Liderança no Feminino - Julho 2021

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GERIR O TEMPO PARA "VIVER EM VEZ DE SOBREVIVER” Joana Rei Duque, Médica Dentista e Coach

#38 JULHO 2021

“ATRAVÉS DOS ALOJAMENTOS DOU A CONHECER O NOSSO PAÍS E A NOSSA CULTURA” Irina Peixoto, Ceo da Oh My Guest

MUDAR PARA ENCONTRAR A FELICIDADE

Liderança no Feminino é uma publicação da responsabilidade editorial e comercial de Sandra Arouca | Periodicidade mensal | Venda por assinatura 8€

Cristina Silva, Diretora Geral da CS Imóveis

RITA VELOSO

“URGE TRANSFORMAR DIGITALMENTE A SAÚDE”


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ÍNDICE

05 | Editorial 06 | "Urge transformar digitalmente a saúde" Rita Veloso, Vogal Executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto 12 | Gerir o tempo para "Viver em vez de sobreviver” Joana Rei Duque, Médica Dentista e Coach

06 16 | “Através dos alojamentos dou a conhecer o nosso país e a nossa cultura” Irina Peixoto, CEO da Oh My Guest 20 | Mudar para encontrar a felicidade Cristina Silva, Diretora Geral da CS Imóveis 24 | Liderança Intencional Maria Tavares Leal, Manager na pur´ple 28 | Desde sempre tive o gosto de aprender e de ensinar Antonieta Lima, CEO da Calculóminuto - CM, empresa de consultoria

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EDITORIAL

Nesta edição de julho a Revista Liderança no Feminino destaca as líderes de sucesso que se adaptaram a novos modelos de negócio, desafiando-se a si mesmas. E, líderes inovadores são líderes inspiradoras! 32 | Sara Sousa assume cargo de General Manager da Blip Sara Sousa, General Manager da Blip

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A disrupção causada pela pandemia levou a que, as organizações se tenham tornado mais resilientes e adaptadas a esta nova realidade. Um dos setores que mais se adaptou e acelerou a transformação digital foi a saúde. Em destaque desta edição temos Rita Veloso, vogal executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto e, em todos os cargos que ocupou, procurou implementar uma cultura digital, que considera a peça-chave para uma sociedade evoluída e eficaz na área da saúde. Joana Rei Duque é Médica Dentista há mais de 15 anos, casada e mãe de três filhos. Quando a vida lhe mostrou que pode ser efémera, decidiu aproveitar cada dia da melhor forma e ajudar todos à sua volta a fazer o mesmo, tornando-se formadora e coach.

34 | O lado empreendedor da apresentadora Diana Taveira Diana Taveira, Apresentadora da RTP e Empresária 36 | A Fundação do Gil está a construir uma clínica especializada na saúde mental infantil 40 | Livro: "Uma chance ao destino" Maria Inês Rodrigues

Irina trabalhou na aviação por mais de uma década. Depois de visitar inúmeros países, decidiu assentar em Portugal e criar uma empresa de Gestão de Alojamentos Locais. O amor por contar as histórias de cada lugar, satisfazer as necessidades dos hóspedes e partilhar a cultura portuguesa motivaram-na a continuar e superar os obstáculos da pandemia. Cristina Silva trabalhou na Cofidis Portugal durante 20 anos. Deu tudo de si e quando sentiu que já não poderia voar mais alto saiu em busca de felicidade e realização profissional. Criou a sua própria prosperidade ao abrir um negócio de família no setor imobiliário – a CS Imóveis. A Maria é Manager na pur'ple, atividade que concilia com a prática de Coaching e com a missão de disponibilizar conteúdos relevantes para a Liderança Intencional através do seu canal de Youtube e da sua página de Instagram. Antonieta Lima é professora universitária e coautora de vários livros. Criou a Calculóminuto - CM, empresa de consultoria da qual é ceo, que atua, por um lado, ao nível da gestão empresarial, controlo de gestão, e otimização de processos, e por outro, ao nível do ensino universitário e da formação.

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Lideres que inspiram. Estas são apenas alguns exemplos de histórias inspiradoras! E inspirar é ter visão de futuro. Boas leituras. Boas férias. Sandra Arouca

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Rita Veloso, Vogal Executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto

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“URGE TRANSFORMAR DIGITALMENTE A SAÚDE” Rita Veloso é vogal executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto e, em todos os cargos que ocupou, procurou implementar uma cultura digital, que considera a peça-chave para uma sociedade evoluída e eficaz na área da saúde.

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Rita Veloso sempre foi uma alma inquieta. Entre as atividades extracurriculares e os trabalhos de verão, nunca deixou de se envolver em novos projetos. Quando chegou à universidade, decidiu licenciar-se em psicologia, porque sempre foi fascinada pelas pessoas, pelas organizações e pela imprevisibilidade desta área. Conta no currículo com anos de gestão de unidades de saúde. Com apenas 27 anos assumiu a direção do Serviço de Gestão de Doentes do IPO do Porto, um dos maiores serviços da instituição. Foi um desafio que ultrapassou “com paixão e dedicação”, recorda. Trocou o IPO pelo Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Póvoa de Varzim e Vila do Conde, onde se tornou vogal executiva. Acabaria por regressar ao Porto no início de 2021 para aceitar o cargo de vogal executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUPorto), que até hoje classifica como o seu “maior e mais exigente desafio profissional.” Trabalhar numa instituição com mais de 250 anos acarreta uma responsabilidade acrescida e começar as funções a meio de uma pandemia não facilitou a transição. Nos primeiros dois meses, Rita deslocou-se a todas as unidades do CHUP para conhecer a realidade de cada uma e leu todas as obras relacionados com a história do hospital. “Chegar na primeira hora do dia é também rotina de que não abdico”, revela. O CHUPorto foi, durante a vaga de janeiro a março, o hospital que mais doentes com COVID-19 recebeu. Mesmo assim, continuou com a atividade normal, alcançando a maior produção cirúrgica de sempre no primeiro semestre. “Conseguimo-lo com gestão diária, uma implementação de boas práticas e ferramentas, mas essencialmente, alcançámo-lo com a motivação e a dedicação dos nossos colaboradores”, afirma a vogal executiva. Durante este primeiro semestre, o hospital implementou também uma app, com o objetivo de proporcionar soluções inovadoras na área da experiência do doente. Por todas as metas alcançadas e pela dedicação de todos os colaboradores, Rita faz um balanço positivo do desempenho do hospital nestes tempos particularmente desafiantes. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM TEMPOS DE CRISE Ao longo do seu percurso, Rita Veloso tem assumido como missão construir uma cultura digital nas instituições onde trabalha, porque acredita que assim se alcançará uma sociedade mais evoluída, justa e equitativa. Esteve envolvida em inúmeros projetos de transformação digital e de implementação de sistemas de informação. Por isso, decidiu investir em formação na área, sendo atualmente doutorada em Tecnologias da Informação e Comunicação. Com o aparecimento da COVID-19 e as medidas de distanciamento social, o setor da saúde viu-se obrigado a recorrer ainda mais às tecnologias e aos processos digitais. Rita reconhece que as instituições não começaram todas no mesmo patamar e que ainda há muito para fazer de forma a acelerar esta transição digital. Para a administradora, o foco deve ser menos

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Rita Veloso, Vogal Executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto

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ambicioso, porque na base ainda existe muito para melhorar. “Se perguntar aos nossos médicos e enfermeiros em matéria de sistemas de informação o que melhorou verdadeiramente com a COVID-19, receio que a resposta seria muito próxima do nada”, lamenta. O processo moroso da digitalização da saúde não se trata de uma questão de tecnologia nem, na maioria dos casos, de falta de fundos. É sim uma questão de liderança e de gestão. “Todos sabemos que existem inúmeros programas de financiamento, mas que, ou somos pouco ambiciosos a recorrer aos mesmos, ou falhamos na sua execução”, explica. Mas não está de todo pessimista, como exemplo de sucesso refere o Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim e de Vila de Conde, onde as receitas em papel passaram a representar 70/75% das receitas diárias, quando a média nacional era inferior a 10%. Enquanto serviu no hospital, esteve envolvida em várias iniciativas ligadas à literacia digital – chegou até a levar o hospital à praia, com o objetivo de aumentar o envolvimento da comunidade. Atualmente, a média do hospital mantém-se nos 80% de receitas sem papel enquanto a média nacional ainda não ultrapassa os 25%. Os resultados contínuos são, segundo Rita, uma prova de liderança sustentada. O Plano de Recuperação e Resiliência prevê uma verba de 300 milhões para a melhoria das infraestruturas digitais e sistemas de informação. A administradora realça que é necessário investir este financiamento na implementação de ferramentas que mitiguem o risco de ciberataques – que acredita serem muitos – , ou na criação de um repositório único de informação de saúde dos cidadãos. As possibilidades são quase infinitas. Este investimento deve ter também em conta a integração de projetos de investigação internacionais. No caso do CHUPorto, já existe um departamento dedicado e organizado que lidera este tipo de projetos. “É responsabilidade das administrações e lideranças promover tempo protegido aos seus profissionais para os prepararem e se dedicarem a estas áreas. Os projetos não podem continuar a ser implementados com “um façam lá mais um esforço”, ilustra. A inquietude de Rita mantém-se até hoje, com a procura incessante de novos projetos e oportunidades. Para além do seu cargo no hospital acumula ainda responsabilidades em outras organizações, como a Assembleia Geral da Associação Portuguesa Desenvolvimento Hospital ou O Grupo de Trabalho para a Gestão da Informação em Saúde da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. É professora convidada no ensino pós-graduado em algumas áreas, experiência da qual não abdica por acreditar que pode fazer a diferença nas gerações futuras. Ao longo dos anos participou em vários programas e iniciativas, como a Young Executive Leaders da International Hospital Federation em 2020. Foi também deputada na Comissão de Tecnologias de Informação da Saúde do Health Parliament Portugal em 2016. Apesar de gratificantes, estas experiências exigem muito do seu tempo. Para gerir tudo, Rita trabalha por turnos: “Das 07:00 às 08:00 sou mãe, das 08:00 até ao final da tarde sou administradora de um hospital e en-

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tre as 20:00 e as 22:00 entro no meu terceiro turno de mãe, mulher, dona de casa.” Há ainda dias em que tem mais turnos, como professora ou aluna. O equilíbrio entre a família e o trabalho é a sua maior aspiração e sempre tomou decisões nesse sentido. No início da carreira, uma empresa que pretendia recrutá-la, colocou como condição não ser mãe antes dos 35 – proposta que recusou sem pensar duas vezes. Ser mulher traz obstáculos acrescidos no mercado de trabalho, mas Rita nunca se deixou afetar, não deixando transparecer qualquer insegurança. Desde jovem que assumiu cargos de liderança e está habituada à excelência. “Trabalha-se muito e espera-se de nós muito carácter, resiliência, transparência, ética e lealdade, admite.”Essas são também as chaves para se ser um líder que o faz pelo exemplo e não por decreto.

“É responsabilidade das administrações e lideranças promover tempo protegido aos seus profissionais para os prepararem e se dedicarem a estas áreas. Os projetos não podem continuar a ser implementados com um façam lá mais um esforço." “Trabalha-se muito e espera-se de nós muito carácter, resiliência, transparência, ética e lealdade, admite. Essas são também as chaves para se ser um líder que o faz pelo exemplo e não por decreto."


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Rita Veloso, Vogal Executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Porto

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JOANA REI DUQUE

GERIR O TEMPO PARA “VIVER EM VEZ DE SOBREVIVER” Joana Rei Duque é médica dentista há mais de 15 anos, casada e mãe de três filhos. Quando a vida lhe mostrou que pode ser efémera, decidiu aproveitar cada dia da melhor forma e ajudar todos à sua volta a fazer o mesmo, tornando-se formadora e coach.

Sempre foi uma mulher ativa, que fazia “1001 coisas e atividades.” É médica dentista há mais de 15 anos e quando era jovem sonhava seguir medicina na faculdade – duas décimas mudaram o seu percurso. Depois de assistir a consultas dos alunos de 6º ano de medicina dentária apaixonou-se pela profissão. “Percebi que é uma ocupação em que somos médicos, psicólogos, engenheiros, artistas e que podemos mudar a vida de uma pessoa”, diz. Em 2014, descobriu que tinha um tumor na cabeça. Esta nova realidade fê-la repensar a vida e na postura perante o tempo que lhe sobrava. “Todos sabemos que não somos eternos, mas só quando essa realidade se torna presente é que realmente despertamos”, conta. A partir daí, definiu como prioridade gerir melhor o seu tempo, de forma a aproveitar a existência ao máximo. Leu sobre coaching, gestão de tempo e produtividade e percebeu que muito do que aprendeu já colocava em prática. Em 2018, decidiu partilhar o seu conhecimento e começou a dar formação de forma independente. Tem atualmente disponível vários cursos online e ebooks sobre temáticas de produtividade e gestão de tempo. Joana acredita que uma boa gestão de tempo pode mudar por completo a forma de viver o mundo: “Passamos a viver em vez de sobreviver”, afirma. Médica dentista, formadora, coach, casada e mãe de três filhos, tem de colocar em prática o que ensina para gerir o seu próprio tempo. O segredo: não ser perfecionista. É também essencial aceitarmos que não conseguimos ser perfeitas a toda a hora – “quando sou mãe, sou mãe, quando sou dentista, sou dentista e quando sou formadora, sou formadora. E falho algumas vezes, mas aceito isso sem culpas. É o que é”, admite a formadora. Este conselho é dirigido principalmente para as mulheres que têm de desempenhar vários papéis ao longo do dia. Joana revela que muitas das suas alunas e clientes se remetem para último lugar, quase sempre inconscientemente, o que se torna perigoso. Nos dias de hoje, em que o quotidiano se desenvolve a um ritmo frenético e exaustivo, é complicado gerir o dia-a-dia para conseguir fazer tudo. Segundo Joana, um dos principais erros na gestão de tempo do quotidiano é a falta de clareza para assimilar que o que fazemos de uma forma automática, sem pensar, não precisa de ser

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feito da mesma forma e deve ser alterado caso não nos faça bem. Por outro lado, muitas vezes também não refletimos o suficiente para sabermos o que gostamos de fazer, quais são os nossos objetivos e com o que devemos preencher o nosso dia. Por fim, um grande erro é achar que é impositivo ser perfeita. “Não sou, nem quero ser supermulher”, e acrescenta que ninguém deveria tentar ser. Todas estas falhas combinadas perturbam a nossa clareza para definir prioridades. Não ter tempo para nós próprios, a falta de autocuidado, pode ter também consequências graves.

Médica Dentista, formadora, coach, casada e mãe de três filhos, tem de colocar em prática o que ensina para gerir o seu próprio tempo. O segredo: não ser perfecionista. É também essencial aceitarmos que não conseguimos ser perfeitas a toda a hora – “quando sou mãe, sou mãe, quando sou dentista, sou dentista e quando sou formadora, sou formadora. E falho algumas vezes, mas aceito isso sem culpas."


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Joana Rei Duque, Médica Dentista e Coach

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Joana Rei Duque, Médica Dentista e Coach

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Atualmente, um possível inimigo da produtividade é o telemóvel. O scroll infinito pelas redes sociais ou o desperdício de tempo com conteúdo frívolo tornou-se parte do dia-a-dia de muitos. “O problema surge quando o usamos de uma forma incessante e quando não sabemos parar. “O telemóvel deve ser utilizado como um ajudante da produtividade”, e para isso devem-se adotar alguns hábitos saudáveis, como por exemplo não o utilizar nos 30 minutos antes de ir dormir. Ficar longe dos ecrãs tornou-se uma tarefa mais complicada com o teletrabalho. O escritório invadiu a nossa casa e dividir a vida pessoal da profissional representa um desafio. Reconhecendo essa adversidade, Joana criou um programa online dedicado a essa temática. Segundo a formadora, o mais importante é criar rotinas com horários a cumprir– definir horas para começar e terminar o trabalho, fazer pausas para o almoço e o lanche. Pode também implicar criar rituais de transi-

ção, como continuar a beber um café antes de começar a trabalhar, mesmo que se não saia de casa. É também importante separar fisicamente o trabalho indoor, mesmo que não exista uma divisão específica que sirva como escritório, deve-se guardar as coisas de trabalho quando terminar. “Todos estes aspetos são essenciais para dizermos ao nosso cérebro quando estamos em modo trabalho e em modo casa”, conclui Joana. No final de contas, para cada pessoa existe uma estratégia diferente que funciona. É necessário experimentar e perceber qual se encaixa na sua vida. Forçar estratégias erradas é predeterminar o fracasso. A internet está repleta de métodos e planos de rotinas produtivas, que qualquer um pode experimentar. Umas mais fáceis que as outras – há quem aconselhe acordar às cinco da manhã para ter um dia verdadeiramente produtivo. Para Joana Duque, o essencial é ativar a mente e o corpo, seja com meditação, exercício físico ou apenas ler. “Não acredito em fórmulas mágicas que funcionam para todos.”

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Irina Peixoto, CEO da Oh My Guest

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IRINA PEIXOTO

“ATRAVÉS DOS ALOJAMENTOS DOU A CONHECER O NOSSO PAÍS E A NOSSA CULTURA” Irina trabalhou na aviação por mais de uma década. Depois de visitar inúmeros países, decidiu assentar em Portugal e criar uma empresa de Gestão de Alojamentos Locais. O amor por contar as histórias de cada lugar, satisfazer as necessidades dos hóspedes e partilhar a cultura portuguesa motivaram-na a continuar e superar os obstáculos da pandemia.

Durante 13 anos, Irina passou grande parte do seu tempo nas nuvens, a trabalhar como assistente de bordo e Planning and Crew Control. Viajou para diversos países e conheceu culturas diferentes. Foram tempos de aprendizagem constante, tanto a nível de metodologia como de gestão de stress. Apesar de gostar do trabalho, as saudades de Portugal estavam sempre presentes em cada viagem. Por isso, decidiu aliar o seu gosto pelo turismo ao amor pela sua casa e criar uma empresa que a permitisse contactar com novas realidades sem sair do país. A Oh My Guest surgiu em maio de 2018 e foca-se na gestão completa de Alojamentos Locais. “Foi algo que foi fluindo. O gosto pelo

“Foi algo que foi fluindo. O gosto pelo turismo aliou-se à vontade de dar a conhecer o nosso Portugal tanto aos de fora como aos nacionais.” turismo aliou-se à vontade de dar a conhecer o nosso Portugal tanto aos de fora como aos nacionais”, conta Irina. As oportunidades surgiram inicialmente na zona de Lisboa e Setúbal, mas gradualmente alargaram horizontes, estando atualmente presentes de Norte a Sul do país. A sede é em Santa Iria de Azoia mas a CEO desloca-se para todo o lado, porque faz questão de conhecer pessoalmente todos os proprietários, alojamentos e membros da equipa. “É importante criar este elo e isso não se faz no escritório - o meu escritório acaba por ser no carro”, brinca. Para Irina, a Gestão de Alojamentos Locais é muito

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“Transformei os nossos alojamentos para turistas em alojamentos para empresas e desta forma minimizar o impacto da pandemia.” “Não podemos ter medo e deixar de fazer aquilo que gostamos. Ao longo da vida vamos ter sempre obstáculos, uns mais complicados que outros. O segredo é não baixar os braços e seguir em frente.”

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mais do que um negócio - é uma paixão. Cada alojamento local é diferente e único, com uma história que ajuda a contar. “Apaixonei-me pela minha empresa e por aquilo que ela proporciona a quem recorre a ela. Hoje orgulho-me de dizer que através dos alojamentos dou a conhecer o nosso país e a nossa cultura”, afirma. Criar um Alojamento Local é um procedimento complicado e a Oh My Guest apresenta soluções para facilitar o processo, desde a comunicação e limpeza até ao check in e check out. Para cada cliente, oferece respostas personalizadas para os seus problemas - “a ideia é saírem todos a ganhar: os hóspedes, os proprietários e nós.” A confiança é um fator importante em todos os negócios e por isso mantém uma relação de grande proximidade entre os seus colaboradores - só assim se alcança um bom ambiente de trabalho que se traduz em serviços de qualidade. “Qualquer um de nós, tenha ele a função que tiver na empresa, é importante para a máquina funcionar”, explica Irina Peixoto. Num momento de crescimento da empresa, a pandemia surgiu e alterou os planos. “Ninguém estava minimamente preparado”, relembra a CEO. Foi necessário reestruturar a dinâmica da empresa para se adaptar à nova realidade - alterou o foco no turista estrangeiro para se concentrar nos portugueses e nas suas necessidades. “Transformei os nossos alojamentos para turistas em alojamentos para empresas e desta forma minimizar o impacto da pandemia”, explica a empresária. Em retrospetiva, depois de um ano e meio repleto de dúvidas e desafios, Irina arriscaria tudo de novo. Olha para este período como um momento de aprendizagem, que demonstrou a sua capacidade de resolver e contornar situações complicadas. “Não podemos ter medo e deixar de fazer aquilo que gostamos. Ao longo da vida vamos ter sempre obstáculos, uns mais complicados que outros. O segredo é não baixar os braços e seguir em frente”, acrescenta. Como muitas outras mulheres no mundo empresarial, teve obstáculos acrescidos pela descriminação de género. Em vários momentos da sua carreira, sentiu que o fato de ser mulher condicionou alguns negócios. “Como em todas as áreas, nem sempre a mulher é vista como uma figura credível. Mas é importante que isso nunca nos afete”, afirma Irina. A Oh My Guest está a explorar vários setores do mercado turístico. Para além da gestão total de alojamentos, têm ainda parcerias com outras empresas na parte da prestação de serviços que pretendem expandir. Recentemente iniciaram ainda uma área de formação especializada direcionada para formar profissionais para o alojamento local. “Esta formação era dada apenas internamente mas agora vamos iniciar a formação certificada para todos os que queiram desempenhar as suas funções dentro das exigências do mercado.” Estas exigências passam por dominar a “arte do bem receber” - ser um anfitrião disponível e dedicado aos hóspedes, sempre com um sorriso nos lábios, e “acima de tudo com gosto por aquilo que se faz”, descreve Irina.


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Irina Peixoto, CEO da Oh My Guest

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CRISTINA SILVA

MUDAR PARA ENCONTRAR A FELICIDADE Cristina Silva trabalhou na Cofidis Portugal durante 20 anos. Deu tudo de si e quando sentiu que já não poderia voar mais alto saiu em busca de felicidade e realização profissional. Criou a sua própria prosperidade ao abrir um negócio de família no setor imobiliário – a CS Imóveis.

A realização pessoal e a felicidade passam muitas vezes pela satisfação e pelo prazer com que desempenhamos o nosso trabalho. A profissão assume eventualmente um grande papel no bem estar emocional. Após 20 anos na Cofidis Portugal, Cristina Silva sentiu que já tinha cumprido a sua missão com excelência. Esteve treze anos a desenvolver funções em todas as áreas operacionais, na área de contacto com o cliente, e, nos últimos sete, fez parte da criação de uma nova direção, responsável por implementar metodologias, regras e procedimentos, transversalmente, na organização. Apesar de ter sido uma experiência gratificante numa empresa onde cresceu, não só a nível profissional como pessoal, e ultrapassou grandes desafios, sentiu que o seu caminho tinha chegado ao fim. “Pressenti que, a partir daquele momento, nem eu, nem a empresa, teríamos a ganhar com a minha presença”, recorda. Decidiu sair fora da sua zona de conforto e da empresa que foi a sua casa durante duas décadas, abandonando uma carreira, uma situação financeiramente confortável e a sua estabilidade. “Sempre arrisquei muito pouco, mas não era feliz e queria voltar a sê-lo. E, só isso, foi o empurrão de que precisava para decidir arriscar”, recorda. Atraída pela comunicação e relações humanas, viu no setor imobiliário uma oportunidade de carreira. Para esta nova empresária, trata-se de uma área que assenta na confiança e nas relações interpessoais com aqueles que procuram a mediação imobiliária para “investir ou realizar alguns dos seus sonhos.” No início de 2017, decidiu, então, com a sua família, criar um negócio. Começaram a atividade no setor imobiliário através da integração numa rede de franchising nacional. Após dois anos no mercado, Cristina decidiu novamente arriscar e dar continuidade ao negócio com uma marca própria. “Éramos autónomos, mas não independentes”, esclarece. Queria a liberdade de poder decidir o futuro e a evolução do negócio e assim o fez: em 2019 criou a CS imóveis, mantendo a mesma equipa, carteira de clientes e parceiros. A aposta parece ter sido inspirada: nos últimos anos, vários rankings internacionais colocam Portugal como um dos melhores destinos para investir em

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“Atraída pela comunicação e relações humanas, viu no setor imobiliário uma oportunidade de carreira. Para esta nova empresária, trata-se de uma área que assenta na confiança e nas relações interpessoais com aqueles que procuram a mediação imobiliária para “investir ou realizar alguns dos seus sonhos.”


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Cristina Silva, Diretora Geral da CS Imóveis

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imóveis, por ser cada vez mais seguro e rentável. Mesmo sendo detentora de uma microempresa, Cristina revela que sente interesse por parte de investidores estrangeiros. Com o surgimento do COVID-19, todos os setores económicos foram afetados e o imobiliário não foi exceção. A CS Imóveis aproveitou a altura para se focar nas necessidades internas e em novas oportunidades – obtiveram autorização do Banco de Portugal para exercer atividades como Intermediários de Crédito à Habitação, integraram novos colaboradores e estão a preparar a evolução da empresa para assumir novos passos mais arrojados. “Hoje estamos mais fortalecidos”, afirma a empresária. Contudo, a pandemia não alterou só o mercado, como também mudou os clientes. A casa assumiu um papel primordial durante a pandemia, especialmente durante o confinamento. Passou a funcionar como escritório, escola e até ginásio. Cristina admite que este período alterou, e vai continuar a alterar, as escolhas das pessoas no que toca à aquisição de habitação permanente. “Há, de facto, uma tendência para escolher apartamentos com espaço exterior, moradias e localizações fora do ambiente citadino”, especifica. Olhando para trás, não se arrepende da sua tomada de decisão quando decidiu mudar de carreira. Afinal, o que importa é a felicidade. “Há que ser fiel aos nossos valores e, mesmo que à nossa volta nem todos compreendam, devemos decidir dizendo, apenas, a nossa verdade.”

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“Olhando para trás, não se arrepende da sua tomada de decisão quando decidiu mudar de carreira. Afinal, o que importa é a felicidade. “Há que ser fiel aos nossos valores e, mesmo que à nossa volta nem todos compreendam, devemos decidir dizendo, apenas, a nossa verdade.”


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Maria Tavares Leal, Coach em Liderança e Manager na pur´ple

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MARIA TAVARES LEAL

LIDERANÇA INTENCIONAL A Maria é Manager na pur'ple, atividade que concilia com a prática de Coaching e com a missão de disponibilizar conteúdos relevantes para o desenvolvimento profissional através do seu canal de Youtube e da sua página de Instagram.

Com uma licenciatura e um mestrado em Filosofia, e com um passado profissional como bailarina e professora de Tango Argentino, ao iniciar a sua vida profissional como professora e investigadora, percebeu que gostaria de experimentar o mundo das organizações. Nesse sentido, integra a PT Contact como Técnica de Recursos Humanos onde contactou pela primeira vez com as temáticas de liderança. A vontade de aprofundar o seu conhecimento organizacional, levou a um Mestrado Executivo em Gestão no INDEG/ISCTE e a entrar no mundo da consultoria de Human Capital. É neste âmbito que passa pela Deloitte, Hay Group/ Korn Ferry e Boyden. Para solidificar a prática como Assessor e como Coach, frequenta cursos de Comunicação Não-Violenta, Mindfulness, Yoga e fez a Certificação em Coaching na Way Beyond. Com o propósito de continuar a fazer diferente, aceita o desafio da pur’ple que abraça atualmente.

LIDERANÇA INTENCIONAL Enquanto a Liderança continuar a ser vista como uma posição dentro de uma determinada organização, estaremos a limitar o potencial do conceito, e o potencial de todos os indivíduos numa determinada sociedade. Etimologicamente, o verbo liderar está relacionado com ações como dirigir, conduzir, chefiar e, naturalmente, indivíduos que assumem essas ações perante outros acabam por ser considerados líderes. No entanto, pela experiência empírica podemos sempre pensar em quem verdadeiramente influenciou as nossas escolhas e as nossas decisões e, certamente, nos apercebemos que nem sempre foram líderes formais que o fizeram. É nesta perspetiva de verdadeira influência que me parece importante endereçar a liderança e, para isso, é preciso que todos estejamos conscientes da influência que podemos ter uns nos outros. É um “super-poder” enorme. Parece bastante óbvio que estamos sempre a dar um exemplo com as nossas ações, com as nossas palavras, com as nossas decisões e escolhas. O que não é tão óbvio é o facto de também darmos o exemplo com as nossas inações, com o que não dizemos, com as nossas indecisões. Tanto no que fazemos como no que não fazemos, somos o exemplo de algo. A intencionalidade vem no cuidar desse exemplo que

queremos dar, na medida em que consigamos estar a ser aquilo que queremos ser. Além disso, quer queiramos quer não, estamos sempre a ser observados, catalogados e podemos ser passivos ou ativos no que queremos e podemos influenciar. E, por isto, todos podemos ser líderes se assim o quisermos ser. Curiosamente, muitos dos que gostariam de ser líderes, não tomam a decisão consciente e intencional de o ser, e outros que até estão em posições consideradas de liderança, não cuidam do papel de influên-

“Pela experiência empírica podemos sempre pensar em quem verdadeiramente influenciou as nossas escolhas e as nossas decisões e, certamente, nos apercebemos que nem sempre foram líderes formais que o fizeram. É preciso que todos estejamos conscientes da influência que podemos ter uns nos outros. É um “super-poder” enorme. Parece bastante óbvio que estamos sempre a dar um exemplo com as nossas ações, com as nossas palavras, com as nossas decisões e escolhas."

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Maria Tavares Leal, Coach em Liderança e Manager na pur´ple

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cia que têm. Acabam por atuar reagindo a estímulos externos, tendencialmente repetem comportamentos que em experiências anteriores lhes transmitiram segurança e não assumem o privilégio de poder influenciar os que os rodeiam. Por outro lado, há quase sempre um arrepio desconfortável quando falamos em “influência” pois muitas vezes associamos a capacidade de influência a não genuinidade, não autenticidade, às segundas intenções, mas se partirmos do ponto já referido: quer queiramos quer não estamos sempre a dar um exemplo, então por que não cuidar desse exemplo de uma forma intencional? E para tornar esta ambição realista, a intencionalidade vê-se não só no estabelecimento de uma visão para a nossa própria vida, que pode e deve ir mudando em contextos e momentos distintos, mas sobretudo nas pequenas escolhas que fazemos no quotidiano, no dia-a-dia, vê-se na escolha de preferir falar com alguém a enviar um e-mail que até poderia resolver o tema de forma mais rápida, mas que não permite conexão, no esforço consciente de saber o nome do gato de um colega de trabalho, na decisão de abrandar o ritmo porque vemos que estamos a ficar fora de uma zona de controlo emocional, no não adiar conversas desconfortáveis, no pedir ajuda quando precisamos, vê-se na veracidade do que dizemos e do que não dizemos, entre muitos outros pequenos exemplos, porque tão importantes como as competências estratégicas são as competências de conexão que precisamos para liderar. A intenção com que fazemos o que fazemos dá significado que pode ter repercussões muito além do que sozinhos por ação própria conseguimos alcançar. Cuidar intencionalmente do exemplo que estamos a ser, cuidar intencionalmente dos que nos rodeiam, cuidar

“Não são os grandes feitos individuais ou as grandes mudanças e transformações organizacionais que enchem os Currículos que fazem os grandes líderes, é a influência intencional que deixam por onde passam.” intencionalmente dos princípios que defendemos e sermos coerentes com os mesmos, é uma intenção individual nas pequenas coisas que permite grandes feitos em comunidade. A Liderança Intencional é uma escolha, não pode ser concedido nem pedido a ninguém este papel, é uma escolha individual em querer ser uma influência positiva nos outros e, para isso, não é preciso nenhuma nomeação oficial. Não são os grandes feitos individuais ou as grandes mudanças e transformações organizacionais que enchem os Currículos que fazem os grandes líderes, é a influência intencional que deixam por onde passam. São as saudades que ficam nas equipas que gerem quando partem para novos desafios. É a referência que criam. É intangível? É! É real? Muito mais do que os resultados objetivos que gostamos de mostrar em relatórios. Grandes líderes fazem-se nas pequenas coisas.

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Antonieta Lima, CEO da Calculóminuto - CM, empresa de consultoria


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ANTONIETA LIMA

DESDE SEMPRE TIVE O GOSTO DE APRENDER E DE ENSINAR Esse gozo permitiu-me evoluir nos estudos, tornando-me professora universitária e coautora de livros. A minha carreira académica começou com o bacharelato em Contabilidade e Administração no ISCA Aveiro, seguido da licenciatura em Auditoria Financeira no ISAG. Posteriormente concluí o mestrado em Finanças e o doutoramento em Gestão, ambos na Universidade Portucalense.

As áreas financeira, contabilística, de gestão e fiscal estiveram, desde cedo, presentes na minha vida, quer por influência da minha mãe, que sempre esteve ligada à área contabilística, quer do meu pai, que sempre trabalhou no mundo dos negócios. Trabalhei, e trabalho, como contabilista certificada em grandes empresas e grupos do nosso país, e fui Diretora Financeira em algumas dessas organizações. À medida que fui crescendo na carreira empresarial, também foi crescendo a vontade de partilhar o meu conhecimento. Para tal criei a Calculóminuto - CM, empresa de consultoria da qual sou CEO, que atua, por um lado, ao nível da gestão empresarial, controlo de gestão, e otimização de processos, e por outro, ao nível do ensino universitário e da formação. Enquanto CEO da CM sou muitas vezes confrontada com a resistência à mudança, tendo de consciencializar as pessoas de que a mudança a todos beneficia, e que o insucesso atinge todos de forma indistinta. Esta é uma das grandes dificuldades da consultoria que em muitos casos é vista de forma inspetiva. Por outro lado, e ao nível da otimização de processos relacionados com a gestão operacional, trabalho muito a realidade do chão de fábrica. Neste âmbito tenho constatado nos últimos anos que áreas tipicamente ocupadas por homens (como o chão de fábrica) têm vindo a ser progressivamente ocupadas por mulheres. Por outro lado, e no que se refere à consultadoria são valorizados fatores como o conhecimento, a experiência, a eficácia, a capacidade de comunicação, a capacidade para lidar com as pessoas, o trabalho em equipa, entre outros, não sendo o género um fator diferenciador. Muitas equipas de due diligence já trabalham num contexto de paridade de género, existindo inclusivamente cada vez mais equipas constituídas maioritariamente por mulheres. Enquanto docente, e conhecedora do meio empresarial, colaboro com a Universidade Portucalense e com o Instituto Superior de Entre Douro e Vouga, a par de outras instituições de ensino como o Porto Execute Academy e a Atlântico Business School. Conjugar a academia com o meio empresarial é sem dúvida aliciante e extremamente motivador. Enquanto docente, os desafios são imensos. Um

“Enquanto CEO da CM sou muitas vezes confrontada com a resistência à mudança, tendo de consciencializar as pessoas de que a mudança a todos beneficia, e que o insucesso atinge todos de forma indistinta. Esta é uma das grandes dificuldades da consultoria que em muitos casos é vista de forma inspetiva."

aluno que nos pede ajuda para arranjar emprego, um aluno que desabafa connosco questões pessoais e familiares, um aluno que interrompe sistematicamente a aula, um aluno que está claramente na área errada, um aluno que por muito que tente não compreende os conteúdos lecionados, um aluno que tenta criar conflitos, … . Estes exemplos têm todos eles um denominador comum: os alunos esperam de nós uma atitude, um comportamento, uma ação, sempre diferenciadora pelo reconhecimento da acrescida sensibilidade que nos caracteriza. Se na consultadoria a exigência é grande, quando passamos para uma sala de aulas os desafios aumentam ainda mais, pelo que temos de recorrer frequentemente a capacidades que achávamos não ter. Muitas dessas características quase que parecem ter nascido connosco, e vamos apren-

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dendo a aprimorá-las com a experiência e a maturidade, outras simplesmente temos que as aprender e incorporá-las da melhor forma possível na pessoa que somos. Toda esta experiência de consultadoria e docência, em que temos todos os olhos postos em nós, obriga-nos a repensar a maneira como nos posicionamos face aos outros, até porque estar numa situação de liderança, é estar exposto. Esta experiência empresarial tão enriquecedora, aliada à experiência académica, abriu-me novos horizontes, novas portas, e aquilo que de alguma forma foi germinando lentamente na minha mente aconteceu, sou atualmente coautora de cinco livros. Desses cinco livros, um é na área dos projetos de investimento, um na área da otimização de carteiras de investimento, e três na área do Six Sigma. Uma vez mais com o focus

na partilha, mas também na contínua evolução dos meus conhecimentos, surgiram estes livros, em particular os três últimos, relacionados com a otimização de processos e procedimentos, através do Six Sigma, do Lean e, mais recentemente, do LeanSix Sigma. Se quisermos fazer aqui uma pequena síntese, quando ocupamos determinados cargos como nível C, docente, consultores, educadores, ou seja, lugares em que é necessário orientar e guiar, inevitavelmente surgem questões ligadas com características de liderança. Quando penso neste tema, liderança, mas no feminino, ocorrem-me logo características como capacidade para criar empatia, a forma de comunicar, a atenção aos detalhes, a sensibilidade para lidar com as situações, a inteligência emocional, a confiança, a motivação, a persistência e o trabalho em equipa,

“Quando penso neste tema, liderança, mas no feminino, ocorrem-me logo características como capacidade para criar empatia, a forma de comunicar, a atenção aos detalhes, a sensibilidade para lidar com as situações, a inteligência emocional, a confiança, a motivação, a persistência e o trabalho em equipa, entre tantas outras características que poderiam ser aqui enunciadas."

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Antonieta Lima, CEO da Calculóminuto - CM, empresa de consultoria


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entre tantas outras características que poderiam ser aqui enunciadas. Não quero com isto dizer que é necessário ter “super poderes”, nem estou a afirmar que a mulher é um ser superior. Estou apenas a refletir sobre como ser uma líder no feminino, por exemplo, na gestão de topo. Saber orientar e guiar para que no final consigamos obter o sucesso desejado não é de facto uma tarefa fácil, mas é uma realidade com a qual trabalho todos os dias. Hoje em dia todas as mulheres gozam de uma posição que foi conquistada ao longo do tempo por movimentos feministas que reclamaram a igualdade da mulher na sociedade e no trabalho, e que acabaram por ficar expressas na lei. Apesar de tudo verificamos ainda que em alguns setores de atividade ainda predomina a ideia de que a liderança deve estar a cargo do sexo masculino. Se historicamente formos ver a evolução do papel da mulher na sociedade e na vida empresarial, iremos constatar que no século XIX, e segundo o nosso ordenamento jurídico, a mulher encontrava-se numa situação de subjugação: só o marido exercia o poder, tendo a mulher o dever de obediência. Pequenos grandes passos foram sendo conquistados ao longo do tempo: permissão para ter poder sobre os filhos, igualdade no casamento e no divórcio, possibilidade de exercer cargos públicos, acesso à escolaridade obrigatória, o direito ao voto, igualdade de tratamento e de oportunidades no trabalho, só para referir alguns momentos determinantes. Dados do PORDATA, de 2020, mostram que em 1998 a frequência do ensino por mulheres era mais reduzida do que a frequência por homens. No entanto, com o passar dos anos esta situação alterou-se sendo que, em 2018, encontra-se uma situação de maior equilíbrio entre mulheres e homens com formação e escolaridade. Quando olhamos para o número de homens e mulheres com formação a nível superior, a verdade é que atualmente verificamos que a percentagem de mulheres com um curso superior é superior à percentagem de homens em situação semelhante. Olhando um pouco para aquilo que tem sido a investigação científica neste domínio, e também a preocupação dos Governos sobre esta temática, efetivamente temas como “igualdade de género”, “discriminação de género”, “discriminação no local de trabalho”, “desigualdade no acesso à gestão de topo”, “preconceitos associados à liderança feminina”, “conciliação entre vida familiar e vida profissional”, “desigualdade salarial”, entre tantos outros que poderiam ser indicados, continuam a estar na ordem do dia. Significa isto que, apesar de a evolução ter sido muito grande, a verdade dos factos é que ainda há alguma resistência à liderança ser exercida por uma mulher, ainda há quem pense que uma mulher é o sexo fraco, ainda há quem coloque muitos entraves à maternidade, quando efetivamente este poder pode ser gozado por ambos os pais. Estamos perante uma sociedade em mudança e, como referiu Charlie Chaplin “nothing is permanent in this world, not even our troubles.”

“Hoje em dia todas as mulheres gozam de uma posição que foi conquistada ao longo do tempo por movimentos feministas que reclamaram a igualdade da mulher na sociedade e no trabalho, e que acabaram por ficar expressas na lei. Apesar de tudo verificamos ainda que em alguns setores de atividade ainda predomina a ideia de que a liderança deve estar a cargo do sexo masculino." 31


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SARA SOUSA ASSUME CARGO DE GENERAL MANAGER DA BLIP Head of Human Resources da Blip desde 2019, Sara Sousa passa a General Manager da Blip. Um dos objetivos da nova General Manager é continuar a contribuir para que a Blip se mantenha no topo no que toca tanto à área tecnológica, como de valorização dos colaboradores e employer branding. A Blip está a trabalhar nos seus ‘Future Ways of Working’ e em políticas cada vez mais flexíveis num cenário pós-pandemia.

A Blip, tech hub criado no Porto que desenvolve aplicações à medida para web e mobile de operações desportivas, anuncia que Sara Sousa, atual Head of Human Resources, assume agora o cargo de General Manager da tecnológica. “Estou muito entusiasmada com esta oportunidade. Sinto que é um passo natural na minha carreira e vou dar o meu melhor para garantir o sucesso da Blip, tanto como centro Tecnológico de excelência dentro do Grupo Flutter, como enquanto empregador de eleição na área de Tecnologia e uma das melhores empresas para trabalhar em Portugal. Estou confiante de que irei responder às exigências e aos desafios e, dessa forma, contribuir para a concretização da nossa missão corporativa”, refere Sara Sousa, General Manager da Blip. Sara Sousa juntou-se à Blip há cinco anos e durante esse tempo desempenhou várias funções na área dos Recursos Humanos, além de ter integrado a equipa de Liderança da empresa, o que lhe permitiu obter uma melhor preparação para a progressão natural para a função de General Manager. Iniciou o seu percurso na portuguesa Blip mantendo o Porto como grande foco, mas ao longo do tempo acumulou responsabilidades adicionais ligadas à estratégia de Recursos Humanos do Grupo Flutter. Há cerca de dois anos, tornou-se Head of Human Resources e parceira do Chief Information Officer (CIO) do grupo, mantendo um papel ativo na definição da estratégia global de tecnologia do grupo, com particular enfoque num dos pilares da Blip: o talento. “A Sara tem dado enormes contributos ao grupo e ao escritório da Blip no Porto desde que integrou a equipa. Estamos muito felizes por a ver ocupar o cargo de General Manager da Blip e estamos convictos de que é a escolha acertada para assumir este desafio”, sublinha Paul Cutter, CIO do Grupo Flutter. Antes de se juntar à Blip, Sara Sousa trabalhou vários anos em Londres em multinacionais nas áreas tecnológica e energética, nas quais foi responsável pela área de Recursos Humanos na região da Europa, Médio Oriente e África (EMEA). Durante o mesmo período, fez igualmente parte da equipa de Leadership.

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“Estou muito entusiasmada com esta oportunidade. Sinto que é um passo natural na minha carreira e vou dar o meu melhor para garantir o sucesso da Blip, tanto como centro Tecnológico de excelência dentro do Grupo Flutter, como enquanto empregador de eleição na área de Tecnologia e uma das melhores empresas para trabalhar em Portugal." FUTURO DO TRABALHO NA BLIP É CADA VEZ MAIS FLEXÍVEL Ao longo dos anos e com o avanço das tecnologias registou-se uma mudança cultural nas empresas. Os empresários passaram a valorizar mais a qualidade de vida dos colaboradores, compreendendo que esse fator impacta a criatividade, a produção e a eficiência. Uma cultura empresarial que a Blip tem vindo a implementar desde que foi fundada, e que evidenciou desde o momento em que, em 2016, inauguraram o novo escritório no Porto. O armazém/showroom na Avenida Camilo, no Porto, transformou-se num espaço amplo com salas de reuniões, áreas de descanso, uma esplanada exterior com espaço para churrascos e horta biológica, além de um auditório e uma zona de lazer com máquinas eletrónicas e de ténis de mesa, onde os colaboradores podem exaltar o espírito de equipa e


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Sara Sousa, General Manager da Blip

desbloquear as mentes dos programadores. Atualmente, devido às exigências impostas pela Covid-19, que colocou os quase 400 colaboradores em teletrabalho, a Blip tem vindo a desenvolver diversas medidas para responder às necessidades criadas pela crise pandémica, tornando-se ainda mais flexível e desenvolvendo novas ‘Future Ways of Working’, adaptadas às necessidades futuras do mercado de trabalho na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Como tal, a tecnológica portuguesa tem vindo a desenvolver novas políticas de trabalho, tais como: potenciar o trabalho remoto dos seus colaboradores, criando ferramentas que lhes permitam desenvolver as suas funções em qualquer local; promover horários flexíveis e de acordo com as necessidades pessoais de cada um, com o intuito de fomentar um equilíbrio sau-

dável entre trabalho e vida pessoal, e ainda a possibilidade de trabalhar em part-time. Não obstante, o escritório continuará a ter um papel importante, enquanto hub de colaboração e ferramenta de promoção da inovação. Desta forma, pessoas que prefiram trabalhar a partir do escritório podem continuar a fazê-lo no futuro, e as que prefiram trabalhar, maioritariamente, de forma remota vão ter oportunidade de estar presentes para momentos importantes como seja o arranque de um novo projeto. O objetivo da Blip, através da implementação destas medidas, é ser cada vez mais uma empresa inclusiva em que todos os colaboradores sintam que têm oportunidade de crescer profissionalmente e acrescentar valor, escolhendo a forma como se sentem mais confortáveis a trabalhar, de acordo com suas necessidades individuais e a sua vida pessoal.

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Diana Taveira, apresentadora da RTP e empresária

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DIANA TAVEIRA

O LADO EMPREENDEDOR DA APRESENTADORA DIANA TAVEIRA Diana Taveira, 33 anos, licenciada em Estudos Europeus e com um mestrado em Marketing e Comunicação. Atualmente é apresentadora da RTP e já conta com uma vasta experiência em televisão. Uma história de sucesso e confiança na comunicação.

Diana Taveira, correu sempre atrás dos seus sonhos, concorreu aos castings para VJ da MTV durante 8 anos. Nunca desistiu, foi várias vezes finalista, mas só em 2015 chegou o seu momento de brilhar - tornou-se a cara da MTV Portugal, onde permaneceu durante 3 anos. Atualmente, trabalha na RTP1 e começou no mês de julho a apresentar o novo programa da estação “Tenda às Costas.” A mudança para a programação daytime veio espelhar a sua versatilidade enquanto comunicadora. “Sou uma pessoa que necessita de novos desafios para continuar interessada, e fazer um novo formato numa nova posição é tudo menos aborrecido, é o que efetivamente me estimula e diverte”, conta Diana. Para além da sua carreira como apresentadora, Diana aventurou-se no mundo empresarial. Cresceu num ambiente “empresarial e empreendedor” e sempre teve vontade de criar algo seu. “Gosto do desafio, da luta, do estudo que está associado ao nascimento de uma marca/empresa”, explica. Em 2018 criou o seu primeiro negócio, a empresa de comunicação Milk&Black, que aponta como o maior desafio da carreira. “Errei muito e com isso aprendi o que não fazer nos seguintes projetos”, relembra. Foi, por isso, uma etapa muito importante para o seu crescimento enquanto empresária. Depois deste surgiram muitos outros projetos e em áreas distintas. O objetivo é que não sejam dependentes entre si, de forma a existir um equilíbrio financeiro. É uma decisão estratégica - “mesmo que alguma área esteja numa área menos positiva, à priori não existe uma ligação. É mais saudável para ter estabilidade nos investimentos.” Para além da comunicação e da área do fitness, com o Crossfit Cais, investiu também na restauração. Lançou em 2020 o Fish Fish Sushi e, mais recentemente, o For God’s Bake by Mimi. Apesar da situação pandémica ter afetado fortemente a economia, Diana não teve medo de arriscar - olha para a realidade atual como um ótimo momento de análise, estruturação e lançamento de novas marcas ou produtos. “Uma empresa que sobreviva ao contexto pandémico, consegue superar qualquer desafio”, assegura. Conjugar todos os projetos pessoais com a sua carreira de apresentadora só é possível com uma boa equipa e muita organização. Diana tem uma agenda definida semanalmente com dias específicos dedicados a cada área profissional em que está envolvida.

Para além do empreendedorismo, a apresentadora já vocalizou inúmeras vezes o seu interesse pela política. Pretende, num futuro indefinido, estar envolvida de forma independente e integrar uma equipa jovem que vá de encontro aos seus valores e visão social e económica. “Acredito que posso contribuir para a criação de mecanismos mais simplificados para jovens em processos académicos e profissionais, a burocracia condiciona muitas oportunidades e potencialidades”, garante a apresentadora.

O que define o nosso lugar e posição enquanto mulher, num contexto profissional ou político, é o “caminho que traçamos independentemente das vozes exteriores.” Já na altura da faculdade, quando tirou a licenciatura em Europeus na Universidade de Coimbra, era uma jovem ativa na comunidade estudantil e com interesse no mundo da política. Foi, inclusive, a primeira mulher Presidente do Órgão Máximo da Associação Académica de Coimbra e Senadora da Universidade. Por isso, está também familiarizada com as adversidades de ser mulher num mundo dominado por homens. Admite que nunca se sentiu discriminada, mas houve quem tentasse fazê-lo, “consciente ou inconscientemente.” O paradigma e os estigmas nos cargos de liderança só começaram a apresentar mudanças reais nos anos mais recentes. No entanto, o que define o nosso lugar e posição enquanto mulher, num contexto profissional ou político, é o “caminho que traçamos independentemente das vozes exteriores.” O caminho de Diana está longe de terminar. O futuro ainda reserva mais projetos. “Sinto-me realizada como empreendedora, com as minhas equipas e com as marcas que criamos e estamos a ver crescer e a ganhar expressão no mercado “ afirma.

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A FUNDAÇÃO DO GIL ESTÁ A CONSTRUIR UMA CLÍNICA ESPECIALIZADA NA SAÚDE MENTAL INFANTIL A fundação do Gil, que ajuda crianças com doenças crónicas e crianças em risco social, sinalizadas pela Segurança Social, pretende, aos 23 anos, inaugurar uma clínica dedicada à saúde mental infantil e aberta às possibilidades financeiras de toda a comunidade. Assente num modelo autossustentável, a intenção é a de acompanhar todas as crianças que dela necessitem.

Mascote da Expo’98, o Gil (uma gota de água que veio dos oceanos) tornou-se um símbolo de respeito pela vida dos oceanos e do ambiente de todo o Planeta. Herdeira da mascote da Expo’98 e do seu património simbólico, a Fundação do Gil tem desenvolvido um amplo e diversificado conjunto de actividades que visam melhorar a vida de muitas crianças e jovens. A Fundação existe desde 1999 e tem como principais objectivos: contribuir para o bem-estar, a valorização pessoal e a plena integração social das crianças e jovens que se encontram em risco social ou clínico. Perante a constatação de que centenas de crianças estavam internadas apenas por razões sociais, no nosso país, a instituição deu início ao seu percurso junto dos hospitais no ano 2000. Assim se foram viabilizando vidas de dezenas de crianças todos os anos desde então, criando e sustentando as condições necessárias para que tal acontecesse. As relações que se foram estabelecendo junto das diversas entidades parceiras:

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Hospitais, Instituições de acolhimento, Ministérios da Segurança Social, da Saúde, da Justiça, dos Negócios Estrangeiros e da Educação, famílias, foram fortalecendo e credibilizando o trabalho da Fundação do Gil na inovação da saúde pediátrica. Em 2001, perante o tempo de internamento das crianças hospitalizadas nos nossos hospitais, criámos o Dia do Gil. Esteve presente em 28 núcleos hospitalares (continente e ilhas), atingindo uma média de mais de 8.000 crianças e mais de 5.000 adultos por ano. As acções foram todas dinamizadas por cerca de 170 voluntários com experiência na área, distribuídos pelos diversos núcleos, em Portugal continental e ilhas. Por ano foram realizadas mais de 960 acções. Numa fase da vida como o internamento – que por mais curto que seja é sempre muito intenso e marcante –, em que a criança, debilitada e afastada do seu mundo natural está rodeada de todos os cuidados, o Dia do


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Gil procurou proporcionar estímulos emocionais que diminuíssem a dependência emocional, trazendo um pouco do mundo exterior para dentro do hospital. Este projecto existiu durante 13 anos, até que outros projectos similiares se foram criando e instalando na sociedade civil, fazendo com que deixasse de ser necessária esta resposta. Em 2006, passados 7 anos desde a data da constituição da Fundação e, perante a constatação de que muitas das crianças em internamento prolongado são portadoras de doenças crónicas, criámos a 1ª Unidade Móvel de Apoio ao Domicílio, com a finalidade de não prolongar o internamento da criança para lá do necessário, prestando o apoio clínico, emocional e social necessário no domicílio, para que a criança possa voltar ao seu ambiente familiar o mais depressa possível. Hoje, mais do que nunca, continua a ser um projecto pioneiro em Portugal, que visa melhorar a qualidade de vida de crianças e jovens doentes crónicos, e suas famílias, devolvendo-lhes o ambiente familiar. Adaptar os cuidados de suporte técnico domiciliário à realidade das famílias e diminuir as deslocações aos hospitais, através da vigilância e aplicação de terapêuticas no domicílio são alguns dos objectivos do projecto. Pretende também melhorar a qualidade de vida das crianças e das famílias, de modo a promover um ambiente seguro e permite baixar os custos de internamento hospitalar. HISTORIAL DO PROJECTO DE CUIDADOS DOMICILIÁRIOS PEDIÁTRICOS (Unidades Móveis de Apoio ao Domicílio): FASE I - A Fundação do Gil com o aval da Sociedade Portuguesa de Pediatria e do Hospital de Santa Maria, na pessoa do Prof. Dr. Gomes Pedro – Director de Pediatria - deu início à 1ª Unidade de Apoio ao Domicilio, com uma carrinha totalmente equipada, em Maio de 2006. FASE II - Em Junho de 2009 arrancaram, em simultâneo, os hospitais Dona Estefânia e Prof. Dr. Fernando da Fonseca.

FASE III – Em Fevereiro de 2012, o projecto chegou ao Norte, através da parceria estabelecida com o Hospital de S. João. FASE IV – Em Dezembro de 2017, estabeleceu-se a parceria com o Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), alargando o âmbito aos Cuidados Paliativos Pediátricos. FASE V - Entre 2018 e 2019 - Alargamento do projecto, no seu todo, aos Cuidados Paliativos Pediátricos. FASE VI – Em Abril de 2020, arrancou a parceria com o Hospital Garcia de Orta, em pleno contexto pandémico de Covid-19. O ano de 2018 foi marcado pela especialização das equipas da Fundação do Gil e dos Hospitais parceiros em Cuidados Paliativos Pediátricos e pelo alargamento das valências do Projecto que passou a ser denominado Cuidados Domiciliários Pediátricos. Devido ao crescente número de crianças e famílias visitadas no âmbito dos Cuidados Paliativos Pediátricos, e seguindo as directrizes da Organização Mundial de Saúde, arrancou-se com as equipas multidisciplinares clínicas e da Fundação do Gil, com os hospitais parceiros a Norte. Em 2019, estendeu-se o alargamento das valências do Projecto às equipas dos Hospitais parceiros de Lisboa. DADOS GERAIS DE 14 ANOS DE PROJECTO CUIDADOS DOMICILIÁRIOS PEDIÁTRICOS (2006 – 2020) Total crianças apoiadas: 4.500 Total de visitas: 21.000 Total de km percorridos: 750.000 Km (o equivalente a 19 voltas ao Mundo) Área clínica de maior referenciação: Pneumologia e Neonatologia 56 Concelhos em 13 Distritos (aproximadamente de Viana do Castelo a Évora) A par do lançamento da 1ª UMAD, a 13 de Julho de 2006, inaugurámos a Casa do Gil. Projecto inovador em Portugal, foi um dos primeiros centros de acolhimento

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temporário de cuidados pós-hospitalares, com capacidade para 16 crianças dos 0 aos 12 anos, que tinham alta clínica, mas que precisavam de acompanhamento por motivos sociais. As razões para o acolhimento residencial são variadas e mutantes, consoante os tempos e as sociedades. Desta forma, urge a necessidade de criar uma diferenciação, no que diz respeito aos modelos de organização das instituições, com diferentes recursos e até diferentes abordagens por parte da Equipa Técnica e Educativa, tendo havido a necessidade de reformular a resposta ao acolhimento, deixando de ser uma retaguarda hospitalar para uma visão mais global do ser criança. A Casa do Gil, consciente desta necessidade, ao longo dos últimos anos tem vindo a assumir-se como uma resposta que pretende promover a protecção e o desenvolvimento psicoafectivo das crianças e jovens, não se instituindo como uma figura parental, mas criando uma relação de exclusividade, compromisso e disponibilidade, na qual sejam prestados os cuidados de forma afectuosa e securizante, sendo a problemática da Saúde Mental na criança um dos focos trabalhados. Neste sentido, procura-se proporcionar às crianças e jovens, entre os 0 e os 12 anos de idade, a satisfação de todas as suas necessidades, em condições de vida tão aproximadas, quanto possível, às da estrutura familiar e a satisfação das necessidades específicas, decorrentes do acolhimento residencial, através do acompanhamento e vigilância a nível clínico, social, educativo e psicológico.

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Cada vez mais atentos às características individuais da criança e às suas necessidades, e segundo o Plano de Saúde Mental Infantil realizado pelo Alto Comissariado da Saúde e pela Coordenação Nacional de Saúde Mental, a Saúde Mental tem-se transformado num dos focos principais da intervenção da Casa do Gil. Uma intervenção precoce previne degradações do estado de saúde mental em crianças que vem muito fragilizadas pelas questões sociais que as levaram a um centro de acolhimento. DADOS GERAIS DE 14 ANOS DO PROJECTO CASA DO GIL (2006 – 2020) Total crianças acolhidas: mais de 250 Tempo médio de acolhimento: 16,5 meses Predominância do Género: Feminino Predominância de intervalo de idade: 0-3 anos A entrada na maioridade da Fundação do Gil trouxe novos desafios e novas responsabilidades. A missão da Fundação sempre se apresentou como uma alavanca de novas respostas sociais para os problemas da infância, testando modelos de intervenção inovadores para problemas sociais complexos. Assegurar de forma proactiva a SUSTENTABILIADE FINANCEIRA da organização, diminuindo a dependência do sector estatal e do sector empresarial para a angariação de fundos é necessária à prossecução dos objectivos definidos. Assim, a Fundação tem vindo a desenvolver modelos inovadores de financiamento que permitam assegurar os seus projectos e ser exemplo a outras organizações do sector.


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“Muitas crianças, sofrem de uma perturbação psiquiátrica que, sem o devido acompanhamento, degenerará em problemas graves na vida adulta”, assegura ainda Patrícia Boura, Presidente da Fundação do Gil, sem deixar de realçar a falta de capacidade do SNS para acompanhar a saúde mental infantil, como comprovam alguns casos que recebe, “de gravidade máxima, com consultas agendadas para cinco meses depois do primeiro diagnóstico.”

Em finais de 2019, nasce o primeiro projecto de auto-sustentabilidade, a “Casa do Jardim”, um espaço multiusos, disponível a toda a sociedade para a realização de eventos empresariais e particulares, que veio permitir gerar receitas com modelos de negócios claramente definidos, sendo um pilar estrutural para o futuro da Fundação do Gil e para a contribuição directa na manutenção e desenvolvimento dos seus projectos principais. Hoje, qualquer pessoa ou empresa pode contribuir activamente para a sustentabilidade da Fundação do Gil, utilizando este espaço. Nestes tempos tão incertos e economicamente tão preocupantes a Fundação do Gil reinventa-se diariamente para dar continuidade aos seus projectos sociais, procurando parcerias estratégicas e organizando campanhas focadas na angariação de fundos para suportar todos os custos inerentes à logística que diariamente proporciona a cada crianças e também às suas famílias dignidade e bem-estar clínico, social e emocional. É por isso que a Fundação do Gil ambiciona construir uma Unidade de Desenvolvimento Infantil, que possa dar respostas às necessidades das crianças em Portugal, que sofrem com problemas emocionais e psicológicos. Uma clínica, aberta ao público em geral, onde quem pode pagar a consulta, financia que não pode. Assim, permitimos que todos possam usufruir destes serviços tao importantes para o desenvolvimento pleno de cada criança. Inovar na saúde pediátrica continua a ser a Missão da Fundação do Gil e em breve vamos construir uma clínica de saúde mental.

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Esta é a história de uma mulher, chamada Maria, que por muitos anos aceitou nada a quem dava tudo, quando subitamente aprendeu que o amor-próprio tem de prevalecer. Passou algum tempo a descobrir-se, a amar-se e a esquecer o passado. Numa noite com as suas amigas, conhece Dinis, é nesse momento que a aliança com ela mesma é forjada e a esperança renasce. Aconteceu por acaso, sem data, sem horário, apenas coincidência, ou então destino. Dinis e Maria sentem-se invadidos pela força inequívoca de um amor nascente, pela perceção de um futuro que acaba de ganhar forma e sentido nos seus corações jovens e expectantes, mas o destino não tarda a impor-se de novo, precipitando uma vaga de acontecimentos que os posiciona perante encruzilhadas de vidas brutais. Uma doença aparece a Maria e Dinis escolhe estar sempre ao lado dela, uma decisão que ditará os seus futuros de forma irrevogável. Entende-se assim que por mais dolorosa que seja, a escolha certa torna-se sempre nítida quando é o amor genuíno que nos inspira, quando sabemos o que significa amar verdadeiramente alguém. Prometendo viver muitas 24 horas juntos, o destino trava-os e o pior acaba por acontecer….

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BIOGRAFIA Maria Inês Fernandes Rodrigues, nasceu em Ruivos, no concelho de Ponte da Barca, distrito de Viana do Castelo, Portugal, no dia 24 de outubro de 1999. Com apenas 21 anos, lança agora o seu primeiro livro, dedicando-o inteiramente ao seu já falecido tio Fernando. FORMAÇÃO Estuda no Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, licenciatura em solicitadoria. Durante a pandemia dedicou-se inteiramente a concluir um curso online de comunicação onde a sua mentora foi a apresentadora Teresa Guilherme. Recentemente criou a página no Instagram: “Renascer do Passado”, onde divulga frases da sua autoria.


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