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CHEQUE CULTURA
Enquanto pessoas somos em grande parte um mero produto da sociedade em que vivemos, por outras palavras somos um reflexo da cultura que nos rodeia. Apesar disto, o acesso à cultura nem sempre é fácil, especialmente devido aos custos que acarretam os espetáculos/eventos culturais em Portugal Dessa forma surge então a ideia do cheque cultura que, nos moldes que agora vigoram em Portugal, é um cheque para ser gasto em atividades culturais no ano em que se completa os 18 anos de idade, mediante candidatura. Tem o valor de 120 euros. Começo, então, a dissecar esta ideia.
Inicio por evidenciar o facto de este cheque apenas ser atribuído no momento em que se completa a maioridade. Não foi este cheque criado com o propósito de realçar a cultura como um pilar fundamental da educação? Sendo assim, porque é que apenas é entregue no ano de término da escolaridade obrigatória? Sendo que o cheque é atribuído com condicionamentos, não se pode aqui levantar o problema de que este não seria gasto em atividades culturais por “imaturidade”.
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Ainda noutro ponto de vista: muitos jovens atualmente não acabam o seu processo de formação no Ensino Secundário, mas dirigem-se ao Ensino Superior, onde o ensino cultural é igualmente importante. Contudo, estes jovens estão barrados ao acesso do cheque, pois serão, após o seu primeiro ano, velhos demais para o possuir.
A meu ver, este seria verdadeiramente eficaz se pudesse ser atribuído mais cedo no processo de formação do jovem e ser renovado anualmente até ao final da escolaridade - fosse esta secundária ou superior. A questão da não renovação é também das que levanta questões: se a cultura é fundamental na formação, não o é só no prazo de um ano civil, mas ao longo de diversos anos - contudo, o apoio que esté cheque dá não parece estar inteirado deste facto.
Por fim, pretendo ainda referir o valor de 120 euros: contabilizando mensalmente, dá-nos um total de 10 euros por mês. Tal valor, considerando que o custo médio de um livro em Portugal ronda os 15 euros - já não falando de qualquer evento preformativo ou exposiçãonão é sequer suficiente para cobrir tais gastos.
Creio que as discrepâncias de valores sejam claras e óbvias: se um jovem de uma família carenciada pretender usar o seu cheque, em quantas atividades o vai poder fazer ao longo do ano? 6? 7? Isto tendo em conta que o fará em atividades de custo bastante reduzido, e ainda assim não terá um grande acesso a cultura. Somando tal ao facto do cheque não ser renovável, gera uma muito pequena pegada cultural no processo de formação dos jovens.
Parece-me que a realidade do que é o cheque cultura fica muito aquém do que são os seus fundamentos, sendo contudo um projeto no caminho certo Precisaria, como é claro, de um desenvolvimento muito forte nos seus preceitos atuais para conseguir chegar ao nível do que se propõe ser. Apesar de não ser o meu tipo favorito de políticas, a ser tomado na área, tenho que admitir que é um passo no caminho certo e que tenho esperanças que o estado continue a avançar neste caminho, em companhia com as demais nações desenvolvidas que já tem projetos muito mais inovadores e eficientes na área.