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abriga dezenas de imagens conservadas e um teto recoberto com pinturas no estilo barroco. No grande coreto é realizada a novena de Santo Amaro, uma das cerimônias mais marcantes para os moradores. Santo Amaro cresceu acompanhando a margem do rio Subaé, onde os moradores pescavam, lavavam roupas e utilizavam a água para abastecimento da cidade. O Centro Histórico, entre as praças do Rosário e da Purificação, concentra mais de 50 prédios de valor histórico e arquitetônico. Uma das primeiras construções da região foi o Solar Paraíso, um casarão suntuoso e imponente cravado no alto da rua Santa Luzia, que pode ser visto de vários pontos da cidade. A construção é um dos exemplares mais representativos da arquitetura do século XIX e passa por processo de restauração. O solar já foi residência do dono da antiga fábrica siderúrgica de Santo Amaro.

Foto: Rita Barreto

Foto: Eduardo Pelosi

Circuito Recôncavo

Rota da Independência Roteiro alia conhecimento sobre a história da Bahia à cultura peculiar do Recôncavo Baiano Eduardo Pelosi

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epleta de cenários, personagens e emoções, a Rota da Independência é um prato cheio para quem quer conhecer a Bahia através da história das lutas pela libertação contra os portugueses. Entre as cidades do Recôncavo que foram parte fundamental da história, a Viver Bahia visitou Santo Amaro, Cachoeira, São Félix e Muritiba 16 | Viver Bahia

para mostrar como essas cidades se desenvolveram e conservaram o patrimônio histórico e as suas belezas naturais quase duzentos anos depois. Saindo de Salvador, a primeira parada é na cidade de Santo Amaro. Pela BR-324, deve-se percorrer 59 km até o entroncamento da BA-026. Em direção à cidade, são mais 11 km. Santo Amaro desempenhou um importante papel na luta pela Independência da Bahia. Foi na Câmara Municipal, em 14 de junho de 1822, que se reuniram os representantes da cidade, civis, poetas e populares para decidir que o Brasil deveria ter direito a um Poder Executivo,

Exército e Marinha, comandados pelo Príncipe Regente, D. Pedro I. Além disso, Santo Amaro contribuiu com alguns batalhões e um esquadrão de cavalaria fardado, comandado e mantido por Antônio Joaquim de Oliveira e Almeida. O Centro Histórico concentrase ao redor da Praça da Purificação, onde fica a Casa de Câmara e Cadeia, o chafariz inglês e a Igreja de Nossa Senhora da Purificação. O traçado irregular, do século XVIII, expressa o perfil das construções da região. A cidade se envolve pela história estampada nos sobrados e monumentos dos séculos XVIII e XIX. A antiga Casa de Câmara e

Canhão encontrado no Rio Paraguaçu

Cadeia, onde hoje funcionam a Prefeitura Municipal e a Câmara de Vereadores, foi construída na segunda metade do século XVIII e possui arquitetura semelhante à da Câmara de Salvador. O local, tombado pelo Patrimônio Histórico, em 1941, foi palco de uma das primeiras reuniões na luta pela Independência da Bahia, em 14 de junho de 1822, e já abrigou a sede da Imprensa Oficial da Vila, em 1916. Construída no século XVII, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação foi erguida no mesmo local onde havia uma rústica capela de oração e batismo em homenagem à santa - construída pelos senhores de engenho, na época em que a cidade tinha mais de 200 engenhos - que hoje permanece dentro da igreja. Com painéis em azulejos e colunas decoradas em mármore, o templo

Foto: Rita Barreto

Casa de Câmara e Cadeia de Santo Amaro foi palco de uma das primeiras reuniões na luta pela Independência

Na rua do Imperador, um grande casarão de dois pavimentos, construído em 1873, foi recentemente reformado. O Solar do Conde de Subaé, tombado pelo Patrimônio Histórico em 1979, remonta à fase áurea da aristocracia no Recôncavo. Às margens do rio Subaé, o local foi residência de Francisco Moreira de Carvalho, conde de Subaé. Decorada com elementos neoclássicos, um pórtico e uma escadaria de mármore, a casa já hospedou o imperador D. Pedro II. De acordo com alguns funcionários do casarão, às vezes o imperador “passeia” pelo local e é possível ouvir seus passos no pavimento superior, assustando quem está por perto. Restaurado em 2007, hoje o solar abriga a Casa do Samba de Roda, um centro cultural que reúne a história e a cultura do ritmo que animava os terreiros e as rodas de capoeira. Documentos, fotografias e gravações integram o enorme acervo do local. No espaço,

Solar do Conde de Subaé já hospedou o imperador D. Pedro II Viver Bahia | 17


Fotos: Eduardo Pelosi

Fotos: Eduardo Pelosi

Circuito Recôncavo

Relíquias na Casa do Samba, em Santo Amaro

Museu do Recolhimento dos Humildes conserva acervo com 493 peças dos séculos XVIII e XIX

são expostos os instrumentos peculiares do ritmo, como o prato, o pandeiro, a viola, o atabaque e o berimbau. Também margeado pelo rio Subaé, o Museu do Recolhimento dos Humildes é outra boa opção para quem busca turismo cultural. O acervo composto por 493 peças inclui relíquias como imagens barrocas do século XVIII, mobiliário do século XIX, alfaias e imaginária. Destaque especial para as imagens de traços orientais e ricos detalhes em ornamentação e as peças e monumentos artístico-religiosos elaborados a mão pelas freiras, a exemplo da Divina Pastora - uma relíquia artesanal exposta em redoma de vidro. Seguindo a pé pela margem, é possível visitar o Mercado Municipal. O local vende frutas, verduras, peixes, mariscos e o famoso dendê da região, procurado por muitos turistas. Ali acontece uma das principais festas populares da cidade, o Bembé do Mercado. A festa, que comemorou 121 anos em

2010, acontece sempre no fim de semana próximo ao dia 13 de maio. O evento celebra a abolição da escravatura e é realizado desde 1889, quando o pai de terreiro, João de Obá, saiu para agradecer à princesa Isabel pela libertação de seus irmãos negros. Com uma grande riqueza cultural, Santo Amaro possui um vasto calendário de eventos populares. As comemorações começam no primeiro domingo do ano, com a Festa do Nosso Senhor do Bonfim. Entre as principais datas, estão a de Nosso Senhor Santo Amaro (6 a 15/01), Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (segunda semana de janeiro), Regata de Canoa (domingo de Carnaval), aniversário da cidade (13/03), São João (21 a 24/06), Independência da Bahia (02/07) e Nossa Senhora da Conceição (8 de dezembro). Além do Bembé do Mercado, a festa mais celebrada pelos santamarenses é a de Nossa Senhora da Purificação, que vai de 24 de janeiro a 2 de fevereiro. Os festejos para a padroeira

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começam com o novenário composto para a santa. As manifestações movimentam também a cultura e a culinária, concentradas no tradicional Bagacinho, espaço com barracas padronizadas. A lavagem do adro da Igreja Matriz acontece sempre no último domingo de janeiro, com grupos folclóricos e centenas de baianas. No dia 2 de fevereiro, as comemorações são encerradas na tradicional procissão, que conta com mais de 40 andores.

Mercado Municipal de Santo Amaro

Igreja Matriz de Santo Amaro

Praça da Purificação conserva as mesmas características arquitetônicas do século XIX

Dona Canô recorda os velhos tempos

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odos se encantam com a magia desta terra simpática, que presenteou o Brasil com muitos filhos ilustres. Dentre eles, estão Caetano Veloso, Maria Bethânia, o artista plástico Emanuel Araújo e os valentes Besouro Cordão de Ouro e Popó, mestres de capoeira e maculelê. Na avenida Viana Bandeira mora uma das mais ilustres personalidades santamarenses: Dona Canô, mãe de Caetano e Bethânia, que com 102 anos viu a cidade crescer e se desenvolver. A casa de Dona Canô já se tornou ponto turístico, muitos visitantes param para fotografar o local e, com um pouco de sorte, ouvi-la contar as histórias da cidade. Recuperando-se de uma fissura no fêmur, ela recebeu a redação da Viver Bahia para conversar. Apesar disso, ela mostrou-se muito lúcida e disposta, com energia de sobra. De acordo com Dona Canô, há quase cem anos a

cidade não possuia nenhum atrativo para os visitantes. “Antigamente não tinha nada, só recebíamos visitantes quando o rio Subaé enchia, aí vinham as embarcações. A cidade começou a ser visitada mesmo depois de Caetano e Bethânia, né? Eles ficaram conhecidos e os fãs vinham para Santo Amaro ver onde eles tinham nascido”, relata. Sobre a sua casa se tornar ponto turístico, ela diz que não gosta muito da ideia de deixar a porta da casa aberta. “Tem uns malucos que propõem isso, mas tem que ter um limite, né? Eu nem posso fazer isso”, explica a centenária santamarense. Entre as coisas que Dona Canô mais gosta na sua cidade natal, a religiosidade fala mais alto. Para ela, o ponto alto da cidade é o período da festa de Nossa Senhora da Purificação, uma festa “muito bonita, com novena e com muita gente na praça”. Após oferecer um café, ela

Dona Canô fala sobre a sua terra

comenta que antigamente a cidade era muito próspera. Com onze usinas, todos os moradores tinham onde trabalhar nas fábricas, que produziam o açúcar. “Era muita gente e muito trabalho, o açúcar daqui ia para todo canto, era um açúcar cristal, especial”, relembra. Com relação ao ponto turístico preferido, Dona Canô elege a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação. “Você já foi ver a nossa igreja? É muito linda, é nossa riqueza”, exclama. Viver Bahia | 19


Fotos: Rita Barreto

Fotos: Rita Barreto

Circuito Recôncavo

Legenda

Cachoeira, palco da luta armada

Patrimônio arquitetônico é conservado em Cachoeira

Foto: Eduardo Pelosi

Em Cachoeira, brasileiros lutaram contra a canhoneira portuguesa no século XIX

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ocalizada a 120 km de Salvador, a cidade de Cachoeira é um dos principais palcos das lutas pela Independência da Bahia. Saindo de Santo Amaro, são 38 km através da BA-026 para chegar à cidade. Cachoeira foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1971, e passou a ser considerada Monumento Nacional. As casas, igrejas, prédios históricos e a imponente ponte D. Pedro II preservam a imagem do Brasil Império - quando o comércio e a fertilidade do solo fizeram de Cachoeira a vila mais rica, populosa e uma das mais importantes do país, nos séculos XVII e XVIII. 20 | Viver Bahia

Arquitetura colonial retrata o período

Igreja e Casa de Oração da Ordem 3a do Carmo

No século XIX, as lutas contra a canhoneira portuguesa e a proclamação do príncipe D. Pedro I como Regente são fatos que, ainda hoje, enchem de orgulho os moradores da cidade. Com mais de 33 mil habitantes, a cidade volta a crescer e a atrair novos moradores e turistas. A instalação da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB),

em 2009, e de outras faculdades, acelerou o desenvolvimento de Cachoeira, que a cada dia inaugura novos restaurantes, lojas, bares, hotéis, pousadas, pensões e equipamentos de infraestrutura. Só na UFRB, são 1.200 alunos e mais de 100 professores, número que deve dobrar até o próximo ano. Ao entrar na cidade, a

arquitetura dos casarões já impressiona e revela uma parada obrigatória para o turismo histórico. O prédio da Câmara dos Vereadores, antiga Câmara e Cadeia, é o ponto de partida para uma verdadeira viagem no tempo. Imponente, a construção remonta ao período de elevação da Freguesia de Nossa Senhora do Rosário à Vila de Nossa

Representantes das vilas do Recôncavo se reuniram no prédio da Câmara e Cadeia, no 25 de junho de 1822

Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira do Paraguaçu. A estrutura rochosa abriga no térreo as antigas celas da cadeia local, onde ficavam os presos comuns. Um espaço onde hoje funciona uma área de exposições, com documentos dos séculos XVIII e XIX, contém fotos antigas de autoridades, monumentos, momentos cívicos, religiosos e imagens que permitem comparar as modificações arquitetônicas. No local, é possível conhecer um canhão encontrado nas águas do rio Paraguaçu, que se acredita ser parte da canhoneira que atacou a cidade. A carroça que carrega a imagem do Caboclo, no dia 25 de junho, também está exposta. No segundo pavimento do prédio continua funcionando a Câmara Municipal. Imagens de heróis da cidade, como o barão de Belém e Maria Quitéria, misturam-se ao cenário com portas reforçadas, grades,

janelas com gradis de ferro e portas com gradis de madeira. Os gradis do pavimento superior cercavam a cela dos homens de bem, que abriga hoje uma sala de reuniões. A sala das sessões plenárias abriga umaimagem de D. Pedro I, que foi ali aclamado como príncipe Regente, no dia 25 de junho. O quadro de Antônio Parreiras, chamado O 1º Passo para a Independência (1937), ilustra o momento de libertação da cidade. Outra homenagem é feita a Ana Nery, heroína cachoeirana que se alistou no exército brasileiro durante a Guerra do Paraguai e se tornou patronesse da enfermagem no Brasil. Nas janelas e varandas da Câmara, o visitante pode apreciar a praça da Aclamação, o Museu Regional e a cidade vizinha de São Félix. Em todos os cantos de Cachoeira sempre há alguma bela e imponente obra arquitetônica. Viver Bahia | 21


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ma das vantagens de Cachoeira é permitir que o turista conheça cada ponto, caminhando pelas ruas da cidade. Durante o percurso, é possível conhecer cada detalhe das ruas e dos pontos turísticos e conversar com moradores. Saindo da

Ordem 3a do Carmo abriga um dos maiores conjuntos de obras tumulares da América Latina 22 | Viver Bahia

junto com outras obras. No local, também é possível conhecer um dos maiores conjuntos de obras artísticas tumulares da América Latina, restaurado há 10 anos, que abriga túmulos com inscrições em latim, onde eram enterrados os ricos donos de engenho. Na parte superior da sacristia, uma sala abriga uma grande imagem do Senhor dos Passos e um armário com pinturas de estilo oriental. Nesse local, os devotos do candomblé frequentam, às sextas-feiras, para rezar ao Senhor dos Passos, um espaço que abriga o sincretismo religioso. Logo ao lado, a Igreja da Ordem 1ª do Carmo é outra construção em estilo barroco. Finalizada em 1773, a construção não ostenta tanta riqueza como a Ordem 3ª; possui escaiola com marmorização, forros e pinturas nos corredores laterais e nave. No local onde funcionava o Convento dos Carmelitas, hoje está a Pousada do Carmo, com área para eventos, restaurante e quartos. Este é o maior e mais requintado hotel da cidade, com diárias que variam entre R$ 55 e R$ 215. Atualmente, a Ordem 1ª abriga as atividades da Igreja Matriz de

Cristo com olhos puxados, acreditase que tenha vindo de Macau

Foto: Eduardo Pelosi

Nossa Senhora do Rosário, que se encontra fechada para restauração dos bens artísticos. A Igreja Matriz é um monumento da primeira metade do século XVIII, tombado pelo Iphan em 1939. Painéis em azulejo recobrem a lateral da nave e são um dos mais importantes exemplares desse tipo de obra na América Latina, por possuir grande extensão e altura. Ao lado da Igreja Matriz, um grande casarão branco, que hoje abriga um posto de informações turísticas e uma unidade da polícia, é a antiga residência de Ana Nery. Perto dali, a Casa da Irmandade da Boa Morte é uma parada obrigatória para quem quer conhecer a maior festa religiosa de Cachoeira. Formada há cerca de 150 anos por mulheres negras e mestiças, a irmandade tinha o intuito de alforriar escravos ou darlhes fuga. Todos os anos, a Festa da Boa Morte atrai para a cidade um grande número de visitantes, entre estudiosos e turistas de diversas partes do mundo. Perto da Casa da Irmandade fica a praça D’Ajuda, local que abriga o primeiro templo religioso de Cachoeira, a Capela D’Ajuda, construída entre 1595 e 1606, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. A pintura artística primitiva da cúpula é um dos destaques da construção; o desenho é composto de ramagens flamejantes, em um trabalho com padrões do século XVII. Na praça, uma grande festa é realizada na segunda quinzena de novembro. A Festa D’Ajuda reúne devotos em comemorações que misturam o sagrado e o profano. Com uma extensa programação

Ordem 3a do Carmo é toda decorada com detalhes em ouro

que se prolonga por vários dias, a festa é encerrada com o Terno da Alvorada, reunindo mascarados, cabeçorras e muitos populares nas ruas de paralelepípedos, ao som de filarmônicas e fanfarras. Seguindo para a Praça Teixeira de Freitas, encontramos monumentos em homenagem aos heróis da independência. A praça fica em frente ao antigo Hotel Colombo e próxima às margens do Rio Paraguaçu que, com aproximadamente 600 km de extensão, é o maior rio genuinamente baiano e responde pelo abastecimento de água de vários municípios.

Foto: Rita Barreto

Senhor dos Passos atrai devotos do catolicismo e do candomblé

Câmara, é possível caminhar até a Igreja e Casa de Oração da Ordem 3ª do Carmo, uma monumental obra construída pelos Carmelitas Descalços. Do lado de fora, a igreja parece ser simples, porém, o interior revela todo o seu esplendor e refino, com forros e a nave em detalhes do barroco rococó. Construído no século XVIII, o templo reunia a aristocracia da região e os senhores de engenho. Por ser composta de muitas pinturas e detalhes em ouro, ela é considerada pelos moradores uma réplica em pequena escala da Igreja de São Francisco, em Salvador. O claustro da Igreja, feito de tijoleira, estava recoberto com terra e foi restaurado. Na sacristia, um curioso conjunto de imagens representa a Paixão de Cristo, mostrando Jesus com olhos puxados e traços orientais. Acredita-se que essas imagens tenham vindo de Macau,

Foto: Eduardo Pelosi

Igrejas reúnem significativo patrimônio cultural

Fotos: Rita Barreto

Circuito Recôncavo

Igreja da N. S. da Purificação, em Santo Amaro Viver Bahia | 23


Cemitério dos Nagôs, em Cachoeira

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a margem do rio, pode-se caminhar para ter uma vista panorâmica da cidade vizinha, São Félix - vista que mostra a disposição das casas formando um triângulo, com uma cruz no topo, desenho que rendeu ao local o apelido de cidade presépio - e apreciar a imponência da ponte D. Pedro II. Construída como ponte ferroviária, a D. Pedro II liga as cidades de Cachoeira e São Félix e, hoje, é utilizada para a travessia de pedestres, bicicletas e automóveis. A ponte metálica teve sua estrutura importada da Inglaterra - segundo alguns historiadores iria ser montada sobre o rio Nilo, no Egito - e foi inaugurada em 1885, com a presença do próprio Imperador; possui comprimento total de 365 metros, com vigas em treliça. Por autorização do Imperador, foram fixadas as armas imperiais sobre o fecho da ponte. Este é o mais forte elo de ligação de Cachoeira com a sua cidade irmã, São Félix.

Foto: Eduardo Pelosi

e Suerdieck, a cidade virou centro de referência na produção fumageira. Batizar o grupo com o nome da fábrica de charutos foi a estratégia utilizada pela sambista para agradar aos patrões e conseguir tempo para realizar os ensaios. Com quase 52 anos Foto: Rita Barreto

ara quem gosta de samba de roda, a parada obrigatória é a Casa do Samba, na rua da Matriz. A sambista, Dona Dalva Damiana, a mais importante sambista do Recôncavo, inaugurou recentemente a casa onde promove ensaios às quartasfeiras e oferece comidas e bebidas típicas da região, todos os dias. Aos 82 anos, Dona Dalva conta que começou a fazer samba quando era garota. Logo em seguida, ela começou a trabalhar na fábrica de charutos Dannemann e depois na Suerdieck, onde montou o Samba Suerdieck, grupo formado por trabalhadores da fábrica, que até hoje se apresenta sob o comando da fundadora. No início do século XX, Cachoeira mostrava grande estabilidade econômica. Com as fábricas de charutos Dannemann

de samba, Dona Dalva compôs músicas como Amor de Longe, Jiló, Samba do Avião, Ciúme, Imperador, Papai Nicolau e Irerê. Na Casa do Samba, ela reúne fotos, troféus e lembranças de meio século dedicado à música. O local também é espaço para ensaios do Samba Suerdieck, do Samba de Roda Mirim e de outros grupos de samba formados na região. Outro ponto importante do turismo étnico-afro de Cachoeira pode ser encontrado no Alto do Rosarinho, onde estão erguidos a Igreja da Nossa Senhora da Conceição do Monte e o Cemitério dos Nagôs. O templo é uma referência para o povo negro da região, onde se reuniam os negros com alguma ascenção social. No cemitério, lápides com inscrições em línguas africanas indicam as origens dos negros que ali estão enterrados, dentre eles, alguns sacerdotes do candomblé.

Casa do Samba de Roda

Ponte D. Pedro II une as cidades de Cachoeira e São Félix

Cidade fica cravada entre o rio e a serra

São Félix e as batalhas contra a canhoneira portuguesa

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urante as lutas pela Independência da Bahia, em 1822, São Félix teve fundamental importância nas batalhas contra a canhoneira portuguesa. Da margem do rio, os manifestantes partiam em canoas para atacar os inimigos. Depois de muitas baixas, os sanfelistas conseguiram enfraquecer a esquadra lusitana e levá-la à derrota, junto com o povo de Cachoeira. Cravada entre o rio e a serra, São Félix teve uma importante função de terminal tropeiro, pois dali partia a Estrada de Minas, que passava pela Chapada Diamantina, até chegar a Minas Gerais e Goiás. Durante os séculos XVIII e XIX, o desenvolvimento comercial fez a cidade crescer em um ritmo acelerado. Às margens do rio Paraguaçu foram instalados depósitos e armazéns de fumo e três grandes fábricas de charuto, que fizeram São Félix ser chamada de Cidade Industrial. A produção de charutos local já foi a maior exportadora da República e foi responsável pela construção da estrada de ferro.

A cidade reúne monumentos e prédios seculares datados dos séculos XVII, XVIII e XIX, que compõem o acervo arquitetônico e histórico. Logo ao atravessar a ponte, o visitante chega à praça Manoel Vitorino, onde fica localizada a Igreja Matriz de Deus Menino. A fachada do templo possui uma grande portada e quatro janelas no coro, todas com vergas recortadas e molduras em argamassa. No acervo, diversas imagens da Sagrada Família, de Nossa Senhora do Rosário e Cristo Crucificado. Foto: Eduardo Pelosi

Foto: Rita Barreto

Herança africana atrai turistas internacionais

Ponte une cidades irmãs

Foto: Rita Barreto

Circuito Recôncavo

Praça Inácio Tosta, em São Félix Viver Bahia | 25


Chegada da Família Real desencadeou processo

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10 Passo para a independencia do Brasil de Antonio Parreiras, registra manifestação em Cachoeira

português ao Forte de São Pedro e ocupação da capital. Após os ataques, os representantes das vilas do Recôncavo reuniram-se na Câmara de Cachoeira, no dia 25 de junho de 1822, para montar um governo interino e lutar pela retirada das tropas portuguesas. A manifestação foi atacada por uma canhoneira portuguesa no rio Paraguaçu, A troca de tiros durou até o dia seguinte, com a vitória do povo cachoeirano. Em homenagem a esse dia histórico, desde 2007 a cidade de Cachoeira transforma-se na capital do Estado no dia 25. Outras batalhas fizeram os brasileiros ganharem forças na luta da Independência da Bahia, como a batalha de Cabrito, Pirajá e a tentativa de ocupação portuguesa em Itaparica. A esquadra naval de Lord Cochrane cercou os portugueses em Salvador, enquanto em terra exércitos do Recôncavo faziam o bloqueio. Madeira de Melo foi forçado a abandonar a cidade no dia 2 de

margem do rio Paraguaçu é possível conhecer a única fábrica de charutos que ainda funciona na cidade. A Fábrica e Centro Cultural Dannemann mantém a fabricação artesanal feita pelas habilidosas charuteiras, que transmitem o delicado ofício de mãe para filha. O trabalho de confecção artesanal dos charutos faz com que a fábrica tenha um padrão reconhecido internacionalmente. A fábrica funciona com 11 charuteiras que produzem entre 200 e 400 charutos por dia, a depender do tipo fabricado; ao todo, são produzidos nove tipos de charutos. O Centro Cultural Dannemann é um espaço utilizado para exposições, oficinas e cursos. O local é sede do Festival de Filarmônicas e da Bienal do Recôncavo, que este ano será realizada a partir do dia 27 de novembro. Além de conhecer cada passo da produção fumageira, o visitante pode adotar uma árvore,

Exército brasileiro chega em Salvador

julho de 1823, quando esta foi ocupada pelas tropas baianas, libertando definitivamente a Bahia do domínio lusitano. O 2 de Julho ficou assim marcado como a data da Independência da Bahia, comemorada todos os anos com muita festa, em todo o Estado.

Turistas do mundo inteiro visitam a fábrica

Fábrica e Centro Cultural Dannemann conserva tradição local Fotos: Eduardo Pelosi

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m 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil, grandes transformações levaram o país ao caminho da Independência. Aos poucos, a instalação da corte lusitana fez o Brasil passar de colônia a Reino Unido a Portugal e Algarves. No fim do século XVIII, a Bahia passou por um movimento popular pela emancipação da província, contra a carga de impostos cobrados pela Coroa e o sistema escravista, conhecido como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798) e que culminou na guerra pela Independência da Bahia. Após a formação da Junta Provisória (1821), tropas da Legião Constitucional lusitana foram enviadas a Salvador, a fim de garantir a ordem. Militares e civis foram para a Câmara de Salvador e convocaram o povo para exigir a deposição da Junta. A Legião Constitucional foi então chamada para ocupar a praça Municipal, sob comando do governador das Armas, Inácio Madeira de Melo. Os conflitos fizeram com que um grande número de famílias baianas abandonasse a capital rumo às vilas do Recôncavo. A partir da eleição de membros para uma nova Junta, a revolta acirrou as manifestações entre portugueses e brasileiros, culminando no ataque

Foto: Rita Barreto

Fabricação artesanal de charutos atrai visitantes

Circuito Recôncavo

Charuteiras produzem de 200 a 400 peças por dia

que é plantada através de um projeto de reflorestamento com árvores nativas. No prédio que abrigava a antiga sede da Dannemann, construído no fim do século XIX, hoje funciona a Casa de Cultura Américo Simas. O espaço abriga cursos de línguas, artesanato e de educação patrimonial, oficinas, e serve como sede da organização de eventos locais, como a Festa da Independência. O nome da casa é uma homenagem ao

engenheiro Américo Simas, sanfelista responsável pela construção da barragem de Bananeiras, atual usina hidrelétrica de Pedra do Cavalo. Outra construção do final do século XIX é o prédio da Prefeitura de São Félix. No local, é possível encontrar detalhes conservados, como os vitrais, que representam a produção agrícola local, e pinturas nacionalistas no teto. A fachada tem inspirações em detalhes do Palácio de Berlim e do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Duas águias e o relógio despontam de forma majestosa na parte superior do prédio. A praça Inácio Tosta foi palco do comício feito por Miguel Guanais, em 1831, para mobilizar os populares a invadir o Convento do Carmo, em Cachoeira. Agípio José de Souza, avô do poeta Castro Alves, foi um dos que aderiram ao movimento, que iniciou o processo de tomada da invasão da Câmara de Cachoeira onde foi constituído o governo provisório. Na mesma praça, está o sobrado Arraial de São Félix, às margens do Paraguaçu, antiga residência de Castro Alves. Viver Bahia | 27


Fé e devoção a Senhor do Bonfim em Muritiba

Circuito Recôncavo

Fotos: Rita Barreto

Fotos: Eduardo Pelosi

Fundação Hansen abriga exposição permanente

Casa conserva decoração e obras originais de Hansen Bahia

São Pedro também reúne devotos em Muritiba

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ubindo a serra pela ladeira de Santa Bárbara, São Félix revela uma vista encantadora da região, com a grande barragem de Pedra do Cavalo e os belos traços dos casarões de Cachoeira. Na subida, a casa onde viveu o artista xilógrafo alemão Karl Heinz Hansen, conhecido como Hansen Bahia, abriga exposições e permanece como um museu, onde é possível conhecer a maneira inovadora de como o artista integrava as obras de arte e suas ferramentas à arquitetura do ambiente. Atualmente, a Casa Hansen abriga uma exposição comemorativa dos 95 anos de nascimento do artista. Foi nessa casa que Hansen Bahia viveu até 1978, quando morreu. O espaço reúne algumas das matrizes de suas obras, como a Via Crucis no Pelourinho, de 1967, e algumas obras restauradas, como a série Navio Negreiro, inspirada no poema de Castro Alves. O artista apreciava muito o artesanato local 28 | Viver Bahia

Artista reunia artesanatos de baianos em sua casa

e decorava sua casa com muitas dessas peças. Trabalhos de Genaro de Carvalho e Carybé, que ficavam incrustados na parede do local, foram restaurados. As janelas do espaço revelam uma bela vista de São Félix e Cachoeira que, segundo pesquisadores, teria atraído Hansen pela semelhança com as paisagens de sua terra natal, Hamburgo. A Fundação Hansen, que administra a casa e uma sede em Cachoeira, realiza oficinas e cursos em parceria com órgãos

estaduais e federais, além de 21 instituições museais da região. Os alunos de São Félix e Cachoeira são treinados no ofício da xilogravura, seguindo o desejo do artista de levar aos jovens o conhecimento da arte. Com mais de seis mil visitantes por ano, a instituição atrai um grande público internacional, e seu acervo é composto por mais de quatro mil obras. Com 30 anos de existência, a casa conserva praticamente a mesma forma como o artista a deixou.

ubindo a serra de São Félix, através das ruas íngremes e cheias de curvas, é possível ver bem do alto a paisagem com o rio Paraguaçu e Pedra do Cavalo. O caminho leva ao município de Muritiba, cidade com pouco mais de 27 mil habitantes, famosa pela tradicional Festa do Senhor do Bonfim. Os moradores da cidade participaram ativamente nas lutas pela Independência; dentre eles, destacam-se o major José Antônio da Silva Castro, avô do poeta Castro Alves. O major comandava o Batalhão dos Periquitos, formado

por 700 homens, incluindo um rapaz valente, que se descobriu depois ser Maria Quitéria. Em 1859, enquanto ainda era uma vila de Cachoeira, o local recebeu o imperador D. Pedro II, que se hospedou ali e bebeu um copo de água da Fonte dos Padres. Na cidade, a Igreja Matriz de São Pedro é o que mais atrai os turistas. Com 305 anos de construção, o templo possui duas sacristias sobrepostas, um grande painel de azulejos que conta a história de São Pedro, datado de 1780, e a pia de mármore onde foi batizado Castro Alves. Afastado do movimento da cidade, Cachoeirinha é um local que reúne belas paisagens, cachoeiras expressivas, a charmosa linha por onde passa o trem, e ricas flora e fauna, no meio do Recôncavo. O lugar agrupa seis cachoeiras que fazem o curso do rio Cachoeirinha e indicam caminhos ideais para trilhas e passeios ecológicos. Em fevereiro, a Festa do Senhor do Bonfim é o grande momento de comemorações da cidade. Com forte apelo popular, a festa inclui novena, missa solene e as tradicionais barracas

de largo que oferecem fartura de comidas e bebidas típicas. Outro grande evento local é a Festa de São Pedro, em junho, com quadrilhas, grupos folclóricos e bandas de forró. Nesse período, a famosa Guerra de Espadas proporciona um show de luzes e pirotecnia nas ruas da cidade. Informações

Úteis

Santo Amaro Cachoeira São Félix Muritiba

BR 324

Santo Amaro Cachoeira São Felix Muritiba

Salvador

COMO CHEGAR Saindo de Salvador pela BR-324, deve-se percorrer 59 km até o entroncamento da BA-026, e seguir mais 11 km em direção a Santo Amaro. Saindo de Santo Amaro, são 38 km através da BA-026 para chegar a Cachoeira. Para a próxima parada, São Félix, cidade vizinha de Cachoeira, basta atravessar a ponte D. Pedro II. Subindo a serra de São Félix, através das ruas íngremes e cheias de curvas, para a Ladeira da Misericórdia, por um quilômetro, até chegar a Muritiba.

ONDE FICAR SANTO AMARO Amaros Hotel - Rua Conselheiro Saraiva, nº 27, Centro. (75) 3241-1202 Hotel Casa Grande - Praça da Purificação (75) 3241-1721 Hotel Lobo - Rua Conselheiro Paranhos (75) 3241-1721 CACHOEIRA Hotel Fazenda Vila Rial - Zona Rural Ladeira do Padre Inácio (75) 3602-4600 Cachoeira Apart Hotel - Rua Lauro de Freitas (75) 3425-1792 Aclamação Apart Hotel - Praça da Aclamação, nº 02 (75) 3425-3428 Pousada do Convento do Carmo - Rua Inocêncio Boaventura (75) 3425-1716 Pousada D’Ajuda - Ladeira D’Ajuda, nº 02 (75) 3425-5278 SÃO FÉLIX Pousada Paraguaçu - Avenida Salvador Pinto, nº 01 (75) 3438-3369 Pousada Rio Doce - Praça Ignácio Tosta (75) 3438-3484

Rio Cachoeirinha reúne seis cachoeiras

MURITIBA Pousada das Palmeiras - Rua Virgílio Gonçalves Pereira (75) 3424-7524 Pousada da Serra - Rua Danneman, na subida de São Félix (75) 3424-1623 Pousada da Teço - Rua Sabino Santiago, nº 06, Centro

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Produção Associada ao Turismo

Couro e Companhia

Fotos: Rita Barreto

Alternativa viária para a Chapada Diamantina possibilita parada para compras de artigos de couro em Ipirá e Itaberaba Eduardo Pelosi

V

endidos em todo o Brasil, os artigos de couro produzidos no centro norte baiano já transformaram a região em um ponto de parada para quem quer aproveitar a viagem para comprar bolsas, calçados, chapéus, coletes, cintos e artigos de selaria. Quem vai visitar a Chapada Diamantina, tem na rota do couro uma boa opção para as compras. Saindo de Salvador pela BR-324, até Feira de Santana, é só pegar a BA-052, conhecida como Estrada do Feijão, até o município de Ipirá, onde algumas lojas de fábrica encontram-se já na entrada da cidade. Localizada a 211 km de Salvador, Ipirá é uma das grandes fabricantes de artigos de couro da região da Bacia do Jacuípe. A produção local tem números significativos, com cerca de 150 microempresas e um faturamento médio de R$ 3 milhões/mês. Considerada por alguns a capital do couro no Estado, Ipirá tem no centro da cidade um comércio 56 | Viver Bahia

Calçados femininos de Ipirá são vendidos em todo o país

Fábricas utilizam a mão de obra da região para confeccionar as bolsas, carteiras, cintos e calçados

bastante movimentado, com diversas lojas que vendem artigos de couro. Na feira livre, são comercializadas muitas peças feitas de forma quase que artesanal fabricadas no povoado do Malhador, a 10 km da cidade, onde surgiu a tradição local da produção de peças em couro. Lá, os primeiros fabricantes começaram a fazer o corte do couro e criar peças como sandálias. Os próprios empresários faziam a distribuição dos produtos em todo o Brasil. Hoje, as principais fábricas da região já contam com distribuidores espalhados por todo o país; algumas já possuem lojas próprias em cidades da região. Uma das principais fabricantes de carteiras, cintos e bolsas da cidade é a Aredda Couro, que tem sua sede logo na entrada da cidade, no km 84 da Estrada do Feijão. A fabricação começou no Malhador, em 1996, e depois foi transferida para o centro de Ipirá. No início, a produção funcionava num pequeno depósito, e eram confeccionadas 300 peças por dia. Em 2002, a produção já alcançava

mais de 1.000 peças diárias e os produtos foram diversificados. Atualmente, a empresa tem distribuidores que atuam em todas as regiões do Brasil e acompanha todas as tendências para inovar no estilo dos seus produtos. Em uma área de 1.500 m², a fábrica que hoje produz 1.600 peças é totalmente integrada com a loja, na entrada da cidade. O local é amplo e possui um espaço receptivo, com mesas e uma área de lanches e bebidas, para quem acabou de chegar de viagem. Através de um vidro no fundo da loja, é possível ver a fabricação dos produtos. Ao todo, são 10 vendedores na loja e 80 pessoas na fábrica. A matéria-prima dos produtos de couro feitos em Ipirá vem do interior de São Paulo e de Pernambuco, mas toda a transformação do produto é realizada aqui, desde o corte do couro até a embalagem, tudo é feito dentro da linha de montagem, que manda o produto novinho direto para a loja. De acordo com o empresário

Preço baixo atrai visitantes às lojas do interior Viver Bahia | 57


Dilson Gomes, a ideia de montar a empresa surgiu da vontade de seguir a tradição do pai, que fabricava artigos de selaria. Gomes explica que toda a mão de obra é captada no município. “Valorizamos quem é daqui, não temos um treinamento específico, eles aprendem na fábrica e na loja, com a prática do dia a dia”, explica o empresário, que aponta a falta de qualificação a grande dificuldade para o crescimento do negócio, mas a empresa já planeja buscar apoio de outras organizações para capacitar os futuros trabalhadores. A gerente da loja, Rosângela Silva, conta que muita gente que compra na loja já planeja a viagem com uma parada em Ipirá. “Quando as pessoas programam as viagens, elas já incluem a cidade como uma parada para as compras. Além disso, quem passa na rodovia e vê a nossa loja também resolve parar para conhecer”, relata. De acordo com a gerente, os dias mais movimentados são as quintasfeiras, sextas e os sábados. Para ampliar as vendas, a empresa planeja melhorar a infraestrutura do acesso da loja, com uma entrada completamente asfaltada e área de estacionamento, além de abrir outras lojas, para atingir cada vez mais o consumidor final. Interessada pelas bolsas de couro vendidas na loja, a estudante Mariana Rabelo veio com a mãe, de Salvador, para conhecer o local. Depois de olhar os diversos modelos e cores de bolsas, ela escolheu uma bolsa 58 | Viver Bahia

vermelha, bem grande, para levar tudo que precisa e ficar na moda. “Eu vim porque a minha amiga, que nasceu em Ipirá, me contou que aqui tem essas lojas. Dá vontade de levar tudo, em Salvador essas bolsas custam uns R$ 200 a mais”, comenta. Ainda em Ipirá, outra empresa que atua na fabricação e comércio de artigos de couro é a Dominus Couro. Com mais de 15 anos no mercado, o início da fabricação também começou de forma quase que artesanal, no povoado do Malhador, sendo uma das primeiras empresas a fabricar a Sela Montada. Atualmente no centro da cidade, a Dominus possui uma loja pequena, ao lado da fábrica, já que foca mais na distribuição dos seus produtos. O gestor da empresa, Paulo

Fotos: Rita Barreto

Produção Associada ao Turismo

Linha de montagem produz 1.600 peças por dia em Ipirá

Carteiras e bolsas são fabricadas acompanhadando as tendências do mercado internacional

Produção utiliza matéria prima de diversas cores e texturas

Vinícius Macedo, conta que toda a estrutura de fábrica e loja serão transferidas, em breve, para um espaço maior, na entrada da cidade. “Precisamos de um galpão maior para ampliarmos a nossa equipe e a quantidade de peças produzidas; estamos investindo na qualidade dos produtos e em clima de crescimento. Pretendemos mudar para o novo espaço ainda este ano, já que tudo é feito com os recursos da empresa”, explica Macedo. Com uma produção de 500 peças por mês, a fábrica conta com, aproximadamente, 40 funcionários - todos da região - e utiliza mais de 20 texturas diferentes para produzir bolsas, pastas, carteiras, sapatos e calçados. Para treinar os novos funcionários, a empresa Viver Bahia | 59


investe na capacitação e realiza uma escolha criteriosa para novas contratações. Seguindo viagem pela BA233, são 73 km de uma estrada novinha que liga Ipirá a Itaberaba, portão de entrada da Chapada Diamantina. No percurso, o cenário já contempla a bela visão das serras e morros característicos da região. Em Itaberaba, algumas fábricas e lojas de artigos de selaria também diversificam os produtos comercializados para integrar a Rota do Couro. Localizada no Mercado Velho, a Selaria Campo Rural ainda possui uma pequena estrutura, mas já vende as selas e artefatos country para moradores do sudeste e centro-oeste que visitam a cidade. Com 12 anos no mercado, o empresário Israelício Oliveira explica que algumas selas são fabricadas na região, mas como o trabalho é feito em família, ele produz apenas cinco selas por mês, o resto é comprado em fábricas de outras regiões, como o sul da Bahia, Feira de Santana e a cidade de Cachoeirinha, em Pernambuco. “O nosso termômetro para a venda é a seca; quando chega o mês de junho, nossas vendas melhoram e, com isso, podemos investir mais. A nossa dificuldade hoje é a queda no número de vaqueiros; hoje é muito mais barato para o fazendeiro tocar o gado com motos, que custam menos e não precisam de tanto cuidado como os animais. Por isso, precisamos diversificar a produção”, conta Oliveira. 60 | Viver Bahia

Fotos: Rita Barreto

Produção Associada ao Turismo

Produção de calçados emprega mais de 30 mil pessoas em 20 municípios da Bahia

Preço das bolsas chega a até 50% mais barato do que nos grandes shoppings centers

Também em Itaberaba, a Selaria Puma já possui uma estrutura maior. Além de selas, a loja já vende chapéus, sapatos, botas, coletes, itens de decoração, acessórios e cintos de couro, tudo para diversificar o comércio e atrair novos consumidores. Para a administradora Joana Almeida, de 27 anos, vale a pena percorrer os 180 km que separam Seabra de Itaberaba para comprar artigos de couro. “Tudo aqui é muito trabalhado, a costura é detalhada e o material dura bastante. Além disso, não encontramos esses preços em outros lugares, eu prefiro vir até Itaberaba para fazer as compras”, relata. Depois das compras, o visitante pode conhecer alguns dos principais pontos turísticos de Itaberaba, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída

em 1906, que possui um belíssimo acervo de imagens sacras e uma imagem de estilo barroco da Virgem do Rosário, padroeira da cidade. Portal da Chapada, Itaberaba também revela alguns cenários típicos das cidades da região. Saindo de Itaberaba, a viagem pode continuar de forma esplendorosa com um passeio pela Chapada Diamantina. A vasta Mata Atlântica, campos floridos e planícies de um verde sem fim dividem a paisagem com toques de caatinga e cerrado. Imensos paredões, desfiladeiros, cânions, grutas, cavernas, rios e cachoeiras completam o cenário de rara beleza da região. POLO CALÇADISTA - Em Ipirá, uma grande fábrica utiliza couro e outros produtos sintéticos para a fabricação de calçados. A Paquetá, tradicional empresa do ramo que

criou a linha Ortopé, possui mais de mil funcionários trabalhando na cidade e fabrica calçados das grandes marcas Diadora e Adidas, no interior da Bahia. A empresa integra o Polo Calçadista da Bahia, que possui 30 empresas na área de calçados e emprega mais de 30 mil pessoas em 20 municípios. As indústrias instaladas em municípios como Ipirá, Itaberaba, Jequié, Jacobina e Ruy Barbosa contabilizaram, em 2009, mais de 35 milhões de pares de calçados produzidos, num valor global de R$ 850 milhões, de acordo com o Sindicato da Indústria de Calçados, Componentes e Artefatos da Bahia (Sindcalçados). Em 2010, o polo calçadista baiano deve crescer ainda mais. O Governo do Estado investe cerca de R$ 42 milhões para apoiar o desenvolvimento do setor e fortalecer a cadeia produtiva. Uma nova instalação da Ramarim, em Jequié, deve gerar 1,1 mil novos empregos diretos e a duplicação de galpões da fábrica Free Way, em Jacobina, vai gerar mais 330 empregos. A Vulcabrás/Azaléia, por exemplo, maior calçadista brasileira e maior produtora de artigos esportivos da América Latina – fabricante de marcas como

Reebok, Olympikus, Vulcabrás, Azaléia e Opanka – planeja, para 2010, investimentos de R$ 14,6 milhões nas 19 unidades fabris no Estado, sendo R$ 9,6 milhões para ampliação produtiva. “A capacidade de produção da empresa na Bahia, que esteve ociosa em boa parte de 2009, voltou a ser plenamente utilizada. Nossa expectativa é de fechar 2010 com 18.513 empregados na Bahia, 881 a mais do que dezembro de 2009”, afirmou o presidente da Vulcabrás/Azaléia, Milton Cardoso. No portão de entrada da Chapada Diamantina, outra fábrica planeja crescimento nas suas unidades da Bahia em 2010. O Grupo Dass, instalado em Itaberaba, está entre os três maiores grupos industriais do Brasil e os cinco maiores da América Latina no setor e espera crescer 12% no Estado.

Informações

Úteis

Ipirá Itaberaba Salvador

BA 052

Ipirá

Feira de Santana

BR 324

BA 488

Itaberaba

Salvador

COMO CHEGAR Saindo de Salvador pela BR-324, até Feira de Santana, é só pegar a BA-052, conhecida como Estrada do Feijão, até o município de Ipirá. Seguindo viagem pela BA-233, são 73 km pela nova estrada que liga Ipirá a Itaberaba, portão de entrada da Chapada Diamantina.

ONDE FICAR IPIRÁ Phyccus - Pousada e Restaurante - Rua Glicério Dutra Santos, nº 253 www.pousadaphyccus.com.br (75) 3254-1220 Pousada e Restaurante Girassol Rua Artur Neiva, nº 46 (75) 3254-1423 Supreme Apart Hotel - Travessa Coronel João Reis, 4 Tel. 3254-1173 ITABERABA Pousada Portal do Sol - BR-242, km 90 (75) 3251-5151 Hotel Casagrande.Br - BR-242, km 203 (75) 3251-5399 Hotel Morro das Flores - Pça. Flávio Silvany, nº 53 (75) 3251-2779 Pousada Bahia - Av. Rio de Janeiro, nº 815 (75) 3251-1996 Pousada Diamantina - Av. Ruy Barbosa, nº 786 (75) 3251-1203 Pousada Puma - NR-242, km 203 (75) 32515054

Polo calçadista produziu 35 milhões de pares Viver Bahia | 61


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