

A ti, que agora lês este texto, digo-te que o trabalho que aqui vês é nada mais, nada menos, que o começo da restauração da Cultura a uma posição digna da sua importância.
Como tal, esta dedicatória destina-se a todos os estudantes , assim como aos nossos colaboradores - sem os quais a execução desta revista não seria possível.
Assim, na qualidade de coordenador do Jurista & Lúdico, espero que aprecies a exposição, opinião e declamação das histórias, dos problemas e das líricas que fazem parte da capital académica.
O meu nome é Guilherme Dos Prazeres e espero que tenhas o prazer de ler esta revista.
P’rá minha avó.
Não obstante de ser um trabalho jocoso e limitado pelos modos de publicação, é uma boa introdução a um tópico muito sério, demonstrativo da prepotência do anterior regime e pouco comentado nos círculos estudantis.
Numa tardia e ofegante manhã, degrau a degrau, com muito cuidadinho para não tropeçar, afronto aquela tortuosa escadaria! E, chegando ao cume das Monumentais numa batalha desfavorável com o quarto-de-hora, ponho-me de rompante a atravessar o D. Dinis (!), esquecendo-me que a preocupação da assiduidade, como quartanista que sou, já não me devia assistir
Mas não há velocidade que junto a El-Rei, de meu lado direito, me impeça de reparar num curioso resto de arco que encimando um painel de azulejo a Martim de Freitas, é, fora os antigos colégios, quiçá o último indício do que foi a Alta da cidade de Coimbra
Voltemos para 1934!
O traje, que visto, é a indumentária (já não obrigatória, mas sempre usada) e o fado é música de fundo! Tricanas… namoro! E o estudo… eterno tormento! Reitores e lentes vinham apelando à necessidade de expansão e modernização da UC. As Portarias do Ministro das Obras Públicas e Comunicações de 4 e 11 de dezembro desse ano encarregam uma dupla de arquitetos de redigirem um projeto de urbanização em torno do núcleo de edifícios existentes da UC e nomeiam uma comissão para criar um programa para as novas instalações
Mas isso ainda são preocupações futuras!
As Monumentais não existem; pelo que o que escalei, nesse dia de 1934, foram as Escadas do Liceu! Menos montanhosas que aquelas, o seu nome vem dos sucessivos Liceus que se ficaram por onde, no futuro, será o Instituto de Química/Departamento de Ciências da Vida. E não queria saber se tropeçava! (com a capa até era provável!…) Mas, tal qual no futuro, há regras da praxe! Eu devo (e diligentemente cumpro) subir o último lancil sempre pelo lado esquerdo (que se bifurcava à semelhança dos lancis do Bom Jesus, em Braga)! Por consequência, subindo-as, certamente não desembucei no D. Dinis, mas antes na Ladeira do Castelo. É que, vejam bem, não havia espaço para Sua Majestade! O futuro sítio onde o Lavrador está contemplativo é, nesta manhã de 1934, ocupado pelo eternamente inacabado e nunca funcional Observatório Astronómico da reforma pombalina.
Assim, tenho de dar a volta, e atravessar o Arco do Castelo (construído após o Terramoto de 1755, para reforçar a integridade das paredes do Colégio dos Jerónimos e ligá-lo ao Hospital dos Lázaros/Faculdade de Medicina, dado aquele pertencer ao complexo de hospitais da Alta). Mas enquanto o faço, reparo que estou realmente atrasado (!), e que já é 1939! Surge outra Portaria (de 28 de agosto) do supramencionado ministério. Outra comissão deve ser criada para suceder à primeira. Um grupo de professores é chamado a dar parecer. De entre Montes Claros e a outra margem do rio, a Alta, incompreensivelmente (!), é escolhida! Estudos para aqui e para acolá e arranja-se um programa minimalista, em que a reforma ocuparia só o Colégio dos Lóios (antiga escola religiosa, frente à Feira dos Estudante, onde em 1939 é o Governo Civil) e a Alameda de Camões (pequeno parque, frente à futura BG). Mas porque o regime é tão forte como um facho, tão grande que vai do Minho a Timor, tão moderno como a Itália e a Alemanha; também a reforma tinha de ser forte, grande e moderna! Por isso, arrasar-se-á a Alta inteira e suas tradições, e lá se fará, com o estilo grandíloquo e megalómano deste novo estado, uma vanguardista cidade universitária.
O que interessa é que atravessando o Arco, chego ao Largo do Castelo (espaço, no futuro, ocupado pelo cruzamento entre o D. Dinis e a Rua dos Estudos). Novamente, apercebo-me do meu atraso (e tal é esse, que já estou em 1943!). Em minha frente, vejo as velhinhas rezar entre si na Farmácia do Castelo e o marco do correio com um ardina ao lado. Vejo já dois janotas postos às portas da Alfaiataria Pinto de Figueiredo e apinhadíssimas sei lá quantas tasquinhas e cafés! Já vigora o DL nº 31576 de 15 de outubro de 1941, que promove “a execução do plano geral das ampliações e transformações a realizar e das novas construções a erigir na cidade universitária de Coimbra” e que cria a CAPOCUC (Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra).
Em segundo plano a FLUC, em construção, e a antiga Faculdade de Letras, em metamorfose
E assim, ao assistirem às primeiras demolições, na Rua Entre Colégios/Rua das Parreiras (rente à FDUC), já há tristeza entre os salatinas!…Sobre a turba que viaja pelo Largo do Castelo, desaparecendo agitadamente ora na Rua Larga, ora na dos Militares, ou na do Marco da Feira, ouço murmúrios relativos à rapidez acutilante das expropriações e que (ninguém diga nada, porque a outra senhora tem ouvidos em todo o lado) os valores indemnizatórios são irrisórios (Art 2º, §1 e §2, DL nº 28797 de 1 de julho de 1938 e Art 8º, DL nº 31576 de 15 de outubro de 1941 –fixação das indemnizações ou aquisições por arbitragem, sem recurso da decisão dos peritos)
Visão da Rua de S. João, para a FDUC. No canto inferior direito, os Melos; no canto superior esquerdo, um torreão da antiga Faculdade de Letras.
O espaço destruído é hoje ocupado pela FLUC.
No início da Rua Larga (mas, não tão larga quanto a que surgiu da nova cidade universitária), passo pela Barbearia do Castelo, e ouço o barbeiro na farra com a freguesia! Surge o comentário de que o Senhor A., da Rua das Parreiras (que nesse tempo já se via em peripécias de casos práticos), à conta das obras, se aviou para a Quinta das Sete Fontes (perto dos CHUC), um dos bairros sociais que a Câmara está a construir para os desalojados. Atrasadíssimo, por lá sigo absorto, até que o tilintar dum elétrico me desperta, fazendo-me notar estar frente ao edifício da A.A.C., naquele espaço futuramente ocupado pelo colossal Departamento de Química - desde a destruição do Colégio de São Paulo o Apóstolo, que sempre a Associação foi deambulante, mas, em 1913, lá se fixou nos baixos do Colégio dos Paulistas, tendo, em 1920, por meio da Tomada da Bastilha, ocupado o restante do edifício. No futuro ano de 1949, também dali haviam de ser enxotados e enfiados no Palácio dos Grilos. Agora em 1948, no cruzamento da Rua Larga com a de S. Pedro, já estou quase na FDUC! Vejo o Arquivo, primeiro edifício construído, e logo sobre a casa do Senhor A. erguido! De meu lado direito, há a bucólica Alameda de Camões, onde está o monumento dedicado pelos estudantes ao inigualável escritor, que, destruído por uma grua, foi reedificado na Rua do Arco da Traição, e hoje encontra-se na Sá da Bandeira (no local da Alameda e do quarteirão que existia por trás dela está a FLUC). De meu lado esquerdo, a Faculdade de Letras. Belíssimo edifício!!! Era esquecer a aula e ficar a namorá-lo! As formas neoclássicas, os ferros sensualmente feitos e as palavras que do triangular frontão me sibila (Liberalivm Artivm Facultas)! Acho que este é o único espaço que, de raiz pelo menos, subsiste desta hecatombe. É que a BG não adveio da sua destruição, mas da mera adaptação da sua fachada e interior, tanto que ainda é a sua cúpula que coroa quem goza da sala de leitura daquela.
Bem, intemporal e imutável é, pelo menos, a Porta Férrea que finalmente atravesso, para desaguar em 1967 e ao não tão intemporal ou imutável Pátio das Escolas. Onde havia um Observatório Astronómico, há uma vista panorâmica. O belíssimo jardim que ali romantizava veio a dar lugar em exclusivo a El-Rei D. João III. Ou pelo menos, essa era a ideia, porque à data, é um parque de estacionamento… Mas, verdade seja dita! Embora não seja mais um ferro-velho, mesmo hoje (que atravesso a Via Latina para a atualidade) não compreendo bem a teleologia arquitetónica deste Pátio das Escolas… Árido campo ou lamaçal dos chuvosos dias?
Enfim, já me encontro nas Gerais, com um quarto em cima do quarto… E sigo para a Sala 7. (Raio das fechaduras que funcionam ao contrário!!)
Planta topográfica da Alta com indicação gráfica das zonas demolidas ou transformadas
Os colegas olham o atrasado; o Lente gagueja o distúrbio; e eu lá me sento onde encontro, só preocupado em apanhar o que me escapou…
D’Almeida Caridade, 4º Ano da Licenciatura em Direito.
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Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, A Velha Alta… Desaparecida, 1984; Martins de Carvalho, Portas e Arcos de Coimbra, 1942; Rafael Marques, Coimbra Através dos Tempos, 2004; Archeevo, Comissão Administrativa do Plano de Obras da Cidade Universitária de Coimbra, nov 2022, in: https://pesquisa auc uc pt/details?id=166526
Ao percorrer a Alta, não nos deixamos de deparar com a imensidão de cultura e espírito universitário que nela existe, a marca do espírito que ficou gravada em memórias, trovas e belas histórias, por gerações de estudantes. Uma das tradições que veio mudar, com o passar do tempo, foi a importância das tascas na vida académica, outrora fonte de todas as tertúlias e dias boémios, são hoje meros locais de passagem em terças e quintas académicas, que deambulam entre os jantares, a Alta e a Praça da República. Contudo, ainda há nomes que nos despertam memórias, como o 'Pintos' ou o 'Moelas'. Porém, outros há muito que não são presente na vida da academia, como o 'Pratas'.
O 'Pintos', nomeada tasca de interesse histórico pelo nosso Conselho de Veteranos, corre na segunda geração, tendo os seus ávidos frequentadores a esperança de ver ainda uma terceira. À entrada, somos imediatamente submersos em toda a história do local, com as gravatas deixadas do rasganço, pelos estudantes no topo do balcão, pelas mesas e cadeira que se mantém as mesmas, numa casa com mais de 40 anos.
Foi fundada após o 25 de Abril, e é um dos eternos locais de passagem dos estudantes, seja para um simples abafadinho ou para um traçadinho - que pelas suas qualidades alcoólicas inspirou a tão famosa música. Contudo, o que só alguns sabem é que mesmo ao lado daquele balcão tão movimentado pelo desejo boémio há uma bela cozinha, onde a Dona Luísa e o Sr. Álvaro preparam excelentes iguarias, uma das quais move estudantes para almoços e jantares: o delicioso javali, caçado pelo Sr. Álvaro. Sem dúvida, o 'Pintos' é um lugar de passagem obrigatória, seja pelo abafadinho, o traçado, o javali ou apenas por um café, para pôr conversa com a família que continua a tradição de ser um farol da vida boémia em Coimbra.
Já o 'Moelas', mais famoso pela sua sangria minada e a sua roleta, que causa aos alcoolizados tanta sorte como um azar na manhã seguinte, fica mais “abaixo” do que o 'Pintos'. Aqui já não encontramos o conforto de um café matinal ou uma refeição quentinha, abrindo apenas para satisfazer as imensas necessidades dos “despeja adegas” que se vieram formar ao berço dos doutores. Foi igualmente galardoado com o título de tasca histórica, pelo seu tempo em funcionamento e importância para as antigas tertúlias académicas da cidade que lá se reuniam. O quão fantástico seria termos esta casa ainda aberta: o 'Pratas' foi durante anos o local de petiscos de muitos estudantes, que se refugiavam numa dependência do Colégio da Trindade, com frente para a rua José Falcão. Infelizmente, o 'Pratas' fechou portas em 2001, ano que para a maioria de nós não levanta qualquer memória.
A Alta de Coimbra é um local cheio de históricas e momentos míticos, que, sem dúvida, nunca teria o mesmo valor sem todas estas tascas e muitas outras que nasceram e morreram antes da nossa memória. Contudo, as que vivem são um dos nossos pontos de passagem involuntários, que marcam noites inesperadas e começam noites planeadas ao minuto numa sobriedade que é finita.
Leonardo Pedro, 4º Ano da Licenciatura em Direito."Easy Living" é um álbum de Paul Desmond, que inspira um ambiente intimista entre o saxofonista e o ouvinte, criando uma sensação relaxada. O álbum é composto por 8 músicas, demorando cerca de 1H10m para a ser ouvido na totalidade, sendo uma ótima escolha para um fim de semana descontraído, dominado pela abstração da vida quotidiana e dos seus problemas. Todas as experiências proporcionadas pelo álbum levam-me, confiantemente, a admiti-lo como um dos melhores álbuns do compositor e do próprio género, jazz.
"The Crown" é uma série da Netflix que segue a história da monarquia inglesa, em específico da recente falecida sua majestade rainha Elizabeth II. Tendo sido lançada a 5ª temporada da série, levanta-se cada vez mais a controvérsia em torno desta, desde que na temporada passada a personagem da conhecida princesa Diana, ex-mulher do atual monarca britânico cuja morte levanta no público em geral uma certa teoria conspiratória contra a casa real, é inserida no enredo. Apesar de toda a controvérsia, esta tem se tornado numa das melhores séries da empresa norteamericana, introduzindo um sentimento de proximidade com a monarquia britânica - o que vem em linha com diversos esforços tomados pela casa real para demonstrarem ao seu povo a sua humanidade. É merecido, ainda, o crédito à atriz que personifica a princesa Diana, pela sua brilhante performance.
"A Relíquia", escrito por Eça de Queiroz, um dos brilhantes alunos da nossa alma mater, é na visão de muitos, inclusive na minha, uma pequena personificação do que era a vida boémia do jovem Eça. Tendo como personagem principal Raposão, órfão que vai morar com a sua tia desde cedo, encontra-se verdadeiramente em casa, longe de toda a austeridade dela, ao juntar-se à Universidade de Coimbra. Contudo, ao regressar da sua vida de Liberdade para casa da sua tia, tenta convencê-la a que o permita ir em busca do seu “rabo de saias”, algo que era por ela desprezado. Contudo, vem a convencê-la sobre um pretexto religioso a embarcar numa viagem a Jerusalém, onde encontra uma relíquia para a sua tia. Um livro incrível que demonstra a tradição boémia de Coimbra, que Eça conhecia tão bem, e mais ainda: um livro repleto de uma brilhante comédia, por uma brilhante mente.
Desde livro a musical, a Ópera e filme de 2004, "O Fantasma da Ópera" é um dos grandes clássicos que não passa indiferente, especialmente aos que buscam uma bela história de amor. É o reflexo do que é o defeito humano na busca pelo amor-perfeito, com os receios que isso acarreta. Teve uma das melhores adaptações cinematográficas de um espetáculo da Broadway. Contudo, muitos ainda afirmam que não há melhor representação de toda a complexidade que a oferecida pela Broadway. Um ótimo filme para se ver num final de dia, ou fim de semana (para se ver e rever, vezes sem conta!), não só pelos apaixonados ou pelos que morrem de amores, mas também pelos que apreciam grandes clássicos e histórias repletas de complexidade.
Pedro, 4º Ano da Licenciatura em Direito.
No que toca à despesa e à receita da “coisa pública”, a sua gestão passa pelo mecanismo contabilístico e político denominado de Orçamento do Estado. A definição do Orçamento do Estado, de acordo com o site do parlamento português, é a seguinte: “O Orçamento do Estado (OE), instrumento de gestão que contém uma previsão discriminada das receitas e despesas do Estado, incluindo as dos fundos e serviços autónomos e o orçamento da segurança social, é da iniciativa exclusiva do Governo”. Quando falamos da despesa do Estado, esta costuma ser organizada em “setores” diversos, desde, por exemplo saúde, educação e Cultura. O que é então cultura, de acordo com Agustina Bessa-Luís? “A cultura é o que identifica um povo com a sua finalidade". Já Fernando Pessoa avança outra descrição: “Tem duas formas, ou modos, o que chamamos cultura. Não é a cultura senão o aperfeiçoamento subjectivo da vida. Esse aperfeiçoamento é direto ou indireto; ao primeiro se chama arte, ciência ao segundo. Pela arte nos aperfeiçoamos a nós; pela ciência aperfeiçoamos em nós o nosso conceito, ou ilusão, do mundo”. Eu avanço então com uma ideia que se subtrai do pensamento social comum longo dos séculos: é então, para mim, cultura a identidade singular de cada individuo por si só e ao mesmo tempo a identidade do todo onde ele está envolvido, duas realidades que estão intrinsecamente ligadas, contudo distintas, sendo o indivíduo o produto da sociedade e a sociedade o produto dos seus indivíduos, mais ainda não é cultura algo estagnado, mas um aperfeiçoamento diário do “eu” e da comunidade. Qual é a então a percentagem de despesa do orçamento de Estado dedicada à nossa identidade social? De acordo com a Sapo, o valor da despesa total consolidada (o Conselho de Finanças Públicas português, explica o termo mencionado como sendo “Na ótica da contabilidade pública a “despesa total” ou “despesa orçamental” compreende todos os gastos que assumam expressão orçamental.”) na cultura foi de 0,25%, do valor total do OE, em 2022. Porque será então que temos estes valores tão diminutos? Olhemos então para o panorama macroeconómico do país para tentar perceber o plano económico nacional. Falamos da taxa de crescimento real do PIB (isto é, o ritmo a que o Produto Interno Bruto de um país cresce, descontando a inflação). Esta tem, apesar de positiva, tido uma clara tendência decrescente nos últimos 5 anos.
Considerando então todos os fatores já descritos, e recorrendo ao velho cliché dos economistas em que as finanças públicas teriam grande semelhança com as contas de uma dona de casa, podemos então dizer que o nosso país está a tomar estas políticas financeiras em relação à cultura por a considerar secundária, privilegiando assim os seus “bens de primeira necessidade”. É então a cultura uma antítese dos bens de griffen?
No meu olhar, a abordagem tomada pelos criadores do OE em relação a cultura é uma deveras triste, e genuinamente deprimente Sendo a cultura a essência da sociedade e da Nação, o não investimento na cultura é a perpetuação da morte identidade dos indivíduos, que mesmo sedentos de cultura, apenas encontramos uma fonte seca. Mário Vargas Llosa expõe, no Diário de Notícias no ano de 2004, erro que leva ao secar da fonte nas palavras perfeitas: “Algo anda mal na cultura de um país se os seus artistas, em lugar de se proporem mudar o Mundo e revolucionar a vida, se empenham em alcançar proteção e subsídios do governo ” . Arriscamos, então, a que os dirigentes da Nação nos deixem, tal como Aristóteles disse, mortos, pois essa é a diferença entre um Homem culto e um Homem inculto.
Leonardo Pedro, 4º Ano da Licenciatura em Direito.
Gráfico (Taxa de crescimento real do PIB- Por data)
«Arriscamos então a que os dirigentes da Nação nos deixem, tal como Aristoteles disse, mortos...»
Quis o tear do destino que tudo se alinhasse em direção ao mais nostálgico dos rios e ao místico badalar da torre. Quis o meu fado que se entrecruzassem perspetivas inauditas e intimidantes nos meus croquis imperfeitos de futuro, que eu sempre julguei serem a minha maior certeza. Em corridas por estradas acidentadas, que não me deixaram apreciar as flores pequeninas que brotavam por entre as fendas na berma do caminho – como esperança, nascida de qualquer lugar – feri o meu brio, e raspei as mãos na queda mais avassaladora que o meu autobiográfico ser teceu em duas décadas de incessante azáfama. E, para alguém que nunca deu crédito a presságios, dei demasiada atenção à profundidade das feridas A minha audição não me intrujou, nem a minha visão me atraiçoou. Ao longe sussurravam arpejos desconhecidos, inegavelmente atrativos, que vinham ecoando por uma calçada próxima enquanto me chamavam – como quem chamava um desconhecido para um precipício Não havia sapiência suficiente para esconder as marcas do turbulento percurso… mas havia flores pequeninas na berma do caminho – como esperança, que nasce mais perto de nós quando ainda não nos erguemos do chão. E, de um só gesto, colhi uma Levei-a entre páginas da minha história favorita, como quem leva uma relíquia, e sacudi o pó dos joelhos. Com cautela, para não tropeçar, segui os sonhos que nunca julguei possuir Não era atingível mirar o horizonte e calcorrear trilhos desconhecidos em simultâneo. Ou pelo menos, eu julguei não ser. Mas as insistentes e certeiras badaladas puxavam a minha curiosidade ao seu ínfimo. “Raios partam os buracos no chão” E aí, dissiparam-se os receios Mergulhei na mais imprevisível façanha, banhada ao som da saudade que já carregava, e daquela que ainda viria a carregar. Cercada por paredes nem sempre aconchegantes, procurei voar e, muitas vezes, aterrei desconfortavelmente. Imergi-me em expectativas camufladas de sucessos e nas promessas de triunfo, e perdi-me ao tentar não me esquecer de quem era.
Houve dias tempestuosos em que a chuva ficava envergonhada comparada com a torrente que me afogava a alma Tornava-se aos poucos fraco o fôlego de quem corria por gosto! E de quem se perdia em infindáveis corredores de desalento… O peso da exaustão venceu mais vezes do que a dignidade gostaria de admitir. Mas ao longe, escutava-se:
Ding, dong! – Agora não, balão! Não tenho tempo!
Ding, dong! – Para quê tanta inquietação? Por que me mandas parar?!
Ding, dong! – Espera… deixa-me abrir os olhos. Será?
Ding, dong! – Eu vi um sorriso Ainda existem destas flores aqui?
Um sopro aconchegante ofereceu-me a esperança disfarçada de perfume
O mesmo perfume que carreguei nas páginas da minha história favorita. Eram flores. Como esperança nascida de qualquer lugar. Mas afinal, porque é que eu estava a correr? Qual era a pressa?
Jeni Fidalgo,3º Ano da Licenciatura em Direito.
Nas Gerais de Cima da velha Faculdade, Coroado por ‘ ma abóbada d’austeridade (!), Desfaleço e ouço a enfadonha canção, Que o Lente repete e reitera em lentidão!
E a tal monotonia conduz-me a cisão Aos floridos azulejos que me circundam (…): Dum azul amarelado da muita idade, Como é que não murcharam de soturnidade!?
E saltam os olhos p ’rás paredes caiadas: Tão altas e tão grossas foram levantadas!... O tempo que passou não foi indiferente (…), Mas tanta letargia torna-as mais decadentes!!
E agora o pestanejar leva-me até a cátedra (…), Que sustem o Lente no estrado – mais que farta (!), Não de aguentar com o peso do capelão (!), Mas de arreliada da gravitas da Lição!!!
Enfim… o quarto obrigou a Cabra a berrar (!) E assim de susto os ouvidos veem despertar (!), Pr’ainda escutarem minutos de prelações (…) Que malmente ao intervalo retirarão!!!
Nas Gerais de Cima (agora já finda a aula!) Fechada a exposição, recupero a fala!!
E sigo p ’rós meus colegas a perguntar: “E entenderam o que o Doutor ‘teve a falar!?”
D’Almeida Caridade, 4º Ano da Licenciatura em Direito (Não escrito, não fosse a preciosa inspiração da Ana Rita Contente)
Flávia Freitas Lopes Ana Raquel Moreira
-Jeni Fidalgo, terceiro ano jurídico; -Leonardo Pedro, quarto ano jurídico; -Miguel A. D'Almeida Caridade, quarto ano jurídico.
Fotografia autoral por -Carolina Cerqueira, quarto ano jurídico; -Jeni Fidalgo, colaboradora CANVA
Imagem e Design
-Flávia Freitas Lopes, coordenadora geral do Pelouro Jurista & Lúdico
-Flávia Freitas Lopes e Ana Raquel Moreira, coordenadoras.