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Editorial O segundo número da nova edição das Cores do Amor é dedicado ao assunto do “armário”: aquele lugar sombrio e deprimente, aquele mundo de faz-de-conta onde os homossexuais se refugiam, uns amarrados pela incapacidade de vencer os seus próprios receios, a maioria vergada pelo peso dos preconceitos e das expectativas sociais. Sair do armário, ou nele nunca entrar, requer muita coragem, uma longa e difícil viagem de introspecção e auto-aceitação e solidariedade – aquele conforto que sentimos por sabermos que não somos os únicos, não somos anormais e não estamos sós neste percurso pessoal e social. Os receios e os preconceitos alimentam-se da ignorância, da falta de conhecimento e de informação e da ausência do diálogo. As Cores do Amor são um passo que a comunidade homossexual e bissexual está a dar para diminuir a ignorância, partilhar conhecimento, divulgar informação e promover o diálogo como forma de amainar os receios, despir os preconceitos e, progressivamente, eliminar os “armários” por este país fora. Este é um acto de educação, nossa e dos que nos rodeiam, para que toda a sociedade fique mais rica, mais aberta e mais progressista. Na semana passada, num semanário da capital, um conceituado jornalista, numa coluna de opinião sobre o assunto do aborto, manifestou a sua oposição à legalização do aborto e comparava-a, entre outras coisas, à legalização do “homossexualismo” e do fecalismo a céu aberto. O jornalista é livre de ter e expressar as suas opiniões sobre um assunto tão controverso como o aborto. O que não deve é misturar alhos com bugalhos e juntar no mesmo saco assuntos que não têm relação absolutamente nenhuma entre si! Mas o pior mesmo é usar conceitos inexistentes, confundir conceitos e desinformar o público! Em primeiro lugar, “homossexualismo” não existe, pois não falamos de “sexualismo”, mas sim de sexualidade! Portanto, quando queremos falar de atracção entre pessoas do mesmo sexo falamos de homossexualidade! Em segundo lugar, a homossexualidade em Moçambique não é ilegal, portanto não podemos comparar a legalização do aborto à legalização de uma coisa que não é ilegal! Aliás, é ridículo falar de ilegalidade da homossexualidade, tal como seria ridículo tornar ilegal o facto de se ser negro, canhoto, albino, alto, vesgo, loiro, etc. O que muitos países fazem (mesmo assim erradamente) é ilegalizar os actos e, por vezes, comportamentos homossexuais, o que é muito diferente de ilegalizar a homossexualidade. O senhor jornalista já imaginou o ridículo de uma lei que proibisse o senhor de se sentir atraído afectiva e sexualmente pela sua esposa?! Quando muito poderia proibir que o senhor desse beijos, andasse de mãos dadas ou fizesse sexo com a sua esposa ou, antes dela, com as suas namoradas. Mas mesmo isso, aos seus olhos, seria ridículo e inaceitável, não seria? Infelizmente, muitos de nós, homossexuais, bissexuais e heterossexuais, julgamos que a homossexualidade e os actos homossexuais voluntários entre adultos, na sua privacidade, são ilegais em Moçambique. O que não é verdade! É esta falta de conhecimento e de informação que contribui para os preconceitos, os receios ... e os “armários”! Por isso, estamos aqui - para ajudar a desmistificar a sexualidade e libertar as nossas mentes e os nossos corpos!

Editorial

Nesta Edição • Sair do Armário - Pag. 3 • O Armário mais sufocante - O Homem casado de gosta de outros homens - Pag. 6 • Moçambicano representa Gays de África - Pag. 7 • Embaixador Holandês apoia a causa das minorias sexuais em Moçambique - Pag. 7 • O Mundo a Caminho da bissexualidade - Pag. 8 • Itália oferece asilo a lésbica Iraniana - Pag. 8 • As neuroses de quem está dentro do armário - pag. 9 • Lésbicas e doenças venêreas (Parte II) - Pag. 10 • Guia de orientação para pais e mães de homossexuais (parte 1) - Pag. 11 • The Buble ( o filme) - Pag. 14 • Taça de Morangos (Conto) - Pag -15 • Adonis - Pag 16

Atenção

As “Cores do Amor” é uma publicação de distribuição online gratuita. A sua concepção depende do trabalho voluntário de alguns elementos da nossa comunidade. Neste momento necessitamos de tradutores, gráficos e repórteres. Caso queria fazer parte desta equipe, envienos um email para; ascoresdoamor@lambda,org,mz

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Afinal você pode sempre dar uma mão... 2


Artigo

SAIR DO ARMÁRIO Este artigo é escrito para homossexuais (gays e lésbicas) e bissexuais de todas as idades que estão a pensar em tomar a difícil decisão de “sair do armário”. “Sair do armário” é um processo de (orientação sexual), da mesma forma que compreensão, aceitação e valorização da sua são fundamentais em determinar se somos orientação sexual. “Sair do armário” inclui canhotos ou albinos. O que nós sabemos é explorar a sua própria orientação sexual e que ninguém escolhe a sua sexualidade! depois partilhá-la com outras pessoas. Isso significa enfrentar as atitudes e reacções Crescendo homossexual ou bisseda sociedade em relação aos homossexuais xual e bissexuais, atitudes essas geralmente Para muitos jovens homossexuais e baseadas no princípio de que todos são bissexuais, a adolescência é uma fase heterossexuais e que, por isso, tratam de de ansiedade e medo. Não se divulgam forma negativa o “ser diferente da norma”. modelos positivos de homossexualidade Assim, criam-se os “armários” onde os e há muita hostilidade social contra os homossexuais e bissexuais homossexuais assumidos. são levados a esconder a sua Os jovens homossexuais e “O processo de orientação sexual. bissexuais cedo apercebem-se

“sair do armário” é um processo muito pessoal e diferentes pessoas fazem-no de forma diferente e em alturas diferentes..”

O processo de “sair do armário” é um processo muito pessoal e diferentes pessoas fazem-no de forma diferente e em alturas diferentes. Algumas pessoas apercebem-se da sua orientação sexual bastante cedo na sua vida. Outras, só muitos anos mais tarde. “Sair do armário” pode ser um processo longo e, algumas vezes, dura toda a vida! Ninguém sabe ao certo porque uns seres humanos são homossexuais e outros heterossexuais. Há muitas teorias, que usam desde os argumentos genéticos até aos socio-familiares. As evidências mais predominantes indicam que factores genéticos jogam um papel fundamental em determinar a nossa sexualidade

NO ARMÁRIO

Termo originado do inglês ( in the closet) que denota um indivíduo que não divulga sua orientação sexual e frequentemente se esforça para que outras pessoas não venham a atestá-la.

que não são como a maioria dos jovens à sua volta e, por isso, tornam-se fechados e tristes, muitas vezes convencidos de que são anormais e os únicos nessa situação. Aprendem a esconder os seus sentimentos verdadeiros e a agir como os outros esperam que eles ajam, para não serem ridicularizados, excluídos ou rejeitados pelos seus familiares, colegas, amigos e vizinhos. Alguns desses jovens crescem acreditando que, se se relacionarem com o sexo oposto e se casarem, os sentimentos e desejos homossexuais desaparecem. A realidade é que isso raramente acontece! O que acontece é que, à medida que os anos passam, o stress e a angústia de sentimentos e desejos reprimidos acumulam-se, com consequências traumáticas a nível psicológico e da vida familiar. Torna-se muito mais difícil ter que “sair do armário” quando já se é cônjuge ou pai ou mãe.

A decisão de “sair do armário”

Porque é que eu quero “sair do armário”? Esta é a questão mais importante que tens que fazer a ti próprio! Se a tua resposta for: “Porque não tenho vergonha do que sou”, ou “É impossível ser uma pessoa feliz e realizada se continuar a reprimir e esconder a minha sexualidade”, ou “Quero ter a possibilidade de conhecer e conviver com outros homossexuais”, então vais “sair do armário” pelas razões certas. No entanto, se o teu objectivo for o de magoar ou chocar as pessoas, pensa duas vezes, porque tu é que vais acabar por sair magoado! Há muitas maneiras de dizer a outra pessoa que és homossexual ou bissexual. Podes escolher um amigo, um membro da tua família que tu achas que vai entenderte melhor, ou um outro homossexual. Mas a primeira pessoa a quem tu tens que ter a coragem de dizer que gostas de pessoas do mesmo sexo e que não há nada de errado com isso és tu próprio!!

“Sair do armário” para ti próprio Os primeiros passos para “saíres do armário” são reconhecer a tua própria orientação sexual e esforçar-te para tu próprio a aceitares! Muitos de nós julgamos que esses sentimentos e desejos “estranhos” são apenas uma “fase” e que eventualmente passarão. No entanto, com o tempo, verificamos que não se trata de “fase” nenhuma e que eles estão connosco para ficar e por isso temos que encontrar uma forma de aceitar e gerir o facto de gostarmos de pessoas do mesmo sexo! Alguns descrevem este período de descoberta como um turbilhão emocional. Um dia achamos que temos a coragem de dizer a todo o mundo o que sentimos; no dia seguinte estamos confusos, com medo

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Artigo e aliviados por não termos contado a ninguém! Nesta fase, ajuda ter alguém que já tenha passado pelo mesmo e com quem possamos conversar abertamente!

“Sair do armário” para outros homossexuais ou e bissexuais

Muitas vezes, depois de passares pelo processo de auto-análise e de autoTambém é importante entender a aceitação, sentes a necessidade de revelares orientação sexual como uma linha contínua a tua orientação sexual a outras pessoas. em que, num extremo, encontramos Normalmente, é aconselhável abriresas pessoas que se sentem atraídas te primeiro com aqueles que, à partida, exclusivamente por pessoas do sexo oposto vão entender-te e apoiar-te: outros (heterossexualidade), e no outro extremo, homossexuais ou bissexuais. Muitos deles já passaram por esse processo e encontramos as pessoas que se a troca de experiências sentem atraídas exclusivamente sobre “sair do armário” por pessoas do mesmo sexo ““Sair do armário” e ser homossexual pode (homossexualidade). Entre esses pode ser uma ajudar-te a evitar erros e a dois extremos, encontramos experiência mais combateres sentimentos de as mais variadas formas de isolamento, anormalidade positiva se tu bissexualidade. O processo de e vergonha. estiveres seguro da reconhecer a tua orientação sexual, seja ela qual for, começa por saberes determinar em que ponto dessa linha contínua a tua sexualidade se encontra.

tua sexualidade e sentires menos necessidade da aprovação dos outros em termos da tua auto-estima...”

Aqui, “sair do armário” trata-se, sobretudo, de um processo de auto-análise e de auto-aceitação! Para tal, tenta pensar em todas as pessoas homossexuais e bissexuais que contribuem para o bem da sociedade nos seus países, nas mais diversas áreas, desde a cultura e o desporto até à política e à ciência. Isto não significa fechar os olhos aos preconceitos, discriminação e mitos negativos que existem na sociedade em relação a pessoas como tu. No entanto, deves olhar para esses factores negativos como um problema de falta de conhecimento por parte da sociedade e não como um reflexo da tua identidade ou orientação sexual! Há muitas coisas a considerar quando se pensa em “sair do armário”. Deves, acima de tudo, pensar nos resultados positivos da tua decisão: maior auto-estima, mais honestidade na tua vida, para ti próprio e para os que te rodeiam, e um sentimento mais forte de integridade pessoal. Há também um respirar de alívio e um baixar de tensão ao deixarmos de tentar esconder ou negar uma parte tão importante da nossa vida! “Sair do armário” leva-te a uma maior liberdade de auto-expressão, um sentimento positivo em relação a ti próprio e a relações mais honestas e saudáveis com os que te rodeiam e que são importantes para ti!

No entanto, podes não conhecer nenhum homossexual ou não te sentires à vontade para te abrires com alguém com quem não tens confiança ou intimidade. Por isso, muitos homossexuais preferem abrir-se primeiro com um heterossexual amigo, colega ou familiar.

Se decidiste dizer à tua família, talvez seja melhor falar primeiro com a tua mãe (a experiência mostra que as mães são, normalmente, mais abertas e receptivas) e, se a sua reacção for positiva, pedir-lhe que te ajude a abordar o assunto com o teu pai. Muitas vezes, os irmãos são um bom ponto de partida porque, por serem jovens, poderão entender melhor a homossexualidade e a bissexualidade. Não existe uma regra única sobre a melhor forma de comunicar à tua família que és homossexual ou bissexual. Se vives longe da tua família ou se tens motivos fortes de esperar dela uma reacção muito hostil ou negativa, talvez seja melhor escreveres primeiro uma carta. Escrever uma carta ajuda-te a compor as tuas ideias e a escolher cuidadosamente a linguagem a usar e também dá tempo à tua família de reflectir e “arrefecer” antes de um encontro cara-a-cara. Se decidires abordar o assunto cara-acara, nunca o faças de forma apressada ou no meio de uma ocasião inapropriada.

“Sair do armário” para os heterossexuais Este é, possivelmente, o passo mais difícil no processo de “sair do armário”, porque é aqui que é mais provável encontrares consequências negativas, como a incompreensão e a rejeição. Por isso, é aconselhável enfrentar este passo de olhos e coração abertos. Tens que compreender que muitos heterossexuais vão ficar chocados ou confusos com a tua afirmação de que és homossexual ou bissexual e vão precisar de algum tempo para “digerirem” essa informação e habituarem-se a esse facto. Muitas pessoas também não têm informação suficiente sobre o que realmente significa ser homossexual ou bissexual e essa falta de conhecimento influencia a sua reacção. “Sair do armário” pode ser uma experiência mais positiva se tu estiveres seguro da tua sexualidade e sentires menos necessidade da aprovação dos outros em termos da tua auto-estima. Por isso, não é aconselhável “saíres do armário” num momento de autodúvida ou de fraqueza emocional.

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Deves sempre explicar o processo de autoanálise e auto-aceitação por que passaste, não deves esconder os teus receios de ser rejeitado por eles e sê claro que a tua intenção não é magoá-los, mas sim ser honesto para contigo próprio e para com eles. Escuta sempre com atenção o que eles tiverem para te dizer – mesmo que seja doloroso – afinal trata-se de uma conversa e não de um discurso da tua parte!

lugar. A melhor coisa a fazer é continuares a viver a tua vida normalmente. Um dia, eles próprios sentirão a necessidade de te falar de novo sobre o assunto. Mesmo que tenham reagido mal, não desesperes. É normal: tens que compreender que eles estão a passar por um conjunto de emoções difíceis como choque, dor, culpa, desilusão, sentimento de perda, etc. Mas o tempo acaba por curar tudo!

Há várias reacções típicas que os pais têm, quando um filho ou filha lhes revela que é homossexual ou bissexual: “Tens a certeza? Como podes ter a certeza que não é uma coisa passageira?”, “Ainda és muito jovem. Isso há-de passar-te!”, “Tens que andar com mais raparigas (ou rapazes)!” É útil antecipares que tipo de perguntas os teus pais poderão colocar-te e preparares calmamente as respostas mais adequadas. Evita dar resposta confrontacionais. Tenta educá-los de forma positiva e construtiva sobre a sexualidade. Mas, para tal, tens que te educar a ti próprio primeiro!

Se a rejeição vier daqueles que julgavas serem teus amigos, pergunta-te a ti mesmo se amigos verdadeiros se recusariam a compreender-te e apoiar-te num momento destes e se realmente precisas desse tipo de pessoas como teus amigos. A resposta é não! Por isso, não percas mais tempo com eles! Amigos novos e verdadeiros virão!

E agora…? OK, já “saíste do armário”! Normalmente, ou te sentes à beira de um precipício, ou sentes vontade de dançar e pular, dependendo das reacções que encontraste! A maior parte das pessoas que “saíu do armário” descreve uma sensação de euforia e de ter tirado um peso enorme de cima de si! Seja qual for a reacção, nunca te sintas culpado! Não fizeste nada de errado! Lembra-te que a tua família e os teus amigos podem estar com medo que tu tenhas mudado radicalmente, que já não sejas a mesma pessoa. Deves usar todas as oportunidades para lhes assegurar que continuas a ser o mesmo e que se mudaste, foi para melhor e apenas para te sentires mais verdadeiro, completo e feliz. Muitas pessoas encontram reacções bem positivas: “Estamos muito satisfeitos por teres tido a coragem de nos dizeres” ou “Há muito tempo que suspeitávamos e só estávamos à espera que nos confirmasses”. Inclusivamente, alguns homossexuais tiveram a seguinte reacção da outra pessoa: “Eu também sou gay!”. Noutros casos, os pais recusam-se a falar no assunto e fingem que a conversa nunca teve

Poderás encontrar também situações em que não há rejeição, mas também não há aceitação completa. São aqueles casos em que a tua família diz aceitar-te como gay, mas não aceitam que tenhas um parceiro ou que apareças com o teu namorado em casa deles. Ou casos em que toda a família sabe que és lésbica, mas continuam a perguntar pelo namorado ou querem saber quando vais casar-te (com um homem) e ter filhos. Aconteça o que acontecer, nunca te esqueças: não há nada de errado contigo, não fizeste nada de errado, o melhor caminho é sempre para a frente e família é família e rara é a família que rejeita totalmente e para sempre um membro seu por ser homossexual! Depois, chega uma altura em que é tempo de parar de falar e de passar a viver a (nova) vida como sempre sonhaste e desejaste, explorando a tua sexualidade de forma segura e confiante! Lembra-te sempre que, apesar dos estereótipos, não há uma forma única de ser homossexual ou bissexual. Deves viver e expressar a tua sexualidade da forma que melhor entenderes e que mais se adequar à tua personalidade e aos teus objectivos e valores de vida.

Conclusão Ao “saíres do armário” para outras pessoas, toma o seguinte em consideração:

Artigo Pensa no que tu queres expressar e escolhe cuidadosamente o local e a altura exactos para o fazeres. Tem sempre em mente a situação da pessoa com quem te queres abrir. A melhor altura para ti pode não ser a melhor altura para ela. Aborda o assunto honestamente e lembra à outra pessoa que tu não deixaste de ser o mesmo indivíduo que eras no dia anterior. Fica preparado para uma reacção negativa inicial. Não te esqueças que mesmo tu levaste algum tempo a compreender e aceitar a tua própria sexualidade. Por isso, é importante dar aos outros o tempo necessário para te compreenderem e aceitarem. Pede aos teus amigos que já sabem da tua situação para te darem apoio moral logo a seguir a teres este tipo de conversas. Não percas a esperança se a reacção inicial for negativa ou não for aquela que tu desejavas ou esperavas. Os preconceitos sociais fazem com que certas pessoas levem mais tempo a digerir este tipo de informação. Acima de tudo, não deixes que a tua auto-

10 Passos Para Sair do Armário 1. Escolha o momento certo 2. Mantenha-se calmo 3. Tente antever as reacções dos seus pais, e fale aquilo que é mais importante para ti. 4. Escolha sempre as palavras certas 5. Mantenha a dignidade 6. Evite detalhes desnecessários, fale somente de si, não envolva terceiros. 7. No caso de haver represálias, como a expulsão de casa, tenha sempre uma mala pronta e avise a pessoa que você confia que vai passar uns dia na casa dela. 8. Seja fiel à sua consciência, sempre. 9. Lembre-se que sua mãe sempre estará ao seu lado. Mãe é mãe. Muitas vezes, é dela o papel de porta-voz dos problemas da família. 10. Já saiu do Armário? Então...

Feliz Dia de Sair do Armário!!! 5


Artigo estima dependa inteiramente da aprovação dos outros em relação à tua pessoa! Se alguém te rejeitar e se recusar a fazer um esforço para te aceitar, não é culpa tua! Pensa positivamente e parte o princípio que esta rejeição inicial pode vir a inverterse quando a outra pessoa se habituar à ideia de que tu és homossexual ou bissexual. Se essa pessoa não mudar com o tempo, é altura de reavaliares a tua relação com essa pessoa e decidires se ela é realmente importante para ti. Lembra-te sempre que tu tens o direito de ser quem tu és e tens o direito de o dar a conhecer e de ser aberto sobre todos os aspectos da tua identidade

como pessoa, incluindo a tua orientação sexual, e em caso algum a rejeição por parte de uma outra pessoa significa que tu não tens valor! A decisão de “sair do armário” é sempre uma decisão muito pessoal! Sair ou não sair e quando, onde, como e para quem sair são questões para as quais só tu podes encontrar as respostas! Tens que ter o controlo completo deste processo, por isso tens que tentar antever todas as suas potenciais consequências para poderes reagir positiva e não defensivamente! “Sair do armário” será, sem dúvida, uma das decisões e acções mais difíceis da tua

vida, mas pode ser também uma das mais gratificantes! “Sair do armário” é uma forma de afirmares a tua dignidade, a tua personalidade e a tua individualidade! E lembra-te sempre de que nunca estás sozinho! Há uma comunidade homossexual e bissexual pronta para te apoiar! Esperamos que este artigo te ajude a tomar as tuas decisões. Há muitos outros tópicos relacionados com o “sair do armário” que não foi possível abordar aqui, tais como o “sair do armário” no local de trabalho, o “sair do armário” e a religião, etc. Esperamos poder abordá-los em próximas ocasiões.

O “Armário” mais sufocante: O homem casado que sente atracção por outros homens Em 2006, um filme “explodiu” na cena internacional com uma história de amor, bonita e triste ao mesmo tempo, que durou mais de 20 anos entre dois homens casados, a viverem numa zona rural dos Estados Unidos: chamava-se “Brokeback Mountain” e “acordou” o mundo para o drama dos homens que sentem uma atracção muito forte por outros homens, muitas vezes sem conseguirem explicar, entender ou aceitar o que sentem, e acabam casando-se para tentarem “afugentar esse demónio”, para camuflar uma vida homossexual já activa ou simplesmente para satisfazerem as expectativas e pressões sociais, principalmente da família. Surgem, assim, os vários tipos de homens casados de “armário”: Os que sentem atracção física/ sexual por outros homens, mas não entendem nem aceitam esse sentimento, e vivem assombrados que um dia não consigam resistir e “cometam o pecado” de “sucumbir à tentação”. Normalmente, são homens bastante religiosos e de famílias muito conservadoras e acabam por nunca sair do “armário”; Os que só “sucumbem à tentação” depois de muitos anos de casados e com filhos já adolescentes, sobretudo quando o casamento já “arrefeceu”. Alguns chegam mesmo a pôr fim ao casamento para poderem seguir uma vida nova. A maioria, no entanto, permanece no casamento por conveniência social. Estes homens geralmente buscam a companhia de homens muito mais jovens; Os que geralmente já tinham tido experiências sexuais esporádicas com outro homens antes do casamento e vão continuando a ter encontros homossexuais casuais, ocasionais e muito discretos depois do casamento, mas cada vez mais frequentes à medida que o tempo passa. O casamento para eles é um passo natural, pois não vêem nenhuma

contradição entre ser casado e ter relações ocasionais com outros homens. Muitas vezes, estes homens arranjam um ou dois parceiros permanentes, como forma de manter a discrição (esta é a versão homossexual do homem heterossexual casado, que tem uma ou duas amantes regulares) e, por vezes, estes parceiros são outros homens casados, para diminuir a possibilidade de suspeição por parte da família. Estes homens nunca aceitam os rótulos de “homossexual” ou “gay” (acham-se apenas homens que fazem sexo com outros homens) e por isso raramente abandonam o casamento para seguir uma vida homossexual; Os que se assumem e agem como homossexuais, de forma discreta, mas que se casam para “manter as aparências” sociais e fazer o papel que a sociedade espera deles. Têm em geral uma vida homossexual regular (muitas vezes muito mais regular do que a vida sexual com a esposa) e com múltiplos parceiros. Em geral, os seus casamentos são de curta duração (uma vez terem provado à sociedade que são “Homens” por terem tido esposa e filhos) e depois seguem uma vida quase que exclusivamente

homossexual, com um ou vários parceiros; Os que são abertamente homossexuais e casam-se apenas para “calar a boca” à família. A sua vida doméstica (incluindo a sexual) é quase inexistente e têm uma vida homossexual muito activa com parceiros múltiplos. É raro estes casamentos terem alguma duração significativa e muitas vezes nem chegam a produzir filhos. O que todos estes homens têm em comum é um certo nível de frustração emocional e sexual e o stress derivado dessa frustração e, em muitos casos, da vida dupla que levam. Em última análise, mesmo que não o reconheçam ou não saibam expressálo, estes homens vivem num conflito permanente entre serem conhecidos, amados e respeitados por aquilo que realmente são e serem conhecidos, amados e respeitados por uma imagem de alguém que eles na realidade não são.

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Moçambicano representa Gays de África Numa conferência em Maio último em moldada por uma má interpretação dos Joanesburgo, e que estiveram presentes textos religiosos. mais de 60 representantes dos movimentos Desta forma o continente africano foi africanos LGBTI na qual culminou com a devidido em cinco regiões, dais quais tem dois assentos na confederação criação da ILGA Pan Africana, (Em virtude da homofobia e Danilo da Silva de Moçambique violência permanente contra e Linda Baumann da Namíbia, as pessoas LGBTI em seus representam a nível mundial e países de origem, vários deles da África Austral a comunidade pediram que suas identidades LGBTI africana num mandato de não fossem reveladas) dois anos. A ILGA Africa é uma Representando a Região confederação dos movimentos Danilo da Silva Norte: africanos que lutam pelos direitos dos homossexuais em seus países. Em semelhança à suas congéneres ILGA • Anônimo – Marrocos Europa, Ásia e América, a ILGA Pan • Anônimo – Abu Nawas - Argélia Africana ,irá servir de interlocutora entre a União Africana e os diferentes grupos Representando a Região Central LGBTI em África, de forma a que os diversos estados africanos tomem atenção • Anônimo – Horizons - Ruanda para as questões ligadas as minorias sexuais. • Anônimo – Alternatives Cameroon – Actualmente 38 países africanos têm leis que Camarões criminalizam a homossexualidade, fruto de uma importação das leis homofóbicas Representando a Região Leste dos impérios colonizadores ou resultado de uma legislação que foi culturalmente • Anônimo – Gay and Lesbian Coalition of

Noticias Kenya - Quênia • Anônimo – Spectrum Uganda Initiative - Uganda Representando a Região Oeste: • Rev. Rowland Jide Macaulay – House of Rainbow - Nigéria • Anônimo – And Ligeey – Senegal Representando a Região Sul: • Linda Baumann – The Rainbow Project - Namibia • Danilo da Silva – Lambda Mozambique - Moçambique

Joanesburgo - Maio de 2007

Embaixador Holandês apoia a causa das minorias sexuais em Moçambique Embaixador Holandês apaio a causa das minorias sexuais em Moçambique Numa entrevista dada em Madrid, o embaixador holandês para Moçambique Frans Bijvoet afirmou o seu apoio ao grupo de homossexuais em Moçambique, visto tratar-se de uma política do seu país, defender quaisquer minorias sem distinção. Ao seu ponto de vista o embaixador holandês vê a situação de Moçambique muito melhor comparada aos países africanos como o Zimbabwe,Uganda e o Quénia onde os homossexuais são perseguidos pelas autoridades. Questionado se a recente aprovação do matrimónio entre pessoas do mesmo sexo na África do Sul poderia de alguma forma influenciar a legislação Moçambicana, Frans Bijvoet disse que não acredita nessa possibilidade. Salve senhor embaixador! salve...

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O Mundo a Caminho da Bissexualidade “O homem está perdendo suas características e tende a se transformar numa figura sexualmente ambígua, enquanto a mulher está se tornando mais masculina. Desta forma a sociedade evolui para um modelo único”, afirmou Umberto Veronesi, que é oncologista. Na opinião do médico, o sexo no futuro será apenas um gesto de demonstração de afecto e não terá fins reprodutivos. Por esta razão, defende, poderá ser praticado entre pessoas de sexos opostos ou não. Em entrevista a jornais italianos, Veronesi reafirmou sua teoria, apontando o factor hormonal como indicador da evolução rumo a bissexualidade. “Desde o pós-guerra a vitalidade dos espermatozóides diminuiu 50% porque as mudanças das condições de vida estão fazendo com que a hipófise (glândula responsável pela produção das hormonas) produza cada vez menos hormonas andrógenos (masculinos)”, afirma o oncologista, pioneiro no tratamento de câncer de mama na Itália. “O homem não precisa mais de uma intensa agressividade física para sobreviver”, diz ele. Com as mulheres, que tem papel cada vez mais activo na sociedade, acontece o mesmo. Segundo o médico, as mulheres vem produzindo cada vez menos hormonas femininos ao longo dos anos. “É o preço que se paga pela evolução natural da espécie, que é positivo porque nasce da busca pela igualdade entre os sexos”, afirmou o oncologista ao jornal Corriere della Sera. A menor produção de hormonas acabaria atrofiando os órgãos reprodutivos e criando uma espécie de “preguiça reprodutiva”, na avaliação de Umberto Veronesi.

Para o médico o sexo deixou de ser a única forma para procriar desde que novas técnicas foram criadas, como fecundação artificial e a clonagem Na opinião do médico, num futuro não muito próximo, a sociedade poderia ser organizada como o mundo das abelhas. A maior parte de seus membros seria praticamente assexuada e só uma pequena parte se dedicaria à reprodução. “A diferença é que os homens são inteligentes e isto produz reacções sentimentais, além de fisiológicas”, afirmou Veronesi. A professora de sexologia da Universidade La Sapienza de Roma, Chiara Simonelli, concorda com as previsões de Umberto Veronesi. Ela define este processo como resultado da evolução genética e da mudança de mentalidade, fenómenos que são interligados e se influenciam reciprocamente. “Mas este fenómeno está no começo. Para que tenha uma certa consistência é preciso esperar duas ou três gerações”, afirmou Simonelli em entrevista ao Corriere della Sera. O antropólogo Fiorenzo Facchini, da Universidade de Bolonha, discorda com a teoria da evolução natural para a bissexualidade. “Do ponto de vista antropológico, a orientação sexual é definida a nível biológico pela espécie e isto não pode ser alterado”. Para Facchini, a separação entre reprodução e sexualidade humana não é positiva. “Separar a reprodução da sexualidade e do núcleo familiar não pode ser visto como uma vantagem para a espécie humana. A reprodução não é apenas encontro de gametes, implica relação entre duas pessoas”, declarou Facchini ao Corriere della Sera

Noticias

BREVES Moçambique far-se-á representar na 4°conferência denominada “Out & Equal” em Washington DC nos E.U.A. Danilo da Silva, na qualidade de membro do quadro da ILGA internacional participará na “Out & Equal” nos E.U.A de 26 a 29 de Setembro de 2007. A conferência junta empregadores e trabalhadores LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais e Intersexuais) de modo encontrar melhores politicas de igual acesso e oportunidades nos seus locais de trabalho independentemente a sua orientação sexual. Moçambique aprovou recentemente a nova lei de trabalho que proíbe a discriminação com base na orientação sexual do individuo. São patrocinadoras desta conferência as gigantes como ;IBM, Microsoft, Dell, HP, Ernest & Young, Motorola. Nike, Coca-Cola, Xerox, BP entre uma centena delas, pois acreditam na diversidade.

“Imigrem...” – Diz o Ministro de Ética do Uganda…

O Ministro da Ética Ugandês avisou ao homossexuais do seu país para imigrarem, chamando seus actos de vergonhosos, abomináveis e satânicos. A líder activista para os direitos das minorias sexuais no Uganda Victor Juliet Mukasa, insiste que “ ...gays tem direitos absolutos e iguais a todos os seres humanos independente da sua orientação sexual...”

Homossexuais na conservadora ilha do oceano indico – Maurícias disseram que a orientação sexual deve ser incluída na lei.

“Actualmente existe uma fenda no que concerne a homofobia nas Maurícias, disse Jean-Lue Ahnee, porta-voz da Coligação Arco-Íris uma organização que representa a comunidade gay nas Maurícias Ao semelhante ao que acontece em Moçambique, nas Maurícias a homossexualidade não é nem legal nem ilegal, de forma que quando uma vitima de homofobia vai expor o seu caso a policia, esta não encontra enquadramento legal.

Itália oferece asilo a lésbica iraniana A Itália ofereceu asilo a Pegah Emambakhsh, uma lésbica iraniana, que corre o risco de ser deportada pela Grã-Bretanha (GB) e teme ser apedrejada ao retornar ao seu País, informou recentemente o ministro italiano da Justiça, Clemente Mastella. Segundo ele, o Governo italiano “está totalmente disposto” a garantir o estatuto de refugiada a Pegah, se Londres determinar a sua deportação, como advertiram as autoridades britânicas,

segundo versões da imprensa italiana. Seguidores da causa de Pegah disseram que a sua deportação foi adiada graças à apresentação de um recurso judicial. Pegah, de 40 anos, foi detida em Sheffield (Norte da Inglaterra), no início de Agosto, porque teve o seu pedido de asilo negado pela Grã-Bretanha em 2005. Ela está num centro de detenção e a sua deportação estava prevista para segunda-feira. De acordo com os seus apoiantes, que incluem o importante grupo de lobby britânico

OutRage!, Pegah enfrentará penas de prisão, castigo corporal e até apedrejamento se voltar ao Irão. A vice-ministra das Relações Exteriores da Itália, Esteri Patrizia Sentinelli, declarou ao jornal Unita em Roma que “todos os canais diplomáticos” estão abertos, na tentativa de convencer Londres a não entregar a mulher às autoridades iranianas. Caso seja expulsa da Grã-Bretanha, “estaremos preparados para recebê-la”, garantiu Sentinelli. 8


Saúde (eles)

As neuroses de quem está no armário Tanto entre gays, como não gays, encontramos diversos indivíduos considerados “neuróticos” ou com algum desequilíbrio emocional.

neurose atingir, em grande maioria, indivíduos que estão “dentro do armário”, isto é, aqueles que precisam reprimir seus desejos e instintos mais profundos, porque a família, amigos e todas as pessoas ao redor, não aceitam tais desejos.

Claro que a homossexualidade, por si, só não é o facto dessa desordem. Afinal hoje a homossexualidade não é considerada doença Tanto que pela comunidade médica e científica. O que por viverem causa a neurose são os conflitos internos que o indivíduo possui “..a entre seus desejos (ID) e o que a sociedade impõe (superego), homossexualidade, que faz com que o mesmo (ego) por si, só não é o se torne fragilizado. Se a sociedade não fosse tão preconceituosa e os homossexuais não aprendessem desde pequeno que seus desejos são “errados”, é muito provável que muitas neuroses deixariam de existir. Aliás, nem seriam criadas.

facto dessa desordem. Afinal hoje a homossexualidade não é considerada doença pela comunidade médica e científica..”

Quanto maior o desejo e quanto mais reprimido ele for pela sociedade (ou mesmo pelos pais), mais forte se torna o ciclo “neurotizante”. A ponto de, com o tempo, apresentar reacções psicomotoras (famosos “tiques nervosos”), de isolamento, confusões mentais e até psicoses (loucura). Entre outros sintomas. O mais preocupante, hoje é o facto da

muitos acabam optando uma vida dupla, muitas vezes se assumindo como “bissexuais” pelo simples facto de ser menos “doloroso” e, só depois de algum tempo e experiência, assumem-se como gays ou lésbicas definitivamente.

A matemática de uma vida dupla é simples: se você tem uma pilha e usar metade de sua energia para uma vida saudável e a outra metade com o objectivo de “esconder-se”, é diferente de usar a mesma pilha/energia 100% ao seu favor, isto é, “fora do armário” e sendo você verdadeiramente em qualquer lugar com todos os seus desejos e com uma vida afectiva e sexual plena e satisfatória. Chegar a este ponto não é algo inatingível, muitos conseguem, você e qualquer pessoa também pode conseguir. Mas não acontece de um dia para outro. Tudo depende da sua vontade e do caminho “lento” ao objectivo

final, é certo que se não batalhamos pela nossa própria vida e felicidade , ninguém o fará por nós. Lembre-se de que, a única pessoa que sabe o que é melhor para você é você mesmo. Se escolher “sair do armário”, óptimo, parabéns e ao mesmo tempo esteja preparado para as grandes dificuldades que irá encontrar. Se escolher continuar “no armário”, óptimo também. Mas você não acha que vai desperdiçar grande energia onde poderia estar investindo? Falo isso, pois é comum aos homossexuais assumidos, quando chegam ao seu último estágio de aceitação, pararem e pensarem: “como é gostoso ser quem realmente eu sou, não ter que esconder minha orientação sexual para amigos, familiares, colegas de trabalho ou estudo”. Tiro isso por mim e por muitos amigos, de todas as idades, que vez ou outra, comentam sobre.

Pense nisso. A escolha final é sempre sua.

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Saúde (elas) LÉSBICAS E DOENÇAS VENÉREAS (Parte II) Conforme prometemos da edição passada, cá voltamos para falar sobre as doenças venéreas que atingem as mulheres lésbicas. Abordamos sobre a Sífilis e a Gonorreia. Esta edição continuamos com...

A Herpes

A Candidíase

A herpes é causada por um vírus, não tem transmissão exclusivamente sexual, mas aparece com uma frequência maior em regiões como boca e genitais. O herpes é uma doença da pele, que aparece sob a forma de pequenas vesículas com líquido transparente dentro. Neste líquido há uma quantidade muito grande de vírus, que infectam outras pessoas onde quer que haja o contacto. As vesículas coçam e ardem. E, uma vez contaminada, a pessoa fica com o vírus latente no corpo para sempre, mas quando sofre algum tipo de desequilíbrio físico ou emocional, como stress, insolação, queda de resistência, o vírus sai deste estado de latência e a doença reaparece. O tratamento é feito com pomadas, medicações injectáveis e comprimidos, e apesar de não levarem à cura, agem diminuindo o tempo de duração das existentes e previne o aparecimento de outras

A candidíase é ocasionada por um fungo e tem transmissão especialmente por via sexual ou pelo contacto com a secreção deixada por uma pessoa contaminada, como por exemplo nas roupas íntimas. Os sintomas na mulher são comichão vaginal intensa, saída de corrimento viscoso esbranquiçado pela vagina, com aspecto de leite coalhado. Em mulheres submetidas a grande stress físico ou emocional, assim como o uso de roupas íntimas pouco ventiladas (apertadas demais ou feitas com tecidos sintéticos como nylon ou licra) e a falta de higiene íntima são factores que predispõem a um maior desenvolvimento do fungo da candidíase. Por isso é muito importante se ter uma vida saudável, se alimentar, usar roupas íntimas de algodão, e nunca usar roupas íntimas usadas de outras pessoas, além de não manter relações sexuais ou fazer sexo oral em alguém que tenha corrimento vaginal.

O HPV ou condiloma

A Tricomoníase A tricomoníase é causada por um protozoário chamado Trichomonas. A transmissão se dá basicamente por via sexual e raramente através do contacto com roupas íntimas contaminadas. Os principais sintomas na mulher são: corrimento esverdeado, malcheiroso, acompanhado de comichão, intensa, dor e irritação na vagina. O diagnóstico é feito pelo ginecologista, na hora do exame mesmo, e o tratamento é com cremes vaginais e comprimidos.

O condiloma ou crista de galoé uma doença de transmissão sexual provocada por um vírus (papiloma), que tem preferência pela região genital de homens e mulheres. Pode passar desapercebido nos casos leves, mas de modo geral provoca verrugas de tamanhos variados que crescem e se multiplicam. O período de incubação é bem variável indo de semanas a meses. O maior problema do HPV é que uma percentagem dele está associada com o cancro genital (colo de útero) e não tem cura, apesar dos tratamentos serem eficazes para a transmissão e o aparecimento de novas lesões.

Depois de tantas considerações, situações de risco, doenças envolvidas, será que ainda vale a pena manter relações sexuais? Manter relações sexuais é uma das melhores coisas do mundo e é um grande prazer. Claro que vale a pena manter relações sexuais, fazer amor, mais vale muito mais o respeito e conhecimento mútuo e só fazer o que é seguro.

Que fazer em caso de DTS? Faça apenas o tratamento que seu médico, de preferência ginecologista recomendar, Não aceite indicações de vizinhos, familiares, amigos ou funcionários de farmácia, Siga a receita médica e use os medicamentos na quantidade e horas certas. E até o fim do tratamento. Todas as parceiras sexuais devem ser avisadas e tratadas também. Devese evitar relações sexuais durante o tratamento.

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GUIA DE ORIENTAÇÃO PARA PAIS E MÃES DE HOMOSSEXUAIS (Parte 1)

Pais & Amigos

O objetivo deste guia é orientar pais de filhos homossexuais. Ele é apresentado em forma de perguntas e respostas com questões práticas do dia-a-dia. São perguntas comuns formuladas por pai e mãe. Os pais, quando fazem uma pergunta sobre a homossexualidade do filho, trazem uma carga emocional acompanhada de muita vergonha e culpa. Esta situação é um reflexo, muitas vezes, de pura falta de informação. Queremos alertar que este guia não contém verdades absolutas. A homossexualidade, apesar de existir desde que o Ser Humano apareceu na face da terra, ainda é pouco estudada pela Ciência. tivemos a preocupação aqui de separar mitos e verdades sobre a homossexualidade. Este manual posse ser imprimido, fotocopiado e distribuído. Ele não é somente para pais e mães, serve para todos aqueles que lidam com jovens homossexuais.

1.

O que é a homossexualidade?

É a orientação do desejo (paixões e fantasias sexuais) para a pessoa do mesmo sexo. No caso do homossexual seu objeto de desejo é uma pessoa do mesmo sexo. Na natureza encontramos dois tipos de identidade de gênero; o masculino e o feminino. Porém, existem mais de dois tipos de orientação sexual. A grande maioria das pessoas tem a orientação sexual heterossexual, mas encontramos outras com a orientação homossexual ou mesmo bissexual. Isto ocorre por conta da diversidade da natureza.

2.

Homossexualidade é uma doença?

A APA (Associação Americana de Psiquiatria) retirou a homossexualidade do seu “Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais” (DSM) em 1973, depois de rever estudos e provas que revelavam que a homossexualidade não se enquadra nos critérios utilizados na categorização de doenças mentais. A homossexualidade é, portanto, uma forma de orientação sexual. Em 1991, a Organização Mundial da Saúde passa a desconsiderar a homossexualidade como doença.

culturais e sociais influenciam na fixação da orientação. A questão encontra-se em aberto.

5.

Existe cura para a homossexualidade?

Não há provas científicas que demonstrem que as terapias de reversão ou de cura são eficazes na modificação da orientação sexual de uma pessoa. Há, contudo, provas de que este tipo de terapia pode ter resultados destrutivos. Pela Organização mundial de saúde, os psicólogos não podem de forma alguma colaborar com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.

6. Quais as conseqüências psicológicas para o homossexual que se submete a “cura”?

Alguns grupos religiosos em Moçambique e no exterior pregam a cura para a homossexualidade sem sucesso prático algum. A Associação Americana de Psicologia, a Associação Americana de Assistentes Sociais e a Associação Americana de Pediatras alertam que esta prática não é científica nem ética. E que a reversão põe em risco a saúde mental da pessoa, podendo causar danos irreparáveis aos pacientes. Esta tentativa de “cura” pode desencadear algum 3. O termo “homossexualismo” não é mais usado tipo de doença mental - se o paciente tiver alguma predisposição porque é da época em que gays e lésbicas eram genética - bem como provocar depressão, baixa auto-estima, considerados pessoas doentes? ansiedade, suicídio e comportamentos auto-destrutivos, como: uso Sim, o sufixo “ismo” é usado para terminologia de palavras de drogas, prática de sexo sem segurança, etc. associadas a doenças. Por isso, hoje não se usa mais a palavra homossexualismo. O correto é usar homossexualidade ou homoafetividade, esta última para não dar a conotação meramente 7. Eu sinto culpa por ele ser homossexual. Todo sexual.

pai e mãe sentem essa culpa?

4. Homossexualidade é uma opção que a pessoa faz na vida ou uma orientação sexual que é independente da vontade da pessoa? Hoje já se sabe que ser gay ou ser lésbica não é uma opção. Este é mais um mito: as pessoas são gays por opção! Optar significa escolher em ser ou não ser gay. Assim como o heterossexual não escolhe em ser ou não ser heterossexual, o mesmo acontece com o homossexual. Existem vários factores que determinam esta orientação, que é independe da vontade das pessoas, por isto não é uma opção. A ciência, os psicólogos e os médicos não chegaram ainda a uma conclusão. Acredita-se que factores genéticos,

Os pais sentem realmente muita culpa. Para alguns é um verdadeiro castigo ter um filho homossexual. Os pais devem entender que quando se coloca um filho no mundo, este filho é um prolongamento do pai e da mãe. Ele é o resultado de uma mistura da herança genética (características físicas e psicológicas) e da herança geracional (crenças, costumes e comportamentos) que os pais passam para o filho. Sentir culpa ou vergonha por ter um filho homossexual leva-me ao raciocínio de que existe uma culpa anterior: ter vergonha e culpa deles mesmos, o pai e a mãe existirem. O amor de pai e de mãe para o filho deve ser incondicional, independente dele estar enquadrado nos padrões sócio-culturais: alto, gordo, negro, branco, feio, bonito, homossexual ou heterossexual. Amor incondicional significa amar os filhos independente do que eles 11


Pais & Amigos são, sem impor nenhuma condição. Amar os filhos significa algo dele, vocês devem decidirem juntos o que fazer. muito concreto; educá-los, orientá-los para a vida e aceitá-los tal como são. Finalmente amor paterno e materno significa cuidar da saúde física e emocional dos filhos que foram gerados.

13. Como ele reage quando descobre sua homossexualidade?

8. Quais são as preocupações que eu devo ter com o filho homossexual? Descobrindo que você tem um filho homossexual, você pai e mãe, inicialmente, informe-se. Se necessário procure ajuda de um profissional: um piscólogo ou um psicoterapeuta sexual.

9.

Como eu devo agir com ele?

É motivo de grande sofrimento e contradição para um pequeno Ser Humano, que já na infância percebe os primeiros sinais da sua homossexualidade: a menina que se sente atraída pela professora ou o menino que sente uma admiração especial por uma figura masculina do seu convívio, etc. A contradição ocorre porque a mensagem emocional e cultural que ele recebe é que sentir atração por pessoas do mesmo sexo não é bom. Esta mensagem conflita com sua orientação sexual que começa a manifestar-se. Os psicólogos já evidenciaram que, já na infância, há intensos conflitos internos (confusão de sentimentos) e externos (repressão sóciofamiliar) sofridos pelo homossexual. Estes conflitos gerarão um grande stress emocional, que pode acompanhar o homossexual pelo resto da vida.

Com muita naturalidade. Ele precisa muito do seu apoio e acima de tudo atenção, carinho e afecto. Não se afaste do seu filho. Procure ter uma relação de confiança com ele. Tenha interesse na vida escolar: procure saber como vai indo na escola. Procure conhecer os (as) amigos (as) e o(a) namorado(a) dele(a). Pelo menos uma vez por semana, durante 30 minutos, sente-se com seu filho e converse 14. Quais serão as consequências se eu rejeitar a com ele. Divida um pouco de seu tempo com ele. Esteja presente, não só provendo seus filhos de bens materiais, mas dando suporte homossexualidade dele? emocional, dialogando e demonstrando seu carinho. Não existe nada mais desumano do que um pai ou uma mãe rejeitar um filho. Seja por qual motivo for. Tirando os casos em que a mãe, por exemplo, apresenta um quadro ligado a algum tipo 10. Por que eu devo aceitar a homossexualidade do de distúrbio mental é compreensiva a rejeição, mas quando os pais estão na sua mais perfeita condição psicológica, torna-se chocante meu filho gay ou da minha filha lésbica? a rejeição. Podem ser idenficados dois tipos de rejeição: a explícita Porque o filho não escolhe ser homossexual e porque ele ama o (menos comum) e a implícita (mais comum). As duas trarão danos, muito. Muitos pais protejem-se da homossexualidade dos filhos em menor ou maior grau, ao desenvolvimento emocional do seu criando barreiras e sendo frios nas relações. É bem provável que filho. A explícita ocorre quando os pais, explicitamente, rejeitam seu filho ou sua filha estejam impedidos de demonstrarem carinho o filho: espancamento, expulsão de casa, desqualificação pública por si como consequência destas barreiras que você mesmo do filho por ser homossexual, piadas, insinuações, etc. A implícita construiu. ocorre quando os pais não verbalizam a rejeição, mas o rejeitado sente a rejeição através do comportamento não-verbal dos pais e de suas atitudes. Os pais adoptam a “política do silêncio” e fazem 11. Eu sinto vergonha de ter um filho homossexual. de conta que não sabem de nada. Afastam-se do filho. Nos dois casos o stress emocional irá instalar-se comprometendo, em alguns O que eu faço para livrar-me deste sentimento tão homossexuais: primeiro o seu desenvolvimento cognitivo, fazendo mau? com que tenham problemas de aprendizagem escolar; segundo Aproxime-se do seu filho, perceba a sensibilidade deste Ser o seu processo de socialização, comprometendo a sua inserção Humano que você gerou. Você pai e mãe ficarão surpresos, pois no grupo social que convive; e terceiro o seu desenvolvimento descobrirão uma pessoa especial no seu filho. Não tenha medo de emocional e afectivo, podendo ser potencializados vários distúrbios abraçar, beijar e acariciar seu filho. Agindo assim, ele se sentirá psico-sociais. amado e você dará mais segurança para que ele possa enfrentar o mundo. Pai e mãe, sejam empáticos, entrem no sentimento do seu filho e trate-o como você gostaria de ser tratado caso tivesse sido 15. Quais serão as conseqüências se eu aceitar a homossexual. Você passará a ter orgulho do seu filho em vez de homossexualidade dele? vergonha. Você terá um filho com mais equilíbrio emocional e a possibilidade do sucesso dele nas relações pessoais e profissionais serão maiores. Você fará com que aumente a auto-estima dele. Sua convivência 12. Eu devo falar para amigos, professores, será menos stressante e mais harmôniosa. Você terá ao seu lado familiares e vizinhos que ele é homossexual? uma pessoa mais feliz, mais segura de si, solidária com você Não deve falar. Esta é um decisão que cabe ao seu filho. Aparecendo e com os outros. Quando você precisar de algo será a primeira uma situação concreta e pública que envolva a homossexualidade pessoa que certamente lhe dará suporte e muito provavelmente 12


Pais & Amigos não lhe abandonará na sua velhice. Os homossexuais, pela própria discriminação que sofrem durante toda a vida, são pessoas que desenvolvem uma sensibilidade mais apurada nos seus relacionamentos e geralmente são mais solidários.

16. Por que hoje em dia existem tantos homossexuais? Sempre existiu a homossexualidade?

passivos. Alguns gays e pessoas que desconhecem a realidade do gay associam ser passivo com ser feminino, o que não é verdade. Existem muitos gays ativos que são efeminados bem como existem muitos gays passivos masculizados. Além do uso das genitálias para fazer sexo, há muita troca de carinho nas suas relações sexuais. Tanto os gays como as lésbicas são pessoas muito afetuosas nas suas relações.

Sim, a história da humanidade, em todos os seus períodos, sempre registrou a existência da homossexualidade. Há o mito de que: hoje em dia existem mais gays! O que acontece realmente é que hoje em dia, principalmente a partir do final de década de 60, a questão da homossexualidade ganhou mais visibilidade, ou seja está aparecendo mais. Isto ocorreu por conta da organização dos gays e lésbicas em vários países. Estão acontecendo, também, pequenos avanços nas legislações e nas políticas dos governos reconhecimento das relações gays e a proteção ao homossexual. Estes factos fazem com que as pessoas sintam-se mais seguras e assumam publicamente sua homossexualidade ou saiam do armário como atualmente se diz. Antigamente, como ainda hoje, a maioria dos gays e lésbicas reprime a homossexualidade assumindo um casamento heterossexual para se proteger, para ser aceite pela família, pela sociedade e ter sucesso profissional.

20. É verdade que todo gay é muito promíscuo, “dorme” com muita gente?

17. Ele terá dificuldade em conseguir ou manter-se no emprego?

Não. A maioria dos gays não apresenta este padrão de comportamento, mas a sociedade ao longo dos tempos vem apresentando o gay em forma de caricatura de um ser feminino. Pelo dicionário Caricato significa [Do italiano. caricato, ‘carregado (nos defeitos)’.] Adj. 1. Ridículo, burlesco, grotesco, caricaturesco. 2. Teatr. Diz-se do actor cômico que interpreta caricaturas. • S. m. 3. Esse ator. Foi uma forma encontrada pela sociedade de admitir que o homossexual existe, porém ele é apresentado como um palhaço que faz rir, divertido, ingênuo, assexuado e não representando, portanto, perigo para a sociedade. Os meios de comunicação reforçam este esteriótipo amaneirado. São personagem adoradas pelas crianças, pois são espalhafatosas, com gestos largos, exageradas, divertidas e coloridas. Como os gays não têm outras referências de padrão comportamental fortes na mídia, muitos adoptam a caricatura como referência comportamental no seu dia-a-dia, como mecanismo de diminuir a rejeição da sua pessoa na sociedade. Se por um lado são “aceites” por outro são ridicularizados e não são levados a sério. São motivo de piadas e gozo.

Vai depender muito da postura dele. O preconceito ainda é muito grande nas empresas e ele deve preparar-se para enfrentá-lo Se for uma pessoa qualificada na profissão que exerce e tiver uma postura que leve os colegas de trabalho a respeitá-lo haverá sucesso. Se já saiu do armário, é necessário que ele respeite os limites dos colegas de trabalho e estabeleça também os seus limites para se impor. A maioria dos homossexuais não assume sua condição no ambiente de trabalho, por conta do preconceito.

18. Devo conhecer o namorado dele? Sim, deve. Se você aceita-o e ele está na adolescência é importante você conhecer. Você deve estar pensando, para que conhecer? Bem, você quer conhecer a nomorada do seu filho hetero, não é verdade? Muitos pais que conheço externam este desejo. Por que não conhecer a namorada da sua filha lésbica ou o namorado do seu filho gay, por exemplo? Saiba com quem seus filhos estão se envolvendo.

19. O que realmente significa ser ativo ou passivo nas relações sexuais do gay? Os que preferem ser ativos gostam de penetrar o seu pênis no ânus dos que preferem ser passivos. Os versáteis são os gays que são ativos em algumas relações e passivos em outras, não têm uma preferência. Por conta da nossa cultura machista, muitos gays supervalorizam sua condição de ativo e gostam de desqualificar os

Assim com existem muitos heterossexuais promíscuos, existem muitos gays também. Muitos gays não conseguem ter uma relação estável com seu companheiro. O motivo principal é o preconceito social. Isto faz com que o gay tenha uma maior mobilidade nas suas relações, criando maiores oportunidades de encontros e namoros. Isto não significa que todo gay é necessariamente promíscuo.

21. Por que na televisão (programas de humor e novelas) sempre aparece um gay cheio de trejeitos, usando roupas exageradas e fantasiados de mulher? O gay é assim mesmo?

Na próxima Edição... Os 7 passos Para aceitação da homossexualidade do seu filho(a) O professor de meu filho é gay assumido. Será que ele não pode influenciar o meu filho e ele pode tornar-se gay? É verdade que uma criança que é criada sem a presença do pai poderá ser gay?

e muito mais. envie suas dúvidas para: ascoresdoamor@lambda.org.mz

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Cultura

O filme israelita The Bubble (Buah Ha, 2006), do diretor Eytan Fox, entrou no circuito comercial como sendo o maior filme depois de Brokeback Mountain (2005), mas a comparação soa desnecessária já que Bubble é um dos óptimos filmes que abrangem nosso universo gay, porém, infelizmente não tem o capital envolvido do longa vitorioso de Ang Lee, ou seja, nossos familiares e amigos héteros não tão bem informados não devem nem ficar sabendo de sua existência.

The Bublle

Uma pena, pois ao assisti-lo você não vai ficar só a par da história e das guerras religiosas que envolvem israelitas e palestinianos, como também deve levar um soco no peito para mudar a maneira de questionar factos bem mais superficiais. O filme é triste, mas não de você se debulhar em lágrimas, mas sim ficará com energias de sobra para mudar detalhes do seu dia-a-dia, que certamente nos ajudarão a construir um mundo mais justo e pacífico. A história principal desenvolve-se a partir do relacionamento de Noam, um loiro sensível, bonito, apaixonado por Morrisey, que se apaixona por um belo moreno e atlético palestiniano chamado

Ashraf. Os dois vivem um breve e intenso amor até que Ashraf é descoberto ilegalmente em Tel Aviv e se vê obrigado a voltar para sua terra cheia de regras sociais e credos religiosos, onde esconde sua homossexualidade de todos. A partir daí, quando seu cunhado terrorista descobre seu envolvimento com Noam, desencadeiam-se todas as acções dramáticas do filme. The Bubble ainda tem momentos divertidos que todo gay vai se identificar,como por exemplo, os rapazes comentarem entre si quais artistas costumavam se masturbar na adolescência. Numa outra parte, o “amante” de Yali vai visitá-lo no hospital e tenta beijá-lo na boca em frente dos seus pais, deixando todos constrangidos. Também teve momentos mais emblemáticos sem ser piegas, em que os quatro colegas de quarto, ao divulgarem uma manifestação pró paz entre as regiões israelitas e palestinianas, são interrompidos por pessoas mais velhas, de uma geração mais magoada que ainda busca na vingança e na violência a melhor maneira de saírem vitoriosas. Outro destaque é a trilha sonora. Ah, o bar gay mais moderno, só tocava a brasileira Bebel Gilberto Título: The Bubble Direção: Ethan Fox Ano: 2006 PS:Caso você tenha acesso a este filme, avise ao povo

Festival de cinema de Veneza premia filmes de temática gay. Aconteceu na Itália a 64ª. Ediçao do Festival de Cinema de Veneza, um dos eventos cinematográficos mais importantes do planeta. Este ano, além de uma série de eventos inusitados como o “Dia Tim Burton”, a mostra contou com uma novidade inclusiva. Trata-se do Queer Lion, prémio paralelo da competição que, aos moldes do Teddy Bear no Festival de Berlim, irá agraciou com o melhor da longa-metragem com temática homossexual. O júri foi presidido pelo actor e escritor bissexual escocês Alan Cumming, os filmes que que concorreram ao prêmio trouxeram nomes do mainstream de Hollywood entre seu casting e equipe técnica. Um terço do total de competidores foi dos Estados Unidos, sendo que, entre eles, os mais destacados foram o filme road-trip indiano “The Darjeeling Limited”, de Wes Anderson, e o western gay “The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford”, estrelado por Brad Pitt.

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Taça de Morangos

Naquela noite, uma noite igual a tantas, foi quando nos conhecemos. À nossa mesa, no Snack- Bar do costume, veio juntar-se a nós com o grupo com quem vinha. A apresentação foi formal: -Prazer. Dissera. Todos se sentaram à roda da mesa e as conversas pularam de boca em boca. A sua presença alterou o meu estado de espírito. Fiquei sabendo que estivera ausente, dois breves anos, durante os quais estudou, amou, viveu e foi feliz. Um dia quis ir estudar para o Norte. Partiu com certa mágoa, pois era a primeira vez que saía do seio da família. Felizmente foi para casa de uns tios, o que em parte aliviaria a responsabilidade de se encontrar só. No entanto, sentiu essa responsabilidade e a pouco e pouco, dia após dia, foi consolidando o seu carácter, a sua personalidade, formando-se pelos seus próprios pensamentos, atitudes e acções. Os tios viviam junto à praia e era seu hábito ir estudar para lá. Numa bela tarde, em que o sol reflectia toda a sua luz nas águas calmas do oceano e a areia escaldava, essa tarde que jamais poderá ser esquecida, deu-se o encontro. Conversaram e ficaram amigos. Saíram juntos uma primeira vez e nunca mais se separaram. Ali estava. Sobrancelhas finas, olhos e cabelo negros, ombros largos, corpo atlético e esguio, expressão distante. O empregado aproximou-se para saber o que pretendíamos e foi ouvindo os pedidos: — Bife com batatas fritas – disse alguém. Somos assim, uns sentimentais, uns poetas, uns tradicionalistas, falhos de imaginação e de dinheiro, pelo que todos os dias comemos bife com batatas fritas. A sua vida em comum corria normalmente como se desenrola a vida entre dois seres unidos pelos mesmos sentimentos: Amor, Paixão, Sacrifício, Abnegação, Alegria, Tristeza, Vida. Entra gente. A casa acorda do bula-bula do fim da noite. A “menina” sofisticada ri alto, os “homens” discutem os seus problemas, outros contam estórias picantes.

Conto

E no meio deste banal viver pelas mesas dos cafés, no momento exacto em que morrem setenta e sete Angolanos, em que algures uma mulher é violada, em que um Gay é humilhado, vejo o seu rosto negro e belo, e sofro. Vejo ainda como saboreia a sua taça de morangos, indiferente a tudo o que nos rodeia. - É delicioso comer morangos! O extraordinário e o maravilhoso das pequenas coisas da vida, é conseguir transmitir um significado às maiores banalidades como, por exemplo, comer morangos. Foi imperioso o regresso à Capital. Surgiu o primeiro contratempo na vida de ambos. A separação foi irremediável, mas apenas transitória, pois mais tarde vão de novo encontrar-se e construir tudo de novo em terra de gente diferente. Mas não interessa as gentes e viveram felizes um para o outro, colhendo os frutos de um amor puro, simples e verdadeiro. Naquela noite primeira em que nos conhecemos, fiquei com a certeza de que, apesar de tudo, eu continuaria à procura de ser feliz. E neste arrastar de dias vividos, o amor subsiste e será possível pelos anos fora, ao termos a esperança e acreditarmos que amanhã ou hoje mesmo (e porque não? Admiras-te? Está uma noite tão bela!), numa noite como esta, em Nova Iorque, no Lobito, no Cabo, no Rio de Janeiro, em Londres, e em todas as outras cidades do mundo, todos comeremos morangos. — Até eu – que para falar verdade, nem gosto de morangos – comerei feliz a minha taça! Luis Perdiz Maputo, Setembro de 2000

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Adonis

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