Infociência Nº16

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EXCLUSIVO

No II Fórum de Comunicação da Bahia, o jornalista documentarista, Eduardo Coutinho, falou para a coluna Duas Perguntas Para sobre investimento, pesquisa e interesse em produção cinematográfica no país.

Infociência

O primeiro jornal de ciência e tecnologia da Bahia

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário da Bahia - FIB

Primeiro testador nacional de bombas de infusão O testador de bombas de infusão, além de facilitar o trabalho dos profissionais de saúde, tem a finalidade de controlar dosagens específicas em tratamentos desenvolvidos em hospitais. Pesquisadores do grupo “Engenharia Clínica”, que funciona no Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (Cefet-BA), produziram um protótipo que aponta resultados positivos e gradativos quando comparados a outros testadores importados e certificados metrologicamente. PÁGINA 5.

Ano V - Número 16 - Julho de 2006 - Salvador/Bahia

Medidores de pressão arterial baianos estão fora do padrão

Mariana Martins

Programa da Fapesb atrai doutores para a Bahia Claudimário Carvalho

O Programa de Fixação e Atração de doutores (PRODOC), através de seleções, têm trazido uma quantidade significativa de doutores de outros lugares do Brasil e do Mundo para a Bahia. Com o intuito de inseri-los nas Instituições de Ensino Superior e Centros de Pesquisa para desenvolverem seus estudos e projetos, a Fapesb, além de bolsas, oferece toda uma estrutura que favorece e estimula a permanência desses participantes no Estado. Em 2005, foram selecionados 53 doutores que, atualmente, estão em fase de contratação pela Instituição para a qual trabalham. PÁGINA 3.

Reprodução Assistida gera polêmica no Brasil O maior país católico do mundo, às vezes por falta de informação, teme a fertilização manipulada e ainda associa a gestação à religião. Maria do Carmo Borges de Souza, responsável pelo setor de Reprodução Humana do Instituto de Ginecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conversou com o Infociência sobre questões jurídicas e éticas, doação compartilhada de óvulos, além dos aspectos positivos e negativos da inseminação. PÁGINA 7. Pesquisa realizada pelo grupo “Tecnologia em Saúde”, no Centro Federal Tecnológico da Bahia (Cefet-Ba) indica que 77,4% dos medidores de pressão arterial (esfigmomanômetro) usados nos hospitais baianos estão fora do padrão permitido por lei, colocando em risco a saúde dos pacientes. Para sanar o problema, o grupo desenvolve, de modo pioneiro no Brasil, um equipamento que possa medir e garantir a eficácia desses aparelhos. Dos 145 esfigmomanômetros testados, 65 deles não tinham sua marcação a partir do zero, ou seja, eles já possuíam uma medida em seu visor, para mais ou para menos, o que na prática poderia fazer que uma pessoa normal tivesse sua medida arterial alterada para hipertensão (pressão alta) ou Hipotensão (pressão baixa), sem que isso fosse verdade.PÁGINA 5.

Fábulas ainda encantam todas as idades

Lanches de rua podem ser prejudiciais à saúde Neuma Dantas

As narrativas seculares que despertam a atenção de muitos adultos e, principalmente, crianças são temas de pesquisa do Instituto de Letras da Universidade Católica do Salvador (UCSAL). O projeto “Estudo diacrônico da fábula: da antiguidade clássica à contemporaneidade” avalia o gênero, confrontando fábulas do passado e da atualidade, de autores como Esopo, Fedro, La Fontaine, Millôr Fernandes e Jô Soares, além de traçar um paralelo das suas manifestações através dos tempos. PÁGINA 8.

Um preço tentador e o estômago em estado de alerta são motivos suficientes para que muitas pessoas optem por lanches nada saudáveis, com baixa qualidade alimentícia e de higiene, oferecidos pelo mercado informal. Ryzia de Cássia Cardoso, nutricionista e doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, comprova em pesquisa que a maioria dos consumidores não tem percepção do risco oferecido por tal alimentação. PÁGINA 4.

Escola de Medicina Veterinária da Ufba completa 55 anos Pioneira na Bahia, a Escola de Medicina Veterinária da UFBA, sofreu grandes transformações ao longo de sua história. O crescimento da instituição contribuiu para a formação de profissionais capacitados e para o progresso de pesquisas na área veterinária. PÁGINA 8.

Manguezais baianos são alvos de destruição André Carvalho

Estudo desenvolvido na Uesc, em Ilhéus, identifica 130 espécies de crustáceos ao sul da Baía de Todos os Santos, alguns dos quais nunca tinham sido registrados. Foram diagnosticados também problemas que comprometem a fauna marinha como a poluição, pesca predatória, destruição do habitat natural e até doenças de origem ainda desconhecidas, sem previsão de controle, que afetam os custráceos e prejudicam o meio ambiente e até o comércio. PÁGINA 4.


EDITORIAL

Inflação, impostos, corrupção, violência, injustiça social. Viver no Brasil significa, como o dito popular, matar um leão por dia. Todos esses percalços contribuem para um quadro que tem se configurado na saúde do país: é cada vez mais crescente a ocorrência de hipertensão arterial em nossa população. Em 2005, foi estimado em torno de um milhão de hipertensos na Bahia e, desses, apenas 12% estariam diagnosticados e controlados. Mas este não é um caso isolado, hipertensão arterial transfor-mou-se numa epidemia do mundo moderno: estudos mostram que cerca de 50% dos adultos acima de 50 anos, são hipertensos. Em resposta a essa situação, espera-se a articulação dos órgãos de saúde no sentido da prevenção e tratamento do mal. A realidade, porém, é que ainda existe uma grande lacuna entre a ocorrência do problema e o encaminhamento para a sua solução. P a r a c o m e ç a r, u m a resposta negativa: nossa estrutura hospitalar amarga o fato de apresentar carências num ins-trumento básico no tratamento da hipertensão: as condições dos seus medidores são alarmantes. Em hospitais baianos foi registrado que 77.4% dos indicadores de pressão arterial humana (esfigmomanômetro) possuem mar-gem de erro acima do permitido. Este dado foi revelado através do estudo do grupo “Tecnologia em Saúde”, reali-zado pelo Centro Federal de Tecnologia da Bahia (CefetBA) e demonstra nosso estágio

C

HARGE

Saúde sem medida

A

Infociência

opinião

julho de 2006

primário na melhoria da doença. A medição arterial e o seu acompanhamento são ferramentas básicas para iniciar o tratamento desse mal e, no seu processo, alguns fatores contribuem para a maior precisão de um diagnóstico. Além do fator humano – já que em muitos casos a tensão no momento da medição pode alterar o resultado – o estado do material utilizado contribui para o descontrole da situação. Dados do mesmo estudo mostram que dos 145 aparelhos avaliados nos hospitais púbicos e privados, que fazem parte da Rede de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Aplicado à Saúde (Retech), 112 casos de inadequação foram identificados. A regulagem ou calibragem, etapa obrigatória da fiscalização desses equipamentos, que deve ser realizada antes da sua comercialização, também não vem sendo realizada de forma ideal. Nos hospitais observados pela pesquisa, grande parte dos medidores de pressão arterial apre-sentaram erros de dife-rença de medida para avanço e declínio da pressão, manu-tenção inadequada e vidros partidos. Além dessa falta, problemas relacionados ao cuidado e o reparo do material utilizado contribuem para a situação precária em que se encontram. A maioria (65,5%) dos aparelhos não possuem faixa de mediação iniciada por zero; 7,6% apresentam problemas no ponteiro; 2,8% têm dificuldade de medida e 1,4% encontram-se em mau

estado de conservação. Hospitais ligados a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) possuem um setor responsável apenas pela ma-nutenção interna dos equipamentos dos centros-médicos. Porém, segundo funcionários de rede pública, o atendimento é deficiente e não supre a demanda de serviço necessário para a situação atual . Este panorama tão desestimulante para o combate à hipertensão, encontra no incen-tivo à ciência, a saída para realização de melhorias que mudem o rumo do tratamento oferecido à questão. Idéias como a do Mestre em Pedagogia Profissional e professor de Engenharia Elétrica do CefetBA, Anderson Leite, podem ser um caminho para soluções desse quadro. Sua iniciativa foi a criação de um equipamento capaz de fazer conferir os riscos de medição encontrados nos tensiômetros. Já existem um circuito e um software prontos, em fase de aperfeiçoamento. Atitudes como essa devem ter atenção especial os órgãos de Saúde responsáveis pela questão. A sua falta, que se arrasta à espera de uma solução, é um entrave ao desenvolvimento do bem estar da população, atingida pela hipertensão arterial, e tem prazo curto para ser corrigida: ontem. Quando o quesito é saúde, a tolerância ao descaso público pode significar o prejuízo do bem maior que temos: a vida. Desnecessário então, é dizer o quanto urge a mudança do tratamento dos nossos governantes para a recuperação da saúde pública.

PERFIL

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ean R. Silva, 28 anos, começou a desenhar com nove anos de idade, estudou durante um ano e meio no curso de Publicidade e Propaganda em sua cidade natal, Vitória da Conquista. Há seis meses mudou-se para Salvador, segundo explica, com a intenção de buscar uma carreira mais centrada e sólida na área que sempre gostou, a criação publicitária. Detalhista e bastante criativo, atualmente trabalha numa agência de comunicação, na qual já desenvolveu peças importantes para grandes empresas e prefeituras; desenhou também produtos editoriais para um grande jornal de Salvador, trabalhando com diversas espécies de mídia. Aficionado pela criação artística, Jean diz gostar de todos os tipos, artefatos e técnicas de desenho, para ele o importante mesmo é criar, seja no computador ou no papel. Nas horas vagas, o profissional afirma que desenha para exercitar a criatividade. “Procuro estar sempre em contato com a arte, sempre!”, completa Jean. Na edição Número 15 do Infociência deixamos de incluir o nome da repórter Clarissa Noronha na coluna INFOC, página 4 e da repórter Daniela Tourinho, na entrevista com o doutor em Política Energética, Osvaldo Soliano, publicada na sessão Energia Alternativa na página 6.

Errata

RTIGO PPW: uma tecnologia web de páginas dinâmicas baseado em Pascal

A utilização de páginas dinâmicas no desenvolvimento de aplicações web é, certamente, a solução mais popular do mercado e amplamente difundida entre os desenvolvedores (programadores), graças a sua facilidade de edição, implementação e facilidade em ajustes de erros. Páginas dinâmicas são Páginas HTML (aquela página que chamamos com http://...) cujo conteúdo a ser exibido no navegador (Internet Explorer, Mozilla, Firefox, etc.) varia a depender da situação. Através de páginas dinâmicas que são construídas a maioria dos sites que vemos na web, tais como lojas virtuais (submarino, americanas, etc.), portais da web, internet banking, jornais eletrônicos, empresas comerciais em geral e muitos outros tipos. Apesar da sua popularidade atual, as páginas dinâmicas perdem um pouco em desempenho na aplicação desenvolvida, já que a página dinâmica é, em geral, interpretada toda vez que é chamada. Em contrapartida, a utilização de um ambiente CGI (Common Gateway Interface), que possui o objetivo de processar arquivos executáveis no servidor para gerar páginas HTML, ganharia em desempenho, pois os executáveis são mais rápidos de processarem, mas perderia na praticidade de desenvolvimento oferecida pelas páginas dinâmicas, pois escrever código para CGI é mais complicado. Vejo, então, que o ideal para construção e processamento de aplicações web seria o uso de um ambiente de desenvolvimento utilizando páginas dinâmicas, porém com ambiente de execução CGI. Foi nesse sentido, e obedecendo a isso, que foi desenvolvida a tecnologia PPW (Pascal Pages for Web). O PPW é uma tecnologia de desenvolvimento de aplicações web baseada na linguagem Pascal (linguagem de programação estruturada, muito popular, principalmente nas universidades) que utiliza páginas

dinâmicas, associada a um ambiente CGI de execução. A tecnologia permite que o programador desenvolva suas páginas dinâmicas – chamadas agora de páginas PPW – em qualquer ferramenta da sua preferência, incluindo código em linguagem Pascal (ou Object Pascal, que é a linguagem Pascal acrescida de características de orientação ao objeto) embutido nas páginas HTML. Dessas páginas são gerados programas executáveis que ficam armazenados no servidor esperando serem chamados. Com isso, o PPW oferece a mesma praticidade de desenvolvimento de outras tecnologias de páginas dinâmicas, tais como tecnologias consagradas como ASP, PHP e o JSP, associada à rapidez dos executáveis de aplicações CGI. A tecnologia PPW oferece ao desenvolvedor todas as facilidades das tecnologias de páginas dinâmicas existentes no mercado, tais como utilizar páginas dinâmicas e editá-las em qualquer editor de textos; gerenciar sessões web, gerenciar variáveis (valores) intercambiados entre suas páginas; acessar bancos de forma mais inteligente; trabalhar com cookies (arquivos de identificação da máquina do usuário) e principalmente obter alto desempenho das suas aplicações. Seus testes em laboratório foram bastante satisfatórios demonstrando desempenho superior ao ASP e ao JSP, tecnologias líderes de mercado, nos casos realizados. Esta, sem dúvida, é uma das grandes vantagens da tecnologia, que a deixa preparada para usos tanto comerciais como acadêmicos. Aliás, o uso acadêmico foi uma das primeiras utilizações previstas para a tecnologia, pois a tecnologia visaria adaptar melhor o aluno ao ambiente web, facilitando assim seu aprendizado em desenvolvimento

E

Centro Universitário da Bahia Jornal Laboratório dos alunos do 5° semestre do curso de Jornalismo Correspondência e sugestões para a redação: Rua Xingu, 179 – Jardim Atalaia, Stiep. Salvador/Ba CEP: 41770-130 E-mail: infociencia@fib.br Tel: (71) 2107-8236 Fax: (71) 2107-8142

João Werther Filho Mestre em Sistemas e Computação pela Universidade Salvador (Unifacs) Atua há mais de vinte anos em desenvolvimento de software

M ALERTA

XPEDIENTE Infociência

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de aplicações do gênero. O Pascal é uma das linguagens mais adotadas nos primeiros semestres dos cursos de Ciências da Computação (e similares) aqui no Brasil e, por isso, ele tende a dominá-la relativamente bem. É também uma linguagem bem estruturada, bem dividida e seu aprendizado é relativamente fácil. Mas em semestres mais avançados, principalmente a partir da iniciação do aluno no ambiente web, o Pascal, é normalmente deixada de lado. Com a adoção do PPW em universidades, o aprendizado do aluno no ambiente web, e a conseqüente evolução no curso, seria facilitado e de forma contínua. Pois bastaria ele aprender os conceitos e funcionamento do ambiente web, já que em relação à linguagem Pascal, base da tecnologia, ele teria bons conhecimentos. Com a utilização do PPW, o aluno poderia ter um maior rendimento durante o curso. Um próximo passo será o estabelecimento de uma ONG (organização não governamental) na internet para desenvolvimento, melhoramentos e aperfeiçoamento constante da tecnologia em colaboração com interessados. Isto certamente contribuirá para o crescimento e amadurecimento da tecnologia, bem como servirá como primeira etapa da sua almejada popularidade. A partir daí, a tecnologia pretende ser distribuída sem custo aos interessados, preferencialmente

Orientadores: Agnes Mariano, Ana Spannenberg, Carlos Henrique M. Brito, Paulo Munhoz Editora Chefe: Ana Spannenberg Chefes de Reportagem: Luiz Eduardo Pelosi e Bruna Bianca Editores de Fotografia: Luiz Eduardo Pelosi, Mariana Martins e Vauline Gonçalves Editora de Arte: Gabriela Magalhães Conselho Editorial: Agnes Mariano, Antonio Brotas, Luís Guilherme Tavares,

Equipe responsável pela elaboração e distribuição do jornal: Aline Suzart, Alessandra Cruz, Ana Carolina Barradas, André Carvalho, Bruna Bianca, Bruno Costa, Camilla França, Carolina Graca, Cecília Petitinga, Clarissa Noronha, Claudimário Carvalho, Cristhiane Castro, Daniela Tourinho, Diana Fernandes, Diego Luduvis, Emanuele Pereira, Fernanda Assis, Frank de Castro, Francislene Lima, Gabriela Magalhães, Itairony Souza, Ives Ferreira, Janaína Lima, Jamille Azevedo, João Marcos Vasconcelos, Juliana Barroso, Lara Karine, Lucas Peixoto, Luciana Santos, Luiz Eduardo Pelosi, Marcus Carvalho, Maria Cristina Pascoal, Mariana Martins, Michele Mendes, Neuma Dantas, Tarcísio Antunes, Tatiana Lírio, Tatyanne Nascimento, Thiago Góes, Vauline Gonçalves, Vinícius Costa. Periodicidade: Trimestral Tiragem: 1500 exemplares. Impressão: Gráfica Santa Helena.

Em novembro de 2004, o Infociência publicou um estudo realizado pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que verificava a presença de um alto índice de bactérias produtoras de histamina nos camarões pescados em alto mar (de captura), vendidos nas feiras livres de Salvador. Tal teor constata o índice de qualidade do pescado. A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Pescado e Cromatologia Aplicada (LAPES-CA) do Departamento de Análises Bromatológicas. Ela demonstrou, ainda, que a presença dessas bactérias causa intoxicação alimentar e pseudo-alergias, desenvolvendo sinto-mas como dores de cabeça, diarréia, enjôos, náuseas, taquicardia, hipotensão, urticária, peristaltismo (aumento das contrações da musculatura do intestino), podendo ocasionar a morte do consu-midor.

Na ocasião, Alaíse Guimarães, Doutora em Tecnologia de Alimentos e coordenadora do tra-balho, explicou que o estudo, realizado em agosto de 2003, apontou resultados acima do limite estabelecido pelo Ministério da Agricultura. Já os camarões cultivados em cativeiro, conforme a pesquisadora, mostraram um índice de bactérias abaixo do limite. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, nenhum órgão fiscalizava, constantemente, as feiras da cidade. A entidade declarou que a inspeção só era feita a partir das reclamações dos consumidores; hoje, é realizada pela Vigilância Sanitária ( VISA). Cristina Passos, chefe do setor de Produtos e Estabelecimentos de Interesse à Saúde, ao órgão, informou que a vistoria dos pescados, é feita de forma “rotineira, através das denún-cias”, porém não há periodi-cidade. “A fiscalização também acontece nos finais de semana, quando

há eventos, por exemplo, no Parque de Exposições. Além disso, acontecem mutirões de limpeza na Feira de São Joaquim”, esclarece. As feiras de Salvador são divididas por regiões pela VISA para controle e vigilância dos produtos comercializados. São oito Distritos Sanitários descentralizados e quatro bairros atendidos: Liberdade, Cajazeiras, São Cristóvão, Valéria, Itapuã e o Centro Histórico. “Quando a mercadoria encontra-se em condição irregular, imediatamente é feita apreensão e inutilização do produto. A vigilância costuma notificar, antecipadamente, o comer-ciante alertando irregularidades para evitar o confisco, alerta Passos”. Isso ocorre quando o produto não tem registro do Ministério da Agricultura. Luiz Eduardo Pelosi Frank de Castro jornalismo@fib.br


Infociência

política de C&T

julho de 2006

Programa incentiva fixação de doutores no Estado Fapesb e CNPq fornecem auxílio moradia e bolsa para realização de pesquisa Camila Cintra

em fase de testes. “O grande ganho foi ter aplicado o ligante asfaltoborracha. Considero isso uma conquista”, diz. A idéia de Oda é que futuramente, não só a Bahia, mas todo o Brasil poderá usar o asfalto de borracha. Ela diz que, apesar de todas as dificuldades, é gratificante ver uma obra sua ajudar a sociedade ter melhor qualidade de vida, mas ressalta que, por enquanto, a produção desse asfalto seria cara, pois não existem no estado, máquinas adequadas para processá-lo.

Parceria com CNPq

POLÍTICA A Assessora da Fapesb, Ana Oliveira, falou sobre os benefícios do programa O Programa de Fixação e Atração de Doutores (PRODOC), criado em 2002 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) já apoiou 113 doutores em seus estudos. Desde 2002, já investiu R$ 7,5 milhões no apoio aos projetos dos bolsistas, conseguindo fixar 23 deles em instituições de pesquisa da Bahia. Trata-se de um programa que busca atrair para o estado, doutores de outras regiões do Brasil e do mundo, com a finalidade de fixá-los em instituições de ensino superior (privadas ou públicas) e centros de pesquisa baianos. O PRODOC foi lançado para aumentar a qualificação em pesquisa no estado e fortalecer a criação de mais cursos de doutorados, já que, atualmente, não passam de 30 em toda Bahia. Só este ano, pelo projeto, 65 doutores foram selecionados atendendo áreas prioritárias. Um dos projetos apoiados pelo PRODOC é o da doutora em Engenharia (Infra-estrutura de

Transportes), pela Universidade de São Paulo (USP), professora Sandra Oda. Ela desenvolve um tipo de asfalto com mistura de borracha de pneu moído e cimento asfáltico, chamado de “ligante asfalto-borracha”. Segundo a pesquisadora o projeto proporcionará a diminuição da poluição sonora causada pelo atrito dos pneus, além de facilitar a drenagem da água da pista em dias chuvosos. A borracha absorve parte dessa água e au-menta a resistência do pavimento, porque é mais flexível, não cedendo com veículos pesados. Oda diz, que o apoio do PRODOC é importante para a garantia de continuidade de sua pesquisa, mas que o estado, apesar dos investimentos em pesquisas, precisa aumentar ainda mais o número de pesquisadores. A Universidade Salvador (Unifacs) foi a instituição que amparou o projeto coordenado pela professora, que inclusive já teve sua primeira aplicação em 2004, no Vale do Ogunjá, e está

No começo do programa, em 2002, a Fapesb fez duas Chamadas Públicas e conseguiu atrair até o final do mesmo ano, 27 doutores para a Bahia. Eles receberam bolsas de iniciação científica e uma outra de apoio técnico para ajudar o grupo de pesquisa e o projeto em desenvolvimento. Em 2003, fizeram uma parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e lançaram o edital PRODOC/DCR – Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico Regional, conseguindo manter no estado um total de 32 doutores bolsistas. Segundo a gestora do PRODOC, Nayane Izaga e a assessora da Fapesb, Ana Oliveira, a parceria com o Conselho ajudou a garantir melhores condições de trabalho, já que eles oferecem a bolsa de auxilio moradia e alimentação, enquanto a Fapesb fornece recursos para andamento da pesquisa e a parte técnica. E m 2 0 0 5 , a Fa p e s b manteve a parceria com o CNPq e, juntos, depois de lançarem o edital PRODOC/DCR, foram selecionados 53 doutores, que atualmente já estão em fase de contratação pelas instituições nas quais trabalham. Segundo Ana, as prioridades são identificadas através de análises feitas a cada ano em áreas com déficit em pesquisa. Na primeira etapa do PRODOC, em 2002, o fator levado em consideração foi a vinda da Ford para a Bahia, por isso, incentivou-se a atração de

doutores dos diversos campos de Engenharia. Esse ano as áreas de saúde, biológicas, agrárias e engenharias, tiveram relevância maior por estarem intimamente relacionadas à maioria da população. “O que nós temos notado é o surgimento de novos cursos de mestrado e doutorados nessas áreas. Isso é capital humano. Pessoas capazes de trazer o desenvolvimento pelo que produzem”, afirma Nayane. A seleção do PRODOC envolve uma análise das insti-tuições produtoras de pesquisa, na qual a Fapesb verifica, com o auxílio do responsável por esse setor, em quais áreas de desen-volvimento científico existe a necessidade de doutores. Isso vai do lançamento de um curso de mestrado, doutorado, estudo que esteja sendo desenvolvido por algum centro de pesquisa e precise de doutores na área. Assim, analisase o que é de interesse do estado

e da comunidade, que pode entrar em contato por meio de entidades da sociedade civil, solicitando pesquisas em setores específicos. Esses resultados são acrescidos do próprio exame da instituição, que opta pela área que tiver menos investimentos em produção científica. Para os doutores desenvolverem suas pesquisas no estado, devem ser convidados por um doutor sênior que esteja vinculado a um grupo de pesquisa e que peça a bolsa à Fapesb, explicando a importância do mesma, para a pesquisa em andamento. Essa exigência é criticada por Sandra Oda. “Isso muitas vezes pode ser questão de sorte, caso o doutor não conheça ninguém ou as instituições baianas”, afirma. Apesar das críticas, o PRODOC recebe elogios do gerente de pesquisa da Univer-sidade do Estado da Bahia (Uneb), Rafael Vieira. “Acredito que a atração de

doutores para o Estado da Bahia é uma das formas de acelerar a interiorização da pesquisa, pois possibilita uma maior atenção à pesquisa em localidades onde não existem pessoas com essa formação acadêmica, em áreas específicas”, diz. Segundo ele, o aumento de doutores possibilitaria uma melhor formação dos alunos de graduação e pós-graduação, mesmo que isso seja a longo prazo. “Temos conseguido cativar alguns pesquisadores nessa mo-dalidade de bolsa. Há doutores bolsistas em vigência nas áreas de Química, Engenharia e Agrono-mia. Só no último edital conse-guimos atrair cinco pesqui-sadores”, afirma. Para ele, o que está faltando é uma maior integração das universidades e empresas em prol do desen-volvimento cientifico no estado. Claudimário Carvalho jornalismo@fib.br

Número de doutores apoiados pelo programa

FONTE: FAPESB

Entenda como funciona:

A duração da bolsa é de, no máximo, 3 anos, no valor de R$1.200 mensais para os doutores. Atualmente 23 Doutores já foram contratados por instituições do Estado. A cada semestre é feita uma avaliação que checa o andamento da pesquisa e, a cada ano, ela pode ser renovada até, no máximo, 36 meses. O pesquisador, além da bolsa que recebe, pode entrar com o pedido de mais duas bolsas auxiliares: uma de apoio técnico, para bolsistas de graduação (R$ 800) e, outra, para o ensino médio(R$ 600). Durante esse tempo o doutor recebe ainda o auxilio moradia através de recursos do CNP em torno de R$ 3 mil.

Infra-estrutura para pesquisa ainda é insuficiente Fapesb investe em laboratórios, mas pesquisadores se queixam de poucos recursos

Infra-estrutura é essencial para realização da maioria das pesquisas, mas mesmo assim algumas universidades e laboratórios não recebem ajuda suficiente para realização desses trabalhos. Além do apoio para construção de laboratórios e utilização de equipamentos, é necessário que haja também suporte técnico para manutenção dos aparelhos recebidos, o que tem se configurado como uma dificuldade para alguns pesquisadores e instituições que estão em busca permanente de investimentos nesse setor. A Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) ajuda no processo de implementação, modernização e ampliação de laboratórios, salas de pesquisa, biotérios, entre outros. A instituição investiu 4 milhões através do edital de infra-estrutura, mais 2,8 para o Pro-grama de Apoio a Grupos de Excelência (Pronex), em parceria com o CNPq, apoiando nove projetos e 1,6 milhões em 39 trabalhos para a Infra-Estrutura para Jovens Pesquisadores (PPP). Esse ano, segundo a assessora chefe da Fapesb, Ana Oliveira e a gestora do programa, Luísa Medauar, o investimento no Pronex passou para 3,8 milhões, o que representará um impor-tante ganho para o setor de pesquisa cientifica, podendo estender o número de beneficiados.

Editais O financiamento de infraestrutura geralmente acontece da seguinte forma: analisam-se os trabalhos em cima de uma demanda que, a cada ano pode mudar, dependendo da necessidade da comunidade. Normalmente o programa acomoda

Bruna Bianca

INVESTIMENTO Laboratyório da Fiocruz recebeu financiamento, mas atualmente precisa de manutenção três sub-programas, são eles: Pronex; Infra-Estrutura para Jovens Pesquisadores (PPP) e o Edital que é lançado anualmente. A continuidade dos investimentos em determinada área vai depender das necessidades da sociedade, podendo mudar o campo de aplicação de um edital para o outro, caso haja um setor com maior deficiência em pesquisa, mas que seja impor-tante para o desenvolvimento social. Por isso não há um percentual estabelecido para se investir em cada área. “A cada ano a gente tem trabalho para que esse julgamento seja o mais criterioso possível. Na avaliação leva-se em consideração o mérito, a demanda qualificada e as áreas prioritárias e recursos

disponí-veis”, afirma a assessora Ana Oliveira. Uma das características básicas do programa de Infra-estrutura da FAPESB é que, sempre, 40% dos recursos serão reservados a universidades estaduais, apesar de estar aberto para todas as outras instituições de pesquisa. De acordo com a assessora Ana Oliveira e a gestora do programa, Luísa Medauar, valores e prioridades dos editais são lançados também conforme os interesses e vocações do estado na área de Ciência e Tecnologia. Os equipamentos cedidos ficam sob a guarda dos pesquisadores, que devem conservá-los, pois eles ainda pertencem ao Estado. Após a finalização do trabalho, a FAPESB

pode doar o equipamento, em caso de instituições públicas, ou renovar a sessão de uso se for privada. “O dinheiro é do Estado e todas as faculdades estaduais são relativamente novas. Então é uma política do estado, da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Inovação (SECTI), incentivar o fortalecimento dessas universidades”, explicou Ana.

Dificuldades Um dos problemas em infraestrutura laboratorial, no entanto, fica por conta da limitação nos investimentos que acabam antes do próximo edital. No campo estrutural, um laboratório não

pode ter mais de um financiamento simul-taneamente, isso impede que os doutores se beneficiem, em muitos casos, dos equipamentos adquiridos, pois a maioria deles necessitam de técnicos habilitados, que ensinem aos doutores como operá-los. O custo para bancar profissionais que saibam lidar com máquinas de laboratório vai além do orçamento conseguido para a pesquisa, por isso a necessidade de outras fontes de investimento, e quando isso não acontece, corre o risco dos equipamentos nunca serem usados. Segundo o Pró-reitor de Pesquisa da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Wilson Matos, a dificuldade na obtenção de financiamento está no fato dos poucos anos de existência da instituição, o que implica em um quadro insuficiente de doutores e, conseqüentemente, em estar fora dos programas de apoio a infra-estrutura, já que uma de suas exigências é que o coordenador do projeto seja, também, um doutor. “Isso tem se configurado como uma difi-culdade porque a concorrência de doutores, em termos compara-tivos, é menor. O recurso que o estado investe em infra-estrutura ainda é pouco e precisa ser ampliado”, explica. Um outro exemplo de dificuldade, também pode ser visto no Laboratório de Bioinformática do Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz (CPGM), FiocruzBahia, que obteve financiamento da Fapesb no valor de R$ 268 mil em 2003 e, mais recentemente, contou com a ajuda do Ministério da Saúde, mas já está precisando de manutenção. “O recurso ainda não é suficiente, acaba em julho”, comenta um dos coordenadores da pesquisa desenvolvida no laboratório, Luiz Carlos Alcântara,

doutor em Biologia Celular e Molecular. No laboratório da Fiocruz são feitas análises de seqüências de DNA para o desenvolvimento de vacinas para o HIV e estudos dos mecanismos de ação dos medi-camentos. Ainda assim, necessita-se permanentemente do trabalho de técnicos para treinar os pesquisadores e os estudantes em operação de equipamentos, já que isso feito separadamente geraria mais custos para os envolvidos na pesquisa. “O nosso laboratório não é de analises clínicas, mas é tão importante quanto. O estudo de vacinas precisa de um laboratório de bioinformática e de pessoas especializadas nesses programas, o que não é fácil”, explica Alcântara.

Alternativa Existem outros órgãos financiadores de pesquisa, como a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o que sinaliza para que as instituições não contem somente com a ajuda da Fapesb, pois em muitos casos o reforço pode vir de instituições que estejam menos abarrotadas de programas em andamento. A Uneb é um exemplo de universidade que buscou novos investimentos e conseguiu R$600 mil com a FINEP. De acordo com Wilson Mattos, o dinheiro será investido na estruturação do Centro de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento, empreendimento esse, que terá três andares e as obras já estão em andamento.

Bruna Bianca brunabianca@jornalismo.fib.br


Infociência

biológicas

julho de 2006

Inventário cataloga crustáceos do litoral baiano

A maior costa litorânea do país, mesmo com toda a degradação, possuí mais de 130 espécies de crustáceos O projeto “Inventário da fauna de crustáceos decápodos” foi desenvolvido entre os anos de 2003 e 2005, pelo biólogo Alexandre Almeida, na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, com objetivo de conhecer as espécies de crustáceos (caranguejos, siris, camarões, lagostas, ermitões, corruptos, etc.) que habitam nas águas doces, estuarinas e marinhas da região. Apesar de possuir o mais longo litoral do país, com cerca de 1.188 Km, e uma rica rede hidrográfica, com inúmeros estuários de pequeno e grande porte, Almeida cita que a fauna marinha e estuarina da costa baiana ainda é a mais desconhecida entre todos os estados litorâneos. Financiado pela UESC, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), colaboração do professor doutor Petrônio Alves Coelho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e dos alunos de Iniciação Científica da UESC, a pesquisa teve um custo de, aproximadamente, R$ 15 mil reais. Todo material foi coletado manualmente com auxílio de armadilhas artesanais colocadas em parceria com pescadores locais. De acordo com o idealizador

da pesquisa, com o inventário foi possível coletar, identificar e descobrir dados sobre a distribuição geográfica de cerca de 130 espécies de crustáceos decápodos, algumas das quais nunca tinham sido registradas ao sul da Baía de Todos os Santos. Para abrigar todo o material coletado, foi criada uma coleção de crustáceos na UESC, que conta com aproximadamente 650 lotes depositados. Não há trabalho prévio que reúna tantas espécies de estuários da Bahia, salienta Almeida.

DEGRADAÇÃO Os manguezais baianos são alvos da descaracterização e destruição dos habitats naturais, especialmente, nas áreas mais urbanizadas. Segundo o biólogo, os maiores problemas no estado são a sobre-pesca, que afeta os crustáceos de importância econômica, a poluição e a descaracterização dos ecossistemas afetando todas as espécies ali presentes. Entre estes crustáceos de importância econômica, destacam-se o caranguejo e o guaiamum, que sofrem com a pesca excessiva. Aliado a estas causas, surge a doença do caranguejo letárgico, que causa um impacto negativo,

principalmente, no caranguejouçá, animal de grande impor-tância econômica e social do Nordeste. A origem da doença ainda é especulativa e não existe previsão de contro-le da enfermidade em curto prazo, explica Almeida. Segundo César Carqueja, pesqui-sador da fauna de crustáceo na re-gião norte do estado e professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), esse fungo foi descoberto por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Tratase de uma patogenia específica que só atua em cima do caranguejo, afe-tando o sistema nervoso da espé-cie”, explica Carqueja. Na região nor-deste, essa mortali-dade surgiu no estado do Rio Grande do Norte alguns anos atrás, chegando aos manguezais da Bahia, em 2000, resultando na mortalidade em massa e está sendo estudada até hoje em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica o biólogo. O Instituto Brasileiro de Apoio ao Meio Ambiente (Ibama) registrou, através da pesquisa de Emanuel Botelho, biólogo do Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Nordeste (Cepene) e do prórpio órgão, em 2003, uma das maiores ocorrências no período, com 109 caranguejos

André Carvalho

VENDA DE CRUSTÁCEOS Com a degradação da costa baiana o consumidor paga mais caro pelo produto mortos em uma linha de 100 metros na cidade de Canavieiras no sul da Bahia, informa a bióloga e analista ambiental do Ibama, Eliana Maria Simas. A bióloga explica que o órgão não possuí equipe para coleta

de dados, sua função é ordenar os estoques levantados pelas universidades e centros de pesquisas. Com essas informações, o Instituto fiscaliza para evitar a descaracterização e destruição dos habitats naturais, principalmente

Escolha por alimentos mais baratos ameaça saúde dos consumidores Mercado informal oferece condições inadequadas de higiene Mariana Martins

MERCADO INFORMAL Facilidade e preço baixo atraem, apesar dos riscos. Jovens e adultos, principalmente de baixa renda, consomem alimentos vendidos na rua através do mercado informal pelo menos uma vez ao dia, mas não atentam aos riscos que podem trazer a saúde. Este quadro foi revelado através da pesquisa realizada na Universidade Federal da Bahia, pela nutricionista e doutora em ciência e tecnologia de alimentos, Ryzia de Cássia Cardoso. Este mercado gera emprego, porém, ao mesmo tempo, propicia perigo à saúde pública. O problema são as condições inadequadas do local de preparo e a falta de conhecimento sobre técnicas de manipulação higiênica por parte dos comerciantes. De acordo com a nutricionista, o projeto foi realizado com o objetivo de identificar o nível de conhecimento higiênico e a percepção de risco dos

consumidores nos alimentos do mercado informal. Por causa das condições financeiras, a população deixa de se alimentar bem e, até mesmo, compromete sua saúde em função do descaso sanitário. Além disso, 71,4% das pessoas que foram entrevistadas disseram que não confiavam no produto e 92,3% admitiram que a comida pudesse oferecer algum perigo à saúde. Não havendo uma pesquisa satisfatória desta atividade, a doutora Ryzia Cardoso optou por um estudo exploratório através de entrevista com 1004 consu-midores, utilizando como instru-mento um formulário semiestruturado. As questões foram organizadas em blocos considerando: características relativas ao perfil do consumidor, características sobre os hábitos de consumo e questões relativas à percepção de higiene alimentar e

danos à saúde. Os produtos mais comercializados, como cachorroquente e salgados, podem ser facilmente contaminados por microorganismos patogênicos, ou seja, bactérias, protozoários, vermes e vírus que causam infecções e podem levar à morte. Entretanto, segundo a pesquisa, mesmo não oferecendo qualidade higiênica sanitária, esses são os mais procurados para o consumo, por serem alimentos de preço baixo e de fácil acesso. “As mulheres ficam na média dos 57,3% das consumidoras, pes-soas do ensino médio 54,2% e de baixa renda 54,7%”, explica Cardoso. Em muitos casos os consumidores deixam de fazer uma alimentação saudável, por falta de escolha, para comer produtos que são acessíveis ao seu bolso. Ao fazer este tipo de ingestão, a maioria nem olha para a situação em que se encontra o alimento, ficando restrita a aspectos visuais, o que não é apropriado. “À questão do risco é percebida de forma limitada, pois 64,8% destacam a limpeza do local como critério principal para selecionar a compra”, diz Talita Guimarães, estudante de nutrição e bolsista de iniciação científica, cola-boradora da pesquisa.

Higiene A comerciante Maricélia Alves, vendedora de salgados no ponto de ônibus em frente ao Shopping Iguatemi, garante o sustento de sua família e diz que o alimento que vende não oferece perigo. “Eu conheço a pessoa que produz os salgados. Ela faz a mercadoria à meia noite e entrega às 4 da manhã, só a coxinha que é frita mais tarde”, afirma a vendedora. Em frente a uma instituição de ensino, no bairro do Stiep, a comerciante Marilene Nascimento vende cachorro-quente. Sem luvas, ela pega o pão já envolto no saquinho. A salsicha é fervida em casa, depois, no local, é esquentada numa panela tam-

pada. Ela completa o lanche com queijo ralado, milho verde e batata palha, cada ingrediente acondicionado dentro de uma vasilha. No ambiente aberto, as abelhas atacam os refrigerantes dos clientes, algumas pessoas não se importam com a falta de higiene. “Eu vi as abelhas, mas não me incomodei. Eu estava com fome e sem dinheiro. Comprei o hot-dog e saí de lá o mais rápido possível, por causa delas”, contou Bruna Borges, estudante de Ciências Contábeis.

Inspeção Para inspecionar esse tipo de comércio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conta com um serviço de notificação educativa, proporcionando ao proprietário uma nova chance para a comercialização do seu produto. “Como a Vigilância optou por trabalhar de uma forma mais educativa, não é de imediato que agimos. Atuamos com rigidez se apresentar um risco eminente para o consumidor, como por exemplo, um produto com a validade vencida”, explicou a nutricionista Claúdia Cavalcante, especialista em direito sanitário e coordenadora de suporte operacional da Dire-toria de Vigilância Sanitária e Ambiental (Divisa). Segundo Cláudia, a inspeção acontece sempre quando há algo inadequado, ou irregular. “O técnico notifica, dá um prazo e este é supervisionado pelo mesmo. Depois ele retorna para ver se teve adequação”, diz a nutricionista. Após a inspeção realizada, se algo ainda estiver errado, são tomadas medidas drásticas para o ambulante. “Não havendo regularização, o técnico poderá atuar intervindo e impedindo a circulação dos alimentos”, complementa.

Mariana Martins marianamartins@jornalismo.fib.br

WNAP – 2006 Workshop Nacional Durante os dias 25, 26, 27 e 28 de julho acontecerá o WNAP 2006 - Workshop Nacional sobre Analisadores de Processos em Linha (Analisadores em Linha para Meio Ambiente, Segurança, Qualidade e Produtividade), no Centro de Convivência da Universidade Federal da Bahia, Ondina, das 8h às 21h15, com intervalo para almoço. O encontro é promovido pela Associação Brasileira dos Profissionais de Instrumentação, Controle e Automação (AINST ) e a UFBA. Mais informações com Robinson Xavier, através do telefone: (71) 3356-1650. A inscrição pode ser feita através do site: www.ainst.org.br/ wnap/inscricoes.php

Congressos sobre narrativas e ficções Acontecerá no período de 10 a 14 de setembro, em Salvador, o II CIPA- Congresso Interna-cional sobre Pesquisa (Auto)Biográfica - Tempos, Narrativas e Ficções: A Invenção de Si . O encontro reunirá pesquisadores de varia-das universidades do país e do exterior, que vão discutir sobre literatura, psicologia, antropol-ogia e história através de mesasredondas, conferências e minicursos. O prazo para envio da ficha e pagamento de taxa de inscrição encerra-se em 11 de agosto. Mais informações através do site: www.2cipa.uneb. br/apresenta.html ou pelo telefone: (71) 3117-2200.

IV ENANPAP em Salvador Acontece em Salvador no Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), de 19 à 23 de setembro de 2006,

nas áreas mais urbanizadas, impedindo as irregularidades ao aplicar as Leis e Decretos punindo os agressores André Carvalho jornalismo@fib.br

o IV Encontro Nacional da Associação Nacional dos pesquisadores em Artes Plásticas (ENANPAP) . O evento vai reunir pesquisadores de artes plásticas, centros e instituições de pesquisa que vão debater o tema “Artes, limites e Conta-minações, discutindo a aproxi-mação da arte com as ciências”. Mais informações com Cleomar Rocha, coordenador do evento, pelo telefone: 32066768/ 3206-6760 ou pelo e mail: anpap@anpap.org.br

5º Encontro Regional de ExpressãoGráfica Acontece nos dias 10, 11 e 12 de agosto, em Salvador, no Hotel Bahia Othon Palace, o 5º Encontro Regional de Expressão Gráfica (EREG) promovido pela Associação Brasileira de Expressão Gráfica (ABEG). Com o tema “Educação Gráfica – perspectiva histórica e evolução”, o evento promoverá debates na área de Desenho e Representação Gráfica. As palestras estão abertas para estudantes de graduação, pós-graduação e profissionais. Mais informações no site: www.ereg2006.ufba.br ou através do telefone: (71) 32473511 (ramal: 214).

Seminário de Bibliotecas Universitárias Acontece de 22 à 27 de outubro de 2006 o XIV Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, que vai discutir o acesso livre à informação Cientifica. A idéia do evento é estimular a leitura, despertando o interesse dos jovens para a pesquisa. O seminário será realizado no Fiesta Convention Center. Mais informações com Maria Miranda Ribeiro pelos telefones: (071) 3263-644/ (071) 3263-6048 ou pelo e mail: snbu@ufba.br Alessandra Ferreira Clarissa Noronha jornalismo@fib.br


Infociência

exatas

Pesquisa detecta falhas nos medidores de pressão arterial Protótipo baiano visa corrigir erros em tensiômetros para melhoria na aferição

Nos hospitais baianos, 77,4% dos medidores de pressão arterial possuem uma margem de erro superior à permitida. Este dado foi revelado pela pesquisa do grupo “Tecnologia em Saúde”, desenvolvido no Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (Cefet-BA). Como a hipertensão é um problema crescente entre os brasileiros, os pesquisadores da instituição vêm trabalhando no projeto “Desen-volvimento de um tensiômetro”. Este aparelho servirá para medir a eficácia dos esfigmoma-nômetros, mais conhecidos como medidores de pressão arterial. O estudo é coordenado pelo Mestre em Pedagogia Profissional e professor de Engenharia Elétrica do CefetBA, Handerson Jorge Leite. Os dados da pesquisa também mostram que dos 145 esfigmomanômetros aneróides (medidores de pressão arterial) avaliados nos hospitais púbicos e privados que fazem parte da Rede de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Aplicado à Saúde (Retech), 112 ocorrências de não conformidade foram detectadas. A maioria (65,5%) por não possuir faixa de mediação iniciada por zero; 7,6% com problemas no ponteiro; 2,8% por dificuldade de medida e 1,4% pelo estado de conservação. A Retech é um órgão que desenvolve pesquisas com o intuito de organizar sistemas informatizados dentro dos hospitais vinculados. Sua função é treinar os funcionários dos centros de saúde para que eles possam operar os novos sistemas tecnológicos implantados nos hospitais No Brasil, a falta de eficácia dos medidores de pressão arterial resultou na implantação da portaria Nº 24 do INMETRO, que estabelece regulamento técnico de medição dos esfigmomanômetros. Além disso, no país não são fabricados tensiômetros compactos e digitais para aferição dos medidores de pressão arterial.

Os esfigmo-manômetros que não adentram a pele são mais susceptíveis a erros, isso porque traz em uma medição indireta, já que, os resultados obtidos não são tirados diretamente da artéria. No entanto, a medição indireta é mais usada, porque é de fácil operação, além de oferecer resultados mais rápidos sobre a hipertensão. Contudo, esse método serve apenas para

para o grupo de pesquisa do Cefet-BA. Dentro deste contexto surgiu, em 2005, a idéia do pesquisador e professor de engenharia elétrica Handerson Leite, de criar um equipamento capaz de fazer a medição dos riscos dos esfigmo-manômetros. Já existe um circuito e softwares prontos sendo aperfeiçoados. O protótipo do tensiômetro pertencente à

em geral por colunas de mercúrio, mas, segundo o coordenador Leite, as colunas “têm um problema sério ambiental, pois se quebrar lançam mercúrio na natureza e também de tamanho, porque é difícil deslocá-las nos hospitais”. Mas, não é apenas a má regulagem dos equipamentos que interfere na medição da pressão, fatores psicológicos inerentes aos

FONTE: www.obeidademorbida.med.br

que o paciente tenha uma idéia sobre a sua condição arterial e, a partir disso, possa procurar o espe-cialista indicado pelo clínico. Esses dados já foram apontados no artigo “A medida indireta da pressão arterial: como evitar erros”, feito pela pesquisadora especialista em pressão arterial, Ângela Maria Geraldo Pierin e serviu como fonte de estudo

pesquisa “Desenvolvimento de um Tensiômetro” e tem a capacidade de corrigir a curva de medição da grandeza, evitando erros de avaliação dos medidores de pressão arterial. Existem três tipos de medidores utilizados: os digitais, os analógicos e os de coluna de mercúrio. As aferições desses equipamentos, na Bahia, são feitas

pacientes também aumentam o risco de um diagnóstico errado e precipitado. É o caso de Iramar dos Santos Viana, 56 anos, que tem pressão alta e por falta de esclarecimentos, só após sentir-se cansada, quando fazia o trabalho diário, se preocupou com a doença. “Quando vou tirar minha pressão, fico nervosa e o médico disse que isso faz com que minha

julho de 2006

pressão suba ainda mais”, conta.

Calibragem No termo metrológico, cali-bragem é conferir com o padrão, no entanto, no senso comum é constante afirmar que calibrar significa regular. Esta confe-rência é feita antes da comercialização dos medidores de pressão arterial no mercado. Não há uma preocupação em realizar regulagens após os equipamentos serem inseridos no mercado e após alguns anos de utilização. Quando apresentam erros são comumente substituídos “Dos hospitais analisados, 77,4% dos esfigmomanômetros apresentaram erros, sejam de manutenção inadequada e vidros partidos ou de esterese, diferença da medida de subida e descida da pressão”, revela Leite. A Assessoria de Comunicação da Sesab diz que os próprios hospitais já possuem setores específicos para fiscalização e manutenção dos aparelhos. Conforme a fonte, a instituição não exerce essa função, porém devido ao descontrole do número de aparelhos defei-tuosos, a secretaria possui parcerias com o Cefet, para avaliar os aparelhos antes mesmo de começar a sua utilização pelos hospitais. “A Sesab não desenvolve nenhuma atividade de fiscalização independente, mesmo porque, nem é atividade do órgão em si, ela pode desenvolver parcerias ou orientar”, salienta o assessor. O órgão responsável pela fiscalização dos equipamentos médico-hospitalares é a Diretoria de Vigilância Sanitária e Ambiental (DIVISA). Segundo o assessor de imprensa Paulo Cruz, as aferições são feitas anual-mente e recebem o Alvará se não houver irregularidade de seus procedimentos, em qualquer setor. “Excepcionalmente, quan-do é observada qualquer inconformidade, o estabelecimento é notificado e recebe um prazo para adequação, com o retorno para nova inspeção”, completa. Para Handerson Leite, a falta de calibragem dos equipamentos é o que pode implicar em erros médicos. “Os problemas com os medidores de pressão arterial não podem ser detectados visualmente, mas sim com um teste específico e aferição dos circuitos”, conta. A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) apóia o projeto do desenvolvimento do tensiômetro que irá conferir com o padrão a eficácia dos

medidores arteriais, no entanto a fiscalização é defasada e se restringe à manutenção na parte física e estrutural dos hospitais. Segundo os pesquisadores do grupo de pesquisa “Tecnologia em Saúde” esta situação está mudando. A Secretaria de Saúde entra em contato com o grupo para tirar dúvidas e opta por equipamentos com uma pro-dutividade em relação à demanda, levando em consideração aspectos do ponto de vista técnico. Josemir Alexandrino, um dos pesquisadores do grupo e mestre em Ciência da Computação afirma: “A Sesab está preocupada com a situação dos equipamentos e progredindo nas aferições, e também nos ajuda quando necessário”.

Protótipo do tensiômetro Preocupados com a fiscalização dos equipamentos médico-hospitalares, o “Núcleo de Tecnologia em Saúde” do Cefet-BA, organização na qual está inserido o grupo de pesquisa “Tecnologia em Saúde”, já desenvolveu o protótipo do tensiômetro pioneiro na Bahia e no Brasil. Conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e do próprio CefetBA, como também com o apoio da Sesab, Retech e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). O primeiro circuito está pronto com o software de correção da curva de medição da grandeza. “Hoje eu já consigo colocar um gerador de pressão padrão neste protótipo e ler com um erro pequeno em relação ao padrão”, conta o coordenador do grupo de pesquisa Anderson Leite. Mas isso não é tudo. É preciso desenvolver o gerador de pressão, ou seja, o elemento que vai emitir a pressão para testar os esfigmomanômetros e também melhorar o software para que ele já calcule os erros, automaticamente. De qualquer maneira, esse avanço representa uma possibilidade de melhoria no serviço médico, pois com vistorias constantes, poderiam ser eliminados diagnósticos errôneos de hipertensão. A possibilidade dos equipamentos de análise dos medidores de pressão arterial serem fabricados no Brasil, reduziria os custos e sua produção não dependeria de tecnologias importadas. Diego Luduvice diegoluduvice@jornalismo.fib.br Camilla França jornalismo@fib.br

Cefet-Ba cria primeiro testador de bombas de infusão Melhor manuseio de aparelho médico-hospitalar pode evitar enganos na dosagem de substâncias

Grupo de pesquisadores baianos desenvolve o primeiro testador nacional de bombas de infusão com o objetivo de medir dosagens específicas, mais conhecidas como “taxas de transferência” de alimentos ou drogas, no tempo correto, de forma mais versátil e com baixo custo. O projeto é coordenado pelo Mestre em Ciência da Computação, Josemir Alexandrino, um dos integrantes do grupo “Engenharia Clínica”, vinculado ao Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (Cefet-BA). Segundo os resultados apresentados, o protótipo pode se tornar uma solução confiável para a aferição dos equipamentos médico-hospitalares (EMHs). Nos hospitais é freqüente o uso de bombas de infusão, aparelho que serve para infundir, no sistema circulatório do paciente, taxa de alimentos, soro, drogas, entre outros. Tal recurso é usado em pessoas que estão impossibilitadas de receber estas substâncias por via oral. Devido a muitos acidentes constatados em outros países, os pesquisadores acreditam que, mesmo sem divulgar dados, o Brasil apresente um número significativo relacionado a esse tipo de incidente médico-hospitalar. De acordo com o grupo do Cefet-BA, verificou-se que, no Canadá, ocorreram cerca de 425 acidentes que envolveram os diversos tipos de bomba de infusão. Destes, 23 com vítimas fatais e 135 com danos à saúde. Os pacientes faleciam em virtude do equipamento automático de

alimentação venosa apresentar problemas na dosagem, ou aplicar a dosagem em intervalos de tempo incorretos. O grupo já possui um testador importado comercial deno-minado “404A”, fabricado pela empresa DNI Nevada INC e certificado por laboratórios de metrologia. Baseado neste, os pesquisadores desenvolveram o equipamento dentro do Cefet-BA. Alexandrino garante que o equipamento produzido na instituição já mostra bons resultados. “Fizemos medidas comparativas com o padrão comercial e, depois de algumas melhorias no sistema de controle, conseguimos encontrar um padrão metrológico melhor do que este”, afirma. Foram realizados testes entre o protótipo do grupo “Enge-nharia Clínica” e o testador importado, comercializado, quando foi tomado como base a taxa de 25ml/ h. O testador nacional apresentou uma taxa de apenas 0,27ml/h a mais. Entretanto, o desvio padrão de vazão do produto utilizado foi menor do que o analisador importado.

Preocupação Uma taxa de transferência errada pode levar a morte. Pessoas que um dia precisaram de um equipamento médico-hospitalar, não sabem que podem ocorrer erros nas medições de dosagem de nutrientes ou das próprias drogas. É o caso da professora de Educação Física Ângela Souza, 53 anos, que no último mês

sofreu uma parada cardíaca. Após esse acidente, teve que utilizar a bomba de infusão para uso de medicamentos. “Graças a Deus que não ocorreu nada comigo, pois fiquei mais de uma semana internada usando tal equipamento”, diz. Mesmo com o problema detectado pelos pesquisadores, Ângela conta que os EMH são de fundamental importância para os pacientes que necessitam desse serviço. “É muito ruim ter que ser perfurada toda hora com as agulhas. As bombas de infusão diminuem o nosso sofrimento, pois as drogas que temos que tomar são lançadas diretamente na corrente sanguínea”, conta a educadora física. Coordenadora do setor de enfermagem do Hospital São Jorge, centro de saúde vinculado à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Ana Lúcia Oliveira, diz que nunca ocorreram acidentes dentro do centro de saúde. “Possuímos 10 bombas de infusão digital, além das tradicionais descartáveis. Jamais teve algum incidente com os nossos pacientes”, diz a enfermeira.

verificar sua qualidade”, conta. A enfermeira acredita que devido a essa manutenção constante, é que, até hoje, não houve nenhum acaso de problemas na dosagem nos equipamentos médicohospita-lares. A pesquisa do Cefet-BA recebe ajuda através da Diretoria de Vigilância e Controle Sanitário (Divisa – BA), no que se refere ao livre acesso nos hospitais. Este estudo é bastante necessário para um futuro controle sanitário, quando a análise dos pesquisadores estiver pronta. É o que diz o médico Paulo Cruz, Assessor da diretoria da Divisa.

“Os pesquisadores vão determinar um roteiro, ou seja, os parâmetros mais corretos possíveis para os nossos agentes fiscalizadores”, afirma Cruz. O grupo conta com o apoio do Ministério da Saúde, da Sesab, do financiamento do Cefet-BA e do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). Além destes órgãos, o estudo também é apoiado pela Rede Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Aplicado à Saúde (Retech). Esta é uma instituição que tem o caráter de organizar sistemas informatizados dentro dos hospitais credenciados.

Os funcionários dos Centros de Saúde são treinados para trabalharem dentro desses sistemas tecnológicos, aplicar o manuseio correto dos equipamentos, além de garantir a saúde dos pacientes. Os pesquisadores acreditam que até o final de julho deste ano, e a ajuda dos bolsistas Mallan Nérie e Valnilton Evilásio, eles concluam a primeira parte do primeiro testador nacional de bombas de infusão. Vinícius Costa viniciuscosta@jornalismo.fib.br

Fiscalização A segurança dos e-quipamentos médico-hospitala-res, é garantida através do bom manuseio das bombas de infusão e do próprio aparelho que afere as dosagens, é o que afirma Oliveira. “Todo mês, uma equipe responsável pelo monitora-mento das bombas de infusão vem ao hospital

FONTE: Josemir Alexandrino


Infociência

humanas

julho de 2006

Faltam supermercados virtuais em Salvador

Comércio eletrônico apresenta crescimento no Brasil, mas o serviço ainda é incipiente na capital baiana Fernanda Figueirêdo

SUPERMERCADO VIRTUAL Falta do serviço em Salvador desaponta consumidores Movimentando mais de US$ 9 bilhões de dólares por ano em todo mundo, o comércio eletrônico ganhou força de verdade há cinco anos, quando começaram a surgir grandes lojas no mercado virtual. Mesmo com esse crescimento, de acordo com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, apenas dezesseis por cento dos 25 milhões de inter-nautas brasileiros compram pelo computador. Através desse ce-nário, a professora e administradora Raquel Leone desenvolveu a sua dissertação, no mestrado em Administração Estratégica, na Universidade Salvador (Unifacs), “Comércio eletrônico no segmento de supermercados”, que analisa especialmente a realidade dos supermercados virtuais em Salvador. A professora trabalhou durante cinco anos em uma rede de supermercados do nordeste e escolheu o tema com o objetivo

de analisar o interesse do consumidor soteropolitano em fazer suas compras através da Web. A pesquisa, realizada em 2004, levantou dados com 394 clientes, em compras, em uma loja de grande porte da capital baiana. “Apesar do comércio eletrônico entre empresas e consumidores apresentar índices de crescimento representativos, esse serviço ainda está incipiente em algumas cidades do Brasil, como em Salvador”, explica Leone. Raquel Leone cita que duas tentativas de implantação do serviço foram realizadas em Salvador. “O ‘Amélia.com’, pertencente a rede Pão de Açúcar (Extra) e o ‘MariaMercado’, um pequeno varejista totalmente on-line que encerrou suas atividades com menos de dois anos de atuação”, comenta Leone. Para descobrir quais as barreiras este tipo de serviço enfrenta, a metodologia escolhida foi a entrevista, utilizando um questionário para

a análise dos resultados. Os entrevistados citaram quais as vantagens e desvantagens da utilização do supermercado virtual. A pesquisa revelou que o consumidor soteropolitano vê a ida ao “supermercado de tijolos” como uma atividade que faz parte da rotina, mesmo com problemas, como a grande quantidade de filas no estabelecimento.

Insegurança A dissertação revela que a maior barreira para o sucesso do comércio eletrônico em Salvador é a insegurança dos compradores em relação ao pagamento, por conta da necessidade de fornecer informações bancárias ou número do cartão de crédito. De acordo com o analista especializado em redes de informação Paulo Laranjeira, atualmente o consumidor não precisa ter tanto medo de usar os supermercados virtuais. “Prestando bastante

atenção no tipo de segurança que a loja oferece, se o navegador exibe o cadeado de autenticação e preferindo as lojas que carregam o nome de empresas já conhecidas, a compra se torna segura e prática. Também é reco-mendado o uso de pagamento via boleto ou de um cartão de crédito com limite baixo, para evitar dores de cabeça”, diz o analista. Constatou-se que a maioria dos consumidores usuários do meio virtual são jovens, com alto grau de escolaridade e renda elevada. Maria Terezinha Von Flach, de 76 anos, considera que a utilização do supermercado virtual é válida. “Eu não vejo nenhuma desvantagem em comprar pela Internet, eu faço as compras online e recebo tudo sem precisar sair de casa. É mais cômodo”, explica a aposentada, que sempre assiste sua filha navegar na Rede e prova que os consumidores com idade avançada não se sentem inibidos em realizar suas compras via Internet. O conforto foi destacado, dentro da pesquisa, como ponto forte para a utilização do meio virtual. Outro fator positivo é a prática de preços mais acessíveis. “Há uma comodidade maior ao fazer compras sem precisar sair de casa. É mais fácil do que pegar filas, estacionar, sai mais barato também. O único problema é a espera pela mercadoria chegar em casa. Quem quer algo com mais urgência, vai até a loja, quem não tem pressa, compra pela Internet”, diz Fernando Cruz, micro-empresário de 24 anos.

Para Marilene Nogueira, gerente de uma loja pertencente a uma rede de supermercados, este é um ramo comercial inexplorado em Salvador, a implantação do

Docentes abrem mão da aposentadoria para evitar inatividade e dificuldades financeiras aposentar. Para desenvolver a sua pesquisa, entrevistou trinta professores aposentados da UFPB. A grande dificuldade para o pesquisador foi conseguir contactar esses professores. Muitos já tinham morrido, outros estavam com doença crônica degenerativa e, dessa forma, não puderam participar da pesquisa. No decorrer da pesquisa, foram respondidos questionários sócio-demográficos, nos quais constavam perguntas como: idade, sexo, religião, tempo de aposentadoria. Em seguida, os professores foram convidados a escrever, em dois minutos, o significado de: aposentadoria, velhice, ócio e docência, segundo a concepção de cada um. E na etapa seguinte, debateram sobre as vantagens e desvantagens de Aline Suzart

ser docente, de se aposentar e de envelhecer. Aposentadoria e depressão Segundo Pereira, o resultado apontou para um grande sofrimento psíquico pela maioria deles, com exceção de alguns professores, que descreveram a aposentadoria como liberdade. Ele explica que os indivíduos ocupam mais tempo com a sua profissão, tornando-se menos presentes no convívio com a família. As relações de amizade são vinculadas ao ambiente de trabalho e, quando se aposentam, enfrentam essa nova etapa com muita dificuldade, passando, assim, à depressão e a apatia “O trabalho é muito central na vida humana de uma sociedade capitalista e quando uma pessoa se aposenta, além de perder sua ocupação, perde seu status de reconhecimento social”, afirmou o pesquisador. O psicólogo conta ainda que, após a aposentadoria, os docentes que também são profissionais liberais (advogados, médicos, etc.) continuam a trabalhar em seus escritórios e consultórios, e outros optam por viajar. Porém, os aposentados que apenas lecionavam são os que mais sofrem, muitos adoecem e alguns morrem, por conta de não poderem continuar no mercado de trabalho. Professores baianos

CRISE DE IDENTIDADE O pesquisador, Emanuel Pereira, explica motivos da crise na aposentadoria

Em Salvador, muitos docentes aposentados buscam, como alternativa, empregos nas faculdades particulares, como é o caso de Eva Nery, doutora na área de Letras e professora aposentada do CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia) há 8 anos. Ela optou por continuar exercendo sua atividade em sala de aula, pelo gosto de

acabam sendo menores do que um estabelecimento aberto ao público. A autora da pesquisa explica que existe um grande espaço de mercado para a implantação do serviço de supermercado on-line na cidade de Salvador. Por não existir nenhuma grande empresa investindo no ramo, o mercado está vago, “principalmente para oferta de bens duráveis por grandes redes, pois foi detectado que a maioria dos clientes tem computador, acessa a internet, mas ainda não efetuou compras através da rede”, conclui Leone. Luiz Eduardo Pelosi lep@jornalismo.fib.br

EVOLUÇÃO DO VAREJO ON-LINE Faturamento anual do comércio eletrônico no Brasil (em milhões)

Baixo Investimento

Professores aposentados enfrentam dificuldades Com a chegada da aposentadoria, a maioria dos professores universitários não está preparada para a ausência do trabalho. Com freqüência, entram em depres-são, pois a identidade pro-fissional se sobrepõe à identidade pessoal. Essa foi a conclusão do psicólogo especialista em Geron-tologia (estudo do enve-lhecimento humano), Emanuel Francisco Pereira, que atualmente reside em Salvador, em sua pesquisa de mestrado, defendida na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em julho de 2005. Como hoje muitos idosos alcançam a faixa dos 80 anos de idade, ou seja, chegam a viver em média 30 anos como aposen-tados, Pereira considerou necessário entender como seria a vida de um professor após se

serviço virtual é importante. “As pessoas vão ganhar praticidade, vai gerar novos empregos e apesar de não atingir a maioria da população, vai facilitar a vida de muitos sem prejudicar ninguém”. Apesar disso, a rede de supermercados onde ela trabalha não dispõe do serviço para os consumidores. Fernando Cruz, que usa a Internet para vender os produtos de sua empresa, cita que o custo é uma vantagem também para quem quer investir. O empresário explica que o investimento inicial de uma loja virtual chega a ser 10 vezes menor do que o necessário para abrir o mesmo negócio em um espaço real, além disso, os impostos gerados para uma empresa na Internet,

trabalhar e pela remuneração. Dessa forma, ela afirma que não se considera uma aposentada. “Não estou pronta para a aposentadoria porque ainda me sinto em pleno vigor. Acredito que se eu estivesse afastada do meu trabalho, estaria me sentindo excluída socialmente e depressiva”, explicou a professora, que ensina nas Faculdades Jorge Amado. A enfermeira e mestre na área de saúde da criança e ado-lescente, Noélia Oliveira, se aposentou pela UFBA, em 2004. Por receio de não se acostumar com a vida de aposentada e a pedidos da família, resolveu continuar trabalhando e, assim, começou a lecionar na FTC (Faculdade de Tecnologia e Ciências). Porém, Noélia disse não ter mais o pique de antes e se sente desmotivada a ir aos congressos. Ela acredita que esteja se preparando para parar de dar aulas. “Tenho vontade de encerrar minhas atividades, mas fico preocupada de me arre-pender e depois não conseguir voltar para o mercado de trabalho”, afirmou a professora. Para amenizar a situação crítica vivida pela maioria dos aposentados, o pesquisador pretende criar em seu doutorado, um processo de preparação dentro das Universidades. A intenção dele é implantar o programa inicialmente em Salvador. O projeto englobará médicos, advogados, contadores, psicólogos e assistentes sociais que estarão avaliando esses professores durantes cinco anos antes das suas aposentadorias. “Dessa maneira, os docentes se atentarão para as questões pessoais e, assim, não terão muitas dificuldades de romper com o ambiente de trabalho”, finaliza o psicólogo.

Aline Suzart alinesuzart@jornalismo.fib.br

FONTE: PESQUISA E-BIT

DUAS PERGUNTAS PARA Clarissa Noronha

O jornalista documentarista Eduardo Coutinho esteve em Salvador à convite do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba) para participar do II Fórum de Comunicação, no mês de abril. Além de debater sobre a produção de documentários, o cineasta exibiu o seu último filme: “O princípio e o fim”, com relatos da vida de idosos do sertão da Paraíba. Após o evento, o diretor de “Cabra marcado pra morrer”, respondeu a duas perguntas para o Infociência.

INFOCIÊNCIA: É satisfatório, na sua concepção, o investimento feito na área de pesquisa em cinema (documentário) na Bahia e no Brasil? EDUARDO COUTINHO: Na Bahia não posso dizer nada, porque não conheço. Mas, imagino que sejam difíceis. No Brasil, as coisas melhoram porque temos editais, que incluem o documentário como o da Petrobrás e o do Idesc (Instituto de Pesquisa, Educação e Desenvolvimento do Cooperativismo), além dos incentivos fiscais e leis referentes à textos e publicações. O que eu acho complicado é que muitas vezes a pessoa tem que provar que sabe fazer. É como um disco: Você tem que conseguir fazer o primeiro pra provar que sabe fazer. Às vezes a melhor chance ou a melhor estratégia é conseguir, de repente, começar fazendo um filme com poucos recursos e inserir um apoio de fora. Juntando amigos, você pode fazer um filme apenas com o dinheiro da gasolina e da comida por R$5 mil (sei lá!). A câmera digital permite isso. INFOCIÊNCIA: É perceptível que o filme-documentário é um gênero que tem conquistado espaço considerável no país. A que se deve o interesse das pessoas em produzir esse estilo de filme? EDUARDO COUTINHO: Existem algumas coisas. Primeiro o documentário é muito mais barato, aparentemente mais fácil e o recurso digital o torna muito mais próximo da realidade. Além do que, de uns anos pra cá, as pessoas têm aceitado mais a realidade do Brasil. Isso que é uma coisa mais discutível, ao contrário de antes, quando todo mundo só pensava em ir pra Nova Iorque. Eu tenho medo que as pessoas agora voltem a sonhar, a evitar o real e sonhar com o impossível. Isso a ficção já faz.

Clarissa Noronha clarissanoronha@jornalismo.fib.br


Infociência

entrevista

Vauline Gonçalves

julho de 2006

Reprodução e Ética S

egundo a organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 8% dos casais, em todo o mundo, têm algum problema de infertilidade durante sua vida fértil. Cada vez mais pessoas buscam clínicas de fertilização como a última alternativa para engravidar. Contudo, questões como a gestação em mulheres com mais de 50 anos, aproveitamento de embriões descartados e a crença religiosa em uma “transgressão do destino”, ainda polemizam e levam preconceito e receio à sociedade. No entanto, é em referência aos valores e padrões éticos que reside a maior problemática da fertilização manipulada. Até que ponto os princípios morais e os interesses comerciais estabelecem uma relação harmoniosa? No maior país católico do mundo, esta questão torna-se ainda mais polêmica em razão da associação que grande parte da população faz, entre médicos, que realizam a Reprodução Assistida (RA), e Deus. Para falar sobre este assunto, o Infociência entrevistou a Presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, diretora da clinica G&O Barra, no Rio de Janeiro, e responsável pelo Setor de Reprodução Humana do Instituo de Ginecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Maria do Carmo Borges de Souza. Ela esteve presente no Congresso Latino-Americano de Ginecologia Endócrina, ocorrido entre os dias 06 e 08 de abril, no Centro de Convenções, em Salvador. Infociência: Em que consiste a Reprodução Assistida? Maria do Carmo: É um conceito que engloba várias técnicas que permitem a fertilização, ou seja, o encontro do óvulo com o espermatozóide, de maneira manipulada. A reprodução assistida compreende técnicas chamadas de Baixa Complexidade, como a inseminação artificial (ou intrauterina), na qual manipula-se um dos gametas no laboratório, colocando-o, posteriormente, de volta ao útero, para que a fertilização ocorra naturalmente. Existem outras técnicas chamadas de Alta Complexidade (fertilização In Vitro), nas quais o esper-matozóide e o óvulo são manipulados fora do organismo, para depois serem unidos (como embriões) no laboratório e, em seguida, recolocados no útero da mulher.

entanto, são técnicas que durante o seu desenvolvimento, mexem com o emocional e até mesmo com questões familiares, religiosas, pessoais ou / e culturais. Há pessoas que não aceitam, não entendem que a inseminação pode ser benéfica ao proporcionar uma gestação, mesmo que, segundo estas pessoas, tal ação esteja indo contra o destino. Infociência: Em quais destes pontos citados (religião, cultura, família) a Reprodução Assistida é mais criticada? MC: Acho que isso deve ser visto de maneira individual. A crítica maior parte do desconhecimento. A falta de informação gera uma fantasia negativa sobre a técnica, e faz imaginar que o médico, ou quem procede à fertilização, estaria assumindo o papel de um Deus. Isso reluta um pouco com a questão religiosa, mas acredito que por desinformação.

“Técnicas de RA mexem com questões alvo de preconceitos, pois, tornam férteis indivíduos que normalmente não seriam”

Infociência: Quais os pontos positivos da RA? MC: Ela torna férteis indivíduos cuja fertilidade seria pouco provável ou impossível sem a execução destas técnicas. Por exemplo, uma mulher que tenha as trompas fechadas por um processo inflamatório, poderá atribuir a uma incu-badora, as funções naturais realizadas pela mesma, viabi-lizando a fecundação. Ou ainda, no caso de um homem que tenha um número muito baixo, ou até mesmo inexistentes, de esper-matozóide na ejaculação, poderá ter o sêmen coletados direta-mente do testículo. Infociência: E os pontos negativos? MC: Primeiro, não são técnicas com 100% de resultados. Então, algumas pessoas conseguem êxito e outras não. No

Infociência: Em algum momento a fertilização induzida contrapõe a ética? MC: Ela é executada, na maioria das vezes, dentro de procedimentos éticos. Por isso existem normas do Conselho Federal de Medicina. Acho que o problema é: técnicas de RA mexem com questões alvo de preconceitos, pois, tornam férteis indivíduos que normalmente não seriam; possibilita a gravidez em casais homo-afetivos (casais homossexuais); e em mulheres que já passaram pela menopausa. Quando a fertilização entra em casos assim, não deixa de ser ética. Mas pode, para algumas pessoas, passar uma imagem negativa. Infociência: A Reprodução Assistida é considerada adultério entre os casais? MC: Há indícios de que

algumas pessoas a considerem adultério. Obviamente, se a informação compreendida por RA está correta e se o desejo do casal de ter um filho e formar uma família for verdadeiro, não há como considerar adultério.

Fertilização via SUS Em julho de 2005 foi regulamentada, através da portaria nº 462, a lei que prevê a instauração do serviço de reprodução assistida no Sistema Único de Saúde (SUS). A lei garante um atendimento inteiramente gratuito em todas as suas etapas: diagnóstico, preparação, tratamento e medicamentos. No entanto, poucas são as instituições que investiram na implantação de equipamentos e profissionais para tais procedimentos. Apenas alguns estados como São Paulo, Rio de janeiro, Minas Gerais e Paraná oferecem este serviço. Na Bahia, o projeto ainda está no papel. Segundo o médico Joaquim Lopes, especialista em reprodução humana, o Hospital Edgar Santos (Hospital das Clínicas), em Salvador, possui um projeto para adoção do serviço de Reprodução Assistida, que será oferecido à população carente, inclusive a portadores de doenças genéticas, doenças infectocontagiosas, em especial os portadores do HIV e das Hepatites virais. “O que se busca no SUS é a fertilização In Vitro plena. Para que casais possam ter acesso à indicação, execução da técnica e medicação necessária no serviço público é necessário que os mesmos tenham acesso pleno aos recursos existentes”, comenta Maria do Carmo Borges de Souza.

Infociência: Mas há indícios de separação de casais durante o processo da reprodução da fertilização? MC: Não vejo dessa forma. Os casais que buscam a RA são casais ansiosos e tensos pelo desejo de gestar, mas não vejo como isso possa incidir no numero de separações. Infociência: No caso de uma separação durante o processo, qual o procedimento adotado quanto ao material colhido para a inseminação ou fertilização In Vitro? MC: Depende do momento da separação. Se esta ocorre durante uma fase preliminar, ou seja, no início, ainda na etapa de estimulação dos óvulos e / ou espermatozóides, a atitude é simplesmente parar. No entanto, se já ocorreu à gravidez, e existe um embrião congelado, a norma do Conselho Federal de Medicina é bastante clara: o embrião só pode ser descongelado e transferido para a mulher daquele casal, com a anuência dos dois. Se essa concordância não existir, o embrião ficará congelado por tempo inde-terminado. O Conselho Federal estabelece que os embriões congelados devem assim ficar indefinidamente, até que alguma legislação específica possa encaminhar uma solução para o caso. Hoje, segundo a lei de Bio-segurança, que foi aprovada no ano passado, os embriões, depois de três anos congelados podem ser doados para pesquisa. Infociência: Como são identificadas as doenças psiquiátricas congênitas nos doadores de óvulos e espermatozóides? MC: Normalmente, se você considerar que a doadora de óvulos é uma mulher que também faz a fertilização In Vitro, pressupõe-se que ela irá submeter-se a um check-up de saúde bastante minucioso. Do ponto de vista emocional, você percebe durante o processo se há alguma anormalidade. Uma fertilização é feita durante várias consultas, varias entrevistas, e

se for percebido algum sintoma suspeito no decorrer do processo, essa mulher não poderá fazer o procedimento e não será uma doadora. O tratamento com esta pessoa é encerrado. INfociência: O que doação compartilhada de óvulos? MC: Esta compreende uma fertilização in vitro, na qual casais que buscam a gravidez têm o custo compartilhado com o próprio laboratório. Isso possibilita que, através de doações dos óvulos sobressalentes (no mínimo seis)o casal possa, ao fim do tratamento, decrescer o valor original da fertilização. Infociência: Qual a diferença entre a doação legal (para adoção) e a doação de embriões ou materiais? MC: Acredito que a doação de embriões seja uma adoção. Não uma adoção plena como de uma criança, mas a adoção de um embrião, que é em potencial uma criança. A doação de gametas (óvulos ou espermatozóides) é uma “meia doação” porque o vínculo genético está preservado com relação a um dos genitores. De toda forma, esses derivativos da reprodução assistida nada mais são do que uma contri-buição, ou desejo, do casal para ter uma família. Infociência: O que prevalece: o direito da criança saber quem é seu pai biológico

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

ou o direito do doador de gameta (espermatozóide) em manter-se no anonimato? MC: Do ponto de vista prático, hoje predomina o sigilo. Os casais não têm intenção de contar às crianças todo o procedimento que ocorreu. Eles estão buscando um filho e aceitando-o normalmente. Em princípio não falariam, salvo poucas exceções. Infociência: Há um i n c e n t i v o à Re p r o d u ç ã o Assistida em mulheres de idade avançada (45/50 anos)? MC: Não há incentivo.

fazer ou não, atender ou não a solicitação de qualquer mulher acima dessa faixa etária, teria de ser estudado individualmente e questionado coisas do tipo: como será a gravidez, o parto e a criação dessa criança. Nem todo mundo tem capacidade de ter e criar um bebê aos 50 anos. Tem que pesar a vontade de ter um bebê e a sua viabilidade. Infociência: Dentro desta prática, de fazer inseminação em mulheres com mais de 50 anos, o que é, de fato, levado em consideração: o direito da mulher ter um bebê ou o ganho financeiro da clínica?

“A falta de informação gera uma fantasia negativa e faz imaginar que o médico assume o papel de Deus”

Na verdade há um limite de idade máxima para que uma mulher, com útero saudável possa engravidar a partir do óvulo de uma outra pessoa. Em principio, estipula-se que essa idade seria de 50 anos. Agora,

FERTILIZAÇÃO IN VITRO

MC: Na minha opinião e na opinião do grupo em que trabalho, acreditamos que, se uma mulher é saudável e entende todo o significado dessa decisão, a gente faz a inseminação até os 50 anos. A partir desta idade eu não posso dizer que seja errado esta mulher engravidar, mas também é nosso direito nos negarmos a atendê-la. Infociência: E quanto à probabilidade da criança, filho desta mulher de 50 anos, ficar órfão ainda jovem? MC: Essa é uma discussão que alguns colegas defendem, dizendo que podem atender a pessoa sáudavel, já que a perspectiva de vida de uma mulher hoje é algo em torno de 80 anos. Então, se uma mulher tem um filho com 55 anos, em 20 anos ele será um adulto e não uma criança desamparada. O problema é que não é possível tomar decisões provenientes da coerência, ou entendimento, de um determinado profissional (médico) em relação a sua paciente. Quanto a isso não há regras,mas casos individuali-zados e cada um age de acordo com o que achar correto.

FONTE: www.gineco.com.br e www.damansarafertility.com

Vauline Gonçalves vauline@jornalismo.fib.br


Infociência

letras & memória

julho de 2006

Pesquisadores baianos traçam perfil do gênero narrativo da antiguidade aos dias atuais Bem humoradas, curtas e cheias de lição de moral, as fábulas são conhecidas em quase todas as culturas e períodos das civilizações humanas. Na Bahia,elas são objeto de estudo do projeto coletivo “Estudo diacrônico da fábula: da antiguidade clássica à contemporaneidade”, inserido no Núcleo de Estudos da Análise do Discurso (NEAD), do Instituto de Letras da Universidade Católica do Salva-dor (UCSAL). A narrativa alegórica em prosa ou verso e com caráter universal teria surgido na Ásia Menor, mas disseminada principalmente na Grécia, onde era chamada de apólogo ( pequena narra-tiva que encerra uma lição de moral). A pesquisa

na qual encontramos a moral da história - já era identificado. Especialista em Leitura e Análise do Discurso, a professora Maria José Campos Rocha, autora do texto “O rouxinol e o gavião – uma fábula esópica” refere-se à voz do epimitio relacionandoo aos processos de controle social. “Muitos epimitios foram alterados por escribas e monges da Idade Média e direcionados para uma ideologia de caráter moral e/ou religioso, atingindo de modo radical o caráter ingênuo da fábula”, salienta a estudiosa, exemplificando como esse instrumento era utilizado para manipulação ideológica do povo. Produtores Conforme a professora-doutora clássicos Joselice Macedo, em seu ensaio O mais “O Poder político e a fábula”, f a m o s o Fedro – seguidor de Esopo e autor d o s de As rãs que pedem o Rei e a CULTURA raposa e as uvas – já retratava as DE MASSA características do poder tirano e À maneira de... Seguridade Social opressor. “O contínuo do INSS estava satisfeito, assobiando feliz, em sua cozinha “ D a í suburbana, preparando carnes e temperos pruma macarronada que encontramos oferecia, nesse domingo, aos amigos. em suas fá-bulas De repente, a mulherzinha dele, ao entrar críticas a todos na cozinha, reparou que ele estava escondendo uns pacotes de macarrão atrás da geladeira. desenvolvida os órgãos do poder, pelo NEAD, núcleo - Pra que você está escondendo esse macarrão? demonstran-do a força do – perguntou a mulherzinha. fun-dado em 1999 leviano e poderoso contra a – Não é nosso? Não foi comprado e certificado pelo fra-gilidade dos inocentes”, com nosso dinheiro? CNPq, analisa além salientando que “é um caso O contínuo respondeu apenas: - Treinando. de fábulas gregas, único na literatura latina: a Moral: Ninguém sobe sem nourrau”. fábulas ro-manas, voz de protesto impotente ( Millôr Fernandes) galegas, medievais dos fra-cos”, encontrada, por e contem-porâneas exemplo, na fábula O lobo e com o objetivo de o cordeiro. estabe-lecer suas Foi na França do século autores de fáburelações além da XVII porém, que viveu Jean las, Esopo, viveu na Grétempora-lidade. Para isso cia Antiga, entre os séculos de La Fontaine (1621-1695), lançam mão da Teoria Semiótica VII e VI A.C. Diz a tradição que o mais importante fabulista Grei-masiana, Teoria Polifônica era um escravo gago, corcunda, da era moderna. Além de autor, de Ducrot e incursões na corrente feio e miúdo, mas astuto e ele reescreveu em versos fábulas francesa da Análi-se do Discurso. por esse motivo, conquistou a de Esopo e Fedro. É dele a mais Como demonstra-ção, obras de liberdade e viajou por muitas conhecida do Ocidente: “A cigarra autores como Esopo, Fedro, La terras dando conselhos através e a formiga”. Entre os brasileiros Fontaine, foram confrontadas das quase 600 fábulas – nenhuma destaca-se Monteiro Lobato (1882com a produção de Millôr delas escritas por ele , já que era 1948) que reconta os clássicos em Fernandes e Jô Soares. Professor analfabeto. Entre elas: “A lebre a e prosa, apresentando histórias de pós-doutor, João Antonio Santana tartaruga”, “A raposa e a máscara”, sua autoria mescladas com outros Neto, líder do projeto, afirma “A reunião geral dos ratos”, “O autores nas aventuras do Sítio do que as fábulas peculiarizam-se, lobo e a cegonha”. Nesta época Pica-pau Amarelo. fundamentalmente, por apresen- o epimitio - trecho da fábula Segundo o mestrando tar diretamente as virtudes e os defeitos do caráter humano, com o espírito realista e irônico. “As figuras protagonistas são escolhidas pelos traços semânticos constantes do imaginário coletivo. Assim, a raposa é associada à engenhosidade, ao engano e o corvo ao fúnebre ou mau agouro”, exemplifica o professor, concluindo que os relatos fabu-lares têm objetivos pedagógicos, são instrumento de aprendi-zagem, fixação e memorização de valores morais e éticos de uma sociedade.

André Luis Gaspari Madureira, participante do NEAD, na fábula não há imparcialidade, mas algo que se quer incutir nas pessoas, atestando uma crença ou posição. “Analisar as produções fabulares é representar, de forma literária, um ambiente fantástico que se imiscui na realidade social”, daí, a fábula ser pesquisada em vários campos de estudo. Na atualidade, enquanto os textos clássicos trazem uma moral p a u t a d a n a ética, as fábulas

contemporâneas os descons-troem apresentando uma realidade cínica e cruel. Entre os autores atuais estão Jô Soares, que revisa histórias a exemplo de “Desfabulando A raposa e as uvas”. O jornalista Millôr Fernandes as cria e recria, refletindo valores e antivalores, satirizando a realidade sócio-política econômica em livros como Fábulas fabulosas, Mais fábulas fabulosas, Eros uma vês e Cem fábulas fabulosas. Em entrevista ao Infociência por e-mail, ao explicar sobre sua afirmação de que os mestres Esopo, La Fontaine ou Calvino são considerados tias velhas, Millôr diz: “acho apenas tediosa a intenção de ‘ensinar’. Não faço comparações”, atentando que não há algum propósito em suas fábulas. Madureira observa que o teor irônico de Millôr se dá em um período de intenso rebuliço social, refletindo uma sociedade conturbada, cheia de conflitos político-ideológicos e marcada por movimentos sociais. O produtor contemporâneo, “com seu tom sarcástico, desmantela uma ideologia ética para explorar a ironia social”, afirma o pesquisador. Fora do âmbito político, as

fábulas têm a função de formar valores e despertar nos jovens o hábito da leitura, da escrita, d a criação e pro-dução. Participante do projeto “A hora de contar histórias” da Biblioteca

O CÃO E O OSSO

leitores em tempos de jogos eletrônicos e internet é uma preocupação para professores e escritores

”Um dia, um cão, carregando um osso na boca,ia atravessando uma ponte. Olhando para baixo, viu sua própria imagem refletida na água. Pensando ver outro cão, cobiçou-lhe logo o osso que este tinha na boca, e pôs-se a latir. Mal, porém, abriu a boca, seu próprio osso caiu na água e perdeu-se para sempre”. Moral: Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. (Esopo)

Monteiro Lobato, a escritora Bety Coelho, freqüentadora do espaço há mais de 50 anos, afirma que elas cumprem essa função através das noções de justiça, honestidade, paciência, respeito e responsabilidade, presentes nos textos. A avaliação das histórias ou o aprendizado da moral pelos

d e livros infantis. Não se duvida porém, do fascínio que elas ainda exercem sobre crianças e adultos e da sua longevidade por mais séculos afora.

Neuma Dantas neumadantas@jornalismo.fib.br

Pedro Thomé

Veterinários comemoram aniversário da Escola

A medicina para animais, na Bahia, celebra uma história de 55 anos de pesquisas e formação profissional Criada em 1951, a Escola de Medicina Veterinária (EMV ) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), passou por diversas mudanças como 19 diretores e uma reforma universitária. Pioneira da área na Bahia, vivenciou vínculos a diversos órgãos estaduais, chegando à federalização, que culminou em avanços para a ciência no estado. Hoje, conta com uma estrutura que oportuniza o desenvol-vimento da prática e da pesquisa. Nas primeiras décadas do século XX, não havia formação em veterinária nas universidades locais. Eram profissionais em medicina geral, que começaram a cuidar dos animais feridos na guerra, afirma Geraldo Cezar de Vinháes Torres, em seu livro “A História da Escola de Medicina Veterinária”. Havia um curso voltado à agricultura e veterinária, mas o ensino específico inexistia. Segundo Torres, ex-diretor da EMV, para divulgar e defender a classe, os poucos profissionais formaram, em 1941, a Sociedade de Medicina Veterinária da Bahia. No ano seguinte, o interventor federal no estado, decretou que a Secretaria da Agricultura Indústria e Comércio anexasse, em seu quadro, a Escola de Agricultura e

Veterinária. O decreto não trouxe avanços, até que, em 1951, um dos idealizadores da instituição, Antonio Nonato Marques, entregou a minuta do Anteprojeto de Lei que a instituía. Conforme dados do livro, em 20 de outubro de 1951, o então Governador da Bahia, Luis Regis Pacheco, assinou a Lei nº. 423, que formava a segunda escola do país. Nessa luta destacam-se Mauro Ferreira de Camargo, primeiro diretor, Fúlvio José Alice e Antonio Nonato Marques, homenageado com seu busto na entrada do atual prédio. Uma das primeiras conquistas significativas foi a criação do Hospital de Medicina Veterinária, em 1958. A organização tornou-se uma ferramenta para o avanço dos estudos. A entidade enfrentou muitas dificuldades. Para o autor e atual vice-presidente da Sociedade, os maiores problemas foram de ordem burocrática. “A EMV era vinculada a Secretaria da Agricultura (SEAGRI); em 1965, passou para a Secretaria da Educação (SEC), quando ficou quase esquecida por um ano. A falta de recursos gerou caos na instituição”, diz Torres, o primeiro ex-aluno a ter posse na direção. Torres enfatiza a incorporação

da Escola pela UFBA, em 1966, como um acontecimento importante para seu cresci-mento. Dois pontos se destacam nesse processo: Um foi o decreto que promoveu a mudança no método de avaliação dos candidatos, 50% das vagas dos cursos de Agricultura e Veterinária seriam destinadas a agricultores ou filhos destes, que morassem em cidades onde não existissem unidades de ensino direcionadas à área. Outro foi o deslocamento de alguns instrumentos de estudo, como microscópios, para a Escola de Ciências Biológicas. “Ficamos órfãos de equipamentos nos nossos laboratórios”, relembra o autor. A mudança também trouxe avanços, como a criação de convênios, com significantes resultados. Um deles feito com a Secretaria de Planejamento, Ciência de Tecnologia (SEPLANTEC), que visava o desenvolvimento da Ovinocaprinocultura na Bahia, uma especialização expressiva dentro da área.

Mudanças evolutivas A EMV foi crescendo com o tempo. O número de vagas inicial era de 30, hoje, chega a

COMEMORAÇÃO Escola de Medicina Veterinária da Ufba desenvolve pesquisas que avançam o campo na Bahia. 110. “A primeira turma contou com 22 alunos, atualmente há 688 estudantes no curso, também a biblioteca tem um acervo de aproximadamente nove mil livros. Nos 55 anos de existência, a escola formou 2.143 alunos”, diz o atual diretor da Escola, José Vasconcelos Lima Oliveira. Das pesquisas realizadas na instituição, destacam-se a publicação do “Arquivo da Escola de Medicina Veterinária da UFBA”, lançada em 1976, com 17 artigos de pesquisas na área. Essa publica-ção ajudou o desenvolvimento de projetos como o do japonês Haraku Ueno, autor de um trabalho sobre parasitologia. Hoje, a estrutura da EMV conta com três fazendas para estudos e quatro departamentos que englobam 15 laboratórios. “Dentre eles destaca-se o de reprodução animal, com aparelhos de grande significado para

o desenvolvimento veterinário”, cita a estudante de 20 anos, quarto semestre, Miucha Almeida. Atualmente, são desen-volvidos estudos que contribuem para o avanço da medicina peculiar. Exemplo disso é a especialização em nutrição animal, na qual são analisados mantimentos, cálculo e elabora-ção de rações, com intuito de enriquecer a alimentação em proteínas e vitaminas. Entre as pesquisas atuais, analisam-se as doenças das aves, com o monitoramento da suposta chegada da gripe aviária em nosso estado, conduzida pela profesora Lia F. Régis; a aplicação da fitoterapia na cura dos animais, a cargo do professsor José Resende, além do estudo do professor Roberto Robson da Silva, intitulada “Avaliação da atividade imunomoduladora e ante-helmíntica de Extratos de Plantas Medicinais do semi-árido

baiano em Caprinos, naturalmente infectados por Haemonchus Comtortus’. Situada no bairro de Ondina, na Rua Ademar de Barros, a EMV proporciona aos estudantes e visitantes um ar de cidade de interior. Em muitos momentos, os desavisados podem tombar com animais que circulam pela área de preservação no fundo do pavilhão de aulas. Sobre o futuro, o atual diretor, Lima Oliveira, lamenta a falta de recursos para novos vôos, mas o crescimento da instituição faz jus a importância da prática veteri-nária para o homem. “A Escola de Medicina Veterinária faz 55 anos com um jeito de que vai fazer muito mais”, profetiza. Pedro Thomé jornalismo@fib.br


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