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Rita Barreto

Eduardo Pelosi

A bela praia de Arembepe mistura-se harmoniosamente com a pequena vila 50 | Viver Bahia

om mais de 1.100 km de litoral, a Bahia tem opções de praias para todos os estilos e gostos. Dentre todas as praias oferecidas nesse imenso tabuleiro litorâneo, Arembepe é um lugar diferente, pouco explorado como destino turístico, mas que já atraiu figuras ilustres e artistas do set internacional, como Mick Jagger, Janis Joplin e Roman Polanski e celebridades nacionais, a exemplo de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Raul Seixas. O significado do nome Arembepe, do tupi-guarani “aquilo que nos envolve”, traduz a magia do local, que mistura agito e tranquilidade. Distante 24 km do Aeroporto de Salvador, o distrito já foi parte de uma fazenda de cocos, que, posteriormente, tornou-se uma pequena vila de pescadores. Hoje a localidade é considerada um dos portões de entrada da Costa dos Coqueiros, com natureza exuberante e uma infraestrutura que conta com hotéis, pousadas, bares, restaurantes, uma base do Projeto Tamar e a famosa Aldeia Hippie. A faixa litorânea de Arembepe é dividida em cinco praias, que se estendem por 7 km, com águas agitadas ao norte e calmas ao sul. Entre elas está a Praia do Piruí, que além de reunir piscinas naturais durante a maré baixa, é frequentada por surfistas amadores e profissionais, que aproveitam o mar agitado e as grandes ondas para a prática do esporte. Viver Bahia | 51


Fotos: Rita Barreto

Outra praia muito procurada é a do Porto, localizada no centro do distrito, com piscinas naturais entre as pedras e com uma concentração de barracas, restaurantes e bares na beira da praia, com um cardápio completo de comidas baianas, frutos do mar frescos, pescados na região, e drinques com frutas tropicais. Na Praça das Amendoeiras, nativos e turistas misturam-se durante o dia e a noite, em um ambiente familiar, arborizado, e os restaurantes, bares e pizzarias são um verdadeiro atrativo para quem quer aproveitar a vista do mar e as delícias gastronômicas da região. Além dos restaurantes típicos, alguns estabelecimentos são gerenciados por estrangeiros que vieram morar no local e oferecem pratos da culinária internacional. As feiras de artesanato realizadas na Praça das Amendoeiras formam uma verdadeira vitrine da cultura local. Ali, são expostas esculturas talhadas em madeira, roupas feitas com fibra de coco e com palha de coqueiro, piaçava e palmeira, brincos, anéis e outros acessórios, além de pinturas em camisetas e

A grande faixa de areia permite áreas de lazer no entorno da praia

quadros feitos por artistas locais e moradores da Aldeia Hippie. As barraquinhas também vendem comidinhas regionais como beijus, carne do sol com aipim, churrasquinho e crepes recheados com carne seca e queijo coalho. Estrangeiros - Entre os restaurantes mais badalados de Arembepe, o Mar Aberto chama atenção pelo ambiente descontraído, aconchegante e com uma bela vista para o mar, bem pertinho da areia. Decorado com quadros de artistas baianos, o local atrai turistas pela simplicidade aliada ao conforto e a pratos requintados. Premiado

A pequena vila ainda conserva atmosfera de cidade de interior 52 | Viver Bahia

por diversos guias de turismo e de culinária, o espaço ganhou fama através do boca a boca dos clientes. Com opções da culinária baiana, frutos do mar, carnes, massas e saladas, o cardápio do restaurante destaca-se pela apresentação dos pratos e pela qualidade dos ingredientes, com frutos do mar sempre frescos. De entrada, uma água de coco fresquinha e a isca de badejo são ideais para se entrar no clima. Os pratos mais procurados são a lagosta grelhada, o vermelho grelhado e a moqueca de camarão. Além disso, o restaurante oferece uma carta de vinhos e opções para vegetarianos. O restaurante Mar Aberto surgiu da paixão de um turista belga pelas praias de Arembepe. Thierry Nicodeme conheceu o local quando ainda era apenas uma vila de pescadores, com duas praças, muitas amendoeiras e areia. “Vim para Salvador em setembro de 1983, e me convidaram para conhecer Arembepe. Fiquei encantado com o lugar e conheci o João Sá, meu sócio brasileiro aqui. Depois de viajar por toda a América do Sul, resolvi voltar, e montamos o restaurante em dezembro de 1984”, relata Nicodeme. O belga conta que, desde o início, a intenção era criar um espaço aconchegante, alternativo, mas prezando sempre pela

qualidade do serviço e da estrutura local. “Quando compramos esta casa, ela estava em ruínas; nós a reformamos toda e, com o tempo, fomos pegando gosto e trabalhamos cada vez melhor, sempre aprimorando algo da infraestrutura e dos pratos. Quando fomos ver, começamos a ser indicados para premiações e concursos”, explica o dono do restaurante, que não faz propaganda para atrair a clientela. Para Nicodeme, Arembepe tem grande potencial turístico que ainda não é totalmente explorado. Ele conta que o local recebe muitos turistas do Sudeste, do Sul e do Centro-Oeste do país, mas não o considera como um destino turístico por falta de mais infraestrutura. “Temos muitos clientes que vinham com os pais, anos atrás, e agora estão adultos, trazem as esposas e os filhos para conhecer Arembepe. Isso mostra como somos sempre lembrados por quem conhece o local, mas ainda precisamos nos adequar mais e sermos mais receptivos para o turista”, conclui o dono do restaurante, que está sempre atento à atividade da cozinha e atende pessoalmente os clientes nas mesas. Assim como o belga Thierry Nicodeme, outros estrangeiros adotaram Arembepe como sua casa. Argentinos, espanhóis e italianos estão na lista das nacionalidades que podem ser encontradas pelas ruas da vila. Além dos estrangeiros, os brasileiros também se encantam com as belezas naturais e o povo hospitaleiro de Arembepe. A paulista Gabriela Menezes, de 34 anos, escolheu o local como seu segundo lar e não abre mão de passar o verão e os feriados na sua casa de veraneio. “Aqui a gente pode se desligar do mundo, cuidar da gente e aproveitar as praias, o rio, a Aldeia Hippie e tudo de bom que esse lugar oferece”, ressalta.

Rita Barreto

Moradores da aldeia convivem entre as águas doces do rio e o sal do mar

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isitar a Aldeia Hippie de Arembepe é fazer uma verdadeira viagem no tempo. Espremida entre as piscinas naturais formadas pelos recifes da praia e pela lagoa do rio Capivara, a aldeia reúne cabanas rústicas feitas com pedras e cobertas de taipa e um clima de liberdade total e desapego que reinou durante as décadas de 60 e 70. O local que já recebeu artistas como Janis Joplin, Mick Jagger, Roman Polanski e os Novos Baianos, é um dos poucos redutos do movimento hippie, em todo o mundo, que sobreviveram dos atordoados anos 60. A fama da aldeia continua atraindo turistas brasileiros e estrangeiros, artistas, empresários e intelectuais que procuram um lugar para descansar e esquecer

das obrigações e agitos do século XXI. Entre os visitantes ilustres, a estrela mais lembrada é a cantora Janis Joplin, que esteve no local no verão de 1970, após passar pelo Rio de Janeiro e por Salvador. Provavelmente, a Aldeia Hippie de Arembepe, cenário ideal para a música “Summertime”, local onde ela se hospedou durante alguns dias, aproveitou o sol e o mar da Bahia, sempre acompanhada de uma garrafa de cachaça, fez amigos, deixou muitos presentes e, segundo dizem, até arranjou um namorado. Hoje, a aldeia tem cerca de 40 cabanas, onde moram, aproximadamente, 80 pessoas. As moradias oferecem hospedagem para turistas e espaço para camping, com diárias que variam entre 10 e 30 reais. Além das casas, a aldeia possui um centro de artesanato, restaurante e escola para as quinze crianças que moram no local. Como não é possível construir novas cabanas na região, quem quiser morar na Aldeia Hippie precisa aguardar que alguém Viver Bahia | 53


A queira sair para ocupar a casa do antigo morador. Entre os moradores mais antigos está o artista plástico Luiz Cerqueira, 51 anos, que conheceu Arembepe em 1985. Ele trabalhava com serigrafia, foi vender camisetas na vila e se apaixonou pelo local. Junto com um amigo peruano, Cerqueira comprou a cabana onde hoje mora com a mulher e a filha e, aos poucos, foi dando forma à casa que continua em constante construção. O ambiente tem algumas paredes de pedra, outras de taipa e o telhado coberto com palhas. A casa é um verdadeiro museu com fotografias, quadros, esculturas e camisetas com pinturas do surrealismo abstrato. Luiz Cerqueira pode ser facilmente identificado por quem chega à aldeia: negro, magro, com roupas rasgadas, óculos escuros com armação redonda, e as mãos sujas de tinta, ele recebe os visitantes com a casa aberta. Segundo Cerqueira, sua cabana já foi visitada por mais de 70 mil pessoas, de 53 países. O cenário 54 | Viver Bahia

rústico-psicodélico da residência já levou o fotógrafo JR Duran a realizar ensaios com modelos para grifes como Dolce & Gabana e Versace. “Aqui nós recebemos todo tipo de gente, presidentes de banco, ministro, atores, médicos, advogados, etc. Muitos estrangeiros procuram a aldeia e ficam encantados com tudo isso. A nossa vida é de trabalho, festa e conservação da natureza, tudo com simplicidade e naturalidade”, ressalta Cerqueira, enquanto mostra trechos do livro “Naquele tempo, em Arembepe”, do escritor Beto Hoisel, que conta a passagem de artistas famosos pela aldeia. Sobre a organização dos moradores, o artista conta que existe uma associação e um estatuto. “Mas eu não faço parte. A gente veio aqui para chutar o balde, acabar com esses conceitos, então não participo”, explica. Além das festas com música e fogueira, em dias de lua cheia, a Aldeia Hippie realiza o Festival da Primeira Lua Cheia de Janeiro, que acontece todos os anos. A festa dura

Fotos: Rita Barreto

O artista plástico Luiz Cerqueira

três dias e conta com apresentações de grupos culturais, celebrações do movimento hippie e shows. Durante os dias do festival, os moradores arrecadam alimentos e livros para a comunidade local. A celebração é inspirada no famoso festival de Woodstock, o mais importante da década de 60, que celebrava a contracultura do movimento hippie.

que abrigam tartarugas adultas de diferentes espécies, filhotes e tartarugas terrestres. A base do Projeto Tamar conta também com um museu educativo, com peças interativas e dioramas, que criam ambientes e situações ligadas à vida das tartarugas marinhas e que levam o visitante a aprender e refletir sobre a proteção. O centro é visitado por turistas e excursões escolares, que fazem visitas orientadas e aprendem cada detalhe sobre a conservação e proteção das tartarugas marinhas em todas as fases da vida. Fotos: Rita Barreto

Natureza exuberante é principal atrativo do lugar

o lado da entrada da Aldeia Hippie, uma base de proteção ambiental do Projeto Tamar também é um dos atrativos de Arembepe. A base foi uma das primeiras instalações do Tamar. No início, era conhecida como base de Interlagos, pois a ação de proteção às tartarugas marinhas começou por iniciativa dos moradores do condomínio que leva esse nome. Em 1983, as atividades eram restritas aos quatro quilômetros de praia da região. Em 1992, a base foi transferida para Arembepe e monitora a reprodução e movimentação das tartarugas marinhas em 47 quilômetros de litoral, da praia da Boca do Rio, em Salvador, até o Rio Jacuípe. Além do Projeto Tamar de Praia do Forte, esta é a única base aberta à visitação. Com cinco biólogos e um oceanógrafo, o Projeto Tamar de Arembepe acompanha toda a reprodução das espécies que passam pela região. O período de desova acontece de setembro a março e a principal espécie encontrada é a Cabeçuda. Durante a desova, os profissionais cercam as áreas onde as tartarugas marinhas depositam seus ovos para garantir a reprodução das espécies. Aberto à visitação todos os dias, das 9h às 17h, com ingressos a R$ 3, o espaço conta com tanques

Como chegar Saindo de Salvador, basta seguir pelas praias do Litoral Norte, passar pela cidade de Lauro de Freitas e pegar a Estrada do Coco (BA-099). Após a praça do pedágio, são menos de 20 quilômetros de rodovia até Arembepe. Os ônibus saem da Estação da Lapa, Terminal da França e Rodoviária, na capital baiana, a cada 30 minutos. A passagem custa pouco mais de R$ 2. Outra opção é ir ao final de linha de Itapuã e seguir viagem em uma das inúmeras vans ou micro-ônibus que fazem o percurso em cerca de 30 minutos. Vindo da Praia do Forte e da Costa do Sauípe, Arembepe está situada logo após a localidade de Barra do Jacuípe. Onde Ficar Enseada do Sol - Loteamento Praia Piruí, lotes 70/71 - Arembepe - T. (71) 3624-1148 www.enseadadosol.blogspot.com Hotel Aldeia de Arembepe - Refúgio Ecológico - Estrada Aldeia Hippie, loteamento 09/10 - Arembepe - T. (71) 3624-1031 / 91535253 www.aldeiadearembepe.com.br Onde Comer Restaurante Mar Aberto - Praça das Amendoeiras, nº 43 - T. (71) 3624-1257 Abassá Restaurante - Rua do Piruí, nº 34 - Praia do Piruí - Arembepe - T. (71) 36242764 / Especialidade: Cozinha meditarrânea Restaurante Fogão de Lenha - Estrada do Coco, km 20 - Arembepe - T. (71) 3628.1200

Projeto Tamar Viver Bahia | 55


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