MAGAZINE CULTURAL - março

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DEDICATÓRIA DEDICATÓRIA

Mais uma vez, ao nosso leitor: Mais uma vez, ao nosso leitor: Muito obrigado por estar a ler a nossa Magazine Cultural. Como Muito obrigado por estar a ler a nossa Magazine Cultural. Como disse na nossa primeira edição, temos como missão restaurar o disse na nossa primeira edição, temos como missão restaurar o lugar da cultura, devolvendo-a a uma posição digna. lugar da cultura, devolvendo-a a uma posição digna.

Não obstante, como coordenador da Magazine Cultural, esta Não obstante, como coordenador da Magazine Cultural, esta dedicatória é também dirigida aos meus colaboradores, sem os dedicatória é também dirigida aos meus colaboradores, sem os quais o trabalho que aqui vês e aprecias não seria possível. quais o trabalho que aqui vês e aprecias não seria possível.

Muito obrigado por dispender alguns minutos da sua vida a ler o Muito obrigado por dispender alguns minutos da sua vida a ler o nosso trabalho. nosso trabalho.

"Time you enjoy wasting is not wasted time". "Time you enjoy wasting is not wasted time".

Guilherme Dos Prazeres Guilherme Dos Prazeres Coordenador Geral do Lúdico Coordenador Geral do Lúdico

REGENERAÇÃO

Etapa fulcral na História do Liberalismo Português, a Regeneração marca um período da vida lusitana da centúria de oitocentos, iniciado em 1851 pela insurreição militar liderada pelo Marechal Duque de Saldanha contra o último governo de Costa Cabral.

A viragem estrutural que na segunda metade do século XVI se verificou com o início do colapso do Império Português do Oriente criou, em alguns portugueses, o desejo de uma "regeneração" nacional que levasse o País a progredir, à imagem dos seus congéneres europeus. Tal projeto tomaria forma com a vitória dos liberais em 1834, apesar das dificuldades que a estrutura arcaica da sociedade portuguesa inevitavelmente criava.

Considera-se que o momento alto desse Liberalismo se situa no período que se estende entre 1851 e 1868 com o movimento autodenominado Regeneração, que teve como mentor Alexandre Herculano. De resto, foi na casa de Alexandre Herculano, em Lisboa, que a revolta tomou forma. Foi aí que se planeou não só o movimento, mas também os passos a dar depois da vitória. Foi aí, sobretudo, que o ilustre intelectual instruiu o futuro Rei D. Pedro V, cujo reinado teve início um ano após o movimento.

As preleções de Herculano em muito terão contribuído para o espírito progressista do qual era imbuído o jovem monarca.

Marechal Duque de Saldanha, o obreiro da Regeneração

Esquerda: Alexandre Herculano, o principal mentor da Regeneração

Destarte, em 7 de abril de 1851, Saldanha sai de Lisboa, tendo como destino Sintra, com vista a resgatar promessas de apoio que lhe haviam sido feitas, determinado a fazer eclodir a insurreição. Logra a adesão, ainda que tardia, do regimento de Caçadores 1 (de Setúbal) e de Caçadores 5 (de Leiria). Todavia, por esta altura, já as tropas do Rei D. Fernando II estavam no Cartaxo, impedindo a junção de Caçadores 1 e 5. O Marechal Duque parte em direção ao norte, mas as receções de Coimbra e do Porto são dececionantes e, após tantos desenganos, acaba por se refugiar na Galiza.

De súbito, o panorama modifica-se profundamente: na Invicta, em 24 de abril, o quartel de Santo Ovídio subleva-se, juntando-se-lhe o regimento de Infantaria 6.

Saldanha entra no Porto em triunfo em 27 de abril, encontrando uma grande cidade e um exército que o apoiam. No dia seguinte, endereça missivas a todos os governadores civis, declarando como fitos do movimento a reforma da Carta Constitucional e o fim do consulado de Marquês de Tomar, que acaba por ser exonerado em 29 de abril de 1851, retirando-se para Espanha.

A Rainha D. Maria II nomeia o Duque da Terceira para presidir ao novo elenco ministerial. Porém, por força das circunstâncias, a chefia do governo teria de ser entregue ao líder do golpe vitorioso.

Direita: El-Rei D. Pedro V, o Esperançoso

Como tal, em 15 de maio, Saldanha entra em Lisboa e, a 17, é indigitado Presidente do Conselho de Ministros.

O governo chefiado pelo Marechal Duque de Saldanha teve como figura de proa Fontes Pereira de Melo, responsável pela pasta da Fazenda e primeiro titular da pasta das Obras Públicas. Outras personalidades deste gabinete foram Almeida Garrett (Estrangeiros) e Rodrigo da Fonseca (Reino).

O País estava cansado de tanta agitação política. A burguesia, sobretudo, necessitava de tranquilidade que lhe permitisse alavancar a expansão económica. Também na vertente política o Reino iria tranquilizar, pois a elaboração do Ato Adicional à Carta de 1852 poria termo à divisão entre cartistas e setembristas, tornando-a aceitável praticamente por todos.

Fontes Pereira de Melo encarnou o progresso que a Nação viria a sofrer durante os dezassete anos seguintes e que se traduziu, designadamente: na abertura de estradas; na instalação do caminho de ferro e do telégrafo; na adoção do selo postal; na modernização da agricultura, do comércio e da indústria; na redação do primeiro Código Civil português – datado de 1867 –; na abolição da pena de morte para crimes civis; na extinção da escravatura.

Para rematar, verificou-se um desenvolvimento socioeconómico que recuperou atrasos acumulados em dezenas de anos de lutas patrióticas e fratricidas, não obstante o processo não ter sido possível sem o recurso a capitais estrangeiros e sem a adoção de medidas fiscais austeritárias, que, devido à sua impopularidade, estiveram na base do fim deste período, determinado pela revolta da Janeirinha (1868), que conduziu os reformistas ao poder. Contudo, a aspiração regeneradora pareceu continuar, impulsionando novos movimentos políticos, tais como a Vida Nova, o Republicanismo e o Estado Novo.

Fontes Pereira de Melo, o paradigma da regeneração Manuel Couto 4º Ano da Licenciatura em Direito

PERCURSOS PELA ALTA

Ao percorrer a Alta, não nos deixamos de deparar com a imensidão de cultura e espírito universitário que nela existe, que ficou gravado em memórias, trovas e belas histórias, através de muitas gerações de estudantes. E que Alta era esta se não fosse a aldeia dos estudantes? Nessa aldeia, as Repúblicas tem um papel fundamental e, - apesar de infelizmente os repúblicos serem cada vez menos - o espírito em nada mudou. Por elas passaram a maioria dos estudantes desta bela cidade, tendo sido palco de grandes debates, jantares, risos e amores.

As Repúblicas em Coimbra surgem no século XIV, quando el-rei D Dinis manda edificar alojamentos na zona de Almedina de forma a albergar estudantes, mediante pagamento. O passar do tempo trouxe às Repúblicas fama e tradições próprias, sendo que, em 1957, aquando o primeiro Código de Praxe, estas ganharam um estatuto jurídico e uma regulamentação ao seu funcionamento. Nos anos sessenta, no fervilhar das lutas estudantis - que se traduziram na posterior crise académica de '69 - as Repúblicas assumiram um papel preponderante na política nacional, defendendo a democracia e a liberdade. Nesta imensidão de história académica, ressalvo três casas de estudantes que me são próximas: a República dos Galifões, a República do BotaAbaixo e a Real República dos Corsários das Ilhas.

A República dos Galifões, recebe o seu nome por força de uma antiga tradição dos seus repúblicos: pelas fazendas da Alta, tomavam como seu um galo, cozinhando-o e convidando o dono de dito galo para se sentar à mesa para comer a sua ave.

Direita: República dos Galifões

Este belo poço de histórias e amigos tem porta aberta a todos a que a queiram conhecer, na Couraça dos Apóstolos nº 124.

De entre diversas histórias a mim passadas pelos residentes desta casa, destaco a que mais enaltece a força dos seus antigos residentes: perante um “estranho” incêndio na sua casa, viram-se forçados a deambular por outros lados, mas a sua resiliência levou-os a conseguir reunir o capital suficiente para adquirir a propriedade, e reconstrui-la ao esplendor do dia de hoje.

Uma curiosidade por poucos conhecida é que os belos gatos que vagueiam pela zona do Colégio de Jesus e o Chimico, são eles também residentes desta casa - e dos mais antigos, por sinal.

Por sua vez, a República do Bota-Abaixo, situada na Rua de S. Salvador nº6, já não é ponto de olhares constantes por estudantes ou turistas que decidam tomar o seu caminho pela PAV (ponto de referência de qualquer estudante de Coimbra).

Esta toma o nome devido à sua anterior localização, onde atualmente se encontrar o edifício do Departamento de Física e Química, tendo sido destruída pela que é conhecida como a Reforma do Meio do Século, levada a cabo pelo Governo Salazarista (a partir daqui, a razão de ser do nome torna-se, no final de contas, autoexplicativa).

Cima: dentro das paredes desta República, na janela mais alta - pintada com o mesmo amarelo até aos dias de hoje - o jovem José Afonso (mais conhecido por Zeca Afonso) tirou a fotografia do seu primeiro álbum, usando como pano de fundo a intemporal e única vista para a bela Cabra.

Mas é dentro da Real República dos Corsários das Ilhas que se encontra um belo tesouro arquitetónico: um teto em madeira do século XVI em estilo mourisco. A existência deste deve-se ao facto de a casa ter sido, em tempos, um convento de freiras Esta casa foi igualmente fundamental para as crises académicas que se opuseram ao regime salazarista, como escreveram os seus antigos nos diários de

bordo, entre muitos um deles pertencente a Carlos Candal (antigo eurodeputado socialista, e também presidente da Associação Académica de Coimbra) no ano de 1962: nos inícios da Crise Académica.

Esta República é também responsável pelas bandas que se ouvem quando se pas-

Cima: o teto da Real República dos Corsários das Ilhas.

sa pela Couraça dos Apóstolos - não tivesse ela uma sala dedicada somente a música

A Alta de Coimbra não seria a mesma sem a existência de Repúblicas, todas estas casas de estudantes que estão sempre de porta aberta, prontos a receber e a conhecer por quem lá passa. Estas, que são pontos de encontro, lugares de jantares, de convívios e de boas memórias.

Em jeito de conclusão, aproveito agora para agradecer a todos os repúblicos, não só destas casas, atuais e antigos, por todos os bons momentos que me proporcionaram durante os meus anos de estudante, e por serem um bastião da verdadeira cultura da academia e dos seus estudantes.

Leonardo Pedro 4º Ano da Licenciatura em Direito

CHEQUE CULTURA

Enquanto pessoas somos em grande parte um mero produto da sociedade em que vivemos, por outras palavras somos um reflexo da cultura que nos rodeia. Apesar disto, o acesso à cultura nem sempre é fácil, especialmente devido aos custos que acarretam os espetáculos/eventos culturais em Portugal Dessa forma surge então a ideia do cheque cultura que, nos moldes que agora vigoram em Portugal, é um cheque para ser gasto em atividades culturais no ano em que se completa os 18 anos de idade, mediante candidatura. Tem o valor de 120 euros. Começo, então, a dissecar esta ideia.

Inicio por evidenciar o facto de este cheque apenas ser atribuído no momento em que se completa a maioridade. Não foi este cheque criado com o propósito de realçar a cultura como um pilar fundamental da educação? Sendo assim, porque é que apenas é entregue no ano de término da escolaridade obrigatória? Sendo que o cheque é atribuído com condicionamentos, não se pode aqui levantar o problema de que este não seria gasto em atividades culturais por “imaturidade”.

Ainda noutro ponto de vista: muitos jovens atualmente não acabam o seu processo de formação no Ensino Secundário, mas dirigem-se ao Ensino Superior, onde o ensino cultural é igualmente importante. Contudo, estes jovens estão barrados ao acesso do cheque, pois serão,

após o seu primeiro ano, velhos demais para o possuir.

A meu ver, este seria verdadeiramente eficaz se pudesse ser atribuído mais cedo no processo de formação do jovem e ser renovado anualmente até ao final da escolaridade - fosse esta secundária ou superior. A questão da não renovação é também das que levanta questões: se a cultura é fundamental na formação, não o é só no prazo de um ano civil, mas ao longo de diversos anos - contudo, o apoio que esté cheque dá não parece estar inteirado deste facto.

Por fim, pretendo ainda referir o valor de 120 euros: contabilizando mensalmente, dá-nos um total de 10 euros por mês. Tal valor, considerando que o custo médio de um livro em Portugal ronda os 15 euros - já não falando de qualquer evento preformativo ou exposiçãonão é sequer suficiente para cobrir tais gastos.

Creio que as discrepâncias de valores sejam claras e óbvias: se um jovem de uma família carenciada pretender usar o seu cheque, em quantas atividades o vai poder fazer ao longo do ano? 6? 7? Isto tendo em conta que o fará em atividades de custo bastante reduzido, e ainda assim não terá um grande acesso a cultura. Somando tal ao facto do cheque não ser renovável, gera uma muito pequena pegada cultural no processo de formação dos jovens.

Parece-me que a realidade do que é o cheque cultura fica muito aquém do que são os seus fundamentos, sendo contudo um projeto no caminho certo Precisaria, como é claro, de um desenvolvimento muito forte nos seus preceitos atuais para conseguir chegar ao nível do que se propõe ser. Apesar de não ser o meu tipo favorito de políticas, a ser tomado na área, tenho que admitir que é um passo no caminho certo e que tenho esperanças que o estado continue a avançar neste caminho, em companhia com as demais nações desenvolvidas que já tem projetos muito mais inovadores e eficientes na área.

Leonardo Pedro 4º Ano da Licenciatura em Direito

Filmes, Séries, Livros e Música

Filme: Moulin Rouge (2001)

Direção: Baz Luhrmann

Christian, jovem poeta e defensor de máximas como a Verdade, a Beleza, a Liberdade e o Amor, muda-se para Montmatre contra a vontade do seu próprio pai, mergulhando no mais boémio e imoral dos cenários: o Moulin Rouge. Lá, apaixona-se perdidamente por Satine, mesmo estando esta prometida ao Duke. Vencedor de dois Óscares, continua a ser considerado um dos melhores filmes de Baz Luhrmann, que junta a este outros como Elvis e O Grande Gatsby no seu repertório.

Série: O Crime do Padre

Amaro (2023)

Direção: Leonel Vieira

Uma adaptação do romance homónimo de Eça de Queirós, retrata uma poderosa sátira sobre a sociedade e a igreja em Portugal no século XIX A série leva-nos a acompanhar a história da paixão proibida entre Amaro, um jovem padre, e Amélia, a mais bela rapariga de Leiria. Tensa, emocional e polémica, conta com sete episódios, e encontrase disponível na integra no site da RTP Play

Álbum: Point of No Return

Intérprete: Frank Sinatra

Datado do ano de 1962, o álbum reflete a ideia de um jovem que se apaixona Inicia-se num café em estilo de encontro, progredindo para um momento de namoro e amores, tendo o seu término no casamento da amada com outro homem É notável que estamos perante uma visão em retrospetiva, onde jovem apaixonado tinha noção que a iria perder. Este álbum é um dos múltiplos exemplos em que a música é usada como uma narrativa, devendo neste sentido ser ouvido como uma coletânea, e não como peças soltas (tal como todos os álbuns de jazz). Um trabalho perfeito para momentos de descontração ao final do dia, ou para ser a música de fundo de um Boulevardier, acompanhado ou sozinho

Livro: Adágio

Autora: Jeni Fidalgo

É um pequeno romance, de leitura acessível, que nos prende à história de Manuel, advogado, que decide aprender a tocar clavinova tal como a avó fazia quando era jovem Durante tal aprendizagem, Manuel começou a revelar mais confiança, como que largando uma identidade que estava em formação, para no fim se tornar algo irreconhecível Mas esta viagem do conhecimento é feita também sobre a juventude e amores da avó, culminado numa última grande mensagem em Sol. Este livro é autoria de uma jovem escritora - Jeni Fidalgo - que, apesar de ser a sua primeira obra, mostra uma genialidade literária e imenso potencial Criativo e diferente, Adágio é uma obra única, e talvez o melhor “erro de leitura” que alguma vi (e, atrevo-me a dizer, que alguma vez vou ver) Termino com esta citação: “Ter a capacidade de saber quando cortar as correntes que nos amarram e não nos deixam avançar é um dom”

Leonardo Pedro 4º Ano da Licenciatura em Direito

Testamento do (des)Amor

ESCRITO POR QUEM DELE PADECEU

“Eu, Amor de nome, – e órfão de qualquer tipo de apelido agradável – encontrando-me longe de qualquer resquício de sanidade mental, extremamente perplexo com a violência que pauta os meus últimos suspiros e induzido em erro pelas minhas próprias expectativas, apresento como último desejo um pedido: que sejam cumpridas as minhas últimas vontades” .

“Primeiramente, gostaria de ser enterrado num lugar com vista para a alma. Não quero buracos negros como o breu que me conduzam a uma sádica e maléfica decomposição. Quero que o que de mim resta repouse num lugar privilegiado – não peço que seja no coração… depois de toda a mágoa que lhe causei, tal seria egoísta da minha parte. Mas que seja perto: assim, terei de igual modo vista para o apartamento que um dia habitei, e que tantas saudades me deixa –não que o senhorio tenha a mesma opinião, mas não posso discordar que nem sempre fui bom inquilino.” Sensato.

Continua… – pedi-lhe.

“Aos olhos, que um dia me viram como salvação, deixo-vos a minha eterna gratidão. Vocês, que foram o mais límpido espelho da essência de quem um dia amei, deixaram-me contemplar as perfeições e imperfeições no seu espetro mais nítido e inteligível.”

O que me veio à mente no segundo seguinte não fora dito em voz alta, mas pensado enquanto as linhas do rosto dela se definiam com a luz que entrava pelas vidraças: “obrigada pela oportunidade que me deram: de olhar nos olhos de alguém por quem morro de amores uma última vez, e matar as saudades que por aqui se acumulavam indecentemente”.

O rosto dela entristeceu-se, mas a mão calejada não parou de escrever. Aí tive a confirmação da minha verdade.

"Aos que em mim depositaram todas as suas fichas: deixo-vos resiliência, para que enfrentem a minha inconstância. Posso muito bem ter sido uma desilusão dia-sim, dia-não. Sei que fui de chegar. Outras vezes, fui de partir. Espero que, em parte dessas vezes, para todos vocês, possa ter sido de ficar. Por tudo o que vos dei, e por tudo o que recebi, desejo que guardem em cada vinco que no vosso rosto surja — a lembrança do que fomos, somos e seremos. Talvez um dia nos voltemos a encontrar.”

“Por último, a ti” .

O olhar dela repousou, indecifrável, sobre o meu rosto Continuei, mesmo sem saber se ela escreveria as minhas palavras:

“Por viveres com tanta pressa, e ainda assim me fazeres tua prioridade. Por sentires tudo intensamente, como se tudo o que sentes fosse uma despedida – porque é certo que, mais cedo ou mais tarde, será. Fui complicado ao ponto de te deixar acreditar que eras novamente tu a complicar. E caí no erro de não te desmentir. Como tal, a ti, deixo-te páginas em branco. Usa-as para que, depois de eu partir, escrevas a tua história sem mim. Se ainda há algum sentimento pelos meus restos imortais no teu ser, não comeces a escrevê-la à minha frente… porque sei que se o fizeres, já não me amarás no final. E eu não pretendo estar aqui para ver tal desgraça acontecer. Será inevitável. Serás tu Amor quando eu já não o for, e vais sê-lo melhor do que um dia eu fui”.

Muito contribui para a invalidade deste documento. Talvez a minha insanidade, por certo a minha insatisfação. Creio mesmo que há detalhes jurídicos que me ultrapassaram. Ainda bem que ela, um dia, saberá o que fazer quando se tratar de um testamento verdadeiro. Por agora, apraz-me que redija este esboço enquanto eu contemplo cada segundo na sua presença, já carregado de saudade.

Amei-a tanto. E não consegui sarar-lhe as feridas.

Até a flor, que repousa ao meu lado – como andorinha cansada de uma tremenda jornada – vai murchando enquanto escuta a nossa despedida

Algo mais a acrescentar?

É tudo, meu amor.

Morri hoje. Não fiquem tristes. Fui muito feliz.

3º Ano da Licenciatura em Direito
Jeni Fidalgo

O COORDENADOR

PELOURO JURISTA E LÚDICO

Guilherme Dos Prazeres, 3º Ano Jurídico

OS COLABORADORES

Manuel Couto, 4º Ano Jurídico

Leonardo Pedro, 4º Ano Jurídico

Jeni Fidalgo, 3º Ano Jurídico

EDIÇÃO DE IMAGEM

Leonardo Pedro, 4º Ano Jurídico

Jeni Fidalgo, 3º Ano Jurídico

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