheres não só possuem carta de condução como também compram automóveis ou influenciam a decisão de compra do automóvel em função do seu gosto pessoal, comodidade ou funcionalidade”, explica. As marcas tiveram de se adaptar e direcionar cada vez mais as suas campanhas publicitárias para o público feminino. Mesmo com todo o estigma à volta do setor, conta que o seu percurso teve altos e baixos como qualquer outro profissional, sem diferenciação. “Foi um percurso de muita aprendizagem, de muita dedicação e muito foco”, afirma. Contudo, sendo mãe, esposa, dona de casa e profissional existe sempre um desafio acrescido. Conseguir alcançar o equilíbrio entre a vida familiar e profissional requer um esforço redobrado. “E sim, falhei algumas vezes neste equilíbrio. Ninguém é perfeito”, confessa. Ainda que haja sempre exceção à regra, Susana destaca que este equilíbrio exige sempre muito mais do sexo feminino do que masculino. “Talvez por isso os homens progridam mais rapidamente na carreira”, acrescenta.

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Apesar de tudo, sente que o seu esforço e dedicação foi valorizado, tendo uma progressão na carreira natural. Assumiu o cargo de diretora geral da empresa em julho do ano passado, a meio da pandemia, após o grupo ter completado o compromisso de abrir uma nova concessão automóvel em Leiria e Caldas da Rainha, adicionado duas novas marcas ao portefólio. “Assumir o cargo de Diretora Geral desta nova concessão, com novas marcas, numa área geográfica desconhecida para mim e para o Grupo e em plena pandemia tem sido, sem dúvida alguma, desafiante”, revela. Um desafio que não conseguiria ultrapassar sem uma boa equipa. Este novo projeto exigiu muito mais do que trabalho de equipa, foi necessário muita entrega, partilha e resiliência de todos. “Estivemos sempre próximos, tivemos a humildade de envolver toda a equipa nos problemas, partilhamos muitas ideias e fomos ultrapassando os obstáculos”, conta. Para Susana, o segredo na arte da liderança passa pela atitude e pela forma como se envolve a equipa no projeto, mantendo uma proximidade, partilhando e recolhendo ideias. “Quando as pessoas se sentem par-

Susana Teixeira, Diretora Geral da MCoutinho


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Susana Teixeira, Diretora Geral da MCoutinho

te integrante de uma cadeia de valor pela forma como são escutadas, como são envolvidas na resolução dos problemas e nas pequenas vitorias interiorizam a responsabilidade de uma verdadeira equipa”, garante. A pandemia afetou todos os setores, não deixando o automóvel de lado. Forçados a parar a atividade comercial, o grupo MCoutinho aproveitou esse período para delinear novas estratégias adequadas a um mundo em transformação. Os hábitos dos consumidores foram alterados, o teletrabalho criou uma nova realidade e o mundo passou a estar mais online. Nesse sentido, o grupo focou-se no desenvolvimento dos serviços ao cliente, como a ativação da venda online, complementada com serviço de entrega do carro em casa, “para garantir o seu bem-estar e conveniência.” Aceleraram os processos de digitalização e concentraram os esforços das equipas na rotação de stocks, de forma a minimizar as perdas financeiras. “Apesar da pandemia, o desempenho em 2020 foi positivo e mesmo num contexto de incerteza e de adversidade, o Grupo foi resiliente e manteve os nossos projetos”, conclui Susana. Para além das mudanças causadas pela pandemia, o setor automóvel está a passar por outra transição incontornável: a mobilidade elétrica. A preocupação com o meio ambiente levou muitos consumidores a

ponderarem mais carros elétricos como uma opção. A MCoutinho representa atualmente 19 marcas, oferecendo uma grande variedade de serviços automóveis e viaturas. Consciente de que existe uma lacuna de informação no que diz respeito às novas tipologias de motorizações, pretende desenvolver “soluções que permitam interagir de forma inovadora com o consumidor”, sendo uma delas a criação de um novo site dedicado à mobilidade elétrica. As questões ambientais na MCoutinho não se ficam pelos carros elétricos. A empresa desenvolveu o projeto Planeta MCoutinho, com o objetivo de reduzir a pegada ambiental, reduzindo a produção de resíduos, o consumo de matérias-primas e com o rigoroso cumprimento das suas obrigações da conformidade legal. “Apostamos numa correta separação das toneladas de resíduos originários nas atividades das nossas oficinas, encaminhamento por fluxos e fileiras e respetiva valorização dos resíduos que produzimos”, diz. Desta forma, 96% dos resíduos produzidos em 2020 foram encaminhados para a reciclagem ou reutilização. Susana faz um balanço muito positivo do projeto, que mesmo com a situação pandémica, não parou. “Todos os colaboradores deram continuidade à correta gestão dos resíduos e cumprimento legal, através da implementação dos planos de investimento ambiental”, assegura.

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Marta Bento, Especialista em Liderança Positiva e Felicidade no Trabalho

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MARTA BENTO

A LIDERANÇA POSITIVA COMO CHAVE PARA A FELICIDADE NO TRABALHO Marta trabalha na Caixa Geral de Depósitos há mais de vinte e quatro anos. Enquanto líder de equipa, dedica-se a manter os colaboradores felizes, contribuindo para a sua própria felicidade. Após anos de formação e experiência na área, vai transmitir o seu conhecimento numa nova pós-graduação sobre liderança positiva.

Para muitos, o trabalho é o oposto de felicidade. São muitos os motivos de descontentamento - seja por não gostarem da área, por não se sentirem integrados ou valorizados na empresa. Marta Bento definiu como principal objetivo há vários anos ser feliz onde quer que estivesse. “É uma forma de estar, uma atitude. Procuro e reforço os pontos positivos, procuro oportunidades de crescimento nos desafios que vão aparecendo”, explica. Trabalha na Caixa Geral de Depósitos há mais de vinte e quatro anos e conta que o segredo para ser feliz é conhecermos os nossos pontos fortes, colocá-los em prática diariamente e desenvolvê-los. Enquanto líder de equipa, potencia em cada colaborador os seus pontos fortes para que diariamente tenham sucessos individuais, que podem ser festejados em conjunto. Assim se constrói o espírito de equipa e se fortalece as ligações que permitem ultrapassar momentos mais desafiantes. “Os colaboradores têm um sorriso, sentem-se integrados, sentem que fazem parte de algo maior e a felicidade no trabalho é uma realidade para todos”, conta. Os resultados positivos dão um sentido de missão cumprida a Marta. Ao longo dos anos desenvolveu o seu próprio estilo de liderança positiva que assenta em dois pilares: o desenvolvimento dos colaboradores e a felicidade no trabalho. “Através de uma mudança de paradigma, do foco do cumprimento dos objetivos para o foco no desenvolvimento de equipas de Alta Performance, os resultados passaram a ser uma consequência e não o fim em si mesmo”, esclarece. Este método foi criado juntando a sua experiência profissional com a sua formação ao longo dos anos. “Quanto mais estudo mais temas interessantes a explorar encontro”, admite. Em 2020, fez um MBA em Gestão da Felicidade e do Capital Emocional nas Organizações, na Coimbra Business School. Este ano, Marta deixa o lugar de formanda para ser formadora na Pós-Graduação “Liderança Positiva e Felicidade 5.0”, no ISLA Santarém. O curso conta com módulos que promovem a reflexão e o conhecimento sobre a liderança positiva, a felicidade no trabalho e o bem-estar e segurança do ponto de vista da Felicida-

Ao longo dos anos desenvolveu o seu próprio estilo de liderança positiva que assenta em dois pilares: o desenvolvimento dos colaboradores e a felicidade no trabalho. “Através de uma mudança de paradigma, do foco do cumprimento dos objetivos para o foco no desenvolvimento de equipas de Alta Performance, os resultados passaram a ser uma consequência e não o fim em si mesmo.”

de 5.0. “Pretende-se contribuir para a disseminação de boas práticas produtivas e positivas, dotar líderes e futuros líderes de conhecimento e ferramentas que potenciem a felicidade no trabalho”, revela Marta Bento. Marta assegura que a Liderança Positiva é uma situação win-win, já que aumenta a produtividade e a felicidade dos colaboradores - os níveis de assiduidade aumentam e os fatores que potenciam o burnout diminuem, aumentando consequentemente a produtividade. A felicidade no mundo corporativo não é algo valorizado na cultura da maioria das empresas em Por-

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tugal. No entanto, têm-se observado mudanças nesse sentido, como por exemplo o aparecimento de novas profissões como Hapiness Officer ou Corporate Philosopher. As estratégias de motivação podem ir além do salário e as empresas começam a ser cada vez mais criativas, procurando dar benefícios que permitam um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Estas iniciativas inserem-se dentro do conceito de salário emocional “que surgiu no Butão e pretende precisamente introduzir novos parâmetros como a qualidade de vida e bem-estar.” Nesse sentido, Marta Bento está a desenvolver, em parceria com a consultora Mighty Mind, um programa que consiste na implementação do Gabinete de Gestão de Felicidade nas organizações – um espaço seguro de atendimento individual para partilha de emoções e desenvolvimento de objetivos, através de sessões de coaching e mentoring. Anteriormente, já tinha desenvolvido um programa para Capacitação de Líderes que apoia o processo de transição de um colaborador individual para Líder, com enfoque na Liderança Positiva. Como especialista em Liderança Positiva e Felicidade no Trabalho, Marta Bento é investigadora no projeto “Perspetivas sobre felicidade. Contributos para Portugal no World Happiness Report (WHR)”. Desde 2016, Portugal subiu 36 lugares no WHR. Mesmo com o surgimento da pandemia, continuamos a subir em 2020 e 2021, estando atualmente em 58º lugar, mais um do que o ano passado. Mudanças geracionais, de atitude e perceção são alguns dos motivos que Marta aponta para a construção deste caminho positivo. Para continuar esta subida é necessário estudar as boas práticas de países que estão à frente de Portugal no WHR. “É necessário inovar

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e ter coragem de começar a trilhar novos caminhos”, afirma a investigadora. Dá como um bom exemplo o programa Happy Schools, implementado este ano, numa parceria entre a Direção Geral da Educação Escolar e o Instituto Universitário Atlântica. Este programa de formação é dirigido a Diretores de Escolas, Diretores de Agrupamentos de Escolas, Presidentes de Conselho Geral e outros docentes com responsabilidades de gestão no sistema educativo português. “É por aqui que se pode começar uma mudança cultural, pelas escolas, desde o início da formação, com novos currículos, novas abordagens e programas”, garante Marta.

Marta Bento está a desenvolver, em parceria com a consultora Mighty Mind, um programa que consiste na implementação do Gabinete de Gestão de Felicidade nas organizações – um espaço seguro de atendimento individual para partilha de emoções e desenvolvimento de objetivos, através de sessões de coaching e mentoring.


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Marta Bento, Especialista em Liderança Positiva e Felicidade no Trabalho

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RAQUEL SAMPAIO

A LUTA PELA IGUALDADE DE OPORTUNIDADES NO FUTEBOL FEMININO

A luta pela igualdade de oportunidades que o futebol masculino tem e que o feminino ainda não tem é uma marca do percurso de Raquel Sampaio. A ligação e a paixão pelo futebol já é antiga. Raquel Sampaio tem apenas 31 anos. Começou como jogadora no Estoril Praia, e nos tempos de jogadora, era ela que lavava os equipamentos e que pagava para jogar. Foi por isso que, quando pendurou as chuteiras, decidiu que queria fazer o caminho fora dos relvados. Aliando o sonho à oportunidade, tornou-se Diretora do Futebol Feminino do Sporting Clube de Portugal em 2016 - para profissionalizar a modalidade e oferecer às jogadoras as condições que nunca teve. No entanto, apercebeu-se que a capacidade e vontade em ajudar jogadoras ia muito para além de cores ou símbolos. Graças a isso, fundou a Teammate Football Management, no início do mês de agosto. “A minha experiência enquanto jogadora faz com

“A minha experiência enquanto jogadora faz com que saiba exatamente quais são as necessidades, dentro e fora das quatro linhas. Sei quais são as falhas e isso permite-me ter mais informação e recursos para mudar as coisas.”

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que saiba exatamente quais são as necessidades, dentro e fora das quatro linhas. Sei quais são as falhas e isso permite-me ter mais informação e recursos para mudar as coisas”, admite. Tudo começou quando tinha 12 anos. Logo aí fez a diferença ao tornar-se a primeira rapariga a jogar na equipa do Estoril. Na altura teve de fazê-lo com rapazes, uma vez que não existia uma equipa de futebol feminino. Deixou a equipa dois anos depois: já não tinha a idade permitida para jogar em equipas mistas e o clube não possuía equipas femininas. Apesar disso, Raquel admite que “o bichinho do futebol não desapareceu. Em 2011, já com 20 anos, pro-

“Trata-se da primeira agência dedicada exclusivamente ao futebol feminino. O que me move é a luta pela igualdade de oportunidades, como as atletas serem tratadas como atletas seniores que são, terem as mesmas condições que uma equipa sénior masculina tem, como terem o seu próprio balneário, treinarem em relva ou puderem escolher os horários de treino.”

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curei o Estoril para perceber se estavam disponíveis em abrir o futebol feminino sénior e eles acolheram muito bem a ideia. O projeto avançou e, para além de jogadora, dei ainda apoio na vertente do Marketing e da Publicidade, onde iniciei a minha vertente profissional”. Em 2016, mudou novamente de vida. Arriscou e apresentou um projeto para o futebol feminino no Sporting. O clube de Alvalade aceitou e Raquel Sampaio ficou como Diretora Desportiva até ao final de 2018. “A experiência no Sporting foi uma verdadeira escola. Aprendi muito, tive grandes experiências, e quando saí, percebi que podia fazer ainda mais pelo futebol feminino. Tive também contacto com o mundo do agenciamento e percebi que não existem, em Portugal, agências só para o futebol feminino”. A Teammate Football Management surgiu dessa necessidade, e entrou em funcionamento em agosto deste ano. “Trata-se da primeira agência dedicada exclusivamente ao futebol feminino. O que me move é a luta pela igualdade de oportunidades, como as atletas serem tratadas como atletas seniores que são, terem as mesmas condições que uma equipa sénior masculina tem, como terem o seu próprio balneário, treinarem em relva ou puderem escolher os horários de treino, “coisas básicas”, ou seja, nem estamos ainda, e infelizmente, a falar na questão dos salários, mas de pequenas coisas”, acrescenta. Ainda segundo Raquel Sampaio, fundadora do projeto, “o meu objetivo, nos últimos dez anos, tem sido mudar o paradigma nacional no que diz respeito ao futebol feminino e garantir as mesmas condições que os homens já têm. Primeiro como diretora desportiva e hoje em dia, como agente”. A Teammate garante um apoio que vai além do momento da contratação, renovação ou transferência, oferecendo um serviço 360°, que potencia a jogadora no pré-carreira, na profissionalização e na transição pós-futebol. Fazem parte do projeto profissionais da área da Psicologia do Desporto e Performance, Nutrição, Analista, Personal Trainer e Consultoria de Transição de Carreira. Um dos objetivos é estar ao lado das jogadoras, dos clubes e das marcas, durante todo o ano, potenciando as atletas e criando condições favoráveis de trabalho. Mas o serviço que distingue é mesmo o acompanhamento pós-carreira. “Este é um tema ainda sensível. Apoiamos as jogadoras no momento em que querem pendurar as chuteiras. Pedimos que nos transmita com alguma antecedência para trabalharmos em conjunto”. Atualmente, já pertencem à equipa jogadoras internacionais de renome como Inês Pereira, guarda-redes da Seleção Nacional e do Servette FCCF, Rute Costa, guarda-redes da Seleção Nacional e do FC Famalicão, Mónica Mendes, defesa da Seleção Nacional e do Servette FCCF, Sofia Silva, defesa da Seleção Nacional Sub23 e do SC Braga, Ágata Filipa, defesa da Seleção Nacional e do Glasgow City FC, Fátima Pinto, médio da Seleção Nacional e do Sporting CP, Francisca Cardoso, avançada da Seleção Nacional e do SC Heerenveen, e Mariana Cabral, treinadora do Sporting CP.


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